Noely Sartori
Olho para a minha maquiagem concluída, a roupa justa, os saltos scarpin da Prada e respiro meu perfume caríssimo da Dior, que quase custou um rim. Para trabalhar nessas empresas de milionários preciso sempre estar vestida à altura. Aprendi isso da pior forma possível, depois de ser humilhada por mulheres metidas, que te olham dos pés à cabeça, e com aquela cara de nojo insuportável.
Depois de pronta e após tomar o meu maravilhoso café da manhã, despeço-me da minha mãe com a sua bênção e vou para o meu primeiro dia na ELW.
Minha sala fica no mesmo andar que a sala do CEO e do Co-CEO, provavelmente é o irmão do Sr. Carter.
— Olá, bom dia, deve ser a Srta. Noely — a secretária bonita e vulgar me cumprimenta.
Fico meio chocada. Como ela pode se vestir desse jeito, com uma saia tão curta e uma blusa tão decotada num ambiente de trabalho?
— Olá, como é o seu nome?
— Sou a Beatriz, a secretária do Sr. Carter e do Sr. Breno, acho que também da senhorita.
— Ah, sim... está há quanto tempo na empresa?
— Desde o primeiro dia que o Sr. Carter assumiu o cargo de CEO.
— Hum... — Analiso-a e ela é bem sorridente. — Ok. Pode me passar todos os documentos, planilhas, contratos, etc? Quero impressos.
— Não é mais fácil analisar pelo computador? Te mando pelo e-mail.
— Eu quero impresso, gosto de sentir o papel nas mãos.
— Tudo bem, srta. Noely, vou imprimir tudo e em meia hora levo na sua sala.
Assinto, agradecendo-a e voltando para o meu cubículo de sala. Pelo menos eu tenho uma sacada com vista bonita para o centro.
Aguardo a Beatriz, que em meia hora me traz uma penca de papéis, ainda diz que tem mais. Já vi que levarei uma semana e meia para entender a logística da empresa.
Bom, que então comece o desafio.
Passo umas três horas lendo os documentos da administração, ou melhor, da má administração. Estou sem acreditar no tanto de dinheiro que a Elektra Web ganhou no ano passado. E como não pagavam os seus funcionários? O criminoso sem escrúpulos desviava sem pena. Não era para a ELW estar desse jeito hoje em dia, na verdade, se tivesse uma boa gestão, seria a empresa número um de desenvolvimento de softwares no Brasil.
Vou escrevendo tudo no computador, organizando as finanças desde o primeiro ano de inauguração da empresa... até ser interrompida por alguém, que entra na sala e para na frente da minha mesa.
Ergo a cabeça e quase perco o ar com o homem alto e forte na minha frente. Ele é sufocante, sem dúvidas.
— Posso saber o que está fazendo?
— Bom dia, Sr. Cartes... eu... — Um pouco tonta, olho para os milhares de papéis sobre a minha mesa, tem outros milhares caídos no chão. — Estou lendo e entendendo o passado da ELW.
— Não foi para isso que contratei a senhorita.
— Mas esse é o meu trabalho, devo analisar vírgula por vírgula, antes de ajudá-lo em qualquer decisão administrativa.
— E analisou?
Como o olhar desse homem é intimidador, arrepiante.
— Estou analisando, como pode ver.
— É, estou vendo, tem até a planta da empresa. — Ele pega o papel que estava bem próximo do meu braço. — Agora, quero saber, no que isso me ajuda?
— No caso, me ajuda... — murmuro, erguendo-me da cadeira e olhando-o, sorridente, como uma boa funcionária. — Mas então, no que eu posso ajudar o senhor, pelo menos nesse momento?
— Venha até a minha sala, tenho algumas estratégias que preciso discutir.
— Sim, senhor...
Pego o meu tablet e o acompanho para o outro lado. Ao entrar na sala, fico admirada com o ambiente enorme e luxuoso, muito melhor do que o meu cubículo.
— Eu dei um prazo de três meses para reerguermos a ELW.
— Eu vi que muitas empresas importantes desfizeram contratos e processaram a ELW. Há muitas dívidas... ainda não somei tudo, mas...
— Eu não quero discutir o óbvio, Noely. Necessito de planos que deem certo.
— Desculpe-me, senhor, mas eu preciso fazer isso, afinal, cheguei hoje, tenho que pesquisar as coisas, buscar informações detalhadas. Não sou Jesus para fazer milagres. — Quando eu vejo, já soltei.
Merda!
Coro de vergonha.
Ele se encosta na mesa, com a sua beleza insuportável. Ele sim tem pose de salvador da pátria.
Pigarreio, recompondo-me.
— O que eu quis dizer, é que acabei de chegar, deixe-me primeiro entender os passos administrativo da última gestão, para em seguida, instruí-lo no futuro, juntamente com os seus funcionários, afinal, a intenção de ambos aqui é reerguer a Elektra Web, torná-la respeitosa e de confiança para o mercado, novamente.
— Eu te darei um prazo até segunda para estudar tudo o que precisa sobre a empresa. Quero soluções, Srta. Noely, a começar pelas dívidas que meu... o último gestor deixou. Não há um investidor sequer no nosso quadro, todos foram embora.
