Aquela noite foi inquieta. A cama luxuosa e os lençóis macios eram um contraste doloroso com a prisão invisível que me envolvia. Olhei para o teto do quarto imenso, sentindo o peso da situação me sufocar. Michele Lombardi era como uma sombra constante em meus pensamentos, e, por mais que eu quisesse odiá-lo, havia algo em seus olhos que não me deixava em paz.
O som de passos firmes pelo corredor me fez sentar na cama. Meu coração disparou, mas a porta permaneceu fechada. Eu estava sozinha. Ou pelo menos era o que parecia.
Na manhã seguinte, uma batida suave na porta me tirou dos meus pensamentos. Antes que eu pudesse responder, a porta se abriu, revelando uma mulher bem vestida. Ela carregava uma bandeja de café da manhã, e sua expressão era neutra.
— Senhorita Lara, o senhor Lombardi deseja vê-la no jardim após o café. — Sua voz era educada, mas firme, como se não houvesse espaço para recusa.
— Eu realmente não tenho escolha, não é? — respondi, com uma ironia que mal escondia minha frustração.
A mulher apenas sorriu levemente e saiu sem dizer mais nada.
Depois de me arrumar com as roupas que haviam sido deixadas para mim — um vestido simples, mas incrivelmente elegante —, fui conduzida por um dos seguranças até o jardim. Quando saí da mansão, fiquei impressionada com a beleza do lugar. O jardim era imenso, cheio de flores exuberantes, fontes de água cristalina e esculturas que pareciam contar histórias de eras passadas.
Michele estava de pé ao lado de uma fonte central. Ele vestia um terno impecável, mas sua postura relaxada contrastava com a seriedade de seu olhar. Quando me aproximei, ele se virou para mim, avaliando-me com aqueles olhos escuros que pareciam enxergar muito mais do que eu gostaria.
— Espero que tenha dormido bem, Lara. — Sua voz era calma, mas havia um tom de desafio nela.
— Dormir bem em uma prisão? Não exatamente o cenário ideal. — Respondi com firmeza, tentando não demonstrar o nervosismo que sua presença me causava.
Ele deu um sorriso breve, quase imperceptível.
— Este lugar está longe de ser uma prisão. — Ele gesticulou para o jardim ao redor. — Mas entendo por que você pode pensar assim.
— Então me deixe ir embora. — Cruzei os braços, desafiando-o com o olhar.
Michele se aproximou, seus passos lentos, mas determinados. Quando ele parou a poucos passos de mim, sua presença parecia preencher todo o espaço entre nós.
— Você acha que isso é tão simples, Lara? Que pode simplesmente ir embora e fingir que nada aconteceu? — Sua voz era baixa, mas havia algo nela que me fez estremecer.
Eu desviei o olhar, sentindo um misto de raiva e impotência. Ele suspirou, como se estivesse tentando conter algo.
— Venha. Quero lhe mostrar uma coisa. — Ele se virou e começou a caminhar, sem esperar que eu o seguisse.
Hesitei por um momento, mas minha curiosidade acabou vencendo. Segui Michele por um caminho ladeado por roseiras. As flores eram incríveis, de um vermelho profundo que parecia quase irreal. Quando paramos, ele se virou para mim, segurando uma das rosas com cuidado.
— Sabe por que as rosas são tão especiais? — Ele perguntou, observando a flor como se estivesse falando consigo mesmo.
— Porque são bonitas? — respondi, sem entender onde ele queria chegar.
Ele sorriu novamente, mas dessa vez havia algo melancólico em sua expressão.
— Porque carregam beleza e perigo ao mesmo tempo. Os espinhos são uma defesa, mas também um aviso. Elas não são para qualquer um. — Ele me olhou diretamente, e senti como se suas palavras tivessem um significado muito mais profundo.
— E o que isso tem a ver comigo? — perguntei, tentando esconder o incômodo que suas palavras me causavam.
Michele se aproximou mais uma vez, segurando a rosa entre nós.
— Talvez você seja como uma dessas rosas, Lara. Bela, mas com espinhos que tenta usar para afastar quem se aproxima.
