Em casa, ele passa o dia todo sem querer conversar. Nem o Breno. Eles se isolam, um no quarto e outro no escritório. Peço para a minha mãe ir para casa descansar, pois mesmo compreendendo o luto deles, não vou deixá-los sozinhos. Quero que se alimentem, tomem banho e possam ficar bem fisicamente. Estarei aqui, para ajudá-los no que for necessário. Isso inclui a empresa. Já disse para o Breno que vou cuidar de tudo, até terem cabeça para outros problemas.
E é o que eu faço.
Fico a semana toda responsável pela ELW. Mas sempre pela manhã e após o expediente, se torna obrigatório eu visitar o Carter e o Breno, para ver como estão, por mais que eles estejam sempre tristes e solitários. Principalmente o Carter, que mal conversa comigo. Ele sequer permitiu que eu passasse a noite ao seu lado. Isso está acabando com o meu psicológico
Uma semana depois....Eu olho as mensagens no celular, aguardando um motivo, um por que, mas ele não responde, ou sequer visualiza.Encolho-me na cama e choro, sem entender.O que eu fiz?Por que ele se foi?O motivo era o seu luto?Ele queria um tempo sozinho?Mas e EU?Eu não importava?Ele também não sentia essa paixão, esse... amor?O que eu fiz?Ou eu não fiz nada o suficiente para ajudá-lo a se sentir confortável e ter confiança em mim?Por que teve que ser assim?Por que o Carter fez isso comigo?Conosco?Eu só queria respostas...*****Duas semanas depois...Eu tento viver, sem pensar muito, sem buscar respostas.Eu tenho que viver.Preciso tentar.<
Quando dá o horário de abrir o evento, eu volto para a minha mesa. Breno faz um discurso de iniciação impecável, cheio de piadas divertidas. Ravi, o desenvolvedor principal do jogo, é chamado para explicar o game de vida real, que mistura zumbis, magia e um mundo bem apocalipse. É incrível ouvi-lo explicar a sua criação, enquanto passa os slides.Tudo ocorre como planejamos, exceto, na parte onde eu sou chamada para subir no palco. Fico tão surpresa. Breno me apresenta como a nova CEO da Elektra Web, dando-me os créditos por tudo isso estar acontecendo. Recebo uma chuva de aplausos, que me deixam emocionada. Porém, o que me faz chorar, assim como o restante dos convidados presentes, é quando ele toca no assunto da morte da mãe, a fundadora da ELW. E na importância de agora, uma mulher continuar à frente da empresa, com ideias e projetos seguindo a tecnol
Ele está no Brasil! E, simplesmente, quer me ver, depois de ter ido embora sem me dar qualquer justificativa? Não, não quero. Estou tão magoada, tão machucada. Só queria ajudá-lo com o seu luto, estar ao seu lado, dando apoio e carinho. Se pelo menos tivesse sido sincero comigo, eu teria respeitado qualquer tempo que pedisse.Mas sentia que seria assim, que terminaríamos dessa forma. E se ele tiver voltado dos EUA por minha causa, não vou aceitar.E quer saber? Acho que vou responder à sua mensagem. Preciso dar um basta nisso, colocar um ponto final nessa história, para eu sofrer tudo o que tiver para sofrer e seguir adiante com a minha vida.Melhor, não vou respondê-lo, eu só vou estar lá...Arrumo-me rápido, pego as chaves do carro e saio de casa, dirigindo com os dedos apertando o volante com força, conforme penso no Carter
Noely SartoriAssim que eu atravesso a porta giratória da Elektra Web, eu sorrio, o mais puro e delicioso sorriso de triunfo. — Acabei de sair do RH. Consegui o emprego! — grito pelo telefone, chamando a atenção de duas mulheres que passavam na rua.— Meu Deus! AAAAA! — minha prima também berra do outro lado, feliz pela minha conquista. — Não posso acreditar! Puta merda, eu sabia, você é a melhor do mundo!— Darla, não exagera.— Noely, você se formou em Harvard, é a melhor do mundo sim! Eu não consegui nem passar no cursinho técnico de cabeleireira do Senac. Mas falando sério, como a nova conselheira particular da Elektra Web se sente? — Confiante, corajosa e ansiosa para tornar a ELW a maior do Brasil, novamente.— Adoro isso em você, sabe que é a melhor. Porém, no seu lugar, eu estaria morrendo de medo, essa empresa está quase em falência, ainda mais depois das últimas polêmicas do dono. Você leu as notícias dos últimos dois meses, né?— Eu li, terei muito trabalho pela frente. P
