A porta do meu quarto se abriu bruscamente, me arrancando do sono leve. Ainda meio grogue, virei-me para encarar quem ousava invadir meu espaço tão cedo. Lá estava ele, Michele Lombardi, com sua presença avassaladora. Vestido impecavelmente em um terno cinza-escuro, ele parecia um rei em seu trono, mas seu olhar gelado e implacável me lembrava de que, para ele, eu não passava de uma prisioneira.
— Levante-se — ordenou ele, sua voz firme como sempre. — Temos um dia cheio.
— Cheio de quê? Você planeja me trancar em mais um quarto? — retruquei, sentando-me na cama e tentando afastar o torpor do sono.
Seu olhar ficou ainda mais penetrante. Ele não estava acostumado a ser desafiado, mas algo em mim se recusava a baixar a cabeça.
— Lembre-se de onde está, Lara. Aqui, minha palavra é lei. — Ele deu um passo à frente, reduzindo ainda mais a distância entre nós. — Se preferir ficar neste quarto para sempre, isso pode ser arranjado. Mas acho que você vai querer ver o que preparei.
Levantei-me lentamente, cruzando os braços. Não ia deixá-lo intimidar-me.
— E o que você preparou? Um desfile do seu exército particular?
Um canto de sua boca se ergueu em algo que poderia ser um sorriso, mas sem nenhum traço de bondade.
— Você tem um humor afiado, devo admitir. Mas não é um desfile. Pense nisso como... uma lição.
Antes que eu pudesse responder, ele deu meia-volta e saiu do quarto. Respirei fundo e o segui, minhas botas ecoando no piso de mármore enquanto atravessávamos corredores intermináveis. A mansão era um labirinto, cada sala mais imponente que a anterior. Quadros de paisagens italianas adornavam as paredes, mas não havia calor ou vida na decoração. Era tudo frio, calculado.
— Você parece gostar de lembrar às pessoas o quanto tem — comentei, gesticulando para o luxo ao nosso redor. — Compensa algo que falta?
Ele parou abruptamente e virou-se para me encarar. Seus olhos, tão escuros quanto a noite, fixaram-se nos meus.
— Cuidado, Lara. Você está pisando em terreno perigoso. — A intensidade em sua voz era quase palpável.
— E o que mais você pode fazer? — rebati, mantendo meu olhar firme. — Você já me tirou tudo.
Ele não respondeu. Em vez disso, continuou andando, e eu não tive escolha a não ser segui-lo. Finalmente, chegamos a uma sala ampla, com uma mesa de jantar longa e impecavelmente posta. O cheiro de comida deliciosa pairava no ar, mas algo me dizia que este não seria um café da manhã comum.
— Sente-se — ordenou Michele, apontando para uma das cadeiras no centro da mesa.
Olhei para ele, desconfiada, antes de fazer o que pediu. Michele tomou o assento na cabeceira da mesa e cruzou os braços, me observando com uma intensidade que me fazia querer desviar o olhar, mas eu não o fiz.
— Então, o que isso significa? Você planeja me alimentar bem antes de me dizer o que realmente quer? — provoquei.
Ele ignorou a provocação, pegando uma taça de vinho, apesar de ainda ser cedo para isso.
— Lara, você é inteligente. Então me diga: por que acha que está aqui?
Cruzei os braços, inclinando-me levemente para frente.
— Porque meu irmão fez um acordo idiota. Mas, sinceramente, não entendo o que você ganha com isso. Sou apenas uma mulher comum.
Seus lábios se curvaram em algo que poderia ser considerado um sorriso, mas havia um toque cruel nele.
— Comum? Você acha isso de si mesma? Não seja tão ingêna. Seu irmão sabia exatamente o que estava fazendo quando trouxe você para mim. Você tem um valor que talvez nem perceba.
Minha pele arrepiou com suas palavras. Havia algo nos olhos dele que parecia enxergar através de mim, e isso me incomodava profundamente.
— E o que você quer de mim? Um serviço? Uma... esposa troféu? — Minhas palavras saíram com mais veneno do que eu pretendia, mas não me arrependi.
Ele colocou a taça na mesa e inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos na mesa.
— Eu quero obediência. E, talvez, lealdade. Mas isso é algo que você precisará decidir.
Dei uma risada seca.
— Obediência? Você realmente acredita que pode me forçar a isso?
Ele não respondeu imediatamente. Apenas me observou, avaliando-me como se estivesse decidindo meu destino ali mesmo.
— Não sou um homem que perde tempo com jogos, Lara. Você está aqui porque o destino decidiu assim. O que acontece a partir daqui depende de você.
Eu podia sentir o peso das palavras dele, mas não queria ceder à pressão. Não podia.
— Meu destino? Você quer dizer que meu irmão decidiu isso por mim. Vamos ser claros: eu não estou aqui por escolha. E não vou fingir que aceito isso.
Por um momento, achei que ele fosse se irritar. Mas, em vez disso, ele riu baixinho. Era um som baixo e quase... fascinante.
— Você tem mais coragem do que qualquer um que conheço. Isso é... refrescante.
— Coragem ou estupidez? — rebati.
Ele inclinou a cabeça ligeiramente, como se considerasse a pergunta.
— Talvez um pouco dos dois. Mas não se preocupe, Lara. Eu tenho paciência. E, eventualmente, você entenderá que o que eu ofereço não é tão terrível quanto imagina.
Antes que eu pudesse responder, um dos seguranças entrou na sala e sussurrou algo no ouvido de Michele. Ele se levantou, ajeitando o paletó com um movimento fluido.
— Termine seu café da manhã. Alguém vai levá-la ao jardim. Aproveite um pouco de ar fresco.
E com isso, ele saiu, deixando-me sozinha com mais perguntas do que respostas.
Alguma coisa me dizia que aquela história apenas começava, e que Michele Lombardi era muito mais do que um homem poderoso e frio. Algo nele lembrava a fera das histórias, e eu só podia esperar que, como na lenda, houvesse um coração em algum lugar por trás daquela fachada impenetrável.
Aquela noite foi inquieta. A cama luxuosa e os lençóis macios eram um contraste doloroso com a prisão invisível que me envolvia. Olhei para o teto do quarto imenso, sentindo o peso da situação me sufocar. Michele Lombardi era como uma sombra constante em meus pensamentos, e, por mais que eu quisesse odiá-lo, havia algo em seus olhos que não me deixava em paz.O som de passos firmes pelo corredor me fez sentar na cama. Meu coração disparou, mas a porta permaneceu fechada. Eu estava sozinha. Ou pelo menos era o que parecia.Na manhã seguinte, uma batida suave na porta me tirou dos meus pensamentos. Antes que eu pudesse responder, a porta se abriu, revelando uma mulher bem vestida. Ela carregava uma bandeja de café da manhã, e sua expressão era neutra.— Senhorita Lara, o senhor Lombardi deseja vê-la no jardim após o café. — Sua voz era educada, mas firme, como se não houvesse espaço para recusa.— Eu realmente não tenho escolha, não é? — respondi, com uma ironia que mal escondia minha f
O silêncio na mansão era quase palpável, quebrado apenas pelo eco dos meus passos no piso de mármore enquanto caminhava pelo corredor em direção à biblioteca. Michele havia ordenado que eu me apresentasse ali depois do café da manhã. A formalidade de sua voz e o tom imperioso ainda ressoavam na minha mente, uma mistura de frustração e curiosidade me consumindo.A porta dupla se abriu com um rangido baixo, revelando um espaço grandioso repleto de estantes que se estendiam do chão ao teto. Livros em capas de couro preenchiam cada centímetro, e a luz suave que entrava pelas altas janelas dava ao ambiente uma aura quase mágica. Michele estava ali, parado próximo a uma das janelas, vestido impecavelmente em um terno escuro que parecia ter sido feito sob medida para ele. Seu rosto estava iluminado pela luz matinal, e, por um momento, fiquei hipnotizada pela simetria de suas feições.Ele era inacreditavelmente bonito, com linhas fortes e olhos que pareciam penetrar na alma de qualquer um. Ma
