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Capítulo 05 - Alina

— Quer para com isso, mãe? não foi nada demais.

Eu estava agoniada com aquela preocupação toda da minha mãe. Ela não parava quieta. Perguntava se eu estava sentindo dor, fome, sono...

— Como não foi nada, Alina? Você sofreu uma tentativa de homicídio!

Suspirei nervosa.

— Não foi tentativa nenhuma, eu perdi a direção do carro!

— Depois que alguém tentou te jogar para fora da pista.

— Não foi assim!

Lucas se manifestou de pé ao lado da janela do quarto do hospital:

— Claro que foi Alina, você mesma me contou.

Linguarudo!

— Quer calar a boca, Lucas?

— Tá vendo, você quer esconder de mim. Você está correndo perigo!

Tentei sentar na cama, mas a dor nas costelas me obrigou a deitar de novo.

— Não precisa tanto alarde, isso é comum na minha profissão.

Julieta Varella colocou as mãos na cintura e apontou o dedo indicador para mim.

— Você vai sair desse emprego.

Nunca!

— De jeito nenhum mãe, se acalme por favor — falei tentando parecer calma.

Lucas se aproximou e sentou na cama ao meu lado.

— Você tem alguma ideia de quem era?

Neguei com a cabeça.

— Viu a placa do carro?

— Claro que não, Lucas! Era noite, estava escuro, não vi nada.

— Mas tem certeza que ele tentou provocar o acidente?

Pensei alguns instantes.

— Sim. Ele me seguiu por um bom tempo e tentou outras vezes me empurrar da pista. Quando chegou na curva, veio com toda velocidade para cima de mim.

Lucas começou a andar pelo quarto nervoso.

— A mando de quem? Não estamos em nenhum caso especifico agora. O último foi aquele do carregamento de armas.

Eu fechei os olhos. Lógico que não tinha esquecido as ameaças de Leonardo Ramazan. Ele não estava brincando, afinal. Pretendia mesmo me tirar do caminho dele.

Não falei nada sobre o fato dele ter ido me procurar naquela noite, mas aquele acidente foi a certeza que ele não tinha esquecido aquela história e que eu realmente corria perigo.

Minha sorte foi o cinto de segurança e o Air bag do carro que me protegeu do impacto, caso contrário, o estrago teria sido muito maior. Estava no hospital para averiguações e para fazer uma tomografia. Esperava que não precisasse passar a noite ali.

Minha mãe tinha seu lado exagerado, mas ela tinha razão. Era preocupante viver sempre alerta e com medo de alguma represália. No fundo eu a entendia e gostava dessa forma que ela tinha de cuidar de mim. Desde cedo fomos só eu e ela. Meu pai tinha morrido quando eu tinha dez anos e desde então a vida dela fora cuidar de mim. Acho que ela sempre sonhou que eu fosse médica ou no máximo advogada, nunca uma policial ou delegada que enfrentava bandidos de arma em punho.

Virei o rosto para ela e estendi a mão.

— Vem cá mãe, não se preocupe tanto. Eu prometo que vou ter cuidado.

Ela parecia inconformada.

— Vou falar com o médico e ver se você vai ter alta hoje.

— Posso ir pra sua casa, não é?

Ela me encarou meio incrédula.

— E você estava pensando em ir pra onde?

Não tive saída senão dar uma gargalhada.

— Vai dona Julieta, vai ver esse médico logo.

O médico só me permitiu sair na manhã seguinte, mas pelo menos eu estava sem dor e não tinha quebrado nada. Apenas teria que descansar por mais um ou dois dias por conta da pancada na cabeça, mas de resto tudo estava bem.

Lucas tinha levado meu carro para a oficina e até que estivesse consertado, eu estava à pés, já que minha mãe não me deixaria pegar a moto.

Férias forçadas, já que eu não parava para descansar. Aproveitei para receber mimos e carinhos da minha mãe e passei os dois dias seguintes deitada, comendo e assistindo TV.

O Lucas e a Gabriela como era de esperar, não me deixaram em paz e apareceram para trazer sorvete, doces, sanduiches.

— Parem com isso, vou virar uma bola em apenas dois dias!

Gabriela sentou na cama sorrindo.

— Você? Uma bola? Com esse corpinho meu amor, você pode comer o que quiser.

— Tá com inveja, querida? – falei cínica.

Gabriela soltou uma gargalhada.

— Claro que não, O Lucas adora meu corpinho.

Revirei os olhos.

— Quer parar vocês duas? Que saco! Estou tentando descobrir o que aconteceu e vocês ai brigando por minha causa – Lucas esbravejou.

Ele não tinha jeito.

— Não estamos brigando por você, querido. Eu não tenho o menor interesse em você.

— Melhor assim – resmungou a Gabriela.