Noely Sartori— Para ser mais gratificante, preciso urgente que comece a ocupar a sua vaga amanhã.— Amanhã?! — exclamo tão de repente, que não percebi o meu tom de voz alto.— Sr. Carter, eu já disse para ela começar na segunda.— Pois eu quero que a Srta. Noely comece o quanto antes. Caso não tenha visto nos jornais, o que é improvável, deve saber que essa empresa se encontra prestes a falir. E isso muda o fato de eu ser obrigada a começar a trabalhar no sábado?Reprimo os lábios, segurando-me para não responder. — Tudo bem, começarei amanhã.— Acaba de alcançar uma expectativa da empresa — ele diz, com as mãos nos bolsos.Não sei se o seu tom foi debochado ou ele é assim mesmo, mas sorrio fraco, tentando não fuzilar o meu novo chefe para não ser despedida em menos de uma hora de contratação. O que tem de beleza, tem de exigência.O que custava me deixar começar na segunda? Tudo bem, entendo que a empresa esteja praticamente no fundo do poço e que ele possa estar desesperado, que
Noely SartoriOlho para a minha maquiagem concluída, a roupa justa, os saltos scarpin da Prada e respiro meu perfume caríssimo da Dior, que quase custou um rim. Para trabalhar nessas empresas de milionários preciso sempre estar vestida à altura. Aprendi isso da pior forma possível, depois de ser humilhada por mulheres metidas, que te olham dos pés à cabeça, e com aquela cara de nojo insuportável.Depois de pronta e após tomar o meu maravilhoso café da manhã, despeço-me da minha mãe com a sua bênção e vou para o meu primeiro dia na ELW.Minha sala fica no mesmo andar que a sala do CEO e do Co-CEO, provavelmente é o irmão do Sr. Carter. — Olá, bom dia, deve ser a Srta. Noely — a secretária bonita e vulgar me cumprimenta.Fico meio chocada. Como ela pode se vestir desse jeito, com uma saia tão curta e uma blusa tão decotada num ambiente de trabalho? — Olá, como é o seu nome?— Sou a Beatriz, a secretária do Sr. Carter e do Sr. Breno, acho que também da senhorita. — Ah, sim... está há
Noely Sartori— Ok... — Desvio dos seus olhos.— Acho que nos daremos muito bem, Srta. Noely. — Ele sorri, e eu volto a fitá-lo.— Talvez sim, o senhor é bem objetivo com as coisas.— Eu tenho um prazo de três meses, preciso ser.— E posso perguntar o motivo? Já perguntando...— Pretendo me aposentar e curtir a vida, isso responde?— A-Aposentar com trinta anos?— Olha, andou pesquisando sobre mim?Mordo o lábio, envergonhada.Que droga, ele foi rápido nessa.— Eu li a sua idade em algum daqueles papéis. — Hum..., mas não tem uma semana que estou na empresa.— Ah, eu... enfim, o senhor vai se aposentar.Ele volta a sorrir, bem diferente do chefe que invadiu a minha sala agora há pouco.— Eu tenho uma outra vida fora do Brasil, só estou aqui para evitar a falência dos negócios da minha família, por mais que eu não ligue se isso acontecer. — Então, não está nem aí para a empresa? — Eu estou, esse prazo foi o que dei para mim.— Entendi, tenho três meses para também garantir o meu emp
Noely SartoriFico incomodada, pois ele tem o mesmo grau de beleza do Sr. Carter. A diferença é só na altura e no corpo menos musculoso, de resto, são gêmeos, saíram da mesma capa de revista.— Srta. Noely, na minha sala.Falando nele, eu olho por cima dos ombros do Sr. Breno e o vejo entrando na sua sala, após me chamar em voz alta.— Com licença, senhor. — Afasto-me e vou rapidamente para a sala do CEO.— Bom dia, Sr. Carter — digo, ao fechar a porta do escritório.— Bom dia, estudou tudo o que precisava estudar?Ele se afasta da mesa e vai até o aparador do canto, servindo-se de álcool logo cedo. Parece bem nervoso.Respiro fundo, sentindo o cheiro do seu perfume e do condicionador que passou nos cabelos.— Sim, o senhor vai colocar em ação o primeiro plano, de reduzir o salário dos funcionários por três meses?— Meu irmão fará o serviço de comunicar essa informação a eles.— Ok... Está tudo bem com o senhor? — pergunto de repente, surpreendida por ele estar virando o terceiro copo