O silêncio no corredor era tão profundo que o som dos meus passos parecia ecoar por toda a mansão. Eu havia passado boa parte da noite refletindo sobre as palavras de Michele e as barreiras que ele parecia determinado a erguer entre nós. Mas minha curiosidade estava longe de ser saciada. Ele era um enigma que eu não conseguia ignorar, por mais que quisesse.A porta do escritório dele estava entreaberta, e, mesmo hesitando, bati levemente. Não esperava uma resposta amigável, mas precisava confrontá-lo. Precisava entender o que ele queria de mim.— Entre — sua voz soou firme, como se já soubesse que eu estava ali.Empurrei a porta devagar e o encontrei sentado à mesa, cercado por pilhas de papéis e uma taça de vinho. A iluminação suave do abajur fazia sombras dançarem pelo rosto dele, destacando suas feições perfeitas, quase como uma escultura. Ele ergueu os olhos, fixando-os em mim, e senti um calafrio percorrer minha espinha.— O que foi agora, Lara? — perguntou ele, a paciência evide
A manhã chegou lentamente, e com ela, a tensão que parecia pairar sobre a mansão como uma névoa pesada. Michele estava longe de ser alguém que perdoava facilmente, e eu sabia que as palavras que trocamos na noite anterior não seriam esquecidas tão cedo.Ao descer para o café, encontrei a sala de jantar vazia. A mesa impecavelmente posta, com pratos de porcelana e talheres que brilhavam sob a luz suave que atravessava as janelas altas, parecia um cenário tirado de um filme. Mas o protagonista, como sempre, estava ausente.— Onde está Michele? — perguntei a uma das empregadas, uma mulher de olhar discreto e movimentos ágeis.— Ele está na biblioteca, senhorita Lara — respondeu ela, com uma reverência quase imperceptível antes de desaparecer pelo corredor.A biblioteca. Eu não sabia o que me atraía mais: o desejo de confrontá-lo novamente ou a curiosidade de vê-lo naquele espaço. Michele tinha algo que o tornava fascinante, mesmo quando ele me irritava profundamente.Caminhei até a porta
Apesar da morte dos meus pais eu estava feliz, finalmente meu irmão e eu tínhamos encontrado alguma espécie de conforto na casa que herdamos da nossa mãe, na verdade, a casa era da nossa avó, e com a morte dos nossos pais decidimos nos mudar para ela.Marco sempre foi alguém reservado, ele nunca foi alguém de conversar muito, sempre calado e resolvendo as coisas dele, eu sempre tentei questionar o que ele fazia, mas ele nunca me disse de onde vinha o dinheiro ou com quem estava andando.Até eu descobrir que ele havia se metido com uns caras da pesada.— Como pode pegar dinheiro emprestado com esses caras? Você é maluco Marco? — gritei olhando para o meu irmão que estava agora sentado na mesa da cozinha antiga da nossa nova casa.— Eu precisei Lara, ou você pensa que tudo saiu de graça? O enterro dos nossos pais, a mudança para cá, não sei em que mundo você vive mergulhada nesses seus livros, mas eu vivo em um mundo real, onde tudo é preciso pagar.— Mas e agora? O que vamos fazer? — o
O som dos meus passos ecoava no mármore frio do corredor enquanto eu seguia Michele. Cada movimento meu parecia ser observado, como se o simples ato de respirar fosse uma afronta. A mansão era grandiosa, mas tinha algo opressor nela, como se fosse feita para engolir qualquer vestígio de liberdade. Eu olhava ao redor, tentando entender a magnitude daquele lugar. Cada detalhe, do tapete luxuoso ao lustre de cristal, parecia tentar me convencer de que eu era insignificante.Michele não me dava atenção. Ele caminhava na frente, sua postura ereta e imponente, o olhar fixo à frente. Os seguranças que nos acompanhavam não ousavam levantar os olhos. Era como se eu fosse invisível para todos, exceto para ele.Eu tentava não pensar no que me aguardava, mas a sensação de estar sendo conduzida para algo pior a cada passo me consumia. Michele parou diante de uma porta feita de madeira escura, com entalhes que pareciam relatar batalhas antigas. Ele abriu a porta e entrou sem dizer uma palavra. Hesi