Noely Sartori
— Ok... — Desvio dos seus olhos.
— Acho que nos daremos muito bem, Srta. Noely. — Ele sorri, e eu volto a fitá-lo.
— Talvez sim, o senhor é bem objetivo com as coisas.
— Eu tenho um prazo de três meses, preciso ser.
— E posso perguntar o motivo? Já perguntando...
— Pretendo me aposentar e curtir a vida, isso responde?
— A-Aposentar com trinta anos?
— Olha, andou pesquisando sobre mim?
Mordo o lábio, envergonhada.
Que droga, ele foi rápido nessa.
— Eu li a sua idade em algum daqueles papéis.
— Hum..., mas não tem uma semana que estou na empresa.
— Ah, eu... enfim, o senhor vai se aposentar.
Ele volta a sorrir, bem diferente do chefe que invadiu a minha sala agora há pouco.
— Eu tenho uma outra vida fora do Brasil, só estou aqui para evitar a falência dos negócios da minha família, por mais que eu não ligue se isso acontecer.
— Então, não está nem aí para a empresa?
— Eu estou, esse prazo foi o que dei para mim.
— Entendi, tenho três meses para também garantir o meu emprego, assim como o de outras cento e quarenta pessoas. Adoro desafios difíceis, Sr. Carter.
— Adora?
— Sim... — Dou dois passos para trás, desviando pela segunda vez dos seus olhos. — Vou voltar ao meu trabalho, tenho muito o que analisar. Com licença, senhor.
— Até segunda-feira, Srta. Noely.
Ele me observa, até eu fechar a porta e paralisar atrás dela.
Deus do céu, qual foi a última vez que um ser humano me deixou tão desconcertada?
No fim, até que ele não é um chefe ruim. Só preciso me acostumar com esse jeito intimidante dele, principalmente, me acostumar com a sua beleza. Creio que daqui a pouco ficará tudo normal.
Depois de sair da sala do meu chefe, não o vi mais. Continuei trabalhando no meu cubículo, até dar a hora de ir embora. Já desço no térreo, juntamente com umas cinquenta pessoas, doidas para chegarem em suas casas.
Eu vou direto para o barzinho que combinei com a Darla.
Ela já estava à minha espera, tomando uma cerveja gelada.
— Até que enfim, prima! — exclamo e sento-me na cadeira, jogando a bolsa do outro lado.
— Eu que tenho que dizer até que enfim. Que tipo de empresa é essa que te contrata em um dia e no outro já exige que você comece a trabalhar igual condenada?
— Nem me diga. Mas tudo bem, foi importante eu ir hoje, tive uma boa introdução sobre o passado administrativo deles.
— Em pleno sábado? Sacanagem, viu.
— Fiquei irritada com isso também.
— Mas e aí, disse por mensagem que o seu chefe era um gato.
Ela vira metade da cerveja no meu copo. Está toda sorridente.
— Eu não disse que ele era um gato, só bonito e bem exigente.
— Pesquisei a rede social dele, é um gostoso com G maiúsculo. Não sei como vai aguentar trabalhar com um homem desse.
— No meu último emprego também tinha homens bonitos, de terno e gravata. Já estou acostumada.
— Não me acostumaria nunca. Você é sortuda.
— Sortuda? Tenho três meses para reerguer aquela empresa do fundo do poço, junto com o Sr. Carter.
— E por que desse prazo?
— Nem eu entendi direito, só sei que existe esse prazo.
— Nossa, é muito trabalho, não quero te desanimar, mas é difícil apagar todas essas polêmicas da empresa em menos de três meses, ainda a reerguer.
— Espero que consiga, já botei esse objetivo na minha mente.
Bebo da minha cerveja, extasiada com o sabor geladinho, delicioso.
— Acho que esse Carter, o novo CEO, não está ligando muito se a empresa feche as portas ou não.
— Não, ele está se importando sim, pois foi bem exigente comigo... ou talvez esteja certa, não sei.
— Pelo que me contou agorinha, ele pode ter assumido a empresa por pressão da família.
— É difícil dizer, eu comecei hoje e não conheço a vida pessoal desse homem. Espero descobrir algumas coisas enquanto trabalho lá.
— E se descobrir, vai contar para a sua querida prima, pois eu sou curiosa.
— E pra quem mais eu contaria? — Pisco e sorrimos.
Aproveitamos mais um pouco da noite no bar, eu nem tanto, só bebo um copinho de cerveja mesmo, em seguida, deixo a Darla na sua casa e vou para a minha, para voltar a trabalhar em cima daqueles papéis.
No domingo, também fico debruçada no computador, estudando estratégias para apresentar ao Sr. Carter. Contudo, vou esperá-lo colocar em prática o que propus ontem. Darei três semanas para analisar se a empresa terá algum retorno significativo.
— Bom dia, filha, vai sair sem tomar o café?
— Acordei mais cedo e já tomei, já vou. Te amo. — Beijo o rosto da minha mãe, despedindo-me com rapidez.
