ANGELIC...Sinto meus pensamentos travarem por um segundo, como se não fosse capaz de processar toda a informação.Diamantes?O que ela quis dizer?Vagamente, começo a tentar raciocinar. A família da minha mãe tinha uma jazida na Rússia, mas isso faliu há muitos anos. Ela sequer tinha uma herança decente a receber.Ou Genevieve tem a informação muito errada... ou eu tenho.- Os... diamantes? Do que você está falando? – pergunto. O único som vindo do outro lado é de cliques de salto alto se aproximando – Genevieve?- Puta merda! O que você disse? – ouço Margot murmurar.- Genevieve! – chamo novamente, porém a ligação é encerrada – Puta merda – repito.Afasto o celular do ouvido e trago para frente dos olhos, encarando a tela com tamanha incredulidade. Vejo que a chamada realmente foi encerrada, mas não consigo deixar de olhar para o celular, relembrando a conversa e criando teorias.Diamantes. Que merda isso significa?Eu não posso escolher este momento para ser estúpida. Eu sei que Ge
LEBLANC...Revivo o mesmo momento em minha mente. Uma. Duas. Dez. Mil vezes. A mesma cena se repete incansavelmente enquanto meu subconsciente me pune com a memória e o arrependimento.Mas...Este foi o melhor fim que poderíamos ter.De todas as possibilidades, em todas as malditas vezes que eu pensei em como chegaríamos ao precipício, esta foi a melhor forma.Quando eu tentei me afastar de Angelic, e, sim, eu tentei, foi como pedir ao meu coração para desistir de bater. Foi como me afastar da única coisa pela qual eu queria viver. Me irrita ter que admitir que eu falhei, e eu falhei em me manter longe dela.Mas agora é diferente. Não é minha opção. Não fui eu quem decidiu se afastar. Não foi minha mente perturbada que me convenceu de que Angelic merece mais do que uma vida comigo. Foi ela. Ela percebeu isso.Mas, porra, aqueles olhos...Por que você chorou por mim?Por que você hesitou antes de ir embora?Se você percebeu que eu era o monstro na sua história, por que isso doeu em voc
ANGELIC...Aaron segura meu rosto entre suas mãos. Elas são grandes e macias, e me fazem pensar no quão segura estou ao seu lado. Eu me deleito entre seus dedos como um gatinho recebendo carinho.Ele beija a ponta do meu nariz, depois a testa, e então parte para as bochechas. A cada toque, me sinto um pouco mais feliz. Um pouco mais completa. Um pouco mais apaixonada. Um pouco mais viva.- Podemos ficar aqui para sempre? – sussurro.Ele está sobre mim, entre minhas pernas, e se sustenta em seus antebraços. Aaron cessa os beijos e me encara. Seu rosto tranquilo e relaxado enquanto ainda estamos nus após o sexo é tudo que eu quero ver pelo resto da minha vida.Seus olhos pincelam meu rosto, e quando nossos olhares se encontram, quase posso ver tristeza em sua expressão. Melancolia. Remorso, talvez.- Eu faria qualquer coisa para ficar com você para sempre.E quando eu separo os lábios para lhe responder, não tenho voz. Aos poucos, a imagem de Aaron fica borrada, como grãos de poeira sen
- Oh, você não está me entendendo? – o homem gargalha, alta e longamente, chamando minha atenção – Eu poderia jurar que você sabia de algo, mas... você não sabe. Você realmente não o conhece.Ele puxa a mordaça em minha boca. A esta altura, minha mandíbula está dolorida, e eu me pergunto por quanto tempo estive desacordada. Por quanto tempo ele estive virado para a parede, encarando aquele desenho enquanto esperava eu acordar.Tudo me assusta, e tudo me leva a pensar que não vou conseguir sair daqui.Ele soube o momento exato em que deveria me atacar.Ele me amarrou neste quarto.Ele me acusou de ser conivente com o que quer que Aaron tenha feito.O homem caminha para trás, e então se senta na pequena cama. O lençol azul marinho e as almofadas coloridas são um pesadelo. Estar em um quarto tão alegre, com este homem, é um pesadelo.- Eu demorei até conseguir juntar todas as peças e ter uma história completa, mas ficarei feliz em compartilhar com você – ele diz.História?Ele me trouxe
