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Capítulo 01 - Alina

O som do despertador me fez pular da cama, assustada. E olha que a música que coloquei como toque era a mais calma possível, retirada dos vídeos de música Reiki do You tube. Apenas proforma, porque aquelas músicas em nada me acalmavam e era mais comum eu sonhar com tiros do que com ondas batendo nas rochas na praia.

Pulei de um pé só, tropeçando no lençol que tinha caído no chão e tentei achar meu celular, que tocava aquela música irritante.

Encontrei-o dentro da fronha do travesseiro e apertei o botão de silenciar o alarme, me deixando cair de novo na cama. Um segundo depois, o celular tocava de novo, agora com o toque de ligação escolhido pelo idiota do Lucas.

Atendi no décimo toque, porque eu sabia que no décimo primeiro ele desligaria e bateria na minha porta e tudo que eu não queria era o Lucas na minha casa hoje.

— Fala...

Escutei a risada rouca do Lucas e sua  respiração parecia tão perto que me fez lembrar os momentos que ele enterrava o nariz no meu pescoço, depois de gozar e respirava fundo, rindo não sei de quê.

— Aposto que o despertador tocou e você voltou a dormir.

Levantei cambaleante e fui até o banheiro, com o celular apoiado no ombro.

— Claro que não! tá esquecendo o que vamos fazer daqui a pouco?

— Trepar?

Poderia ser, se você não tivesse me traído, seu cafajeste!

—Vai sonhando! Nunca mais vou abrir minhas pernas pra você, seu babaca.

Lucas deu uma gargalhada e eu pude ouvir a voz da Gabriela ao fundo:

Vem amor, volta pra cama!

— Não seja tão dura comigo, a gente transava tão gostoso, me dá outra chance, vai!

Não sei como eu ainda aguentava o Lucas. Quer dizer, eu sei. É porque eu não o amo e nunca amei. Eu estava apenas com o ego ferido por ter sido traída com a minha melhor amiga em cima da minha cama.

— O que foi? A Gabi não está dando conta do seu fogo, é? Bem feito!

Ouvi que a Gabriela se aproximou dele e tomou o telefone.

— Quer deixar o Lucas em paz, Alina? ele agora é meu!

Aqueles dois se mereciam.

— Qual é, Gabi? não se garante não? Aposto que ele já deu duas e ainda está de pau duro querendo uma terceira e você não aguenta, não é? Eu aguentava.

Coloquei o telefone no viva e comecei a tirar a roupa para tomar um banho.

Gabriela esbravejava do outro lado da linha:

— Aguento sim!

— Então por favor, facilita aí e dá logo pro Lucas, que eu quero ele inteiro na operação que vamos fazer daqui a pouco. Tchau.

Desliguei o celular e coloquei minha música preferida para tocar. O som de black comp love soundtracks, tema de uma novela turca que eu amava, preencheu o banheiro.

Alguém poderia imaginar que eu estava começando mais um dia de trabalho normal, mas não. Eram 22:00 e eu estava me preparando para a última operação daquele dia.

Era um dia especial. Se tudo desse certo, eu iria prender Leonardo Ramazan. O trabalho de mais de seis meses de investigação acabaria naquela noite às 00:15, no restaurante Bom Paladar.

Lavei os cabelos e demorei mais tempo que o necessário embaixo da água quente.

Precisava relaxar meus músculos tensos. Bom, eu preferia relaxar de outra forma, mas meu querido parceiro de transa tinha me trocado por outra há mais de dois anos e eu não tinha encontrado ninguém para substituí-lo, ou melhor, não tinha procurado ninguém. Lógico que fiquei com um ou outro cara, mas no final, sempre acabava sozinha em minha cama quentinha, porque eu ligava o aquecedor, claro.

Mas naquela noite, transar era minha menor preocupação. Estava ansiosa pelo fim daquela operação.

No dia anterior o Lucas tinha me entregado as gravações onde mostrava Leonardo Ramazan combinando um encontro com o braço direito do chefe do tráfico da favela do Matagal, onde ele passaria o dinheiro referente a um carregamento de armas que seria enviado para a Turquia. O Lucas era tão bom investigando, como era transando. Isso eu tinha que admitir e graças a ele e uma garota de programa que ele infiltrou dentro do apartamento de Leonardo Ramazan, agora nós tínhamos toda a operação em nossas mãos.

Segundo informações, Leonardo era neto de um dos maiores traficantes da Turquia, Hilal Ramazan e fazia o serviço sujo no Brasil.

— Hoje, você cai Leozinho, vou acabar com sua festa na minha área.

