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Capítulo 5: O Homem por trás da Fera

O silêncio na mansão era quase palpável, quebrado apenas pelo eco dos meus passos no piso de mármore enquanto caminhava pelo corredor em direção à biblioteca. Michele havia ordenado que eu me apresentasse ali depois do café da manhã. A formalidade de sua voz e o tom imperioso ainda ressoavam na minha mente, uma mistura de frustração e curiosidade me consumindo.

A porta dupla se abriu com um rangido baixo, revelando um espaço grandioso repleto de estantes que se estendiam do chão ao teto. Livros em capas de couro preenchiam cada centímetro, e a luz suave que entrava pelas altas janelas dava ao ambiente uma aura quase mágica. Michele estava ali, parado próximo a uma das janelas, vestido impecavelmente em um terno escuro que parecia ter sido feito sob medida para ele. Seu rosto estava iluminado pela luz matinal, e, por um momento, fiquei hipnotizada pela simetria de suas feições.

Ele era inacreditavelmente bonito, com linhas fortes e olhos que pareciam penetrar na alma de qualquer um. Mas essa beleza era também intimidadora, como um espinho escondido na flor mais deslumbrante.

— Você está atrasada — ele disse sem sequer se virar para mim.

— Dois minutos não são atraso — retruquei, cruzando os braços, recusando-me a demonstrar a inquietação que sua presença me causava.

Finalmente, ele se virou para me encarar, um sorriso frio curvando seus lábios.

— No meu mundo, Lara, até os segundos contam. É bom que comece a se adaptar a isso.

— E no meu mundo, as pessoas são pontuais quando o compromisso importa. Talvez o problema seja você, e não eu — respondi, mantendo meu olhar fixo no dele.

Por um momento, algo mudou em sua expressão. Talvez fosse surpresa, talvez divertimento, mas desapareceu rápido demais para que eu pudesse ter certeza. Ele indicou uma das poltronas ao lado de uma mesa central, sem se incomodar em responder. Relutante, me sentei, observando enquanto ele pegava um livro de uma das prateleiras.

— Sabe por que eu pedi que viesse aqui? — perguntou, colocando o livro na mesa entre nós. Era uma edição antiga de "A Bela e a Fera".

A ironia não passou despercebida por mim, e soltei uma risada curta.

— Planejando uma aula de moral? Você não parece o tipo de pessoa que acredita em finais felizes.

Ele inclinou ligeiramente a cabeça, um traço de sorriso ainda em seus lábios.

— E você parece acreditar. Isso é interessante, considerando sua situação atual.

— Minha situação é consequência das escolhas de outras pessoas, não minhas. Isso não significa que eu tenha desistido de encontrar um final diferente — retruquei, erguendo o queixo.

Ele riu baixo, um som que parecia ao mesmo tempo genuíno e cruel.

— Você tem espírito, Lara. Mas a realidade não é um conto de fadas. Nesse mundo, ou você aprende a sobreviver, ou é devorada. Simples assim.

— Talvez você não conheça a realidade tanto quanto pensa. Afinal, você vive em uma mansão com seguranças por todos os lados. Quem é realmente o prisioneiro aqui, Michele?

Ele ficou em silêncio, me estudando com aqueles olhos escuros e insondáveis. Então, pegou o livro e abriu em uma página ao acaso, deslizando os dedos pelas palavras impressas.

— A Fera não era realmente um monstro — ele disse, como se falasse mais para si mesmo do que para mim. — Ele era um homem condenado por suas próprias escolhas. Você acha que sou a Fera, Lara?

A pergunta me pegou de surpresa. Havia algo em sua voz, uma sombra de vulnerabilidade que eu não esperava. Mas logo desapareceu, substituída pela fria arrogância que eu já começava a reconhecer.

— Eu acho que você é o homem que se esconde atrás de uma máscara. E talvez nem você saiba quem realmente é — respondi, sem quebrar o contato visual.

Por um instante, pensei ter o atingido. Seus lábios se apertaram em uma linha fina, e ele fechou o livro com um som seco.

— Isso é irrelevante — disse, sua voz voltando ao tom controlado. — O que importa é que você entenda seu lugar aqui.

Eu me levantei, ignorando o medo que ainda tentava se infiltrar em meu peito.

— Meu lugar aqui? Você pode me manter nessa mansão, Michele, mas nunca vai me possuir. Eu não sou uma de suas conquistas.

Ele também se levantou, e a proximidade entre nós fez meu coração acelerar. Ele era intimidador, cada centímetro de seu corpo irradiando autoridade, mas eu me recusei a recuar.

— Você subestima minha determinação, Lara — ele disse baixinho, quase em um sussurro. — Mas isso faz de você uma adversária interessante. Vamos ver quanto tempo você aguenta.

Eu o encarei, minha respiração rápida, mas meus olhos desafiando os dele.

— Você subestima a minha também — respondi com firmeza.

Por um momento, ficamos em silêncio, presos em uma batalha de vontades que parecia consumir o ar entre nós. Então, ele deu um passo para trás, seu rosto voltando à expressão impassível de sempre.

— A biblioteca é sua para usar — ele disse, sua voz agora mais controlada. — Mas lembre-se, Lara: tudo aqui pertence a mim. Incluindo você.

Eu o observei sair, a tensão em meus ombros finalmente diminuindo quando a porta se fechou atrás dele. Olhei para o livro que ele havia deixado na mesa, a capa com a imagem de uma rosa cercada por espinhos. Peguei-o e o segurei por um momento, sentindo o peso simbólico em minhas mãos.

— Talvez você esteja certo, Michele — murmurei para mim mesma. — Talvez isso não seja um conto de fadas. Mas não significa que eu não possa escrever meu próprio final.

Com essas palavras, me sentei e comecei a ler, determinada a encontrar alguma forma de escapar das correntes invisíveis que ele colocou em mim.

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