O som dos meus passos ecoava no mármore frio do corredor enquanto eu seguia Michele. Cada movimento meu parecia ser observado, como se o simples ato de respirar fosse uma afronta. A mansão era grandiosa, mas tinha algo opressor nela, como se fosse feita para engolir qualquer vestígio de liberdade. Eu olhava ao redor, tentando entender a magnitude daquele lugar. Cada detalhe, do tapete luxuoso ao lustre de cristal, parecia tentar me convencer de que eu era insignificante.
Michele não me dava atenção. Ele caminhava na frente, sua postura ereta e imponente, o olhar fixo à frente. Os seguranças que nos acompanhavam não ousavam levantar os olhos. Era como se eu fosse invisível para todos, exceto para ele.
Eu tentava não pensar no que me aguardava, mas a sensação de estar sendo conduzida para algo pior a cada passo me consumia. Michele parou diante de uma porta feita de madeira escura, com entalhes que pareciam relatar batalhas antigas. Ele abriu a porta e entrou sem dizer uma palavra. Hesitei por um segundo antes de seguir.
O ambiente era ainda mais impessoal do que eu esperava. Era como uma mistura de escritório e sala de comando. Uma mesa enorme dominava o centro da sala, e as estantes cheias de livros só faziam a atmosfera parecer mais sufocante. Michele se dirigiu à cadeira atrás da mesa e se sentou, me fazendo esperar de pé diante dele.
— Vamos estabelecer algumas regras, Lara — disse ele, cruzando os braços sobre o peito, a voz calma, mas cheia de uma autoridade que fazia qualquer resistência parecer inútil.
Eu queria responder, queria dizer que não era sua prisioneira, mas a raiva não era o suficiente para calar o medo que me invadia. Respirei fundo e, com o que restava de coragem, falei:
— Regras? Eu não sou sua prisioneira.
O sorriso de Michele foi quase imperceptível, mas a frieza em seu olhar tornou tudo ainda mais claro.
— Isso é exatamente o que você é. — Ele falou com tanta certeza que fez meu sangue ferver. — Você pertence a mim agora. Quanto mais rápido entender isso, mais fácil será para você.
Meu coração disparou, e eu o desafiei com o olhar, sem recuar.
— Eu não pertenço a ninguém.
Michele me observou por um longo momento, a expressão vazia, mas com uma leve curiosidade. Ele se levantou, sua presença ainda mais imponente de perto. A diferença de altura entre nós me fez sentir ainda mais pequena, mas eu tentei manter a postura.
— Sua bravura é admirável — disse ele, e a forma como ele se aproximou fez meu estômago se revirar. — Mas não confunda coragem com imprudência. Aqui, minhas palavras são lei.
Senti um calafrio percorrer minha espinha, mas me forcei a manter a cabeça erguida.
— Se você acha que pode me intimidar, está enganado.
Michele ficou em silêncio por um momento, avaliando cada palavra que eu dissera. Então, o sorriso apareceu novamente, mais enigmático, e ele deu um passo para trás, como se já soubesse o fim dessa história.
— Você é mais interessante do que eu esperava — disse ele, a voz baixa e desafiadora. — Isso pode ser divertido.
Não consegui mais falar. A raiva que eu sentia se misturava com um medo profundo, mas também com uma determinação que eu sabia que não poderia deixar escapar.
Michele se virou para um dos seguranças à porta.
— Leve-a ao quarto dela. Quero que ela esteja pronta amanhã às oito.
Eu o encarei. Não sabia o que isso significava, mas sabia que não seria algo bom.
— Pronta para o quê? — perguntei, tentando manter a calma, embora meu coração estivesse acelerado.
Ele me olhou com um brilho desafiador nos olhos.
— Para entender seu novo papel aqui.
Antes que eu pudesse responder, ele já estava se virando, dando por encerrada a conversa.
Fui conduzida pelo corredor mais uma vez, mas a cada passo, eu sentia a pressão de tudo o que acontecia ao meu redor. O quarto que me foi designado era enorme, decorado com móveis de luxo que pareciam mais peças de museu do que objetos funcionais. A cama era grandiosa, com lençóis de seda que, a princípio, pareceriam acolhedores, mas não havia nada de acolhedor naquele ambiente. Nada que eu pudesse sentir como algo meu.
Me aproximei da janela, observando as luzes de Milão brilhando à distância. Eu nunca imaginei que um dia estaria aqui, na calada da noite, olhando para a cidade que antes me parecia um mundo de oportunidades. Agora, parecia uma prisão distante.