Como era uma noite especial, eu vesti minha calça preta colada e calcei minhas botas de cano baixo. O restante do visual completei com uma blusa preta e casaco também preto. Apenas o batom vermelho-vivo quebrava o tom escuro e evidenciava ainda mais minha pele branca. Pronta, me olhei no espelho de corpo inteiro ao lado da minha cama.

Por sorte, minha altura de quase 1,80 me ajudava na minha profissão. Tudo bem que eu nem precisaria dela se fosse o caso. Aprendi a intimidar usando meu olhar e minha voz e quando era necessário eu colocava qualquer bandido no chinelo só de olhar para ele ou dizer apenas “Fica calado seu filho da puta”!

Passei os dedos entre os fios cor de mel e lisos do meu longo cabelo e conferi se as aulas de box estavam fazendo efeito. Sim. Meu corpo estava bem. Pernas musculosas, barriga sequinha, braços torneados. Ótimo. Meu rosto era anguloso e simétrico e ostentava olhos verdes e uma boca de lábios cheios e rosados.

Eu sou bonita. Por que o Lucas me traiu mesmo?

Bati o pé, irritada.

Quando eu ia virar aquela página? Eu estava tentando, mas juro que era difícil esquecer o dia que cheguei em casa e encontrei o Lucas fodendo minha amiga em cima da minha cama.

E o pior de tudo foi a cara de pau do Lucas ao me ver parada na porta. Ele apenas virou a cabeça e falou, sem sair de cima da Gabriela:

— Você pode esperar na sala, por favor?

Voltei e esperei sentada no sofá.

Ele apareceu na sala alguns minutos depois, acompanhado da Gabriela:

— Alina...

Eu tinha levantado e fiz um sinal para ele calar a boca.

— Não peça desculpas, por favor...

Ele passou a mão no cabelo.

— Eu não ia pedir.

— Então...

— Eu... me apaixonei pela Gabriela.

Eu abri a boca para dizer não sei o que e depois fechei novamente, encarando os dois.  Ou eu sacava minha arma e matava aqueles dois de uma vez ou fazia de conta que não tinha visto nada.

Peguei minha bolsa e me dirigi a porta.

— Vou dormir na casa da minha mãe. Quando eu chegar aqui de manhã, não quero ver nem um fio de cabelo seu na minha casa.

 E então me voltei para a Gabriela.

— E você, não leve minhas calcinhas e devolva minha bolsa que te emprestei faz um ano e você faz de conta que é sua.

Bati a porta, e se pensam que me livrei daqueles dois, estão enganados. No dia seguinte, eles apareceram e imploraram que eu os perdoasse e que não acabasse com a nossa amizade. O que eu fiz? Perdoei os traidores e desde então estamos sempre juntos. No trabalho, o Lucas é o investigador mais competente que eu tenho em minha equipe e a Gabriela continua sendo minha amiga.

Tudo bem que meu relacionamento com o Lucas nunca foi nada tão sério e que muitas vezes ficávamos com outas pessoas, mas tudo combinado antes. Não estava no “script” que ele se apaixonaria pela minha melhor amiga.

Sim, os dois se apaixonaram e agora moravam juntos e pensavam em casar.

Droga! Por que nós não nos apaixonamos? O Lucas era lindo, gostoso, competente, mas meu coração não acelerava quando o via, salvo quando ele me fodia por horas seguidas. Ele era bom no sexo.

Pensei em voz alta.

— Aproveita Gabi, Você conseguiu juntar sexo e amor.

Terminei meu visual com um perfume caríssimo que eu tinha comprado na minha última viagem internacional para Portugal e peguei minha bolsa. A m*****a bolsa que a Gabriela quase tinha roubado de mim. Eu amava essa bolsa. Era grande e cabia tudo dentro, desde meu batom e perfume, até minha pistola 765 que me acompanhava há cinco anos.

Peguei as chaves do carro e bati a porta do apartamento.

Antes de entrar no carro, mandei uma mensagem para minha mãe.

— Vou para uma operação muito importante, então mãezinha, só me liga se for estritamente importante, e atenção, eu disse estritamente, certo?

Porque minha mãe adorava me ligar no meio das tarefas mais importantes do meu dia para perguntar se eu tinha tomado café, comido no almoço, no jantar e se eu não estava saindo com um homem casado ou que tinha conhecido na internet. Acho que minha mãe me achava meio estúpida. No fundo, eu adorava aquela preocupação dela, mas depois que ela me ligou no meio de uma transa com o policial novo que tinha chegado na minha equipe, eu precisei colocar alguns limites e estabelecer horários para ela me ligar.

Ela obedecia? Não. Tudo bem.

Saí das minhas divagações e me concentrei no trânsito. Apesar de ser quase 23:00, as ruas ainda estavam cheias de gente e carro.  Era isso que eu amava naquela cidade: o vai e vem de pessoas, o movimento. Ali tudo acontecia em qualquer hora do dia ou da noite e eu estava mais do que acostumada a sair em plena madrugada para fazer compras em alguns shoppings que abriam pela noite.

