Noely Sartori
Fico incomodada, pois ele tem o mesmo grau de beleza do Sr. Carter. A diferença é só na altura e no corpo menos musculoso, de resto, são gêmeos, saíram da mesma capa de revista.
— Srta. Noely, na minha sala.
Falando nele, eu olho por cima dos ombros do Sr. Breno e o vejo entrando na sua sala, após me chamar em voz alta.
— Com licença, senhor. — Afasto-me e vou rapidamente para a sala do CEO.
— Bom dia, Sr. Carter — digo, ao fechar a porta do escritório.
— Bom dia, estudou tudo o que precisava estudar?
Ele se afasta da mesa e vai até o aparador do canto, servindo-se de álcool logo cedo. Parece bem nervoso.
Respiro fundo, sentindo o cheiro do seu perfume e do condicionador que passou nos cabelos.
— Sim, o senhor vai colocar em ação o primeiro plano, de reduzir o salário dos funcionários por três meses?
— Meu irmão fará o serviço de comunicar essa informação a eles.
— Ok... Está tudo bem com o senhor? — pergunto de repente, surpreendida por ele estar virando o terceiro copo de bebida.
— O que mais tem para mim, Noely? — Muda de assunto, indo até a sua mesa, sentando-se.
— Estava pensando no senhor fazer parceria com desenvolvedores de jogos, que estão começando e tem algum servidor na boca do povo, pode dar certo.
— Não podemos fazer isso, já viu a planilha do financeiro? Precisamos de clientes fixos.
— Desculpa, mas acho bem difícil uma grande empresa querer os serviços da ELW no momento, pois não vão querer se vincular a... — Então fecho a boca, vendo que falei demais.
— Vincular ao quê?
Ele faz questão de olhar bem no fundo dos meus olhos.
É melhor ser realista.
— Às polêmicas que aconteceram. A Elektra Web foi "cancelada" pela internet. O caso ganhou muita repercussão.
E ganhou mesmo, pela ex-secretária que sofreu um racismo horrível, em pleno século 21. Ela jogou na internet as gravações do Sr. Barreto — o ex CEO racista — e teve milhares de acessos, comentários de pessoas indignadas, pedindo justiça, para que esse criminoso fosse preso para sempre. É tudo muito grave, sem falar no desvio de dinheiro que ele fez, usando laranjas. A polícia está investigando, enquanto o desgraçado segue em liberdade, após pagar uma quantia para ser solto.
Eu olho para o Sr. Carter, caindo em si, que o ex CEO é o seu pai, que ele e a sua família podem estar sofrendo com tudo isso. Ou não. E se eles estiverem do mesmo lado, dando assistência ao pai?
Meu Deus, como eu pude tocar logo nesse assunto?
— É por isso dos três meses! — Ele se ergue, ainda mais nervoso. — Eu sei que a falência será inevitável, está sendo. As pessoas, principalmente os nossos clientes, não foram capazes de separar o que aconteceu.
— Eu tenho outra estratégia.
— Diga?
— Que tal abaixar drasticamente os valores dos serviços da ELW e fechar com clientes pequenos?
— Eu pensei nisso há alguns dias, vamos arriscar tudo, até alguma coisa dar certo.
Assinto, desviando dos seus olhos.
— Vou voltar para a minha sala, se precisar de mim, pode me chamar.
Na verdade, eu vou respirar um ar livre pelos setores.
Ele não diz nada, nem um “tudo bem”.
Não estendo mais nenhum assunto e saio ligeira da presença desse homem.
Ele está bem estranho, comparado a sábado. Alguma coisa deve ter acontecido. Eu é que não me arrisco a saber, prefiro ficar na minha, fazendo o meu trabalho. E que trabalho, viu?! Um dos mais difíceis que já enfrentei.
Espero que as duas estratégias deem certo.
*****
Durante a primeira semana, vou analisando o desempenho da empresa. Boa parte dos funcionários não aceitaram bem a redução salarial, mas foi explicado os motivos e o prazo de três meses. Foi o Sr. Breno, irmão do Sr. Carter, que fez o discurso no refeitório.
Ele foi incrível, deixou claro as dificuldades que a ELW está passando, desde as últimas polêmicas graves.
Por mais que a empresa, nem os funcionários tenham culpa do que aconteceu, infelizmente, isso afetou a todos e agora, correm risco de falência. O Sr. Breno é cirúrgico nas palavras, pude sentir a sua sensibilidade, assim como a boa maioria presente. Desde esse dia, desde que o parabenizei pelo discurso e desde que ele me chamou para almoçarmos juntos, ISSO TODOS OS DIAS, nos aproximamos mais. Viramos bons colegas de trabalho. Diferente do Sr. Carter, que só fala o necessário do trabalho comigo, assim como eu.