Estou ansiosa. Hoje quero andar pelos setores e conhecer mais dos funcionários, isso, depois de ver o meu chefe.
Entro no carro e dirijo até ELW. Chego, passo o crachá e subo para o último andar. Não encontro ninguém, nem mesmo a secretária. Fico no meu escritório, estudando um pouco do financeiro. Quando ouço vozes, saio da sala e dou de cara com um homem alto, moreno e de olhos claros. Ele está vindo na minha direção.
— Olá, bom dia. — Ele sorri, observando-me atentamente.
— Bom dia...
— Deve ser a nova conselheira da empresa. Eu sou o Breno, irmão do Carter.
— Eu sou a Noely. Prazer, Sr. Breno.
— O prazer é todo meu em conhecê-la, seja bem-vinda, espero que nos ajude muito com os seus conhecimentos, principalmente, para aconselhar o meu irmão.
— Eu farei o possível para fazer o meu trabalho.
— Não tenho dúvidas disso...
O sr. Breno continua me olhando atentamente, como se eu fosse um bicho diferente, que ele nunca viu na vida.
Noely SartoriFico incomodada, pois ele tem o mesmo grau de beleza do Sr. Carter. A diferença é só na altura e no corpo menos musculoso, de resto, são gêmeos, saíram da mesma capa de revista.— Srta. Noely, na minha sala.Falando nele, eu olho por cima dos ombros do Sr. Breno e o vejo entrando na sua sala, após me chamar em voz alta.— Com licença, senhor. — Afasto-me e vou rapidamente para a sala do CEO.— Bom dia, Sr. Carter — digo, ao fechar a porta do escritório.— Bom dia, estudou tudo o que precisava estudar?Ele se afasta da mesa e vai até o aparador do canto, servindo-se de álcool logo cedo. Parece bem nervoso.Respiro fundo, sentindo o cheiro do seu perfume e do condicionador que passou nos cabelos.— Sim, o senhor vai colocar em ação o primeiro plano, de reduzir o salário dos funcionários por três meses?— Meu irmão fará o serviço de comunicar essa informação a eles.— Ok... Está tudo bem com o senhor? — pergunto de repente, surpreendida por ele estar virando o terceiro copo
— Eu terminei de deliberar alguns investimentos, para apresentar ao Sr. Carter. Aí vim tomar um café e aguardá-lo chegar.— Hum... acho que o nosso CEO não volta hoje. — Sério? Aconteceu alguma coisa?— Algo a ver com a ex-mulher dele, não sei direito, meu irmão é bem misterioso com a sua vida pessoal.— Entendi, o senhor também é. Acho que todos somos.— Minha vida pessoal não tem muito segredo, nem mistérios. Eu sou bem normal. Incluindo a rotina.— Parando para analisar, a minha é bem normal também. Eu acordo, vou trabalhar, chego em casa, durmo e no outro dia vou trabalhar de novo. É assim todos os dias. — Dou de ombros.— Temos muitas coisas em comum, incluindo gostos alimentares.— Não mesmo, você gosta de frutos do mar, e eu detesto. Não gosta de doces e eu amo.Ele começa a rir.— Pensa pelo lado bom, eu te dou todas as minhas sobremesas quando vamos almoçar juntos.É a minha vez de rir.— Isso é maravilhoso!O Sr. Breno desvia de mim e olha as horas no relógio de pulso.— Te
Carter Bastos— Sempre é muito cheirosa, mas esta noite, seu cheiro é ainda mais de enlouquecer.Sorrio, aceitando a mão que me estende, cavalheiro.— O seu perfume também é... não sei.— Não sabe?— Cheiroso demais, deixa-me confusa.Ele ri e me leva até a porta do carro, fecha e dá a volta para igualmente entrar.— Que interessante, o meu perfume lhe deixar confusa.— É embaraçoso, meu Deus, você está me fazendo ficar com vergonha.— Acho que gosto de te deixar com vergonha. — Ele dá sua piscadinha costumeira e pisa com calma no acelerador.Em meia hora chegamos ao local, uma balada bem "gourmetizada", onde só tem ricos da elite.Nós nos acomodamos em uma mesa bem privada do segundo andar.— Eu estava precisando espairecer a mente um pouco — Breno confessa, após o garçom recolher os nossos pedidos. — Mas vai ser difícil fazer isso com você, dona Noely.— Por quê?— Porque desde que pisou os pés na porta dessa boate, nem um cara deixou de te olhar. Isso me fez ficar um pouco nervoso.
