Capítulo 3

Noely Sartori

Olho para a minha maquiagem concluída, a roupa justa, os saltos scarpin da Prada e respiro meu perfume caríssimo da Dior, que quase custou um rim. Para trabalhar nessas empresas de milionários preciso sempre estar vestida à altura. Aprendi isso da pior forma possível, depois de ser humilhada por mulheres metidas, que te olham dos pés à cabeça, e com aquela cara de nojo insuportável.

Depois de pronta e após tomar o meu maravilhoso café da manhã, despeço-me da minha mãe com a sua bênção e vou para o meu primeiro dia na ELW.

Minha sala fica no mesmo andar que a sala do CEO e do Co-CEO, provavelmente é o irmão do Sr. Carter. 

— Olá, bom dia, deve ser a Srta. Noely — a secretária bonita e vulgar me cumprimenta.

Fico meio chocada. Como ela pode se vestir desse jeito, com uma saia tão curta e uma blusa tão decotada num ambiente de trabalho? 

— Olá, como é o seu nome?

— Sou a Beatriz, a secretária do Sr. Carter e do Sr. Breno, acho que também da senhorita. 

— Ah, sim... está há quanto tempo na empresa?

— Desde o primeiro dia que o Sr. Carter assumiu o cargo de CEO.

— Hum... — Analiso-a e ela é bem sorridente. — Ok. Pode me passar todos os documentos, planilhas, contratos, etc? Quero impressos.

— Não é mais fácil analisar pelo computador? Te mando pelo e-mail.

— Eu quero impresso, gosto de sentir o papel nas mãos.

— Tudo bem, srta. Noely, vou imprimir tudo e em meia hora levo na sua sala.

Assinto, agradecendo-a e voltando para o meu cubículo de sala. Pelo menos eu tenho uma sacada com vista bonita para o centro.

Aguardo a Beatriz, que em meia hora me traz uma penca de papéis, ainda diz que tem mais. Já vi que levarei uma semana e meia para entender a logística da empresa.

Bom, que então comece o desafio. 

Passo umas três horas lendo os documentos da administração, ou melhor, da má administração. Estou sem acreditar no tanto de dinheiro que a Elektra Web ganhou no ano passado. E como não pagavam os seus funcionários? O criminoso sem escrúpulos desviava sem pena. Não era para a ELW estar desse jeito hoje em dia, na verdade, se tivesse uma boa gestão, seria a empresa número um de desenvolvimento de softwares no Brasil.

Vou escrevendo tudo no computador, organizando as finanças desde o primeiro ano de inauguração da empresa... até ser interrompida por alguém, que entra na sala e para na frente da minha mesa.

Ergo a cabeça e quase perco o ar com o homem alto e forte na minha frente. Ele é sufocante, sem dúvidas. 

— Posso saber o que está fazendo?

— Bom dia, Sr. Cartes... eu... — Um pouco tonta, olho para os milhares de papéis sobre a minha mesa, tem outros milhares caídos no chão. — Estou lendo e entendendo o passado da ELW.

— Não foi para isso que contratei a senhorita.

— Mas esse é o meu trabalho, devo analisar vírgula por vírgula, antes de ajudá-lo em qualquer decisão administrativa.

— E analisou?

Como o olhar desse homem é intimidador, arrepiante.

— Estou analisando, como pode ver.

— É, estou vendo, tem até a planta da empresa. — Ele pega o papel que estava bem próximo do meu braço. — Agora, quero saber, no que isso me ajuda?

— No caso, me ajuda... — murmuro, erguendo-me da cadeira e olhando-o, sorridente, como uma boa funcionária. — Mas então, no que eu posso ajudar o senhor, pelo menos nesse momento?

— Venha até a minha sala, tenho algumas estratégias que preciso discutir.

— Sim, senhor...

Pego o meu tablet e o acompanho para o outro lado. Ao entrar na sala, fico admirada com o ambiente enorme e luxuoso, muito melhor do que o meu cubículo.

— Eu dei um prazo de três meses para reerguermos a ELW.

— Eu vi que muitas empresas importantes desfizeram contratos e processaram a ELW. Há muitas dívidas... ainda não somei tudo, mas...

— Eu não quero discutir o óbvio, Noely. Necessito de planos que deem certo.

— Desculpe-me, senhor, mas eu preciso fazer isso, afinal, cheguei hoje, tenho que pesquisar as coisas, buscar informações detalhadas. Não sou Jesus para fazer milagres. — Quando eu vejo, já soltei.

Merda!

Coro de vergonha.

Ele se encosta na mesa, com a sua beleza insuportável. Ele sim tem pose de salvador da pátria.

Pigarreio, recompondo-me.

— O que eu quis dizer, é que acabei de chegar, deixe-me primeiro entender os passos administrativo da última gestão, para em seguida, instruí-lo no futuro, juntamente com os seus funcionários, afinal, a intenção de ambos aqui é reerguer a Elektra Web, torná-la respeitosa e de confiança para o mercado, novamente.

— Eu te darei um prazo até segunda para estudar tudo o que precisa sobre a empresa. Quero soluções, Srta. Noely, a começar pelas dívidas que meu... o último gestor deixou. Não há um investidor sequer no nosso quadro, todos foram embora. 

Ele suspira, preocupado, e, aparentemente, até desesperado.

— Eu tenho uma única estratégia no momento, até analisar tudo e pensar com cuidado.

— Qual?

— Ela é óbvia e acho que o senhor já está fazendo isso, mas tem o meu ponto a analisar. Vi que a empresa tem cerca de cento e quarenta funcionários. Reduza o salário de alguns, pelo menos por esses três meses que deu. Todos sabem da situação da ELW, não será uma redução permanente, isso, também garante que não se revoltem e peçam demissão.

Ele se ergue, pensativo, vindo até mim com as mãos nos bolsos.

Aquela sensação de estar sufocada volta, ele é terrivelmente másculo. Parece que saiu da capa de uma revista com o título “os homens mais bonitos do mundo”.

— Vamos apostar nessa estratégia.

— Assim? — Arregalo os olhos. — Não vai fazer nenhuma reunião para discutir com seus...

— Eu decido as coisas sozinho, não será necessário discutir com nenhum outro grupo, apenas informarei aos responsáveis dos setores. Se forem contra, despeço e coloco outro no lugar.

Calo a boca e engulo em seco, assentindo.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo