Apesar da morte dos meus pais eu estava feliz, finalmente meu irmão e eu tínhamos encontrado alguma espécie de conforto na casa que herdamos da nossa mãe, na verdade, a casa era da nossa avó, e com a morte dos nossos pais decidimos nos mudar para ela.
Marco sempre foi alguém reservado, ele nunca foi alguém de conversar muito, sempre calado e resolvendo as coisas dele, eu sempre tentei questionar o que ele fazia, mas ele nunca me disse de onde vinha o dinheiro ou com quem estava andando.
Até eu descobrir que ele havia se metido com uns caras da pesada.
— Como pode pegar dinheiro emprestado com esses caras? Você é maluco Marco? — gritei olhando para o meu irmão que estava agora sentado na mesa da cozinha antiga da nossa nova casa.
— Eu precisei Lara, ou você pensa que tudo saiu de graça? O enterro dos nossos pais, a mudança para cá, não sei em que mundo você vive mergulhada nesses seus livros, mas eu vivo em um mundo real, onde tudo é preciso pagar.
— Mas e agora? O que vamos fazer? — olhei para ele.
— Não se preocupe, eu já dei um jeito — ele disse sem nem ao menos me encarar.
— Marco, por favor, tenha cuidado.
— Se preocupe em apenas se adaptar aqui Lara, está tudo bem, confie em mim, amanhã mesmo eu vou pagar a dívida.
Respirei fundo e concordei com ele, apesar de tudo eu cofiava no meu irmão.
Subi as escadas e entrei no meu novo quarto, era diferente da antiga casa, e eu ainda sentia falta dos meus pais, mas essa era a minha nova vida e eu tinha que me adaptar a ela.
Assim foram os próximos dias, fiz provas para as faculdades locais, comprei algumas coisas para mudar a decoração da casa, cozinhei os pratos prediletos de Marco, e finalmente consegui parar de chorar a noite antes de dormir.
Marco me assegurou que havia pagado a dívida com os caras de onde morávamos, e eu estava podia-se dizer feliz.
Mas essa felicidade não durou muito, Marco estava novamente estranho e calado, mas eu não podia imaginar, que para pagar a dívida com os marginais de onde morávamos, ele fez um acordo com o próprio diabo e eu estava no meio desse inferno.
O vento cortante de Milão parecia gelar minha alma. Cada rajada que batia contra meu rosto me fazia sentir mais perdida, mais desconectada da realidade. O frio da noite invadia meu corpo, mas o que mais me congelava era a sensação de estar sendo levada para um destino incerto.
— Você não entende, Lara, isso é necessário. Eu não tinha escolha — as palavras de Marco ainda ressoavam na minha mente.
Mas eu sabia, no fundo, que ele estava mentindo.
Ele me entregara.
Eu, sua irmã, a pessoa que ele deveria proteger, estava sendo dada como moeda de troca para saldar a dívida com um homem que ele nunca ousaria enfrentar sozinho.
O carro parou abruptamente diante de uma mansão imensa. O prédio parecia uma prisão, com janelas altas e sombrias, como olhos atentos de uma besta esperando para me devorar. O coração batia acelerado, as mãos suadas, mas as palavras que ele dissera continuavam martelando minha cabeça. Eu não sabia mais em quem confiar.
Marco olhou para mim, o rosto fechado, como se não houvesse mais nada a dizer. Não havia mais tempo para explicações. Ele apenas deu um leve aceno de cabeça para o homem que se aproximava do carro. Um homem de terno escuro, com uma expressão que parecia incapaz de sorrir.
Michele Lombardi.
Eu tinha ouvido seu nome muitas vezes antes, sempre em sussurros, sempre acompanhados de medo e respeito. O homem que meu irmão estava me entregando não era apenas rico ou influente. Ele era implacável. Conhecido por sua crueldade e pela maneira como tratava qualquer um que cruzasse seu caminho.
— Vá em frente — Marco disse, a voz tão fria quanto o vento lá fora. — Não posso fazer nada por você.
Eu engoli em seco, tentando não deixar que ele visse as lágrimas que começavam a se formar nos meus olhos.
Ele virou-se e, sem olhar para trás, entrou no carro. O motorista ligou o motor, e eles desapareceram na escuridão da noite, deixando-me ali, sozinha.
O homem que se aproximou de mim parecia feito de pedra. Seus olhos escuros não mostravam nada. Nenhuma emoção. Nenhuma humanidade. Apenas a frieza de alguém acostumado a comandar.
Ele me estendeu a mão, mas não tomei, me recusando a mostrar fraqueza diante dele.
— Entre — ele ordenou, sua voz profunda e calma, mas havia algo nela que me fez tremer.