Ele suspira, preocupado, e, aparentemente, até desesperado.
— Eu tenho uma única estratégia no momento, até analisar tudo e pensar com cuidado.
— Qual?
— Ela é óbvia e acho que o senhor já está fazendo isso, mas tem o meu ponto a analisar. Vi que a empresa tem cerca de cento e quarenta funcionários. Reduza o salário de alguns, pelo menos por esses três meses que deu. Todos sabem da situação da ELW, não será uma redução permanente, isso, também garante que não se revoltem e peçam demissão.
Ele se ergue, pensativo, vindo até mim com as mãos nos bolsos.
Aquela sensação de estar sufocada volta, ele é terrivelmente másculo. Parece que saiu da capa de uma revista com o título “os homens mais bonitos do mundo”.
— Vamos apostar nessa estratégia.
— Assim? — Arregalo os olhos. — Não vai fazer nenhuma reunião para discutir com seus...
— Eu decido as coisas sozinho, não será necessário discutir com nenhum outro grupo, apenas informarei aos responsáveis dos setores. Se forem contra, despeço e coloco outro no lugar.
Calo a boca e engulo em seco, assentindo.
Noely Sartori— Ok... — Desvio dos seus olhos.— Acho que nos daremos muito bem, Srta. Noely. — Ele sorri, e eu volto a fitá-lo.— Talvez sim, o senhor é bem objetivo com as coisas.— Eu tenho um prazo de três meses, preciso ser.— E posso perguntar o motivo? Já perguntando...— Pretendo me aposentar e curtir a vida, isso responde?— A-Aposentar com trinta anos?— Olha, andou pesquisando sobre mim?Mordo o lábio, envergonhada.Que droga, ele foi rápido nessa.— Eu li a sua idade em algum daqueles papéis. — Hum..., mas não tem uma semana que estou na empresa.— Ah, eu... enfim, o senhor vai se aposentar.Ele volta a sorrir, bem diferente do chefe que invadiu a minha sala agora há pouco.— Eu tenho uma outra vida fora do Brasil, só estou aqui para evitar a falência dos negócios da minha família, por mais que eu não ligue se isso acontecer. — Então, não está nem aí para a empresa? — Eu estou, esse prazo foi o que dei para mim.— Entendi, tenho três meses para também garantir o meu emp
Noely SartoriFico incomodada, pois ele tem o mesmo grau de beleza do Sr. Carter. A diferença é só na altura e no corpo menos musculoso, de resto, são gêmeos, saíram da mesma capa de revista.— Srta. Noely, na minha sala.Falando nele, eu olho por cima dos ombros do Sr. Breno e o vejo entrando na sua sala, após me chamar em voz alta.— Com licença, senhor. — Afasto-me e vou rapidamente para a sala do CEO.— Bom dia, Sr. Carter — digo, ao fechar a porta do escritório.— Bom dia, estudou tudo o que precisava estudar?Ele se afasta da mesa e vai até o aparador do canto, servindo-se de álcool logo cedo. Parece bem nervoso.Respiro fundo, sentindo o cheiro do seu perfume e do condicionador que passou nos cabelos.— Sim, o senhor vai colocar em ação o primeiro plano, de reduzir o salário dos funcionários por três meses?— Meu irmão fará o serviço de comunicar essa informação a eles.— Ok... Está tudo bem com o senhor? — pergunto de repente, surpreendida por ele estar virando o terceiro copo
— Eu terminei de deliberar alguns investimentos, para apresentar ao Sr. Carter. Aí vim tomar um café e aguardá-lo chegar.— Hum... acho que o nosso CEO não volta hoje. — Sério? Aconteceu alguma coisa?— Algo a ver com a ex-mulher dele, não sei direito, meu irmão é bem misterioso com a sua vida pessoal.— Entendi, o senhor também é. Acho que todos somos.— Minha vida pessoal não tem muito segredo, nem mistérios. Eu sou bem normal. Incluindo a rotina.— Parando para analisar, a minha é bem normal também. Eu acordo, vou trabalhar, chego em casa, durmo e no outro dia vou trabalhar de novo. É assim todos os dias. — Dou de ombros.— Temos muitas coisas em comum, incluindo gostos alimentares.— Não mesmo, você gosta de frutos do mar, e eu detesto. Não gosta de doces e eu amo.Ele começa a rir.— Pensa pelo lado bom, eu te dou todas as minhas sobremesas quando vamos almoçar juntos.É a minha vez de rir.— Isso é maravilhoso!O Sr. Breno desvia de mim e olha as horas no relógio de pulso.— Te
Carter Bastos— Sempre é muito cheirosa, mas esta noite, seu cheiro é ainda mais de enlouquecer.Sorrio, aceitando a mão que me estende, cavalheiro.— O seu perfume também é... não sei.— Não sabe?— Cheiroso demais, deixa-me confusa.Ele ri e me leva até a porta do carro, fecha e dá a volta para igualmente entrar.— Que interessante, o meu perfume lhe deixar confusa.— É embaraçoso, meu Deus, você está me fazendo ficar com vergonha.— Acho que gosto de te deixar com vergonha. — Ele dá sua piscadinha costumeira e pisa com calma no acelerador.Em meia hora chegamos ao local, uma balada bem "gourmetizada", onde só tem ricos da elite.Nós nos acomodamos em uma mesa bem privada do segundo andar.— Eu estava precisando espairecer a mente um pouco — Breno confessa, após o garçom recolher os nossos pedidos. — Mas vai ser difícil fazer isso com você, dona Noely.— Por quê?— Porque desde que pisou os pés na porta dessa boate, nem um cara deixou de te olhar. Isso me fez ficar um pouco nervoso.
