— Quer para com isso, mãe? não foi nada demais.
Eu estava agoniada com aquela preocupação toda da minha mãe. Ela não parava quieta. Perguntava se eu estava sentindo dor, fome, sono...
— Como não foi nada, Alina? Você sofreu uma tentativa de homicídio!
Suspirei nervosa.
— Não foi tentativa nenhuma, eu perdi a direção do carro!
— Depois que alguém tentou te jogar para fora da pista.
— Não foi assim!
Lucas se manifestou de pé ao lado da janela do quarto do hospital:
— Claro que foi Alina, você mesma me contou.
Linguarudo!
— Quer calar a boca, Lucas?
— Tá vendo, você quer esconder de mim. Você está correndo perigo!
Tentei sentar na cama, mas a dor nas costelas me obrigou a deitar de novo.
— Não precisa tanto alarde, isso é comum na minha profissão.
Julieta Varella colocou as mãos na cintura e apontou o dedo indicador para mim.
— Você vai sair desse emprego.
Nunca!
— De jeito nenhum mãe, se acalme por favor — falei tentando parecer calma.
Lucas se aproximou e sentou na cama ao meu lado.
— Você tem alguma ideia de quem era?
Neguei com a cabeça.
— Viu a placa do carro?
— Claro que não, Lucas! Era noite, estava escuro, não vi nada.
— Mas tem certeza que ele tentou provocar o acidente?
Pensei alguns instantes.
— Sim. Ele me seguiu por um bom tempo e tentou outras vezes me empurrar da pista. Quando chegou na curva, veio com toda velocidade para cima de mim.
Lucas começou a andar pelo quarto nervoso.
— A mando de quem? Não estamos em nenhum caso especifico agora. O último foi aquele do carregamento de armas.
Eu fechei os olhos. Lógico que não tinha esquecido as ameaças de Leonardo Ramazan. Ele não estava brincando, afinal. Pretendia mesmo me tirar do caminho dele.
Não falei nada sobre o fato dele ter ido me procurar naquela noite, mas aquele acidente foi a certeza que ele não tinha esquecido aquela história e que eu realmente corria perigo.
Minha sorte foi o cinto de segurança e o Air bag do carro que me protegeu do impacto, caso contrário, o estrago teria sido muito maior. Estava no hospital para averiguações e para fazer uma tomografia. Esperava que não precisasse passar a noite ali.
Minha mãe tinha seu lado exagerado, mas ela tinha razão. Era preocupante viver sempre alerta e com medo de alguma represália. No fundo eu a entendia e gostava dessa forma que ela tinha de cuidar de mim. Desde cedo fomos só eu e ela. Meu pai tinha morrido quando eu tinha dez anos e desde então a vida dela fora cuidar de mim. Acho que ela sempre sonhou que eu fosse médica ou no máximo advogada, nunca uma policial ou delegada que enfrentava bandidos de arma em punho.
Virei o rosto para ela e estendi a mão.
— Vem cá mãe, não se preocupe tanto. Eu prometo que vou ter cuidado.
Ela parecia inconformada.
— Vou falar com o médico e ver se você vai ter alta hoje.
— Posso ir pra sua casa, não é?
Ela me encarou meio incrédula.
— E você estava pensando em ir pra onde?
Não tive saída senão dar uma gargalhada.
— Vai dona Julieta, vai ver esse médico logo.
O médico só me permitiu sair na manhã seguinte, mas pelo menos eu estava sem dor e não tinha quebrado nada. Apenas teria que descansar por mais um ou dois dias por conta da pancada na cabeça, mas de resto tudo estava bem.
Lucas tinha levado meu carro para a oficina e até que estivesse consertado, eu estava à pés, já que minha mãe não me deixaria pegar a moto.
Férias forçadas, já que eu não parava para descansar. Aproveitei para receber mimos e carinhos da minha mãe e passei os dois dias seguintes deitada, comendo e assistindo TV.
O Lucas e a Gabriela como era de esperar, não me deixaram em paz e apareceram para trazer sorvete, doces, sanduiches.
— Parem com isso, vou virar uma bola em apenas dois dias!
Gabriela sentou na cama sorrindo.
— Você? Uma bola? Com esse corpinho meu amor, você pode comer o que quiser.
— Tá com inveja, querida? – falei cínica.
Gabriela soltou uma gargalhada.
— Claro que não, O Lucas adora meu corpinho.
Revirei os olhos.
— Quer parar vocês duas? Que saco! Estou tentando descobrir o que aconteceu e vocês ai brigando por minha causa – Lucas esbravejou.