Foi a vez do Lucas revirar os olhos.

— Vamos embora Gabriela, amanhã tentaremos descobrir alguma coisa.

Quando eles saíram, eu peguei o telefone e olhei pela milésima vez a imagem meio desfocada de Leonardo Ramazan. Ele não perdia por esperar. Ia ter volta.

Minha mãe entrou no quarto com mais um prato de comida e eu senti o estômago revirar.

— Não mãe, não quero nada, por favor.

Levantei da cama e fui em direção ao banheiro.

— Vou tomar um banho e vamos sair um pouco. Vamos ao shopping. Estou enjoada de ficar dentro de casa e você também precisa sair um pouco.

Julieta parou na porta do banheiro.

— Tem certeza que está bem para sair?

Sorri para ela.

— Estou ótima. Aproveite que não é todo dia que a delegada Alina tem tempo para ir ao shopping não.

— Então vamos logo. Quero curtir a companhia da minha linda filha que sobreviveu a um ataque.

Fomos a um shopping perto de casa mesmo e gastamos algumas horas visitando lojas e gastando o dinheiro que minha mãe economizava não sei para quê, já que tinha uma vida estável, com apartamento próprio, carro e uma pensão deixada por meu pai, que ela não usava nem a metade para os gastos do dia a dia.

Depois de algumas compras, sentamos em uma lanchonete.

— Deveria viajar mais mãe, conhecer pessoas. Quem sabe não arranja um namorado.

Ela mordeu o sanduiche Light de peito de peru e me encarou.

— Eu? Namorando? Alina, eu tenho sessenta anos!

— E daí? O que idade tem a ver com isso?

— Ta bom, engraçadinha. Você tem trinta e dois e não tem namorado, por que eu deveria ter?

Eu suguei a última gota de coca— cola do canudo e minha mãe fez uma cara de nojo. Ela era amante das coisas naturais e nunca tomaria uma coca— cola.

— Eu vou arrumar um namorado. Não aguento mais ficar sem sexo.

Julieta ficou séria.

— Ainda ama o Lucas?

— Não! Eu nunca amei o Lucas. Ele é um ótimo amigo, apesar do que me fez.

— Tem certeza que não guarda mágoas dele?

Pensei um pouco.

— Não. Hoje eu sei que ele ama mesmo a Gabi.

Ela levantou e pegou as sacolas.

— Então meu amor, procure logo outro. Mas eu preciso aprovar primeiro.

Joguei o resto do lanche do lixo, sorrindo.

— Ok dona julieta, não vou me apaixonar por um fora da lei.

— Espero.

Já passava das sete da noite quando nos dirigimos ao carro da minha mãe no estacionamento do shopping. Apesar de ainda ter muitos carros ali, o nosso estava um pouco afastado. Como de costume eu tirei as chaves do carro e desativei o alarme, antes de chegar perto e abri rapidamente a porta, jogando as sacolas no banco de trás.

Foi tudo muito rápido e quando eu coloquei a mão na maçaneta para abrir a porta, dois homens encapuzados se aproximaram e anunciaram o assalto.

— Passa a bolsa e a chave do carro!

Olhei para minha mãe e fiz sinal para ela ficar quieta. Calmamente, passei a bolsa e a chave e olhei em volta. Não havia ninguém ali para que pudéssemos pedir socorro. Talvez se eu tivesse sozinha tentaria sacar minha arma da cintura e atirar naqueles bandidos, mas tinha minha mãe, não podia arriscar.

Um deles se aproximou de mim e apontou a arma para minha cabeça.

— Não deveria andar sozinha uma hora dessas moça.

Será que aquilo não era um simples assalto?

— Você já pegou o que queria, podemos ir embora?

Ele deu uma risada seca.

— Como sabe o que queremos?

Minha mãe começou a chorar, nervosa.

— Por favor, nos deixe ir embora.

Onde estava o segurança daquele estacionamento?

O bandido segurou meu braço com força.

— Sua mãe vai embora, gracinha, mas você vem comigo.

E de repente, um tiro.

Não sei se o grito foi meu ou de minha mãe, mas em uma fração de segundos, o homem que me segurava caiu ao meu lado.

O outro procurava assustado de onde tinha vindo aquele ataque e nem teve tempo de sacar a arma. Recebeu um tiro e caiu bem ao nosso lado.

Meu Deus! Era um filme?

O homem apareceu na escuridão à nossa frente e se aproximou.

De início pensei que fosse o segurança do shopping, mas aos poucos aquela imagem foi tomando forma para mim. Aquele jeito de andar, a roupa preta, a arma ainda na mão. Senti meu corpo gelar. Ele estava ali para nos salvar ou para terminar o serviço?

Ele parou bem na minha frente e guardou a arma na cintura.