Porém, hoje minha tarefa noturna era outra. Iria acabar com o tráfico de armas e drogas entre o chefe do Matagal e o traficante turco Hilal Ramazam.

Nas reportagens que Lucas tinha feito, não foi possível encontrar nenhuma foto do poderoso chefão da máfia turca, mas seu netinho querido iria para o xilindró e ele teria que dar as caras.

Aproveitei o sinal fechado e peguei meu celular, abrindo mais uma vez a foto que o Lucas tinha enviado para mim. Era Leonardo entrando no prédio, acompanhado da garota de programa que o Lucas tinha contratado.

Ele estava de costas e não era possível ver o rosto dele, mas dava pra perceber que era magro e bem alto. Como um bom integrante da máfia, estava todo vestido de preto.

Respirei fundo e me dirigi ao restaurante onde seria realizada a operação. Eu, como delegada, já perdi as contas de quantas prisões acompanhei, mas aquela ali era especial. Eu não perderia por nada o momento de ver aquela quadrilha desmascarada.

Lucas já me esperava no estacionamento e veio me encontrar com aquele sorriso sacana de sempre.

— Uau! Você está pronta para matar!

Desviei do abraço que ele tentou me dar e coloquei a chave do carro na bolsa.

— Cadê a equipe, estão todos a postos?

— Claro chefinha, todos lá dentro disfarçados, sentados em pontos estratégicos, um policial em cada esquina à paisana e duas viaturas na rua do fundo, só esperando seu comando.

— Ótimo! E nós dois, onde ficaremos?

— Somos muito conhecidos, não podemos sentar em uma mesa e pedir um prato, então combinei com o dono do restaurante e ficaremos em seu escritório, que tem uma janela onde é possível ver toda a movimentação da mesa em que eles estarão sentados.

Olhei para o Lucas e levantei uma sobrancelha, sorrindo:

— Caramba! onde está seu defeito, hein?

Ele abriu um largo sorriso:

— Eu gosto demais de sexo.

Explodi numa gargalhada:

— Isso não é defeito.

— Então eu não tenho nenhum. Vamos?

Ignorei a mão dele estendida e segui na frente, pisando duro.

— Eta mulher difícil!

Virei para trás:

— O que você disse?

Lucas deu um sorriso torto:

— Não falei nada, siga em frente.

O dono do restaurante, Arthur Zolla, nos recebeu em seu escritório, mas estava apreensivo por saber que logo mais, a polícia invadiria seu restaurante.

— Isso não é bom para minha imagem.

Eu tentei tranquilizá-lo:

— Seremos o mais discretos possível. Pense que estaremos impedindo que crimes maiores sejam cometidos, se esse carregamento de armas for enviado para a Turquia.

Ele suspirou resignado.

— Tudo bem, façam o trabalho de vocês.

Foi a hora mais longa de toda a minha vida, até que às 00:10 minutos, Leonardo Ramazan entrou no restaurante.

Era impossível não notar a entrada dele. Estava com a mesma roupa preta da foto e caminhava imponente entre as mesas, até ocupar aquela que tinha sido reservada estrategicamente para ele. Carregava uma maleta preta e de longe eu pude ver o cabo da pistola no cós da calça apertada, que mostrava todos os detalhes do corpo dele.

Jesus! De que filme aquele homem tinha saído?

Ele sentou calmamente e pediu uma bebida.

Alguns minutos depois, outro homem entrou no restaurante e se dirigiu à mesa dele.

Eu olhei interrogativamente para o Lucas.

— Aquele não é o homem que viria receber o dinheiro – Falei em tom de acusação.

Lucas apertou os lábios, irritado.

— Devem ter mandado outra pessoa.

— E agora?

— E agora, nada. Vamos efetuar a prisão. O importante é pegar o Leonardo e ele não vai ter como negar, porque aquela maleta está cheia de dinheiro. Vamos lá.

Eu enviei a mensagem combinada para o grupo criado especificamente para aquela operação e um minuto depois, vi os policiais se levantarem das mesas ao lado e cercar a mesa de Leonardo.

Agora era nossa vez.

Saímos rapidamente do escritório e no caminho para a mesa, eu peguei  minha arma e coloquei estrategicamente por baixo do casaco. Não pretendia fazer uma cena de cinema em frente ao clientes do restaurante.

Tudo teria que ser muito rápido, então quando os policiais se aproximaram da mesa e antes mesmo que Leonardo e seu comparsa pudessem respirar, eu já apontava a arma para eles:

— Quieto ai! Você está preso, Leonardo Ramazan!

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