Capítulo 2 - Correntes Invisíveis

O som dos meus passos ecoava no mármore frio do corredor enquanto eu seguia Michele. Cada movimento meu parecia ser observado, como se o simples ato de respirar fosse uma afronta. A mansão era grandiosa, mas tinha algo opressor nela, como se fosse feita para engolir qualquer vestígio de liberdade. Eu olhava ao redor, tentando entender a magnitude daquele lugar. Cada detalhe, do tapete luxuoso ao lustre de cristal, parecia tentar me convencer de que eu era insignificante.

Michele não me dava atenção. Ele caminhava na frente, sua postura ereta e imponente, o olhar fixo à frente. Os seguranças que nos acompanhavam não ousavam levantar os olhos. Era como se eu fosse invisível para todos, exceto para ele.

Eu tentava não pensar no que me aguardava, mas a sensação de estar sendo conduzida para algo pior a cada passo me consumia. Michele parou diante de uma porta feita de madeira escura, com entalhes que pareciam relatar batalhas antigas. Ele abriu a porta e entrou sem dizer uma palavra. Hesitei por um segundo antes de seguir.

O ambiente era ainda mais impessoal do que eu esperava. Era como uma mistura de escritório e sala de comando. Uma mesa enorme dominava o centro da sala, e as estantes cheias de livros só faziam a atmosfera parecer mais sufocante. Michele se dirigiu à cadeira atrás da mesa e se sentou, me fazendo esperar de pé diante dele.

— Vamos estabelecer algumas regras, Lara — disse ele, cruzando os braços sobre o peito, a voz calma, mas cheia de uma autoridade que fazia qualquer resistência parecer inútil.

Eu queria responder, queria dizer que não era sua prisioneira, mas a raiva não era o suficiente para calar o medo que me invadia. Respirei fundo e, com o que restava de coragem, falei:

— Regras? Eu não sou sua prisioneira.

O sorriso de Michele foi quase imperceptível, mas a frieza em seu olhar tornou tudo ainda mais claro.

— Isso é exatamente o que você é. — Ele falou com tanta certeza que fez meu sangue ferver. — Você pertence a mim agora. Quanto mais rápido entender isso, mais fácil será para você.

Meu coração disparou, e eu o desafiei com o olhar, sem recuar.

— Eu não pertenço a ninguém.

Michele me observou por um longo momento, a expressão vazia, mas com uma leve curiosidade. Ele se levantou, sua presença ainda mais imponente de perto. A diferença de altura entre nós me fez sentir ainda mais pequena, mas eu tentei manter a postura.

— Sua bravura é admirável — disse ele, e a forma como ele se aproximou fez meu estômago se revirar. — Mas não confunda coragem com imprudência. Aqui, minhas palavras são lei.

Senti um calafrio percorrer minha espinha, mas me forcei a manter a cabeça erguida.

— Se você acha que pode me intimidar, está enganado.

Michele ficou em silêncio por um momento, avaliando cada palavra que eu dissera. Então, o sorriso apareceu novamente, mais enigmático, e ele deu um passo para trás, como se já soubesse o fim dessa história.

— Você é mais interessante do que eu esperava — disse ele, a voz baixa e desafiadora. — Isso pode ser divertido.

Não consegui mais falar. A raiva que eu sentia se misturava com um medo profundo, mas também com uma determinação que eu sabia que não poderia deixar escapar.

Michele se virou para um dos seguranças à porta.

— Leve-a ao quarto dela. Quero que ela esteja pronta amanhã às oito.

Eu o encarei. Não sabia o que isso significava, mas sabia que não seria algo bom.

— Pronta para o quê? — perguntei, tentando manter a calma, embora meu coração estivesse acelerado.

Ele me olhou com um brilho desafiador nos olhos.

— Para entender seu novo papel aqui.

Antes que eu pudesse responder, ele já estava se virando, dando por encerrada a conversa.

Fui conduzida pelo corredor mais uma vez, mas a cada passo, eu sentia a pressão de tudo o que acontecia ao meu redor. O quarto que me foi designado era enorme, decorado com móveis de luxo que pareciam mais peças de museu do que objetos funcionais. A cama era grandiosa, com lençóis de seda que, a princípio, pareceriam acolhedores, mas não havia nada de acolhedor naquele ambiente. Nada que eu pudesse sentir como algo meu.

Me aproximei da janela, observando as luzes de Milão brilhando à distância. Eu nunca imaginei que um dia estaria aqui, na calada da noite, olhando para a cidade que antes me parecia um mundo de oportunidades. Agora, parecia uma prisão distante.

— Eu não vou me render — murmurei para mim mesma, minha voz quase imperceptível.

Michele Lombardi podia ter o poder, mas eu não o deixaria me quebrar tão facilmente. A batalha estava apenas começando, e eu estava disposta a lutar com tudo o que eu tinha.

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