Ele não tinha jeito.
— Não estamos brigando por você, querido. Eu não tenho o menor interesse em você.
— Melhor assim – resmungou a Gabriela.
Foi a vez do Lucas revirar os olhos.
— Vamos embora Gabriela, amanhã tentaremos descobrir alguma coisa.
Quando eles saíram, eu peguei o telefone e olhei pela milésima vez a imagem meio desfocada de Leonardo Ramazan. Ele não perdia por esperar. Ia ter volta.
Minha mãe entrou no quarto com mais um prato de comida e eu senti o estômago revirar.
— Não mãe, não quero nada, por favor.
Levantei da cama e fui em direção ao banheiro.
— Vou tomar um banho e vamos sair um pouco. Vamos ao shopping. Estou enjoada de ficar dentro de casa e você também precisa sair um pouco.
Julieta parou na porta do banheiro.
— Tem certeza que está bem para sair?
Sorri para ela.
— Estou ótima. Aproveite que não é todo dia que a delegada Alina tem tempo para ir ao shopping não.
— Então vamos logo. Quero curtir a companhia da minha linda filha que sobreviveu a um ataque.
Fomos a um shopping perto de casa mesmo e gastamos algumas horas visitando lojas e gastando o dinheiro que minha mãe economizava não sei para quê, já que tinha uma vida estável, com apartamento próprio, carro e uma pensão deixada por meu pai, que ela não usava nem a metade para os gastos do dia a dia.
Depois de algumas compras, sentamos em uma lanchonete.
— Deveria viajar mais mãe, conhecer pessoas. Quem sabe não arranja um namorado.
Ela mordeu o sanduiche Light de peito de peru e me encarou.
— Eu? Namorando? Alina, eu tenho sessenta anos!
— E daí? O que idade tem a ver com isso?
— Ta bom, engraçadinha. Você tem trinta e dois e não tem namorado, por que eu deveria ter?
Eu suguei a última gota de coca— cola do canudo e minha mãe fez uma cara de nojo. Ela era amante das coisas naturais e nunca tomaria uma coca— cola.
— Eu vou arrumar um namorado. Não aguento mais ficar sem sexo.
Julieta ficou séria.
— Ainda ama o Lucas?
— Não! Eu nunca amei o Lucas. Ele é um ótimo amigo, apesar do que me fez.
— Tem certeza que não guarda mágoas dele?
Pensei um pouco.
— Não. Hoje eu sei que ele ama mesmo a Gabi.
Ela levantou e pegou as sacolas.
— Então meu amor, procure logo outro. Mas eu preciso aprovar primeiro.
Joguei o resto do lanche do lixo, sorrindo.
— Ok dona julieta, não vou me apaixonar por um fora da lei.
— Espero.
Já passava das sete da noite quando nos dirigimos ao carro da minha mãe no estacionamento do shopping. Apesar de ainda ter muitos carros ali, o nosso estava um pouco afastado. Como de costume eu tirei as chaves do carro e desativei o alarme, antes de chegar perto e abri rapidamente a porta, jogando as sacolas no banco de trás.
Foi tudo muito rápido e quando eu coloquei a mão na maçaneta para abrir a porta, dois homens encapuzados se aproximaram e anunciaram o assalto.
— Passa a bolsa e a chave do carro!
Olhei para minha mãe e fiz sinal para ela ficar quieta. Calmamente, passei a bolsa e a chave e olhei em volta. Não havia ninguém ali para que pudéssemos pedir socorro. Talvez se eu tivesse sozinha tentaria sacar minha arma da cintura e atirar naqueles bandidos, mas tinha minha mãe, não podia arriscar.
Um deles se aproximou de mim e apontou a arma para minha cabeça.
— Não deveria andar sozinha uma hora dessas moça.
Será que aquilo não era um simples assalto?
— Você já pegou o que queria, podemos ir embora?
Ele deu uma risada seca.
— Como sabe o que queremos?
Minha mãe começou a chorar, nervosa.
— Por favor, nos deixe ir embora.
Onde estava o segurança daquele estacionamento?
O bandido segurou meu braço com força.
— Sua mãe vai embora, gracinha, mas você vem comigo.
E de repente, um tiro.
Não sei se o grito foi meu ou de minha mãe, mas em uma fração de segundos, o homem que me segurava caiu ao meu lado.
O outro procurava assustado de onde tinha vindo aquele ataque e nem teve tempo de sacar a arma. Recebeu um tiro e caiu bem ao nosso lado.
Meu Deus! Era um filme?