— Eu... eu não quero — a palavra escapou da minha boca sem que eu pudesse impedir. O medo me consumia por dentro, mas tentei manter a compostura. — Eu não escolhi isso.
Ele me observou com uma expressão que poderia ser descrita como curiosidade, mas não havia bondade ali.
— Você nunca escolheu nada na vida, não é mesmo? Agora você vai aprender a fazer o que é preciso para sobreviver.
As portas da mansão se abriram diante de mim com um rangido lento e arrepiante. Como se estivessem me convidando para um mundo que eu nunca poderia deixar. A luz da entrada me cegou momentaneamente, e, quando meus olhos se ajustaram, vi que estava cercada por seguranças, todos com expressão impassível, como estátuas de mármore. Nenhuma palavra, nenhum gesto, apenas o silêncio denso e ameaçador que pairava no ar.
— Entre, Lara — ele repetiu, o tom mais suave agora, mas sem nenhum sinal de simpatia.
Meu corpo se moveu automaticamente, meus pés pesando a cada passo que dava em direção à escuridão que se estendia diante de mim. Cada passo me afastava mais da liberdade que um dia eu tinha. Cada passo me afastava de quem eu era.
O som das minhas botas ecoava pelo hall enorme enquanto eu cruzava o limite entre a entrada e o desconhecido. A mansão era muito mais do que uma casa. Era um castelo de poder, de domínio absoluto. O silêncio era opressor, como se até as paredes estivessem observando.
Ele se manteve ao meu lado, mas a distância entre nós parecia imensa. Eu não queria olhar para ele, não queria encarar o homem que me tomaria como sua propriedade. Mas as palavras que ele dissera ficaram gravadas na minha mente.
— Bem-vinda ao meu mundo, Lara — ele disse finalmente, seus olhos penetrando nos meus, avaliando-me como se eu fosse uma peça em seu jogo. — Aqui, você fará o que for necessário. Se sobreviver.
Eu engoli em seco, sentindo o peso de sua presença me esmagando. Ele não me conhecia. Não sabia o quanto eu estava disposta a lutar para não me tornar mais uma peça de seu domínio. Mas naquele momento, percebi que a batalha estava apenas começando, e o preço da minha liberdade seria mais alto do que eu jamais imaginei.
— Não vou ser sua prisioneira — murmurei, tentando reunir o que restava de coragem em mim.
Ele deu um leve sorriso, mas não era um sorriso amigável. Era um sorriso de quem já sabia o fim da história.
— Vamos ver quanto tempo você aguenta, Lara — ele disse, o tom de sua voz cheio de um desafio silencioso.
E então ele me guiou para o interior da mansão, onde meu novo “lar” me aguardava.
Eu não sabia o que me aguardava naquela casa, qual seria meu destino, mas eu sabia que não seria nada comparado ao que sonhei por toda a minha vida, aquele homem era frio, e arrogante, cruel e bonito na mesma proporção e eu sabia que ele não teria piedade de mim.
O som dos meus passos ecoava no mármore frio do corredor enquanto eu seguia Michele. Cada movimento meu parecia ser observado, como se o simples ato de respirar fosse uma afronta. A mansão era grandiosa, mas tinha algo opressor nela, como se fosse feita para engolir qualquer vestígio de liberdade. Eu olhava ao redor, tentando entender a magnitude daquele lugar. Cada detalhe, do tapete luxuoso ao lustre de cristal, parecia tentar me convencer de que eu era insignificante.Michele não me dava atenção. Ele caminhava na frente, sua postura ereta e imponente, o olhar fixo à frente. Os seguranças que nos acompanhavam não ousavam levantar os olhos. Era como se eu fosse invisível para todos, exceto para ele.Eu tentava não pensar no que me aguardava, mas a sensação de estar sendo conduzida para algo pior a cada passo me consumia. Michele parou diante de uma porta feita de madeira escura, com entalhes que pareciam relatar batalhas antigas. Ele abriu a porta e entrou sem dizer uma palavra. Hesi
A porta do meu quarto se abriu bruscamente, me arrancando do sono leve. Ainda meio grogue, virei-me para encarar quem ousava invadir meu espaço tão cedo. Lá estava ele, Michele Lombardi, com sua presença avassaladora. Vestido impecavelmente em um terno cinza-escuro, ele parecia um rei em seu trono, mas seu olhar gelado e implacável me lembrava de que, para ele, eu não passava de uma prisioneira.— Levante-se — ordenou ele, sua voz firme como sempre. — Temos um dia cheio.— Cheio de quê? Você planeja me trancar em mais um quarto? — retruquei, sentando-me na cama e tentando afastar o torpor do sono.Seu olhar ficou ainda mais penetrante. Ele não estava acostumado a ser desafiado, mas algo em mim se recusava a baixar a cabeça.— Lembre-se de onde está, Lara. Aqui, minha palavra é lei. — Ele deu um passo à frente, reduzindo ainda mais a distância entre nós. — Se preferir ficar neste quarto para sempre, isso pode ser arranjado. Mas acho que você vai querer ver o que preparei.Levantei-me l
