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Capítulo 03 - Alina

Por que aquele filho da mãe estava me olhando daquele jeito?

Impaciente, repeti a frase:

— Você está preso por contrabando, Leonardo Ramazan.

Ele não mexeu um músculo da face, apenas me olhou ironicamente.

— Posso saber o que eu estou contrabandeando?

Agora ele ia dar uma de inocente?

— Abra essa mala, por favor – indiquei o objeto com a arma.

Alguns clientes próximos à mesa que perceberam a movimentação e as armas apontadas para os dois, se levantaram e saíram assustados. Os dois bandidos porém, mantinha uma calma exasperante.

— Vamos! Mandei abrir a mala!

Com toda calma, provavelmente para me irritar, ele abriu o fecho da maleta e a virou para mim.

Senti meu corpo gelar e encarei o homem que tentava esconder um sorriso em minha frente.

— Que merda é essa? – encarei-o ultrajada.

Lucas deu um passo à frente e encostou a arma na cabeça dele.

— Você está de brincadeira comigo, seu idiota?

Eu tentava entender o que tinha acontecido. Ele era mais perigoso do que eu pensava.

Ele apenas empurrou o cano da arma da cabeça e olhou friamente para o Lucas.

— Cuidado meu amigo, você não tem motivos para encostar uma arma na minha cabeça.

Abaixei a arma e revirei o conteúdo da maleta.

O miserável me olhava, rindo de mim com os olhos e o comparsa dele fingia olhar algo no celular, mas era óbvio que participava daquela brincadeira sem graça.

— Pode me explicar o que é isso? – perguntei meio óbvia.

Ele apontou para o conteúdo da maleta.

— Produtos eróticos delegada, não está vendo?

— Estou vendo o que é, perguntei o que faz aqui a essa hora com essa merda toda aqui dentro.

— Não é merda, são produtos que prometi para o meu amigo. A esposa dele estava querendo variar um pouco...

Senti o sangue subir para o rosto e um calor insuportável me sufocar por baixo da roupa. Estava possessa de ódio daquele homem. Como ele ousava me desafiar daquele jeito? Como tinha descoberto aquela operação? A culpa era do Lucas.

— Se quiser, pode pegar um pra você. Quer dizer, se tiver alguém para usar...

Mirei a arma novamente para ele.

— Me respeite seu cafajeste, ou o levarei preso!

Ele levantou as mãos em sinal de paz.

— Se tiver um motivo, que eu saiba não é proibido vender produtos eróticos.

— E armas? Não é proibido?

Os olhos dele escureceram um pouco e ele crispou os lábios.

— Cuidado delegada, não pode acusar os outros sem provas. Eu não vendo armas.

Lucas se colocou na minha frente.

— Tá se achando o espertinho, não é? De alguma forma você se safou dessa, mas não se preocupe, nós vamos te pegar.

O outro homem que estava com ele finalmente se manifestou. Levantou da mesa e se colocou em minha frente. Ele não era tão diferente do Leonardo. Tinha o mesmo olhar frio e o rosto era uma máscara sem emoção. Apenas fisicamente eles eram diferentes. Enquanto Leonardo era moreno, muito alto e magro, o outro era branco e tinha o corpo musculoso e coberto de tatuagens nos braços. Não sei bem porque, mas eu senti uma coisa estranha ao olhar para o rosto dele, parecia alguém muito familiar, talvez a semelhança física dele com o Lucas. Os dois tinham praticamente a mesma altura, o mesmo tom de pele e até os cabelos pareciam iguais, a diferença é que o do cara à minha frente era curtinho e meio eriçado e o do Lucas era longo e ele os usava preso em um coque. Se o Lucas tivesse um irmão, aquele ali poderia ser considerado como um.

Eles se encararam por um instante e eu senti uma tensão quase física naquele ambiente, mas o homem rapidamente desviou o olhar e me encarou com um meio sorriso.

— E agora delegada, será que posso ir embora com meu amigo, já que viram que não estamos contrabandeando nada.

Ao fixar meu olhar novamente no rosto de Leonardo, admiti que pela primeira vez alguém me causava medo. Aquele homem era a imagem do demônio. 

Ele apenas fez uma leve menção de sorriso e me encarou.

— Sinto muito que sua operação foi um fracasso e você não pode ser promovida.

Meu coração deu um salto.

— Como sabe disso?

Ele fechou a mala e fez menção de sair, antes porém, se aproximou de mim e falou próximo ao meu rosto, sem desviar os olhos dos meus:

— Eu sei de tudo, Drª Alina Varela. Tenha cuidado para não sair por ai acusando inocentes. Nem todos encaram isso numa boa.

Aquilo era uma ameaça?

— Você não é inocente e eu vou provar isso!

Ele me encarou desafiador.

— Não perca tempo delegada, eu não tenho nada a esconder da polícia.

Guardei a arma na cintura e cheguei bem perto dele. Era alta o suficiente para encará-lo na mesma direção e falei com a voz fria:

— Pode comemorar sua vitória de hoje, mas saiba que estarei de olho em você e vou te pegar, custe o que custar.

Ele finalmente deu uma risada. O desgraçado era lindo quando sorria.

— Quem não quer ser pego por uma delegada dessas? Estou à sua disposição.

Aquilo era o cúmulo do absurdo, Desde quando eu tinha uma conversa daquelas com um bandido?

