Aquela era uma operação mais que importante. Era a culminância de meses de investigação sobre pessoas que praticavam o golpe denominado saidinha bancária. Eram bandidos que ficavam à espreita de pessoas que iam fazer grandes movimentações bancárias ou simplesmente pensionistas que sacavam um mísero salário e ao saírem do estabelecimento, eram abordados por pessoas que diziam vender algo e ali, distraiam as pessoas para os acompanharem a algum local mais afastado e praticavam o golpe. Era uma rede bem estruturada de bandidos ligados a um chefe, que muitas vezes mantinha até um escritório, para se encontrarem e planejarem os golpes. Tinham espiões em empresas que se infiltravam para acompanhar a movimentação financeira e saber os dias que os funcionários iam aos Bancos e poder fazer a investida.O Rafael tinha sido essencial naquele trabalho. Ele era um investigador muito competente e foi responsável por colher informações importantes sobre a quadrilha que nos possibilitou chegar ao che
Era um momento difícil para mim.Voltar à Turquia me fazia lembrar de coisas que eu não queria trazer de volta para minha vida. Me fazia lembrar da infância ao lado da minha mãe e da violência sofrida nas mãos do meu pai. As memórias que guardo até os dez anos de idade são as melhores, pois ali eu ainda não tinha sido marcado pelas maldades da minha família. No entanto, quando minha mãe foi expulsa do pais e meu pai resolveu descontar sua frustração em mim, eu conheci o lado cruel da minha família. Foram longos anos de tristeza, revolta, desistência, resiliência e agora de liberdade e felicidade e voltar ali, era reviver tudo aquilo de novo.Olhei para minha mulher sentada ao meu lado, dentro do veículo que alugamos no dia anterior, no aeroporto. Só ela para estar ao meu lado sempre. Alina era daqueles tesouros que você demora a encontrar e eu tive a sorte grande, tive minha redenção aqui na terra e eu agradecia a Deus todos os dias por ter me dado uma pessoa tão especial.Olhei para
— Vamos Alina, atira!Minha mão tremia em volta do cabo da pistola 765 prateada, que fazia um contraste gritante com minhas unhas impecáveis e pintadas de vermelho. O homem estava ajoelhado em minha frente e ao invés de implorar para que eu não atirasse nele, parecia rir da minha cara de medo apontando a pistola para a cabeça dele.Lucas estava logo atrás de mim e engatilhou a arma dele, falando de forma a me encorajar:— Você vai atirar ou vai amarelar de novo, Alina!?Eu nunca tinha atirado em ninguém antes e a voz da minha mãe choramingando quando eu decidi ser policial, estava mais do que nítida em minha cabeça:— Minha filha, você vai se tornar uma assassina!— Não, mãe! Eu vou caçar os assassinos, é diferente!— Não é, não. Não se pode vencer o mal fazendo o mal.— Eu vou fazer o bem para a população!O bem seria livrar a sociedade daquele traste ajoelhado em minha frente. Sabia muito bem que se o levasse para a Delegacia, algum advogado de merda ia achar um jeito de devolvê-lo
O som do despertador me fez pular da cama, assustada. E olha que a música que coloquei como toque era a mais calma possível, retirada dos vídeos de música Reiki do You tube. Apenas proforma, porque aquelas músicas em nada me acalmavam e era mais comum eu sonhar com tiros do que com ondas batendo nas rochas na praia.Pulei de um pé só, tropeçando no lençol que tinha caído no chão e tentei achar meu celular, que tocava aquela música irritante.Encontrei-o dentro da fronha do travesseiro e apertei o botão de silenciar o alarme, me deixando cair de novo na cama. Um segundo depois, o celular tocava de novo, agora com o toque de ligação escolhido pelo idiota do Lucas.Atendi no décimo toque, porque eu sabia que no décimo primeiro ele desligaria e bateria na minha porta e tudo que eu não queria era o Lucas na minha casa hoje.— Fala...Escutei a risada rouca do Lucas e sua respiração parecia tão perto que me fez lembrar os momentos que ele enterrava o nariz no meu pescoço, depois de gozar e