LEBLANC..."Angelic senta-se ao meu lado, e quando a roda-gigante começa a se mover, ela apoia uma mão em meu joelho e aperta levemente – talvez por medo, ou expectativa. Seu rosto está enfeitado com um leve sorriso e olhos azuis refletindo as luzes da porra da cidade inteira. Simplesmente, e inegavelmente, a coisa mais bonita que eu já vi.- É tão lindo quanto eu me lembrava – ela comenta.Coloco minha mão sobre a sua, entrelaçando nossos dedos. E, da forma mais brega possível, gravo este momento na parte mais sólida de mim, como uma gravura em uma pedra. Quero me lembrar do vestido róseo que ela está usando, do cabelo solto, dos lábios avermelhados...- Obrigada – ela se vira para mim – Obrigada por vir comigo.- De nada.Ela avança, e então seus lábios tocam os meus. Este beijo, a priori inocente, me faz sentir como se fosse meu primeiro beijo. É como se toda minha existência, até aqui, simplesmente deixasse de existir. Tudo que existe é ela, os beijos dela, o toque dela, as palavr
LEBLANC...As gotas de água caindo no telhado e escorrendo pela parede até o chão; o cheiro de mofo no lado de dentro, e terra molhada no lado de fora; os cantos dos móveis cobertos por teia de aranha e poeira. Eu noto absolutamente tudo, pois meus sentidos se encontram em alerta máximo.Ouço um pequeno burburinho no andar de cima. Eu e Valentino nos encaramos enquanto uma porta é aberta e fechada, sem vozes, apenas o melancólico som da fechadura. Depois, passos fortes clicam o chão de madeira acima de nós, e meu coração segue o ritmo dos passos.Valentino sabe que eu estou apreensivo. Ele sabe que Angelic é importante para mim, do contrário, eu não estaria aqui. A matemática é simples.Valentino desvia os olhos de mim apenas quando volta a comer, como se não estivesse fazendo um inferno do caralho na minha vida. Como se não estivesse acabando com ela. Ele espeta o tomate com o garfo e come, torturantemente e lentamente.Esfrego as mãos em minhas coxas para me livrar do suor frio. Pel
ANGELIC...Casa.Eu devia me sentir em casa.Mas tudo que eu sinto é um vazio no peito, como se eu estivesse fora de mim mesma. Como se até mesmo este corpo não me pertencesse. E eu queria ser qualquer pessoa entre o céu e inferno; menos eu mesma.Eu me sento no chão. Joelhos dobrados, cabeça baixa, ombros curvados. Eu estou destruída de todas as formas que uma pessoa pode estar.A brisa delicada, porém fria o bastante para arrepiar minha pele, leva as folhas amareladas do outono para longe. O sol não fez questão de aparecer hoje, deixando apenas o céu nublado e cinza me receber.Eu respiro fundo. Quando o ar preenche meus pulmões, eu me sinto viva, e odeio isso. Odeio sentir que estou sob essa pele, e que tudo isso é real. Eu solto o ar, repetindo o processo diversas vezes, porque me concentrar na minha respiração, no piscar dos meus olhos, no toque das roupas em meu corpo, no batimento do meu coração, significa que não preciso pensar em outra coisa. Eu só preciso continuar existindo
ANGELIC...Meus dedos tremem enquanto desdobro o papel, lentamente, com medo do que vou encontrar. Meu lado pessimista não aguenta mais receber notícias ruins, no entanto, a esperança ainda cintila em mim, implorando por algo bom. Qualquer coisa que me faça sentir viva.Então, com o último resquício de energia e coragem que tenho, deslizo os olhos pela letra cursiva."Eu não saberia nomear meus sentimentos por você. Dizer simplesmente que é paixão, ou até mesmo o famigerado amor, seria muito resumido. Seria clichê, porque até mesmo os mais antigos romances já falavam sobre o ato de amar. Portanto, quero lhe trazer uma informação.Quando um ser humano morre, a primeira função a parar de funcionar é a circulação sanguínea. O corpo esfria, e então gradualmente começa a petrificar.Quando alguém morre, a oxigenação para de acontecer e o organismo se desequilibra. Minerais importantes deixam de ser produzidos. Com isso, as células se desestabilizam e passam a digerir o próprio corpo.A mai