— Eu não vou me render — murmurei para mim mesma, minha voz quase imperceptível.
Michele Lombardi podia ter o poder, mas eu não o deixaria me quebrar tão facilmente. A batalha estava apenas começando, e eu estava disposta a lutar com tudo o que eu tinha.
A porta do meu quarto se abriu bruscamente, me arrancando do sono leve. Ainda meio grogue, virei-me para encarar quem ousava invadir meu espaço tão cedo. Lá estava ele, Michele Lombardi, com sua presença avassaladora. Vestido impecavelmente em um terno cinza-escuro, ele parecia um rei em seu trono, mas seu olhar gelado e implacável me lembrava de que, para ele, eu não passava de uma prisioneira.— Levante-se — ordenou ele, sua voz firme como sempre. — Temos um dia cheio.— Cheio de quê? Você planeja me trancar em mais um quarto? — retruquei, sentando-me na cama e tentando afastar o torpor do sono.Seu olhar ficou ainda mais penetrante. Ele não estava acostumado a ser desafiado, mas algo em mim se recusava a baixar a cabeça.— Lembre-se de onde está, Lara. Aqui, minha palavra é lei. — Ele deu um passo à frente, reduzindo ainda mais a distância entre nós. — Se preferir ficar neste quarto para sempre, isso pode ser arranjado. Mas acho que você vai querer ver o que preparei.Levantei-me l
Aquela noite foi inquieta. A cama luxuosa e os lençóis macios eram um contraste doloroso com a prisão invisível que me envolvia. Olhei para o teto do quarto imenso, sentindo o peso da situação me sufocar. Michele Lombardi era como uma sombra constante em meus pensamentos, e, por mais que eu quisesse odiá-lo, havia algo em seus olhos que não me deixava em paz.O som de passos firmes pelo corredor me fez sentar na cama. Meu coração disparou, mas a porta permaneceu fechada. Eu estava sozinha. Ou pelo menos era o que parecia.Na manhã seguinte, uma batida suave na porta me tirou dos meus pensamentos. Antes que eu pudesse responder, a porta se abriu, revelando uma mulher bem vestida. Ela carregava uma bandeja de café da manhã, e sua expressão era neutra.— Senhorita Lara, o senhor Lombardi deseja vê-la no jardim após o café. — Sua voz era educada, mas firme, como se não houvesse espaço para recusa.— Eu realmente não tenho escolha, não é? — respondi, com uma ironia que mal escondia minha f
O silêncio na mansão era quase palpável, quebrado apenas pelo eco dos meus passos no piso de mármore enquanto caminhava pelo corredor em direção à biblioteca. Michele havia ordenado que eu me apresentasse ali depois do café da manhã. A formalidade de sua voz e o tom imperioso ainda ressoavam na minha mente, uma mistura de frustração e curiosidade me consumindo.A porta dupla se abriu com um rangido baixo, revelando um espaço grandioso repleto de estantes que se estendiam do chão ao teto. Livros em capas de couro preenchiam cada centímetro, e a luz suave que entrava pelas altas janelas dava ao ambiente uma aura quase mágica. Michele estava ali, parado próximo a uma das janelas, vestido impecavelmente em um terno escuro que parecia ter sido feito sob medida para ele. Seu rosto estava iluminado pela luz matinal, e, por um momento, fiquei hipnotizada pela simetria de suas feições.Ele era inacreditavelmente bonito, com linhas fortes e olhos que pareciam penetrar na alma de qualquer um. Ma
O silêncio no corredor era tão profundo que o som dos meus passos parecia ecoar por toda a mansão. Eu havia passado boa parte da noite refletindo sobre as palavras de Michele e as barreiras que ele parecia determinado a erguer entre nós. Mas minha curiosidade estava longe de ser saciada. Ele era um enigma que eu não conseguia ignorar, por mais que quisesse.A porta do escritório dele estava entreaberta, e, mesmo hesitando, bati levemente. Não esperava uma resposta amigável, mas precisava confrontá-lo. Precisava entender o que ele queria de mim.— Entre — sua voz soou firme, como se já soubesse que eu estava ali.Empurrei a porta devagar e o encontrei sentado à mesa, cercado por pilhas de papéis e uma taça de vinho. A iluminação suave do abajur fazia sombras dançarem pelo rosto dele, destacando suas feições perfeitas, quase como uma escultura. Ele ergueu os olhos, fixando-os em mim, e senti um calafrio percorrer minha espinha.— O que foi agora, Lara? — perguntou ele, a paciência evide
