ANGELIC...Quando me afasto minimamente, encaro seus olhos verdes. Agora, a cor está tão intensa que seus olhos chegam a parecer pretos. Posso ver a raiva flutuar em seu rosto, pela expressão fechada, maxilar tencionado e respiração forte.Eu nunca tive medo dele. Talvez porque nunca soube do que ele é realmente capaz. No entanto, quando sua mão fecha ao redor do meu cabelo acima da nuca, e ele puxa levemente, mantendo minha cabeça imóvel enquanto aproxima os lábios dos meus, eu me pergunto: o que LeBlanc faria se estivéssemos sozinhos?Sua boca paira sobre a minha, próxima o suficiente para que eu sinta seu hálito quente.A bebida que eu tomei há alguns minutos começa a fazer efeito. Meu sangue aquece. De repente, a música alta não importa. As pessoas ao nosso redor não importam.- Nós não íamos dançar? - sussurro.- Não - ele balança a cabeça - Nós vamos para minha casa.LeBlanc agarra meu pulso e me puxa em direção ao elevador. Quase me desequilibro sobre os saltos, mas a necessida
LEBLANC...Dirijo em direção ao meu prédio. E quando digo isso, não quero dizer que estou indo para meu apartamento. De fato, o prédio é meu.Ao meu lado, Angelic dorme com a cabeça encostado no vidro. O cabelo levemente bagunçado cobre seu rosto, mas posso notar o corpo tranquilo. Seu sono é inocente, como o de uma pessoa que nunca viu algo tão perturbador a ponto de ter pesadelos todas as noites.Pressiono o volante com mais força quando sinto vontade de tocá-la. Entretanto, ao mesmo tempo, sinto raiva. Sinto raiva de sua inocência. Angelic não sabe quem eu sou, mas decidiu entrar no meu carro e conseguiu dormir. Ela confiou em mim. Ela acredita que não vou lhe machucar.Ah, a doce e cruel ironia do destino.Me inclino e retiro a mecha de cabelo do seu rosto. Quando meus dedos, casualmente, tocam sua pele, me sinto satisfeito. É o suficiente.Eu decidi por mim mesmo que não irei machucar esta garota. E se eu não vou, ninguém vai. Eu vou protegê-la, vou cuidar dela, vou garantir que
Dou um passo à frente, e ela dá um passo para trás.Eu poderia dizer que posso explicar, mas, porra, eu não posso. É exatamente isso, e não há meias palavras para dizer a verdade. Seu pai a vendeu. O que eu poderia fazer? Deixá-la naquela casa com seu digníssimo pai e exemplar madrasta?– Ange... – ela me interrompe.– Me responda! – ela exige. As lágrimas fogem de seus olhos e deslizam pela pele do rosto, inchada por causa do sono.Permaneço em silêncio. Verbalizar será ainda mais doloroso para ela.Angelic balança a cabeça, compreendo. Ela desliza a mão pelas bochechas, de uma forma brusca, depois se vira e caminha em direção à sala.– Angelic – chamo.Não espero que ela seja racional. Na verdade, penso em lhe dar espaço para entender que eu fiz o melhor, considerando a situação. No entanto, quando ouço o barulho do elevador sendo acionado, sei que ela não tem os mesmos planos que eu.Saio do escritório em passos largos, praticamente correndo até a sala. Quando chego, as portas do e
– Elliot não expulsaria você – Skyla, de imediato, conclui.Sorrio novamente, desta vez achando graça de sua inocência.Ele não me expulsaria? Oh, claro. Me vender parece menos ruim.Penso em uma forma de lhe contar a verdade. Não quero dizer que LeBlanc simplesmente tirou o talão de cheques do bolso e me adquiriu, como se estivesse na concessionária da Ferrari. Também não quero dizer que Elliot desistiu de ser meu pai e me trocou por dígitos em sua conta. Não quero passar pela humilhação de ter que contar o que houve nesta noite.– É difícil explicar.– Bem – Skyla se levanta, estendendo as mãos para mim – Sobre familiares que não dão a porra da mínima para seus filhotes, eu entendo. Agora você pode tomar banho, vestir uma de minhas camisolas e dormir.Seguro suas mãos e me levanto.– Quando acordar, podemos fazer algo para distrair sua cabeça – ela continua.Me distrair do fato de que valho menos do que os carros na garagem de Elliot? Eu acho que não.– Simples assim?– Claro, docin
