Capítulo 3 - A Fera Revelada

A porta do meu quarto se abriu bruscamente, me arrancando do sono leve. Ainda meio grogue, virei-me para encarar quem ousava invadir meu espaço tão cedo. Lá estava ele, Michele Lombardi, com sua presença avassaladora. Vestido impecavelmente em um terno cinza-escuro, ele parecia um rei em seu trono, mas seu olhar gelado e implacável me lembrava de que, para ele, eu não passava de uma prisioneira.

— Levante-se — ordenou ele, sua voz firme como sempre. — Temos um dia cheio.

— Cheio de quê? Você planeja me trancar em mais um quarto? — retruquei, sentando-me na cama e tentando afastar o torpor do sono.

Seu olhar ficou ainda mais penetrante. Ele não estava acostumado a ser desafiado, mas algo em mim se recusava a baixar a cabeça.

— Lembre-se de onde está, Lara. Aqui, minha palavra é lei. — Ele deu um passo à frente, reduzindo ainda mais a distância entre nós. — Se preferir ficar neste quarto para sempre, isso pode ser arranjado. Mas acho que você vai querer ver o que preparei.

Levantei-me lentamente, cruzando os braços. Não ia deixá-lo intimidar-me.

— E o que você preparou? Um desfile do seu exército particular?

Um canto de sua boca se ergueu em algo que poderia ser um sorriso, mas sem nenhum traço de bondade.

— Você tem um humor afiado, devo admitir. Mas não é um desfile. Pense nisso como... uma lição.

Antes que eu pudesse responder, ele deu meia-volta e saiu do quarto. Respirei fundo e o segui, minhas botas ecoando no piso de mármore enquanto atravessávamos corredores intermináveis. A mansão era um labirinto, cada sala mais imponente que a anterior. Quadros de paisagens italianas adornavam as paredes, mas não havia calor ou vida na decoração. Era tudo frio, calculado.

— Você parece gostar de lembrar às pessoas o quanto tem — comentei, gesticulando para o luxo ao nosso redor. — Compensa algo que falta?

Ele parou abruptamente e virou-se para me encarar. Seus olhos, tão escuros quanto a noite, fixaram-se nos meus.

— Cuidado, Lara. Você está pisando em terreno perigoso. — A intensidade em sua voz era quase palpável.

— E o que mais você pode fazer? — rebati, mantendo meu olhar firme. — Você já me tirou tudo.

Ele não respondeu. Em vez disso, continuou andando, e eu não tive escolha a não ser segui-lo. Finalmente, chegamos a uma sala ampla, com uma mesa de jantar longa e impecavelmente posta. O cheiro de comida deliciosa pairava no ar, mas algo me dizia que este não seria um café da manhã comum.

— Sente-se — ordenou Michele, apontando para uma das cadeiras no centro da mesa.

Olhei para ele, desconfiada, antes de fazer o que pediu. Michele tomou o assento na cabeceira da mesa e cruzou os braços, me observando com uma intensidade que me fazia querer desviar o olhar, mas eu não o fiz.

— Então, o que isso significa? Você planeja me alimentar bem antes de me dizer o que realmente quer? — provoquei.

Ele ignorou a provocação, pegando uma taça de vinho, apesar de ainda ser cedo para isso.

— Lara, você é inteligente. Então me diga: por que acha que está aqui?

Cruzei os braços, inclinando-me levemente para frente.

— Porque meu irmão fez um acordo idiota. Mas, sinceramente, não entendo o que você ganha com isso. Sou apenas uma mulher comum.

Seus lábios se curvaram em algo que poderia ser considerado um sorriso, mas havia um toque cruel nele.

— Comum? Você acha isso de si mesma? Não seja tão ingêna. Seu irmão sabia exatamente o que estava fazendo quando trouxe você para mim. Você tem um valor que talvez nem perceba.

Minha pele arrepiou com suas palavras. Havia algo nos olhos dele que parecia enxergar através de mim, e isso me incomodava profundamente.

— E o que você quer de mim? Um serviço? Uma... esposa troféu? — Minhas palavras saíram com mais veneno do que eu pretendia, mas não me arrependi.

Ele colocou a taça na mesa e inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos na mesa.

— Eu quero obediência. E, talvez, lealdade. Mas isso é algo que você precisará decidir.

Dei uma risada seca.

— Obediência? Você realmente acredita que pode me forçar a isso?

Ele não respondeu imediatamente. Apenas me observou, avaliando-me como se estivesse decidindo meu destino ali mesmo.

— Não sou um homem que perde tempo com jogos, Lara. Você está aqui porque o destino decidiu assim. O que acontece a partir daqui depende de você.

Eu podia sentir o peso das palavras dele, mas não queria ceder à pressão. Não podia.

— Meu destino? Você quer dizer que meu irmão decidiu isso por mim. Vamos ser claros: eu não estou aqui por escolha. E não vou fingir que aceito isso.

Por um momento, achei que ele fosse se irritar. Mas, em vez disso, ele riu baixinho. Era um som baixo e quase... fascinante.

— Você tem mais coragem do que qualquer um que conheço. Isso é... refrescante.

— Coragem ou estupidez? — rebati.

Ele inclinou a cabeça ligeiramente, como se considerasse a pergunta.

— Talvez um pouco dos dois. Mas não se preocupe, Lara. Eu tenho paciência. E, eventualmente, você entenderá que o que eu ofereço não é tão terrível quanto imagina.

Antes que eu pudesse responder, um dos seguranças entrou na sala e sussurrou algo no ouvido de Michele. Ele se levantou, ajeitando o paletó com um movimento fluido.

— Termine seu café da manhã. Alguém vai levá-la ao jardim. Aproveite um pouco de ar fresco.

E com isso, ele saiu, deixando-me sozinha com mais perguntas do que respostas.

Alguma coisa me dizia que aquela história apenas começava, e que Michele Lombardi era muito mais do que um homem poderoso e frio. Algo nele lembrava a fera das histórias, e eu só podia esperar que, como na lenda, houvesse um coração em algum lugar por trás daquela fachada impenetrável.

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