O homem apareceu na escuridão à nossa frente e se aproximou.
De início pensei que fosse o segurança do shopping, mas aos poucos aquela imagem foi tomando forma para mim. Aquele jeito de andar, a roupa preta, a arma ainda na mão. Senti meu corpo gelar. Ele estava ali para nos salvar ou para terminar o serviço?
Ele parou bem na minha frente e guardou a arma na cintura.
— Nem vou perguntar se está bem, já que o importante é estar viva.
Olhei para os corpos dos dois homens estirados no chão e voltei a olhar para ele.
— Como acertou neles nesse escuro?
Ele não respondeu.
Se aproximou da minha mãe e tirou as sacolas da mão dela, abrindo a porta do carro.
— Saiam daqui agora, preciso limpar essa sujeira.
Julieta olhou curiosa para ele.
— Quem é você?
Ele deu uma rápida olhada para mim e voltou a atenção para minha mãe.
— Me chamo Leonardo Ramazan.
Ela estava desconfiada.
— Você conhece minha filha?
Ele novamente olhou em minha direção, pedindo silenciosamente com o olhar que não o desmentisse.
— Não. Não conheço.
Ele fechou a porta e deu a volta no carro, se aproximando de mim. Chegou bem perto e falou baixo:
— Você leva sua mãe em casa e desce. Eu vou esperar na frente do prédio.
Olhei incrédula para o rosto dele.
— Claro que não, não tenho nada para falar com você.
— Eu perguntei se você queria? Desça. Antes que mais uma tentativa de homicídio se concretize. Quer pagar pra ver?
Não sei como consegui colocar a chave na ignição e ligar o carro. Aquele homem era um louco e ao que tudo indicava, eu estava nas mãos dele.
Fiz todo o percurso calada e ao chegar no apartamento liguei para a Clara, amiga da minha mãe que morava no andar de baixo e pedi para ela ficar ali, até que eu voltasse.
— Onde vai, filha?
— Agora não mãe, preciso resolver uma coisa. Volto logo.
Fora do prédio do outro lado da rua, Leonardo Ramazan me esperava encostado em uma caminhonete preta, tão sinistra quanto ele.
Parei na frente dele e cruzei os braços.
— Afinal você veio cumprir suas ameaças, não foi? Como descobriu a casa da minha mãe?
Ele olhou para rua deserta e depois olhou para o chão, sem responder minha pergunta.
— Eu não ameacei você, eu te avisei. É diferente.
— Pra mim é a mesma coisa.
Ele enfim me encarou. O olhar era frio como o aço.
— Sabe onde se meteu?
— Sim. Com uma quadrilha de assassinos e traficantes, como sempre faço o tempo todo em minha profissão.
Ele se aproximou e fechou a mão grande em torno do meu braço.
— Você mexeu com gente perigosa moça e agora está marcada para morrer.
Puxei o braço com força.
— E você tentou duas vezes e não conseguiu, não foi?
Ele franziu a testa.
— Como assim, duas vezes?
— Tentou me jogar para fora da pista e contratou aqueles dois para se fingirem de assaltantes não foi? Por que não foi até o fim? Por que os matou?
Ele parecia realmente surpreso.
— Alguém tentou jogar você para fora da pista? Quando?
Virei as costas e tentei sair, mas ele me segurou puxando de volta.
— Não se faça de inocente, você tentou me matar! – acusei irritada.
— Responde! Que dia foi isso?
Parei assustada com o tom de voz dele.
— Faz três dias.
Ele soltou meu braço e virou de costas apoiando as mãos no carro. Então de repente ele veio até mim novamente.
— Eu cheguei hoje ao Brasil.
Será que ele falava a verdade?
— Como?!
— Eu cheguei hoje ao Brasil com a tarefa de matá-la, mas parece que alguém se adiantou.
Eu prendi a respiração.
— Você.... veio me matar? Porquê?
Ele me olhou fixamente.
— Porque você mexeu com o homem mais poderoso da Turquia e ele agora quer sua cabeça.
Eu estava tonta.
— Se não foi você quem tentou me matar, então o que está fazendo aqui? Por que nos defendeu no shopping?
— Não costumo matar alguém sem um proposito justo, se é que existe justificativa para a morte!
— Você acabou de matar duas pessoas.
— Você preferia que fosse você e sua mãe?
— Como descobriu quem é minha mãe e onde ela mora?
Ele riu seco.
— Investigando. Ou você acha que só a polícia sabe fazer isso?
Que pesadelo era aquele? Eu estava mesmo parada na rua conversando com um homem que atravessou o país com a intenção de me matar?