E isso é o certo, é melhor eu não ter intimidade com o CEO, sendo eu a conselheira dele. Quero que tudo dê certo, que a empresa se recupere e que comece a ter um saldo positivo no mercado, por mais que isso possa demorar alguns anos. Infelizmente, não há solução imediata em alguns meses, ou há, o que é uma raridade, ainda mais para o grau de polêmica que a Elektra Web se encontra.
— Posso saber o que a Srta. Noely está pensando?
Levo um susto ao ouvir a voz do Sr. Breno tão próxima a mim. Estou em pé, na varanda da sacada, que divide o hall da secretária e das salas. Vim tomar um cafezinho. A vista daqui é linda, se tornou um dos meus lugares preferidos.
— Só estou tomando um café.
Fito-o e, ele sorri fraco, observando-me com as mãos nos bolsos.
— Estou te vendo todas as tardes aqui.
— Eu terminei de deliberar alguns investimentos, para apresentar ao Sr. Carter. Aí vim tomar um café e aguardá-lo chegar.— Hum... acho que o nosso CEO não volta hoje. — Sério? Aconteceu alguma coisa?— Algo a ver com a ex-mulher dele, não sei direito, meu irmão é bem misterioso com a sua vida pessoal.— Entendi, o senhor também é. Acho que todos somos.— Minha vida pessoal não tem muito segredo, nem mistérios. Eu sou bem normal. Incluindo a rotina.— Parando para analisar, a minha é bem normal também. Eu acordo, vou trabalhar, chego em casa, durmo e no outro dia vou trabalhar de novo. É assim todos os dias. — Dou de ombros.— Temos muitas coisas em comum, incluindo gostos alimentares.— Não mesmo, você gosta de frutos do mar, e eu detesto. Não gosta de doces e eu amo.Ele começa a rir.— Pensa pelo lado bom, eu te dou todas as minhas sobremesas quando vamos almoçar juntos.É a minha vez de rir.— Isso é maravilhoso!O Sr. Breno desvia de mim e olha as horas no relógio de pulso.— Te
Carter Bastos— Sempre é muito cheirosa, mas esta noite, seu cheiro é ainda mais de enlouquecer.Sorrio, aceitando a mão que me estende, cavalheiro.— O seu perfume também é... não sei.— Não sabe?— Cheiroso demais, deixa-me confusa.Ele ri e me leva até a porta do carro, fecha e dá a volta para igualmente entrar.— Que interessante, o meu perfume lhe deixar confusa.— É embaraçoso, meu Deus, você está me fazendo ficar com vergonha.— Acho que gosto de te deixar com vergonha. — Ele dá sua piscadinha costumeira e pisa com calma no acelerador.Em meia hora chegamos ao local, uma balada bem "gourmetizada", onde só tem ricos da elite.Nós nos acomodamos em uma mesa bem privada do segundo andar.— Eu estava precisando espairecer a mente um pouco — Breno confessa, após o garçom recolher os nossos pedidos. — Mas vai ser difícil fazer isso com você, dona Noely.— Por quê?— Porque desde que pisou os pés na porta dessa boate, nem um cara deixou de te olhar. Isso me fez ficar um pouco nervoso.
Espero por uns vinte minutos, até ouvir duas vozes conhecidas e exaltadas. Olho para cima e o Sr. Breno e o Sr. Carter descem os degraus da escada, discutindo super alto.— Não tem a porra do direito de tomar essa decisão, Carter!— Ela é a minha mãe também! Precisamos tirá-la desse país, fechar aquela droga de empresa e viver as nossas vidas!— Essa é a SUA vontade! E a da nossa mãe? Ela deu a vida pela ELW. Sabe o quanto aquela empresa é importante e se não soubesse, não teria atendido o seu pedido de voltar para o Brasil e tomar a frente do cargo executivo!— Eu vim e atendi o pedido pelo bem da saúde dela! E pra quê? Para no final vê-la se afundando em uma depressão por causa do nosso pai?— Ela não vai morar à força nos EUA! Não insista! Eu não vou deixar!Eles se encaram, com os punhos fechados.Ergo-me, chocada com a situação que me meti, e com os meus dois chefes!— Vou convencê-la em três meses a desistir e vir comigo, será a decisão da nossa mãe, assim não terá como question
— Já está tudo bem com a sua mãe? — pergunto.— Ela está de repouso, foi apenas uma queda de pressão. A cuidadora achou que era outro ataque cardíaco, pois ano passado aconteceu uma situação parecida — explica, enquanto dirige.— Sinto muito, espero que fique tudo bem com ela, de verdade. — Vai ficar. Vou aguentar tudo isso enquanto posso.Fico alguns minutos quieta, mas não aguento.— E se em três meses der tudo certo?— Eu nomeio outro chefe executivo e vou embora com a mente totalmente limpa, mas se não der, fecho aquela empresa e levo a minha mãe comigo para os Estados Unidos, ela querendo isso ou não, será para o seu próprio bem.Abaixo a cabeça, apertando os meus dedos.— Eu cheguei “ontem” e já me meti na vida pessoal do meu chefe, peço desculpas por qualquer coisa.— Realmente, se a minha conselheira não tivesse tentado se envolver com o meu irmão, não teria se metido em toda essa situação e eu não estaria levando-a para a sua casa.Sério que esse homem foi tão grosso desse j