A manhã chegou lentamente, e com ela, a tensão que parecia pairar sobre a mansão como uma névoa pesada. Michele estava longe de ser alguém que perdoava facilmente, e eu sabia que as palavras que trocamos na noite anterior não seriam esquecidas tão cedo.Ao descer para o café, encontrei a sala de jantar vazia. A mesa impecavelmente posta, com pratos de porcelana e talheres que brilhavam sob a luz suave que atravessava as janelas altas, parecia um cenário tirado de um filme. Mas o protagonista, como sempre, estava ausente.— Onde está Michele? — perguntei a uma das empregadas, uma mulher de olhar discreto e movimentos ágeis.— Ele está na biblioteca, senhorita Lara — respondeu ela, com uma reverência quase imperceptível antes de desaparecer pelo corredor.A biblioteca. Eu não sabia o que me atraía mais: o desejo de confrontá-lo novamente ou a curiosidade de vê-lo naquele espaço. Michele tinha algo que o tornava fascinante, mesmo quando ele me irritava profundamente.Caminhei até a porta
O dia estava estranhamente silencioso. Desde minha discussão com Michele naquela manhã, não o vi mais. A mansão, sempre imponente, parecia guardar segredos entre suas paredes de pedra fria.Eu estava na biblioteca, passando os dedos pelos títulos dourados nas lombadas dos livros, quando um som ecoou pela casa. Passos firmes, determinados. A porta da biblioteca se abriu com força, e não era Michele.Um homem alto, de cabelos escuros e olhos frios, me observava da entrada. Sua presença era opressora, e eu soube imediatamente que ele não pertencia ali. Seu terno impecável contrastava com o olhar cruel, e um sorriso cínico surgiu em seus lábios.— Você deve ser Lara. — Sua voz era grave, tingida com um sotaque carregado. — Mais bonita do que eu esperava.Dei um passo para trás, sentindo um arrepio percorrer minha espinha.— Quem é você? — Minha voz saiu firme, apesar do medo crescente dentro de mim.— Alguém que veio conversar com Michele. — Ele se aproximou, analisando-me como se eu foss
A tensão pairava no ar, densa como a neblina fria que envolvia os jardins da mansão naquela manhã. Desde a visita inesperada do homem de uma família rival, a segurança ao redor da propriedade havia dobrado. Eu não sabia exatamente quem ele era, apenas que Michele o conhecia o suficiente para tratá-lo como uma verdadeira ameaça.Desde então, Michele parecia mais atento, mais frio. Ele já era uma muralha de arrogância e distanciamento, mas agora estava pior. Era como se, ao menor deslize, tudo pudesse ruir ao seu redor.Depois do jantar, decidi caminhar um pouco pela casa. Eu precisava espairecer. A mansão, apesar de grandiosa, começava a se sentir como uma prisão dourada. Caminhei pelos corredores silenciosos, observando os quadros luxuosos e a decoração impecável. Eu não pertencia àquele mundo, e ainda assim, estava presa nele.Quando passei pela porta do escritório de Michele, ouvi vozes abafadas. Minha curiosidade me venceu, e me aproximei. O tom de voz dele era baixo, mas carregado
Apesar da morte dos meus pais eu estava feliz, finalmente meu irmão e eu tínhamos encontrado alguma espécie de conforto na casa que herdamos da nossa mãe, na verdade, a casa era da nossa avó, e com a morte dos nossos pais decidimos nos mudar para ela.Marco sempre foi alguém reservado, ele nunca foi alguém de conversar muito, sempre calado e resolvendo as coisas dele, eu sempre tentei questionar o que ele fazia, mas ele nunca me disse de onde vinha o dinheiro ou com quem estava andando.Até eu descobrir que ele havia se metido com uns caras da pesada.— Como pode pegar dinheiro emprestado com esses caras? Você é maluco Marco? — gritei olhando para o meu irmão que estava agora sentado na mesa da cozinha antiga da nossa nova casa.— Eu precisei Lara, ou você pensa que tudo saiu de graça? O enterro dos nossos pais, a mudança para cá, não sei em que mundo você vive mergulhada nesses seus livros, mas eu vivo em um mundo real, onde tudo é preciso pagar.— Mas e agora? O que vamos fazer? — o