— O que quer de mim afinal?
— Vim ao Brasil na intenção de pedir que você sumisse por um tempo para sair da mira da máfia turca, mas vejo que não será possível.
— Como assim? Não será possível?
Ele andava lentamente de um lado para outro.
— Tem gente atrás de você e te afirmo que vai te perseguir até o inferno.
Estremeci com o tom de voz dele.
— E o que eu faço então? — perguntei contrariada.
Ele parou de repente e me encarou.
— Só tem um jeito... – ele disse misterioso.
— Fale!
— Você vai comigo para a Turquia.
Pensei não ter escutado direito.— Não entendi. O que você disse?— O que você ouviu. Você precisa ir comigo para a Turquia.Ele estava ficando louco.— Nunca! O que diabos eu vou fazer lá?— Salvar sua vida, garota.Eu estava meio tonta e me apoiei no carro para não cair.Ele percebeu meu desequilíbrio e segurou meu braço com força, abrindo a porta do carro e me fazendo sentar no banco de trás.— Respire fundo, você vai precisar de calma daqui para a frente.Empurrei a mão dele, que segurava meu braço.— Me solte, não quero que chegue perto de mim.Ele sorriu de forma enigmática e apoiou os braços na porta aberta, me encarando.— Será um pouco difícil depois do que teremos de fazer.— Que merda você tá falando?Eu já estava me sentindo melhor e levantei passando por baixo dos braços dele.— Nós vamos nos casar.Minha reação foi uma sonora gargalhada.— Não diga! Não acha que é uma piada um pouco sem graça não?Ele ficou calado, me olhando.— Avise a sua mãe que você precisa fazer uma
De volta ao apartamento que eu nem tinha me dado ao trabalho de desalugar, me joguei no sofá, exausto. Que diabos eu estava fazendo? Por que não matei logo aquela delegada insolente e fui cuidar da minha vida?O certo é que eu precisava dormir.Tirei a roupa e entrei embaixo do chuveiro frio, pensando no problema que eu mesmo tinha criado. Onde estava com a cabeça quando pensei em me casar com aquela maluca? Mas só existia essa forma de salvar a vida dela. Hilal Ramazan a descobriria até no inferno e quanto mais ela se escondesse seria pior. Só levando-a para minha família é que ela estaria segura. Como se não bastasse Sulamita e minha mãe, agora mais uma mulher iria depender de mim, era mais um problema em meio a tantos que me rodeavam. No entanto, não tive coragem de cumprir a ordem do meu avô. Não era justo matá-la, quando ela apenas estava cumprindo seu dever. Ela não tinha como saber que estava atiçando um lobo faminto, que devorava todos que atravessavam o caminho dele. Eu mesmo
Tudo estava calmo.O Lucas tinha conseguido um segurança para me acompanhar e eu estava mais tranquila.Eu não conhecia o homem, mas ele parecia profissional. Sempre ficava a uma certa distância e até mesmo quando eu entrava no banheiro, percebia que ele ficava por perto. Era melhor assim. Até que a polícia descobrisse algo sobre os dois atentados que aconteceram na última semana, eu me sentia mais segura sabendo que tinha alguém para me defender.Graças a Deus, Leonardo Ramazam tinha sumido. Mais um motivo para eu achar que aquelas tentativas foram sim, a mando dele.Naquele tarde de sexta-feira, eu saí do prédio da delegacia e resolvi dar um passeio no shopping. Tinha ligado mais cedo para minha mãe e ela estava bem, cuidando das mulheres que viviam no abrigo para testemunhas e mulheres vítimas de violência doméstica.Avisei ao segurança que pretendia jantar no shopping e talvez assistir um filme.Estava sentada terminando meu sanduiche, quando meu celular apitou com um aviso de me
A Turquia nunca foi o meu sonho de viagem internacional e muito menos para casar com um meio turco de cara amarrada, que dormiu a maior parte do voo.Eu estava louca? Talvez.O certo é que eu tinha acabado de desembarcar no aeroporto de Istanbul com a promessa de me tornar membro da família do maior mafioso da Turquia.Leonardo estava mais estranho do que estivera nos últimos dois dias. Calado e pensativo. Não que eu me importasse com o comportamento dele, mas será que eu estava tentando me salvar e na verdade estava indo para a toca do lobo?Ninguém entendeu minha viagem repentina. O Lucas praticamente surtou.— Que diabo de viagem é essa, Alina? O que você vai fazer na Turquia?— Não me faça perguntas Lucas. Por favor.— Como não fazer perguntas Alina? Essa viagem está muito estranha.Sem saber o que fazer, eu esbravejei com ele:— Vai cuidar da sua namoradinha, deixa que eu sei o que estou fazendo.Ele tinha levantado as mãos exasperado.— Você está louca, com certeza.A reação da
