Capítulo 5

Noely Sartori

Fico incomodada, pois ele tem o mesmo grau de beleza do Sr. Carter. A diferença é só na altura e no corpo menos musculoso, de resto, são gêmeos, saíram da mesma capa de revista.

— Srta. Noely, na minha sala.

Falando nele, eu olho por cima dos ombros do Sr. Breno e o vejo entrando na sua sala, após me chamar em voz alta.

— Com licença, senhor. — Afasto-me e vou rapidamente para a sala do CEO.

— Bom dia, Sr. Carter — digo, ao fechar a porta do escritório.

— Bom dia, estudou tudo o que precisava estudar?

Ele se afasta da mesa e vai até o aparador do canto, servindo-se de álcool logo cedo. Parece bem nervoso.

Respiro fundo, sentindo o cheiro do seu perfume e do condicionador que passou nos cabelos.

— Sim, o senhor vai colocar em ação o primeiro plano, de reduzir o salário dos funcionários por três meses?

— Meu irmão fará o serviço de comunicar essa informação a eles.

— Ok... Está tudo bem com o senhor? — pergunto de repente, surpreendida por ele estar virando o terceiro copo de bebida.

— O que mais tem para mim, Noely? — Muda de assunto, indo até a sua mesa, sentando-se.

— Estava pensando no senhor fazer parceria com desenvolvedores de jogos, que estão começando e tem algum servidor na boca do povo, pode dar certo.

— Não podemos fazer isso, já viu a planilha do financeiro? Precisamos de clientes fixos.

— Desculpa, mas acho bem difícil uma grande empresa querer os serviços da ELW no momento, pois não vão querer se vincular a... — Então fecho a boca, vendo que falei demais.

— Vincular ao quê? 

Ele faz questão de olhar bem no fundo dos meus olhos.

É melhor ser realista.

— Às polêmicas que aconteceram. A Elektra Web foi "cancelada" pela internet. O caso ganhou muita repercussão.

E ganhou mesmo, pela ex-secretária que sofreu um racismo horrível, em pleno século 21. Ela jogou na internet as gravações do Sr. Barreto — o ex CEO racista — e teve milhares de acessos, comentários de pessoas indignadas, pedindo justiça, para que esse criminoso fosse preso para sempre. É tudo muito grave, sem falar no desvio de dinheiro que ele fez, usando laranjas. A polícia está investigando, enquanto o desgraçado segue em liberdade, após pagar uma quantia para ser solto.

Eu olho para o Sr. Carter, caindo em si, que o ex CEO é o seu pai, que ele e a sua família podem estar sofrendo com tudo isso. Ou não. E se eles estiverem do mesmo lado, dando assistência ao pai?

Meu Deus, como eu pude tocar logo nesse assunto?

— É por isso dos três meses! — Ele se ergue, ainda mais nervoso. — Eu sei que a falência será inevitável, está sendo. As pessoas, principalmente os nossos clientes, não foram capazes de separar o que aconteceu.

— Eu tenho outra estratégia.

— Diga?

— Que tal abaixar drasticamente os valores dos serviços da ELW e fechar com clientes pequenos?

— Eu pensei nisso há alguns dias, vamos arriscar tudo, até alguma coisa dar certo. 

Assinto, desviando dos seus olhos.

— Vou voltar para a minha sala, se precisar de mim, pode me chamar.

Na verdade, eu vou respirar um ar livre pelos setores.

Ele não diz nada, nem um “tudo bem”. 

Não estendo mais nenhum assunto e saio ligeira da presença desse homem.

Ele está bem estranho, comparado a sábado. Alguma coisa deve ter acontecido. Eu é que não me arrisco a saber, prefiro ficar na minha, fazendo o meu trabalho. E que trabalho, viu?! Um dos mais difíceis que já enfrentei.

Espero que as duas estratégias deem certo.

*****

Durante a primeira semana, vou analisando o desempenho da empresa. Boa parte dos funcionários não aceitaram bem a redução salarial, mas foi explicado os motivos e o prazo de três meses. Foi o Sr. Breno, irmão do Sr. Carter, que fez o discurso no refeitório. 

Ele foi incrível, deixou claro as dificuldades que a ELW está passando, desde as últimas polêmicas graves.

Por mais que a empresa, nem os funcionários tenham culpa do que aconteceu, infelizmente, isso afetou a todos e agora, correm risco de falência. O Sr. Breno é cirúrgico nas palavras, pude sentir a sua sensibilidade, assim como a boa maioria presente. Desde esse dia, desde que o parabenizei pelo discurso e desde que ele me chamou para almoçarmos juntos, ISSO TODOS OS DIAS, nos aproximamos mais. Viramos bons colegas de trabalho. Diferente do Sr. Carter, que só fala o necessário do trabalho comigo, assim como eu.

E isso é o certo, é melhor eu não ter intimidade com o CEO, sendo eu a conselheira dele. Quero que tudo dê certo, que a empresa se recupere e que comece a ter um saldo positivo no mercado, por mais que isso possa demorar alguns anos. Infelizmente, não há solução imediata em alguns meses, ou há, o que é uma raridade, ainda mais para o grau de polêmica que a Elektra Web se encontra.

— Posso saber o que a Srta. Noely está pensando?

Levo um susto ao ouvir a voz do Sr. Breno tão próxima a mim. Estou em pé, na varanda da sacada, que divide o hall da secretária e das salas. Vim tomar um cafezinho. A vista daqui é linda, se tornou um dos meus lugares preferidos.

— Só estou tomando um café.

Fito-o e, ele sorri fraco, observando-me com as mãos nos bolsos.

— Estou te vendo todas as tardes aqui.

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