Abaixo a cabeça, apertando os meus dedos.— Eu cheguei “ontem” e já me meti na vida pessoal do meu chefe, peço desculpas por qualquer coisa.— Realmente, se a minha conselheira não tivesse tentado se envolver com o meu irmão, não teria se metido em toda essa situação e eu não estaria levando-a para a sua casa.Sério que esse homem foi tão grosso desse jeito?Quer saber, nesse momento, ele não está sendo o meu chefe, pois não estou no trabalho.— Incrível como é um ser delicado.— Eu não fui?— É claro que não foi, não o obriguei a me levar embora, afinal, eu estava com o seu irmão, e estava tudo ótimo. Ele é sempre muito bem-educado e um cavalheiro.Olho de canto e noto-o segurando-se para não revirar os olhos— Ainda vai me agradecer por essa noite, pode anotar na sua agenda.— Não me arrependi de nada até agora, está enganado.— Eu não disse que seria um arrependimento imediato.— Não vai ser.— Quer apostar?— Não.— Disse não, é porque está começando a perceber a verdade.— Sr. Ca
— Sente-se, por favor — pede, após fechar a porta.— Não. Serei rápida, pois quero descer para o setor dos desenvolvedores. Estou observando o comportamento dos superiores.— Mas eu mandei a senhorita sentar, por isso, sente-se.Nossa, ele é sempre tão dócil e gentil, né?Não sei como, mas isso me deixa com vontade de tacar o grampeador na cabeça dele.Merda, que pensamento é esse Noely? O Sr. Carter é seu chefe!— Nunca fique de pé quando for me informar de algo, isso irrita os meus nervos. E a terapia anda sendo cara demais para eu retroceder.— Desculpe-me, isso não vai mais acontecer.— Ótimo.Ele dá a volta na mesa, puxa a gaveta de baixo e serve-se de uma bebida alcoólica, ainda me oferece.Esse homem só vive à base de álcool?— Aceita?— Claro que não, já tomei o meu café.— É um remédio ótimo para suportar a vida.Fico quieta, esperando que ele finalmente foque a sua atenção em mim, para me ouvir. Ao fazer isso, eu vou direto no meu Excel e mostro para ele o progresso de uma s
Passo, sorrindo forçada para a secretária, que já está sentada atrás da sua mesa. Não sei, mas o meu santo não bateu com o dela de jeito nenhum.— Noely? — Ouço a voz do Sr. Breno, e olho para a sala de reuniões.Ele está sentado do outro lado da mesa, com o seu notebook aberto e com alguns papéis do lado.— Olá, Sr. Breno... não te vi hoje.— Cheguei mais tarde na empresa. Tudo bem? Queria te pedir desculpas por ontem.Ele se levanta e vem até mim, extremamente bonito, com os seus olhos verdes e porte atlético.— Não peça, não foi culpa do senhor.— Mesmo assim, sinto muito. Espero que possamos marcar outra ocasião juntos, claro, se o Carter não tiver feito a minha caveira para você.— E por que ele faria a sua caveira?— Nada... — Sorri estranho. — Somos irmãos, é normal um implicar com o outro. Sinto muito, de verdade.— Está tudo bem, eu quem sinto muito pelo que aconteceu, espero que a sua mãe esteja melhor.— Ela ficará, depressão é uma doença complicada.— Mas, tenha fé. Ela va
— Disse algo, Srta. Sartori?— Que estou faminta...Ele analisa o meu rosto, deixando-me sufocada com a sua beleza turca. Será que ele tem ideia de como é bonito? E de como essa beleza intimida as pobres e meras mulheres sem chances?— Mataremos a sua fome. — Pisca e aponta, para eu ir na frente.Eu vou e escolho a mesa mais próxima do ar-condicionado quente. Hoje o dia continua frio e chuvoso.— Está com frio?— Um pouco.— Vou pedir um vinho para aquecer.Ele faz sinal para o garçom bonito, que se aproxima da nossa mesa, olhando-me. Depois que o Sr. Carter faz o nosso pedido, eu fico seguindo o garçom com os olhos, só de curiosidade por ele ter me olhado tanto.— A Globo está perdendo uma ótima atriz.— O quê? — Fito-o.— A senhorita estava comendo o garçom pelos olhos, sem nem sequer disfarçar.— Eu não seria tão deselegante, só estava curiosa por ele estar me olhando tanto. Tem algo de erra