Não ia ser fácil.— Você pode repetir o que você falou? – Hilal Ramazan perguntou calmo demais para a situação que se apresentava ali.Respirei fundo.— Essa moça é a delegada Alina Varela e eu a trouxe aqui por que pretendo me casar com ela.Ele colocou o cigarro lentamente sobre o cinzeiro e me olhou.— Por quê?Estávamos sentados em frente à mesa dele no escritório e Alina o encarava desafiadora. Porque ela não podia colaborar?— Por que eu gosto dela e ela também gosta de mim, então eu a pedi em casamento.— Eu mandei você matá-la – ele falou como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.Levantei e coloquei as mãos sobre o tampo da mesa dele encarando-o.— E pelo visto não confiou em mim, por que mandou seu cão de guarda fazer o mesmo.— E estava certo, não estava?— Isso não importa agora. Eu amo essa mulher e vou me casar com ela.Ele desviou o olhar para Alina.— Desde quando conhece meu neto, delegada?Vamos lá, garota!— Desde muito tempo, senhor.— Que tempo? Explique m
Aquela casa parecia uma mansão mal assombrada.Senti um calafrio ao descer as escadas, na ponta dos pés. Se aquele doido achava que eu ia ficar trancada dentro de um quarto, estava enganado.A casa estava em silêncio e eu atravessei a sala devagar, procurando uma alma vida dentro daquele mausoléu.Ouvi vozes vindas de um cômodo e parecia ser uma discussão acalorada pelo timbre de voz, mas como eu não entendia uma palavra em turco, apenas segui a direção daquelas vozes e entrei na cozinha.Uma mulher alta, muito bem vestida, gritava com alguém que imaginei ser a cozinheira ou algo assim. Ela esbravejava apontando um vestido queimado e imaginei que a coitada tinha provocado a tragédia ao tentar passar a peça.A mulher negra e mais velha que a dondoca, não parecia intimidada com os gritos da outra.Sem saber o que fazer, continuei ali parada, até que a mulher percebeu minha presença e virou— se para mim com uma expressão nada agradável.— Defol buradan!O que diabos ela disse?— bu evde
Aquele era um dia particularmente ruim. Não que eu tivesse dias melhores, mas armar toda aquela merda de trazer aquelas mulheres para a Turquia estava me deixando mal. Se eu bebesse, aquele seria um dia em que eu encheria a cara, portanto eu deveria também impedir que o Rafael bebesse. Se bem que nos últimos tempos ele andava maneirando na bebida. O cara estava realmente estranho, nem mulher ele pegava mais. Fiquei realmente preocupado quando a garota que conseguiu arrastá-lo para o quarto me confessou que ele não tinha nem tocado nela. Queria eu não precisar afogar as mágoas nos braços daquelas garotas que eu nem sequer lembrava o nome no dia seguinte, mas eu precisava extravasar de alguma forma e o sexo coisa era a única que conseguia me acalmar. Pensei na delegada de olhos verdes e não consegui evitar de sentir um pouco de tristeza. Eu era sujo demais para ela. Não seria certo tocá-la depois de ter passado pelas camas mais imundas da Turquia e principalmente do Brasil. Mas uma coi
De todos os acontecimentos daquele dia, apenas um ficou gravado em minha mente: O momento que o juiz de paz nos declarou marido e mulher e a boca de Leonardo tocou a minha, levemente. Foi apenas um roçar de lábios, mas meu corpo praticamente pegou fogo. Ele passou a cerimônia inteira com os olhos fixos em mim e aquilo foi agitando meu sangue de tal forma que quando ele se aproximou de mim e segurou meu rosto com as duas mãos, tudo que eu queria era que aquele povo todo sumisse daquela sala para que eu pudesse corresponder ao beijo dele. Não fiz por dois motivos: Estava na Turquia e aquilo seria um escândalo e eu ainda tinha um pouco de juízo.Como aquele homem conseguia mexer tanto comigo depois de tudo que tinha acontecido? Mesmo sabendo que ele era um mafioso, um criminoso talvez, eu não conseguia deixar de achá-lo lindo e excitante. Mesmo com aquele olhar sombrio e frio, vestido de preto o tempo todo, ele tinha uma maneira de andar, de me olhar, que fazia meus ossos virarem gelat