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Capítulo 7 - Os Espinhos do Orgulho

A manhã chegou lentamente, e com ela, a tensão que parecia pairar sobre a mansão como uma névoa pesada. Michele estava longe de ser alguém que perdoava facilmente, e eu sabia que as palavras que trocamos na noite anterior não seriam esquecidas tão cedo.

Ao descer para o café, encontrei a sala de jantar vazia. A mesa impecavelmente posta, com pratos de porcelana e talheres que brilhavam sob a luz suave que atravessava as janelas altas, parecia um cenário tirado de um filme. Mas o protagonista, como sempre, estava ausente.

— Onde está Michele? — perguntei a uma das empregadas, uma mulher de olhar discreto e movimentos ágeis.

— Ele está na biblioteca, senhorita Lara — respondeu ela, com uma reverência quase imperceptível antes de desaparecer pelo corredor.

A biblioteca. Eu não sabia o que me atraía mais: o desejo de confrontá-lo novamente ou a curiosidade de vê-lo naquele espaço. Michele tinha algo que o tornava fascinante, mesmo quando ele me irritava profundamente.

Caminhei até a porta da biblioteca e parei, respirando fundo antes de entrar. Quando abri a porta, fui recebida pelo aroma de couro e papel envelhecido. As prateleiras altas estavam abarrotadas de livros, e Michele estava de pé diante de uma delas, folheando um volume grosso com uma expressão de concentração que o fazia parecer ainda mais distante.

Ele não olhou para mim imediatamente, mas sabia que eu estava ali.

— Algum motivo para me encarar como se eu fosse parte da decoração? — perguntou ele, sem levantar os olhos do livro.

— Pensei que talvez você tivesse algo a dizer sobre ontem à noite — retruquei, cruzando os braços. — Ou está mais confortável fingindo que não aconteceu?

Ele fechou o livro com um estalo e finalmente me olhou. Seu olhar era intenso, mas havia algo diferente. Menos frio, talvez. Mais curioso.

— O que você espera que eu diga? — perguntou ele, colocando o livro de volta na prateleira. — Que você estava certa? Que sou uma fera presa no meu próprio castelo?

— Não precisa admitir nada para mim, Michele. Mas talvez devesse admitir para si mesmo.

Por um momento, ele apenas me observou, como se estivesse tentando decidir se valia a pena responder. Finalmente, ele deu um passo à frente, reduzindo a distância entre nós.

— Você é insistente, eu dou isso a você — disse ele, com um sorriso irônico. — Mas se está esperando que eu me abra como um personagem de romance, vai se decepcionar. Meu mundo não é feito de sentimentos, Lara. É feito de lógica, poder e controle.

— Talvez seja por isso que ele é tão vazio — retruquei, sem me importar em medir as palavras.

Seus olhos se estreitaram, mas ele não se afastou. Pelo contrário, ele inclinou a cabeça, como se estivesse me estudando.

— E o que você sabe sobre vazio? — perguntou ele, a voz baixa, quase um desafio. — Você cresceu cercada por conforto, protegida das sombras que governam este mundo.

— Você não sabe nada sobre mim — respondi, com a mesma intensidade. — Só porque meu irmão fez escolhas erradas, não significa que minha vida tenha sido um mar de rosas. Eu perdi tanto quanto você, Michele. Talvez até mais.

Ele riu, mas não havia humor em seu tom.

— Você acha que sabe o que é perder, Lara? Perder não é um evento único. É algo que te segue, que te consome, até que não reste mais nada.

— Então é isso? Você acha que a dor justifica se afastar de tudo e de todos? — Minha voz era firme, mas meu coração batia acelerado. — É mais fácil se esconder atrás dessa máscara de arrogância do que admitir que está quebrado, não é?

Houve um silêncio carregado entre nós. Eu sabia que estava me arriscando, mas não podia recuar. Michele finalmente deu um passo para trás, passando a mão pelos cabelos em um gesto frustrado.

— Você é mais irritante do que eu imaginava — murmurou ele, mas havia um tom quase divertido em sua voz. — Mas não pense que pode entrar na minha mente, Lara. Não é tão simples assim.

— Eu não quero entrar na sua mente, Michele. Só quero entender por que você insiste em ser uma fera, quando claramente não precisa ser.

Ele me olhou por um longo momento, e pela primeira vez, parecia não ter uma resposta pronta. Em vez disso, ele se virou e caminhou até uma das janelas, olhando para os jardins lá fora.

— Você não entende o que significa viver neste mundo, Lara. É fácil julgar de fora, mas aqui dentro... é diferente. — Sua voz era quase um sussurro, carregada de algo que parecia pesar.

— Então me explique — insisti, dando um passo na direção dele. — Se é tão diferente, me mostre.

Ele riu novamente, mas dessa vez, parecia cansado.

— Você é teimosa, eu admito. Mas cuidado, Lara. Quanto mais se aproxima de uma fera, maior a chance de se machucar nos espinhos.

— Talvez eu não me importe com os espinhos — respondi, sem hesitar.

Ele finalmente se virou para mim, seus olhos escuros brilhando com algo que eu não conseguia decifrar. Era como se, por um instante, a máscara tivesse caído. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele deu um passo para trás, retomando sua postura controlada.

— Tenho trabalho a fazer — disse ele, encerrando a conversa. — Sugiro que aproveite o dia para explorar a mansão, se isso a mantiver ocupada.

Sabia que ele estava se afastando novamente, construindo suas barreiras. Mas, ao mesmo tempo, senti que havia conseguido um pequeno avanço, por menor que fosse. Havia algo por trás daquela fachada fria e arrogante, algo que ele parecia desesperado para proteger.

E eu estava determinada a descobrir o que era.

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