Não seria fácil me pegar. Eu não vivi anos fugindo das mais inusitadas situações para cair nas mãos daqueles policiais que estavam acostumados a prender batedores de carteira nas esquinas.Será que eles me consideram tão idiota, a ponto de achar que eu abriria a guarda para uma puta incompetente que fingiu interesse por mim em uma mesa de bar? Logo eu, que aprendi desde cedo a não confiar em ninguém.Desde o dia que cheguei ao Rio de janeiro que redobrei os cuidados e atenção com tudo que acontecia à minha volta e não foi difícil concluir que eu estava sendo seguido. O incompetente do policial Chamado Lucas Valença nem se deu ao trabalho de disfarçar que me seguia abertamente.De propósito, comecei a frequentar os mesmos lugares e horários e como imaginei, ele contratou uma garota de programa para tentar arrancar informações. Resolvi brincar com aqueles idiotas.Aceitei a investida da garota, que em momento nenhum eu cogitaria levar para a cama. Não porque ela fosse garota de progra
Por que aquele filho da mãe estava me olhando daquele jeito?Impaciente, repeti a frase:— Você está preso por contrabando, Leonardo Ramazan.Ele não mexeu um músculo da face, apenas me olhou ironicamente.— Posso saber o que eu estou contrabandeando?Agora ele ia dar uma de inocente?— Abra essa mala, por favor – indiquei o objeto com a arma.Alguns clientes próximos à mesa que perceberam a movimentação e as armas apontadas para os dois, se levantaram e saíram assustados. Os dois bandidos porém, mantinha uma calma exasperante.— Vamos! Mandei abrir a mala!Com toda calma, provavelmente para me irritar, ele abriu o fecho da maleta e a virou para mim.Senti meu corpo gelar e encarei o homem que tentava esconder um sorriso em minha frente.— Que merda é essa? – encarei-o ultrajada.Lucas deu um passo à frente e encostou a arma na cabeça dele.— Você está de brincadeira comigo, seu idiota?Eu tentava entender o que tinha acontecido. Ele era mais perigoso do que eu pensava.Ele apenas emp
Pisar em solo turco deveria ser confortador para mim, afinal eu cresci ali, mas não era assim que eu me sentia. Aquele país era mais uma prisão do que exatamente meu lar. Mas era lá que eu deveria permanecer. Pelo menos até cumprir o que prometi para minha mãe.Eu e o Rafael descemos do avião e caminhamos por entre a multidão barulhenta do aeroporto de Istambul. Eu tinha pressa de chegar logo em casa e ver como estava a Sulamita. Casa era uma maneira prática de dizer, pois eu não me sentia em casa na mansão de Hilal Ramazan. Aquela monumento que ocupava um quarteirão inteiro no centro de Istambul estava longe ser o meu lar, mas foi lá que eu nasci e vivi minha vida inteira. Era lá que estava minha história e ela não era nada bonita.O Rafael percebeu que eu estava introspectivo durante toda a viagem. Não que eu fosse diferente, mas nos últimos tempos eu estava cada vez mais calado e pensativo. Estava chegando a hora de tomar algumas decisões e isso envolvia o Rafael.— Ei cara, está
— Quer para com isso, mãe? não foi nada demais.Eu estava agoniada com aquela preocupação toda da minha mãe. Ela não parava quieta. Perguntava se eu estava sentindo dor, fome, sono...— Como não foi nada, Alina? Você sofreu uma tentativa de homicídio!Suspirei nervosa.— Não foi tentativa nenhuma, eu perdi a direção do carro!— Depois que alguém tentou te jogar para fora da pista.— Não foi assim!Lucas se manifestou de pé ao lado da janela do quarto do hospital:— Claro que foi Alina, você mesma me contou.Linguarudo!— Quer calar a boca, Lucas?— Tá vendo, você quer esconder de mim. Você está correndo perigo!Tentei sentar na cama, mas a dor nas costelas me obrigou a deitar de novo.— Não precisa tanto alarde, isso é comum na minha profissão.Julieta Varella colocou as mãos na cintura e apontou o dedo indicador para mim.— Você vai sair desse emprego.Nunca!— De jeito nenhum mãe, se acalme por favor — falei tentando parecer calma.Lucas se aproximou e sentou na cama ao meu lado.—