Virei as costas e fiz sinal para o Lucas.

— Vamos embora! E você vai me explicar como deu uma mancada dessas.

Meia hora depois, eu andava de um lado para outro na sala do Lucas, enquanto a Gabriela tentava me acalmar:

— Toma aqui um café e respira, mulher!

— Não quero café! Quero a cabeça daquele turco desgraçado. Ele me fez de idiota!

Lucas me passou um copo de Whisky.

— Ele é meio turco. A mãe é brasileira.

— Não importa! Eu quero ele na cadeia e só assim Hilal Ramazam vai sair da toca.

— Será que não devemos esquecer essa história?

Eu virei o copo de uma vez na boca e tossi, com os olhos cheios de lágrimas.

— Nunca! Minha reputação está em jogo.

Lucas levantou as mãos.

— Está bem, voltamos à estava zero e vamos tentar descobrir outros crimes dessa máfia que está tentando dominar o Rio de Janeiro.

Olhei curiosa para ele.

— Você conhece o outro cara que estava com ele?

O Lucas franziu a testa.

— Não. Não conheço.

— Estranho, mas vocês são muitos parecidos.

— Infelizmente!

Peguei minha bolsa e apontei o dedo para o Lucas.

— Não falhe dessa vez, ou eu te demito da minha equipe.

Ele segurou meu dedo e mordeu.

— Nunca que eu vou deixar de te ver todos os dias. Nem que eu tenha que matar Leonardo Ramazan.

Puxei o dedo com força e encarei a Gabriela.

— Até quando você vai aguentar isso, hein?

Ela se jogou nos braços do Lucas.

— Daqui a pouco ele vai sussurrar no meu ouvido que me ama e que eu sou a mulher da vida dele.

Fiz cara de nojo, com o beijo melado que eles trocaram na minha frente.

— Eu odeio vocês!

Bati a porta e me dirigi ao meu Ecosport vermelho. Olhei o relógio. Eram duas da manhã e a rua estava meio deserta.

Liguei o som do carro e dirigi em alta velocidade, pensando em tudo que tinha acontecido naquela noite inusitada. A imagem do sorriso debochado de Leonardo me oferecendo um daqueles objetos obscenos, passou em minha mente e intimamente eu me imaginei usando uma coisas daquelas com ele. Sim, o homem era gostoso pra caramba! Bem que diziam que os bandidos tinham um certo charme e agora eu estava quase concordando. Pensamentos apenas! Nunca que eu me rebaixaria a ir para a cama com um tipo como ele.

Virei a esquina da minha rua e como de costume, fiz um raio x da área para ver se havia algo estranho. Na minha posição, eu não podia facilitar. Sempre era possível haver alguém querendo cobrar vingança por ter passado alguns dias na cadeia.

Minha mãe tinha razão de andar preocupada. Ligaria para ela quando chegasse em casa.

Como de praxe, acionei o controle do portão antes de parar o carro e pela primeira vez, ele não funcionou.

Estranho.

Em alerta, peguei a pistola e diminui a velocidade, sem desligar o carro.

Tentei o portão novamente e nada.

Eram duas da manhã e a portaria estava em silêncio.

Desci do carro com a arma em punho e verifiquei o portão.

— Quer ajuda?

Meu coração saltou dentro do peito.

Virei lentamente e não sei porquê, mas não fiquei surpresa ao ver quem era.

— O que faz aqui?

Ele olhou a rua deserta e voltou— se para mim.

— Não é seguro morar em lugar desses, delegada.

Como ele tinha descoberto meu endereço?

— Moro aqui faz dez anos e nunca fui nem assaltada.

Ele encolheu os ombros.

— Sempre há uma primeira vez.

Novamente aquele tom de ameaça.

Me aproximei dele com a arma em punho.

— Olha aqui Leonardo Ramazan, agora estamos sozinhos, pare com esse showzinho e não me ameace.

Ele se aproximou agora com passos firmes e um olhar frio, como gelo.

— Então cuide da sua vida e não meta o nariz onde não é chamada  - A voz dele era fria e seca.

Eu me arrepiei da cabeça aos pés.

Ele não parecia estar brincando. Eu poderia estar correndo perigo, mas não ia deixar ele perceber que tinha conseguido me amedrontar.

— Saia da minha frente!

Ele se aproximou do portão e recolocou a peça no lugar.

— Agora seu controle vai funcionar. Só queria lhe avisar para sair do meu caminho e esquecer essa idiotice de investigar meus negócios.

Encarei-o, de cabeça erguida.

— Seus crimes, você quer dizer, não é?

Ele se aproximou e segurou meu queixo com força, apertando tanto que senti meus dentes trincarem.

— Estou te dando um conselho garota, pare de brincar de detetive enquanto é tempo.

Empurrei a mão dele com força.

— Eu não estou brincando!

Ele apontou o dedo para meu rosto e fez um sinal de tiro.

— Eu também não.

Ele virou as costas e saiu andando lentamente.

Levei as mãos ao meu maxilar e massageei, assustada.

Os dedos dele eram macios e frios. Mas os olhos queimavam feito labaredas. 

Ele ainda estava à minha vista. Minha vontade era apertar o gatilho e mandar aquele cretino para o inferno, mas eu não era uma assassina como ele. Eu cumpriria a lei.

Entrei novamente no carro e acionei o portão.

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