Eu o encarei, sentindo a raiva crescer novamente.
— E você? O que você é, Michele? O jardineiro que corta as rosas ou a fera que as destrói?
Seu sorriso desapareceu, e por um momento, vi algo diferente em seus olhos. Algo que quase parecia dor. Mas ele logo recuperou sua compostura.
— Talvez eu seja apenas a fera que não sabe como lidar com algo tão delicado. — Sua voz era quase um sussurro, mas o peso de suas palavras me atingiu em cheio.
Ficamos em silêncio por alguns instantes, o som da água da fonte preenchendo o espaço entre nós. Eu queria dizer algo, mas não sabia o quê. Havia tantas coisas que eu queria perguntar, tantas coisas que queria entender, mas Michele era como uma muralha impenetrável.
— Lara, você tem uma escolha aqui. — Ele finalmente quebrou o silêncio. — Pode continuar me vendo como um monstro, ou pode tentar enxergar além disso. Mas lembre-se: nem tudo é o que parece.
— E o que você quer que eu veja? — perguntei, minha voz cheia de desconfiança.
Ele não respondeu. Em vez disso, deixou a rosa cair no chão e se virou para sair. Fiquei ali, olhando para a flor abandonada, sentindo como se ela fosse um reflexo da minha própria situação. Bela, mas esquecida em um lugar onde não pertencia.
Enquanto voltava para a mansão, uma coisa ficou clara para mim: Michele Lombardi não era apenas um homem frio e cruel. Ele era um enigma, uma fera com espinhos que escondiam algo muito mais profundo. E, de alguma forma, eu sabia que minha presença ali não era apenas uma questão de dívidas ou poder. Havia algo mais, algo que eu ainda não conseguia compreender.
E, por mais que eu quisesse negar, parte de mim estava determinada a descobrir o que era.
O silêncio na mansão era quase palpável, quebrado apenas pelo eco dos meus passos no piso de mármore enquanto caminhava pelo corredor em direção à biblioteca. Michele havia ordenado que eu me apresentasse ali depois do café da manhã. A formalidade de sua voz e o tom imperioso ainda ressoavam na minha mente, uma mistura de frustração e curiosidade me consumindo.A porta dupla se abriu com um rangido baixo, revelando um espaço grandioso repleto de estantes que se estendiam do chão ao teto. Livros em capas de couro preenchiam cada centímetro, e a luz suave que entrava pelas altas janelas dava ao ambiente uma aura quase mágica. Michele estava ali, parado próximo a uma das janelas, vestido impecavelmente em um terno escuro que parecia ter sido feito sob medida para ele. Seu rosto estava iluminado pela luz matinal, e, por um momento, fiquei hipnotizada pela simetria de suas feições.Ele era inacreditavelmente bonito, com linhas fortes e olhos que pareciam penetrar na alma de qualquer um. Ma
O silêncio no corredor era tão profundo que o som dos meus passos parecia ecoar por toda a mansão. Eu havia passado boa parte da noite refletindo sobre as palavras de Michele e as barreiras que ele parecia determinado a erguer entre nós. Mas minha curiosidade estava longe de ser saciada. Ele era um enigma que eu não conseguia ignorar, por mais que quisesse.A porta do escritório dele estava entreaberta, e, mesmo hesitando, bati levemente. Não esperava uma resposta amigável, mas precisava confrontá-lo. Precisava entender o que ele queria de mim.— Entre — sua voz soou firme, como se já soubesse que eu estava ali.Empurrei a porta devagar e o encontrei sentado à mesa, cercado por pilhas de papéis e uma taça de vinho. A iluminação suave do abajur fazia sombras dançarem pelo rosto dele, destacando suas feições perfeitas, quase como uma escultura. Ele ergueu os olhos, fixando-os em mim, e senti um calafrio percorrer minha espinha.— O que foi agora, Lara? — perguntou ele, a paciência evide