— Nem vou perguntar se está bem, já que o importante é estar viva.

Olhei para os corpos dos dois homens estirados no chão e voltei a olhar para ele.

— Como acertou neles nesse escuro?

Ele não respondeu.

Se aproximou da minha mãe e tirou as sacolas da mão dela, abrindo a porta do carro.

— Saiam daqui agora, preciso limpar essa sujeira.

Julieta olhou curiosa para ele.

— Quem é você?

Ele deu uma rápida olhada para mim e voltou a atenção para minha mãe.

— Me chamo Leonardo Ramazan.

Ela estava desconfiada.

— Você conhece minha filha?

Ele novamente olhou em minha direção, pedindo silenciosamente com o olhar que não o desmentisse.

 — Não. Não conheço.

Ele fechou a porta e deu a volta no carro, se aproximando de mim. Chegou bem perto e falou baixo:

— Você leva sua mãe em casa e desce. Eu vou esperar na frente do prédio.

Olhei incrédula para o rosto dele.

— Claro que não, não tenho nada para falar com você.

— Eu perguntei se você queria? Desça. Antes que mais uma tentativa de homicídio se concretize. Quer pagar pra ver?

Não sei como consegui colocar a chave na ignição e ligar o carro. Aquele homem era um louco e ao que tudo indicava, eu estava nas mãos dele.

Fiz todo o percurso calada e ao chegar no apartamento liguei para a Clara, amiga da minha mãe que morava no andar de baixo e pedi para ela ficar ali, até que eu voltasse.

— Onde vai, filha?

— Agora não mãe, preciso resolver uma coisa. Volto logo.

Fora do prédio do outro lado da rua, Leonardo Ramazan me esperava encostado em uma caminhonete preta, tão sinistra quanto ele.

Parei na frente dele e cruzei os braços.

— Afinal você veio cumprir suas ameaças, não foi? Como descobriu a casa da minha mãe?

Ele olhou para rua deserta e depois olhou para o chão, sem responder minha pergunta.

— Eu não ameacei você, eu te avisei. É diferente.

— Pra mim é a mesma coisa.

Ele enfim me encarou. O olhar era frio como o aço.

— Sabe onde se meteu?

— Sim. Com uma quadrilha de assassinos e traficantes, como sempre faço o tempo todo em minha profissão.

Ele se aproximou e fechou a mão grande em torno do meu braço.

— Você mexeu com gente perigosa moça e agora está marcada para morrer.

Puxei o braço com força.

— E você tentou duas vezes e não conseguiu, não foi?

Ele franziu a testa.

— Como assim, duas vezes?

— Tentou me jogar para fora da pista e contratou aqueles dois para se fingirem de assaltantes não foi? Por que não foi até o fim? Por que os matou?

Ele parecia realmente surpreso.

— Alguém tentou jogar você para fora da pista? Quando?

Virei as costas e tentei sair, mas ele me segurou puxando de volta.

— Não se faça de inocente, você tentou me matar! – acusei irritada.

— Responde! Que dia foi isso?

Parei assustada com o tom de voz dele.

— Faz três dias.

Ele soltou meu braço e virou de costas apoiando as mãos no carro. Então de repente ele veio até mim novamente.

— Eu cheguei hoje ao Brasil.

Será que ele falava a verdade?

— Como?!

— Eu cheguei hoje ao Brasil com a tarefa de matá-la, mas parece que alguém se adiantou.

Eu prendi a respiração.

— Você.... veio me matar? Porquê?

Ele me olhou fixamente.

— Porque você mexeu com o homem mais poderoso da Turquia e ele agora quer sua cabeça.

Eu estava tonta.

— Se não foi você quem tentou me matar, então o que está fazendo aqui? Por que nos defendeu no shopping?

— Não costumo matar alguém sem um proposito justo, se é que existe justificativa para a morte!

— Você acabou de matar duas pessoas.

— Você preferia que fosse você e sua mãe?

— Como descobriu quem é minha mãe e onde ela mora?

Ele riu seco.

— Investigando. Ou você acha que só a polícia sabe fazer isso?

Que pesadelo era aquele? Eu estava mesmo parada na rua conversando com um homem que atravessou o país com a intenção de me matar?

— O que quer de mim afinal?

— Vim ao Brasil na intenção de pedir que você sumisse por um tempo para sair da mira da máfia turca, mas vejo que não será possível.

— Como assim? Não será possível?

Ele andava lentamente de um lado para outro.

— Tem gente atrás de você e te afirmo que vai te perseguir até o inferno.

Estremeci com o tom de voz dele.

— E o que eu faço então? — perguntei contrariada.

Ele parou de repente e me encarou.

— Só tem um jeito... – ele disse misterioso.

— Fale!

— Você vai comigo para a Turquia.

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