LEBLANC...Camisa branca perfeitamente alinhada, gravata simétrica, todos os botões do colete fechados, paletó bem passado e sapatos lustrosos. Eu não precisava me preparar para este evento, mas fiz questão.Olho para o outro lado da rua, onde a mansão Parker foi construída. Meus pés formigam, ansiando pelo momento em que entrarei na casa. No entanto, preciso aguardar. A festa ainda não acabou.O sol já se pôs há alguns minutos, e uma fina garoa – prelúdio da chuva – começa a cair. Seguro o guarda-chuva acima de mim, porque não quero molhar o terno. Hoje, de fato, o diabo veste Prada.Quando estou trabalhando, normalmente, consigo congelar minhas emoções. Não me sinto bem, porque não sou um psicopata. No entanto, também não me sinto mal. Apenas não sinto. O resultado do meu trabalho é problema dos meus clientes, não meu.Contudo, excepcionalmente hoje, sinto alguma emoção enquanto aguardo pelo fim da pequena festa que Skyla deu. Porque hoje não estou fazendo um serviço, estou fazendo
ANGELIC...Desperto, sentindo meu corpo corresponder da pior forma possível. Minha cabeça lateja como nunca antes. Tento abrir os olhos, e agradeço pela escuridão ao meu redor. Eu não suportaria sequer uma faísca de luz do sol.Olho para o lado, buscando meu relógio de cabeceira. Não o encontro, então me lembro de que não estou em casa.Na verdade, onde eu estou?Me sento na cama macia, e sinto o lençol de cetim sob meu corpo. Não é a cama de Skyla, ela odeia tecido escorregadio.Aos poucos, as imagens da última noite voltam para minha memória. Me recordo de Tyler me oferecendo o primeiro copo, depois o segundo, o terceiro... depois estávamos todos alterados, bebendo qualquer coisa que colocassem em nossos copos.Merda.Eu apaguei no sofá da área de lazer. Tyler não teria forças para me levar para cama, então...Toco meu corpo, percebendo que todas as peças de roupa estão aqui. Respiro aliviada por saber que não fui parar pelada na cama de um desconhecido.Me levanto. A vontade de con
LEBLANC...Existem homens inteligentes. Aqueles que constroem aviões, que fazem um pedaço de lata se locomover e chamam de carro. Homens que fazem o mundo prosperar, porque estão sempre tirando algo de suas mentes e colocando na terra.Por outro lado, existem homens de músculos. Eles raramente usam o cérebro mais do que os braços. São os executores. O inteligente pode até construir o avião, mas quem irá pilotar?Mas, ainda assim, existe uma terceira categoria, e eu me atrevo a dizer que é a melhor dentre todas. Homens inteligentes e executores. Aqueles que não usam o cérebro para fazer algo, mas pagam alguém para que o faça. São os famigerados chefes, aqueles que pagam o salário dos inteligentes e executores, e não precisam sequer levantar da cama.É interessante, porque exatamente agora estou vendo dois homens trabalhando. Um deles é um piloto de avião; o homem executor. O outro é um assessor; o homem inteligente. Eles estão discutindo sobre o abastecimento do avião no último mês, e
ANGELIC...Salto sobre os cacos de vidro – do copo que acabei de derrubar. LeBlanc me arrasta em direção ao corredor, sem esforço algum. Olho para trás, para a porta de entrada do apartamento que ele sequer trancou.LeBlanc abre a porta do primeiro quarto, mas não parece se contentar. Ele segue para a segunda, que é um banheiro. Me dou conta de quais são suas intenções apenas quando ele abre a porta do quarto principal, então entra.Eu nunca estive no apartamento de Vicenzo. Na verdade, nunca estive no apartamento de um homem, pelo menos não sozinha. É claro que nunca direi isso a LeBlanc. Se ele perguntar, direi que frequentava este apartamento todos os dias.Aaron para, encara a cama arrumada com lençóis e edredom branco. Ele me olha sobre o ombro.- Esta é a cama onde ele pensa que vai comer você?Não.A família Mares gosta de ter todos seus entes próximos. Neste caso, aposto que Vicenzo me levaria para morar com sua mãe e irmãos nos Hamptons.- Ele pensa? – ergo uma sobrancelha.N