A manhã chegou lentamente, e com ela, a tensão que parecia pairar sobre a mansão como uma névoa pesada. Michele estava longe de ser alguém que perdoava facilmente, e eu sabia que as palavras que trocamos na noite anterior não seriam esquecidas tão cedo.Ao descer para o café, encontrei a sala de jantar vazia. A mesa impecavelmente posta, com pratos de porcelana e talheres que brilhavam sob a luz suave que atravessava as janelas altas, parecia um cenário tirado de um filme. Mas o protagonista, como sempre, estava ausente.— Onde está Michele? — perguntei a uma das empregadas, uma mulher de olhar discreto e movimentos ágeis.— Ele está na biblioteca, senhorita Lara — respondeu ela, com uma reverência quase imperceptível antes de desaparecer pelo corredor.A biblioteca. Eu não sabia o que me atraía mais: o desejo de confrontá-lo novamente ou a curiosidade de vê-lo naquele espaço. Michele tinha algo que o tornava fascinante, mesmo quando ele me irritava profundamente.Caminhei até a porta
Apesar da morte dos meus pais eu estava feliz, finalmente meu irmão e eu tínhamos encontrado alguma espécie de conforto na casa que herdamos da nossa mãe, na verdade, a casa era da nossa avó, e com a morte dos nossos pais decidimos nos mudar para ela.Marco sempre foi alguém reservado, ele nunca foi alguém de conversar muito, sempre calado e resolvendo as coisas dele, eu sempre tentei questionar o que ele fazia, mas ele nunca me disse de onde vinha o dinheiro ou com quem estava andando.Até eu descobrir que ele havia se metido com uns caras da pesada.— Como pode pegar dinheiro emprestado com esses caras? Você é maluco Marco? — gritei olhando para o meu irmão que estava agora sentado na mesa da cozinha antiga da nossa nova casa.— Eu precisei Lara, ou você pensa que tudo saiu de graça? O enterro dos nossos pais, a mudança para cá, não sei em que mundo você vive mergulhada nesses seus livros, mas eu vivo em um mundo real, onde tudo é preciso pagar.— Mas e agora? O que vamos fazer? — o
O som dos meus passos ecoava no mármore frio do corredor enquanto eu seguia Michele. Cada movimento meu parecia ser observado, como se o simples ato de respirar fosse uma afronta. A mansão era grandiosa, mas tinha algo opressor nela, como se fosse feita para engolir qualquer vestígio de liberdade. Eu olhava ao redor, tentando entender a magnitude daquele lugar. Cada detalhe, do tapete luxuoso ao lustre de cristal, parecia tentar me convencer de que eu era insignificante.Michele não me dava atenção. Ele caminhava na frente, sua postura ereta e imponente, o olhar fixo à frente. Os seguranças que nos acompanhavam não ousavam levantar os olhos. Era como se eu fosse invisível para todos, exceto para ele.Eu tentava não pensar no que me aguardava, mas a sensação de estar sendo conduzida para algo pior a cada passo me consumia. Michele parou diante de uma porta feita de madeira escura, com entalhes que pareciam relatar batalhas antigas. Ele abriu a porta e entrou sem dizer uma palavra. Hesi
A porta do meu quarto se abriu bruscamente, me arrancando do sono leve. Ainda meio grogue, virei-me para encarar quem ousava invadir meu espaço tão cedo. Lá estava ele, Michele Lombardi, com sua presença avassaladora. Vestido impecavelmente em um terno cinza-escuro, ele parecia um rei em seu trono, mas seu olhar gelado e implacável me lembrava de que, para ele, eu não passava de uma prisioneira.— Levante-se — ordenou ele, sua voz firme como sempre. — Temos um dia cheio.— Cheio de quê? Você planeja me trancar em mais um quarto? — retruquei, sentando-me na cama e tentando afastar o torpor do sono.Seu olhar ficou ainda mais penetrante. Ele não estava acostumado a ser desafiado, mas algo em mim se recusava a baixar a cabeça.— Lembre-se de onde está, Lara. Aqui, minha palavra é lei. — Ele deu um passo à frente, reduzindo ainda mais a distância entre nós. — Se preferir ficar neste quarto para sempre, isso pode ser arranjado. Mas acho que você vai querer ver o que preparei.Levantei-me l