Espero por uns vinte minutos, até ouvir duas vozes conhecidas e exaltadas. Olho para cima e o Sr. Breno e o Sr. Carter descem os degraus da escada, discutindo super alto.— Não tem a porra do direito de tomar essa decisão, Carter!— Ela é a minha mãe também! Precisamos tirá-la desse país, fechar aquela droga de empresa e viver as nossas vidas!— Essa é a SUA vontade! E a da nossa mãe? Ela deu a vida pela ELW. Sabe o quanto aquela empresa é importante e se não soubesse, não teria atendido o seu pedido de voltar para o Brasil e tomar a frente do cargo executivo!— Eu vim e atendi o pedido pelo bem da saúde dela! E pra quê? Para no final vê-la se afundando em uma depressão por causa do nosso pai?— Ela não vai morar à força nos EUA! Não insista! Eu não vou deixar!Eles se encaram, com os punhos fechados.Ergo-me, chocada com a situação que me meti, e com os meus dois chefes!— Vou convencê-la em três meses a desistir e vir comigo, será a decisão da nossa mãe, assim não terá como question
— Já está tudo bem com a sua mãe? — pergunto.— Ela está de repouso, foi apenas uma queda de pressão. A cuidadora achou que era outro ataque cardíaco, pois ano passado aconteceu uma situação parecida — explica, enquanto dirige.— Sinto muito, espero que fique tudo bem com ela, de verdade. — Vai ficar. Vou aguentar tudo isso enquanto posso.Fico alguns minutos quieta, mas não aguento.— E se em três meses der tudo certo?— Eu nomeio outro chefe executivo e vou embora com a mente totalmente limpa, mas se não der, fecho aquela empresa e levo a minha mãe comigo para os Estados Unidos, ela querendo isso ou não, será para o seu próprio bem.Abaixo a cabeça, apertando os meus dedos.— Eu cheguei “ontem” e já me meti na vida pessoal do meu chefe, peço desculpas por qualquer coisa.— Realmente, se a minha conselheira não tivesse tentado se envolver com o meu irmão, não teria se metido em toda essa situação e eu não estaria levando-a para a sua casa.Sério que esse homem foi tão grosso desse j
Abaixo a cabeça, apertando os meus dedos.— Eu cheguei “ontem” e já me meti na vida pessoal do meu chefe, peço desculpas por qualquer coisa.— Realmente, se a minha conselheira não tivesse tentado se envolver com o meu irmão, não teria se metido em toda essa situação e eu não estaria levando-a para a sua casa.Sério que esse homem foi tão grosso desse jeito?Quer saber, nesse momento, ele não está sendo o meu chefe, pois não estou no trabalho.— Incrível como é um ser delicado.— Eu não fui?— É claro que não foi, não o obriguei a me levar embora, afinal, eu estava com o seu irmão, e estava tudo ótimo. Ele é sempre muito bem-educado e um cavalheiro.Olho de canto e noto-o segurando-se para não revirar os olhos— Ainda vai me agradecer por essa noite, pode anotar na sua agenda.— Não me arrependi de nada até agora, está enganado.— Eu não disse que seria um arrependimento imediato.— Não vai ser.— Quer apostar?— Não.— Disse não, é porque está começando a perceber a verdade.— Sr. Ca
— Sente-se, por favor — pede, após fechar a porta.— Não. Serei rápida, pois quero descer para o setor dos desenvolvedores. Estou observando o comportamento dos superiores.— Mas eu mandei a senhorita sentar, por isso, sente-se.Nossa, ele é sempre tão dócil e gentil, né?Não sei como, mas isso me deixa com vontade de tacar o grampeador na cabeça dele.Merda, que pensamento é esse Noely? O Sr. Carter é seu chefe!— Nunca fique de pé quando for me informar de algo, isso irrita os meus nervos. E a terapia anda sendo cara demais para eu retroceder.— Desculpe-me, isso não vai mais acontecer.— Ótimo.Ele dá a volta na mesa, puxa a gaveta de baixo e serve-se de uma bebida alcoólica, ainda me oferece.Esse homem só vive à base de álcool?— Aceita?— Claro que não, já tomei o meu café.— É um remédio ótimo para suportar a vida.Fico quieta, esperando que ele finalmente foque a sua atenção em mim, para me ouvir. Ao fazer isso, eu vou direto no meu Excel e mostro para ele o progresso de uma s