Senti o látex sobre minha boca quando me preparei para gritar, impedindo que eu fizesse qualquer som além de resmungos baixos indecifráveis. Cerrei os olhos marejados pela dor quando os dedos de sua outra mão se enroscaram em meus cabelos e puxarem minha cabeça para trás com uma força surreal, me permitindo ouvir meu pescoço estalar e vários fios de cabelo se quebrarem.
– Agora você vai ficar quietinha, entendeu, mocinha? – Victor disse com seu sotaque francês horrível e meu estômago se revirou. Eu sentia nojo só de ouvir aquela voz.
Instintivamente comecei a me debater na esperança de me soltar, mas era tudo em vão. Para Victor era como se eu não passasse de mais uma boneca, sem peso e sem vida.
Num impulso de coragem que eu sabia que jamais teria de novo, respirei fundo e agarrei com os dedos trêmulos o enorme caco de vidro que ainda se encontrava preso em minha perna e, fechando os olhos para que aquilo se tornasse um pouco menos pior, o arranquei de minha coxa com a maior rapidez que pude.Senti a dor e a queimação se tornarem mil vezes piores e meus olhos se encherem de lágrimas, minha perna inteira parecia estar em chamas mas me obriguei de todas as formas possíveis a reprimir o grito que subiu por minha garganta, mordendo o lábio inferior até sentir meus dentes romperem a pele, nada melhor que uma nova dor para reprimir a anterior.Senti mais uma vez o gosto de sangue se alastrar pela minha língua e engoli em seco. Não podia chamar a atenção de Vi
Assim que pisamos na grama e o vento gelado do início de noite bateu contra o meu rosto, foi como se um choque de realidade me atingisse. Eliel estava vivo, estava comigo, a Casa de Bonecas estava em chamas bem atrás de nós, e não havia nada nem ninguém tentando nos matar.Parei de andar de repente e, quando Eliel se virou para perguntar o que havia acontecido, não consegui evitar um misto de choro e riso ao vê-lo ali, parado com sua cara estranha de confusão, com os olhos vermelhos marejados e os cabelos cobertos de poeira, cinzas e teias de aranha.Comecei a rir histericamente sem ter mais qualquer controle sobre o que sentia, abraçando-o tão forte que meus próprios braços chegaram a doer.– Meu
Estava deitada na cama do hospital, com Henri sentado na poltrona ao meu lado e Eliel dormindo na outra cama ao lado. Eu ficava feliz e aliviada que ele ainda conseguisse dormir depois de tudo aquilo, porque eu definitivamente não conseguiria isso assim tão fácil.Na televisão de tubo presa ao canto da parede por um suporte de ferro, alguma novela aleatória de romance de época passava com o som extremamente baixo. Tudo ali era muito quieto o que me deixava extremamente agradecida pois me ajudava a relaxar um pouco mesmo com o corpo inteiro doendo.Minha perna ainda ardia, e parecia que estava muito pior do que quando havia saído da casa – o mesmo para o meu pulso deslocado, meu olho inchado e minhas costelas cheias de hematomas.Eu
Capítulo Final ◈◇◈– Acredita em fantasmas, Xerife? – O policial mais velho perguntou dentro da viatura enquanto os dois seguiam para a delegacia logo após ter deixado o hospital.O xerife apenas riu e meneou a cabeça sem dar qualquer resposta, analisando as anotações que Susan lhe dera enquanto o outro mantinha as mãos no volante e os olhos na estrada.– Aquelas crianças estão mentindo – o mais velho voltou a fal
24 de dezembro de 2015 ◈◇◈– Ai Jesus, desculpe tia – eu disse ao passar por Tia Elizabeth e esbarrar na mesma, quase fazendo com que uma travessa inteira de mousse de chocolate fosse para o chão. Porque se um desastre não acontecesse então não era eu.– Tudo bem, querida – ela respondeu com seu sorriso gentil, recuperando o equilíbrio e indo até a mesa de jantar que havia sido posta no centro da sala, deixando o mousse ali ao lado de tantos outros pratos natalinos.
"As pessoas costumam ter certo preconceito com coisas velhasPessoas, objetos, casas...Acham que estão chatas, quebradas, sem qualquer utilidadeMas sabe o que é mais engraçado?São justo estas coisas, as "velhas"Que tem as melhores e mais interessantes histórias para contarPrincipalmente as casas e as pessoas,Sim, ah sim, elas escondem segredos bem interessantes..." &nbs
– Será que você pode parar de drama? Pelo amor de Deus – minha mãe disse já se irritando, batendo as mãos contra o volante.Suspirei e limpei as lágrimas dos olhos e bochechas, sem querer soltando um soluço. O que mais eu podia fazer?– Mas mãe, era o meu livro favorito! Não pode ter acabado assim, simplesmente não pode!– Gritei com uma voz aguda incomum e meu coração se encheu com uma profunda tristeza.Eu havia passado uma semana lendo aquela maldita trilogia e ela acabava assim, sem mais nem menos. Estava com uma vontade gigantesca de ir até o Canadá só para bater na autora e mandar ela escrever mais. Ok, talvez isso fosse meio exagerado, mas
Deviam ser por volta de cinco e meia da manhã quando finalmente desisti de caçar o sono e me sentei na cama virada para a janela, observando as poucas estrelas que não haviam sido escondidas por nuvens. Não conseguia tirar aquela família de bonecas da minha mente, afinal, eu nunca havia visto nada tão bizarro e sem sentido.Tinham aproximadamente umas vinte bonecas lá, todas diferentes umas das outras, cada uma assustadora à sua maneira. E no fim, as únicas caixas que eu e Eliel encontramos no sótão continuaram lá, pois nenhum de nós foi corajoso o suficiente para permanecer naquele lugar pelo tempo que fosse.Meu coração palpitava e a cada meio minuto um arrepio percorria minha espinha. Claro, eu estava morrendo de medo, mas n&atild