Casas de bonecas são formadas por segredos e ilusões e, em seus cômodos trancados em falso conforto, você deve saber reconhecer seu verdadeiro inimigo. Tudo o que Lis queria, após estar ao lado de sua mãe em um divórcio difícil e desgastante, era poder sossegar no lugar o qual sempre sonhou: uma casa antiga em uma pequena cidade do interior, cuja possuí janelas trincadas assustadoras, portas que rangem ao serem abertas e... Uma porção de bonecas estranhas e bizarramente realistas escondidas na escuridão do sótão. O que a princípio parecia ser somente um mistério divertido e tentador para se iniciar uma investigação digna de filmes de terror, passa a ser um tormento que mostra cada vez mais à Lis que, embora os filmes pareçam ser realmente assustadores, a realidade pode acabar por ser mil vezes pior. Afinal, à quem pertencia aquela casa e por que simplesmente largaram meia dúzia de bonecas ali, sem mais nem menos? E por que o que deveria estar lhe causando mal, parece estar pedindo por ajuda? Em uma casa de bonecas, o quão longe mentiras e segredos podem ir?
Ler mais24 de dezembro de 2015 ◈◇◈– Ai Jesus, desculpe tia – eu disse ao passar por Tia Elizabeth e esbarrar na mesma, quase fazendo com que uma travessa inteira de mousse de chocolate fosse para o chão. Porque se um desastre não acontecesse então não era eu.– Tudo bem, querida – ela respondeu com seu sorriso gentil, recuperando o equilíbrio e indo até a mesa de jantar que havia sido posta no centro da sala, deixando o mousse ali ao lado de tantos outros pratos natalinos.
Capítulo Final ◈◇◈– Acredita em fantasmas, Xerife? – O policial mais velho perguntou dentro da viatura enquanto os dois seguiam para a delegacia logo após ter deixado o hospital.O xerife apenas riu e meneou a cabeça sem dar qualquer resposta, analisando as anotações que Susan lhe dera enquanto o outro mantinha as mãos no volante e os olhos na estrada.– Aquelas crianças estão mentindo – o mais velho voltou a fal
Estava deitada na cama do hospital, com Henri sentado na poltrona ao meu lado e Eliel dormindo na outra cama ao lado. Eu ficava feliz e aliviada que ele ainda conseguisse dormir depois de tudo aquilo, porque eu definitivamente não conseguiria isso assim tão fácil.Na televisão de tubo presa ao canto da parede por um suporte de ferro, alguma novela aleatória de romance de época passava com o som extremamente baixo. Tudo ali era muito quieto o que me deixava extremamente agradecida pois me ajudava a relaxar um pouco mesmo com o corpo inteiro doendo.Minha perna ainda ardia, e parecia que estava muito pior do que quando havia saído da casa – o mesmo para o meu pulso deslocado, meu olho inchado e minhas costelas cheias de hematomas.Eu
Assim que pisamos na grama e o vento gelado do início de noite bateu contra o meu rosto, foi como se um choque de realidade me atingisse. Eliel estava vivo, estava comigo, a Casa de Bonecas estava em chamas bem atrás de nós, e não havia nada nem ninguém tentando nos matar.Parei de andar de repente e, quando Eliel se virou para perguntar o que havia acontecido, não consegui evitar um misto de choro e riso ao vê-lo ali, parado com sua cara estranha de confusão, com os olhos vermelhos marejados e os cabelos cobertos de poeira, cinzas e teias de aranha.Comecei a rir histericamente sem ter mais qualquer controle sobre o que sentia, abraçando-o tão forte que meus próprios braços chegaram a doer.– Meu
Num impulso de coragem que eu sabia que jamais teria de novo, respirei fundo e agarrei com os dedos trêmulos o enorme caco de vidro que ainda se encontrava preso em minha perna e, fechando os olhos para que aquilo se tornasse um pouco menos pior, o arranquei de minha coxa com a maior rapidez que pude.Senti a dor e a queimação se tornarem mil vezes piores e meus olhos se encherem de lágrimas, minha perna inteira parecia estar em chamas mas me obriguei de todas as formas possíveis a reprimir o grito que subiu por minha garganta, mordendo o lábio inferior até sentir meus dentes romperem a pele, nada melhor que uma nova dor para reprimir a anterior.Senti mais uma vez o gosto de sangue se alastrar pela minha língua e engoli em seco. Não podia chamar a atenção de Vi
Senti o látex sobre minha boca quando me preparei para gritar, impedindo que eu fizesse qualquer som além de resmungos baixos indecifráveis. Cerrei os olhos marejados pela dor quando os dedos de sua outra mão se enroscaram em meus cabelos e puxarem minha cabeça para trás com uma força surreal, me permitindo ouvir meu pescoço estalar e vários fios de cabelo se quebrarem.– Agora você vai ficar quietinha, entendeu, mocinha? – Victor disse com seu sotaque francês horrível e meu estômago se revirou. Eu sentia nojo só de ouvir aquela voz.Instintivamente comecei a me debater na esperança de me soltar, mas era tudo em vão. Para Victor era como se eu não passasse de mais uma boneca, sem peso e sem vida.
Vi tudo ficar claro de repente e me sentei na grama com a mão sobre o peito, sentindo meu coração acelerado bater contra minhas costelas como se quisesse quebrá-las. Minha respiração estava ofegante e meu rosto formigava, parecia que eu havia acabado de sofrer um ataque de pânico.Olhei para o lado e me dei conta de que Henri estava bem ali, parado com uma cara de preocupação enquanto, aparentemente, esperava alguma reação ou fala minha.– Eu entendi – foi tudo o que eu disse com minha voz rouca e falha e o que recebi como resposta foi um olhar ainda mais confuso que o anterior. – Eu finalmente entendi tudo. Precisamos voltar.Levantei me apoiando em Henri e ignorando o fato de que tudo &agrav
Quando abri os olhos novamente, já não me encontrava mais no cemitério. Estava de pé, encarando uma enorme construção antiga, cheia de rachaduras, onde bem acima da enorme porta de entrada, letras pretas meio apagadas e desbotadas indicavam que ali era o hospital municipal de Winter Hills.Mas eu sabia que algo estava errado. Eu tinha a mesma sensação de quando tivera o sonho onde estava na realidade de Abelle, há quase duzentos anos atrás. E, diferente de quando eu "desmaiara", eu podia sentir o sol de verão queimando minha pele, o dia não estava frio e cinzento.Então, de alguma forma, eu entendi o que era aquilo. Eu havia pedido por uma explicação, por respostas, e bom, ali estavam elas, eu só precisava me esforçar u
– Ok, não é tão assustador quanto eu pensava – murmurei enquanto eu e Henri andávamos lentamente por entre os túmulos do cemitério da cidade, quase que escondidos sob o gramado alto e malcuidado.– O que? Você estava esperando encontrar vampiros e demônios andando por aí livremente? – Henri perguntou de uma forma nada séria e encolhi os ombros.– É... Eu meio que tinha uma ideia bem errada sobre cemitérios já que nunca tinha estado em um antes – respondi meio envergonhada por este fato, afinal, que tipo de ser humano nunca foi em um enterro de pessoas próximas antes? – Claro que eu tenho alguns parentes mortos e tal, mas minha mãe nunca me deixou ir ao enterro ou velório deles, ela achav