Espero por uns vinte minutos, até ouvir duas vozes conhecidas e exaltadas. Olho para cima e o Sr. Breno e o Sr. Carter descem os degraus da escada, discutindo super alto.— Não tem a porra do direito de tomar essa decisão, Carter!— Ela é a minha mãe também! Precisamos tirá-la desse país, fechar aquela droga de empresa e viver as nossas vidas!— Essa é a SUA vontade! E a da nossa mãe? Ela deu a vida pela ELW. Sabe o quanto aquela empresa é importante e se não soubesse, não teria atendido o seu pedido de voltar para o Brasil e tomar a frente do cargo executivo!— Eu vim e atendi o pedido pelo bem da saúde dela! E pra quê? Para no final vê-la se afundando em uma depressão por causa do nosso pai?— Ela não vai morar à força nos EUA! Não insista! Eu não vou deixar!Eles se encaram, com os punhos fechados.Ergo-me, chocada com a situação que me meti, e com os meus dois chefes!— Vou convencê-la em três meses a desistir e vir comigo, será a decisão da nossa mãe, assim não terá como question
— Já está tudo bem com a sua mãe? — pergunto.— Ela está de repouso, foi apenas uma queda de pressão. A cuidadora achou que era outro ataque cardíaco, pois ano passado aconteceu uma situação parecida — explica, enquanto dirige.— Sinto muito, espero que fique tudo bem com ela, de verdade. — Vai ficar. Vou aguentar tudo isso enquanto posso.Fico alguns minutos quieta, mas não aguento.— E se em três meses der tudo certo?— Eu nomeio outro chefe executivo e vou embora com a mente totalmente limpa, mas se não der, fecho aquela empresa e levo a minha mãe comigo para os Estados Unidos, ela querendo isso ou não, será para o seu próprio bem.Abaixo a cabeça, apertando os meus dedos.— Eu cheguei “ontem” e já me meti na vida pessoal do meu chefe, peço desculpas por qualquer coisa.— Realmente, se a minha conselheira não tivesse tentado se envolver com o meu irmão, não teria se metido em toda essa situação e eu não estaria levando-a para a sua casa.Sério que esse homem foi tão grosso desse j
Abaixo a cabeça, apertando os meus dedos.— Eu cheguei “ontem” e já me meti na vida pessoal do meu chefe, peço desculpas por qualquer coisa.— Realmente, se a minha conselheira não tivesse tentado se envolver com o meu irmão, não teria se metido em toda essa situação e eu não estaria levando-a para a sua casa.Sério que esse homem foi tão grosso desse jeito?Quer saber, nesse momento, ele não está sendo o meu chefe, pois não estou no trabalho.— Incrível como é um ser delicado.— Eu não fui?— É claro que não foi, não o obriguei a me levar embora, afinal, eu estava com o seu irmão, e estava tudo ótimo. Ele é sempre muito bem-educado e um cavalheiro.Olho de canto e noto-o segurando-se para não revirar os olhos— Ainda vai me agradecer por essa noite, pode anotar na sua agenda.— Não me arrependi de nada até agora, está enganado.— Eu não disse que seria um arrependimento imediato.— Não vai ser.— Quer apostar?— Não.— Disse não, é porque está começando a perceber a verdade.— Sr. Ca
— Sente-se, por favor — pede, após fechar a porta.— Não. Serei rápida, pois quero descer para o setor dos desenvolvedores. Estou observando o comportamento dos superiores.— Mas eu mandei a senhorita sentar, por isso, sente-se.Nossa, ele é sempre tão dócil e gentil, né?Não sei como, mas isso me deixa com vontade de tacar o grampeador na cabeça dele.Merda, que pensamento é esse Noely? O Sr. Carter é seu chefe!— Nunca fique de pé quando for me informar de algo, isso irrita os meus nervos. E a terapia anda sendo cara demais para eu retroceder.— Desculpe-me, isso não vai mais acontecer.— Ótimo.Ele dá a volta na mesa, puxa a gaveta de baixo e serve-se de uma bebida alcoólica, ainda me oferece.Esse homem só vive à base de álcool?— Aceita?— Claro que não, já tomei o meu café.— É um remédio ótimo para suportar a vida.Fico quieta, esperando que ele finalmente foque a sua atenção em mim, para me ouvir. Ao fazer isso, eu vou direto no meu Excel e mostro para ele o progresso de uma s
Passo, sorrindo forçada para a secretária, que já está sentada atrás da sua mesa. Não sei, mas o meu santo não bateu com o dela de jeito nenhum.— Noely? — Ouço a voz do Sr. Breno, e olho para a sala de reuniões.Ele está sentado do outro lado da mesa, com o seu notebook aberto e com alguns papéis do lado.— Olá, Sr. Breno... não te vi hoje.— Cheguei mais tarde na empresa. Tudo bem? Queria te pedir desculpas por ontem.Ele se levanta e vem até mim, extremamente bonito, com os seus olhos verdes e porte atlético.— Não peça, não foi culpa do senhor.— Mesmo assim, sinto muito. Espero que possamos marcar outra ocasião juntos, claro, se o Carter não tiver feito a minha caveira para você.— E por que ele faria a sua caveira?— Nada... — Sorri estranho. — Somos irmãos, é normal um implicar com o outro. Sinto muito, de verdade.— Está tudo bem, eu quem sinto muito pelo que aconteceu, espero que a sua mãe esteja melhor.— Ela ficará, depressão é uma doença complicada.— Mas, tenha fé. Ela va