Aquela noite foi inquieta. A cama luxuosa e os lençóis macios eram um contraste doloroso com a prisão invisível que me envolvia. Olhei para o teto do quarto imenso, sentindo o peso da situação me sufocar. Michele Lombardi era como uma sombra constante em meus pensamentos, e, por mais que eu quisesse odiá-lo, havia algo em seus olhos que não me deixava em paz.O som de passos firmes pelo corredor me fez sentar na cama. Meu coração disparou, mas a porta permaneceu fechada. Eu estava sozinha. Ou pelo menos era o que parecia.Na manhã seguinte, uma batida suave na porta me tirou dos meus pensamentos. Antes que eu pudesse responder, a porta se abriu, revelando uma mulher bem vestida. Ela carregava uma bandeja de café da manhã, e sua expressão era neutra.— Senhorita Lara, o senhor Lombardi deseja vê-la no jardim após o café. — Sua voz era educada, mas firme, como se não houvesse espaço para recusa.— Eu realmente não tenho escolha, não é? — respondi, com uma ironia que mal escondia minha f
O silêncio na mansão era quase palpável, quebrado apenas pelo eco dos meus passos no piso de mármore enquanto caminhava pelo corredor em direção à biblioteca. Michele havia ordenado que eu me apresentasse ali depois do café da manhã. A formalidade de sua voz e o tom imperioso ainda ressoavam na minha mente, uma mistura de frustração e curiosidade me consumindo.A porta dupla se abriu com um rangido baixo, revelando um espaço grandioso repleto de estantes que se estendiam do chão ao teto. Livros em capas de couro preenchiam cada centímetro, e a luz suave que entrava pelas altas janelas dava ao ambiente uma aura quase mágica. Michele estava ali, parado próximo a uma das janelas, vestido impecavelmente em um terno escuro que parecia ter sido feito sob medida para ele. Seu rosto estava iluminado pela luz matinal, e, por um momento, fiquei hipnotizada pela simetria de suas feições.Ele era inacreditavelmente bonito, com linhas fortes e olhos que pareciam penetrar na alma de qualquer um. Ma
O silêncio no corredor era tão profundo que o som dos meus passos parecia ecoar por toda a mansão. Eu havia passado boa parte da noite refletindo sobre as palavras de Michele e as barreiras que ele parecia determinado a erguer entre nós. Mas minha curiosidade estava longe de ser saciada. Ele era um enigma que eu não conseguia ignorar, por mais que quisesse.A porta do escritório dele estava entreaberta, e, mesmo hesitando, bati levemente. Não esperava uma resposta amigável, mas precisava confrontá-lo. Precisava entender o que ele queria de mim.— Entre — sua voz soou firme, como se já soubesse que eu estava ali.Empurrei a porta devagar e o encontrei sentado à mesa, cercado por pilhas de papéis e uma taça de vinho. A iluminação suave do abajur fazia sombras dançarem pelo rosto dele, destacando suas feições perfeitas, quase como uma escultura. Ele ergueu os olhos, fixando-os em mim, e senti um calafrio percorrer minha espinha.— O que foi agora, Lara? — perguntou ele, a paciência evide
A manhã chegou lentamente, e com ela, a tensão que parecia pairar sobre a mansão como uma névoa pesada. Michele estava longe de ser alguém que perdoava facilmente, e eu sabia que as palavras que trocamos na noite anterior não seriam esquecidas tão cedo.Ao descer para o café, encontrei a sala de jantar vazia. A mesa impecavelmente posta, com pratos de porcelana e talheres que brilhavam sob a luz suave que atravessava as janelas altas, parecia um cenário tirado de um filme. Mas o protagonista, como sempre, estava ausente.— Onde está Michele? — perguntei a uma das empregadas, uma mulher de olhar discreto e movimentos ágeis.— Ele está na biblioteca, senhorita Lara — respondeu ela, com uma reverência quase imperceptível antes de desaparecer pelo corredor.A biblioteca. Eu não sabia o que me atraía mais: o desejo de confrontá-lo novamente ou a curiosidade de vê-lo naquele espaço. Michele tinha algo que o tornava fascinante, mesmo quando ele me irritava profundamente.Caminhei até a porta