"As pessoas costumam ter certo preconceito com coisas velhas
Pessoas, objetos, casas...Acham que estão chatas, quebradas, sem qualquer utilidadeMas sabe o que é mais engraçado?São justo estas coisas, as "velhas"Que tem as melhores e mais interessantes histórias para contarPrincipalmente as casas e as pessoas,Sim, ah sim, elas escondem segredos bem interessantes..."- Chessie
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24 de dezembro de 1963
Era véspera de natal e não chegava a nevar, mas fazia um frio que não podia ser ignorado. As ruas estavam úmidas e enlameadas e uma chuva fraca caía sobre o montinho de pessoas que observavam, curiosas, algum acontecimento estranho no casarão que havia sido comprado há apenas algumas semanas por um jovem casal que buscava um lugar sossegado para poder começar uma família.
Claro que todo aquele frio e o fato de que o natal seria no dia seguinte deveria fazer com que todas aquelas pessoas estivessem trancadas em suas casas, decorando suas salas e varandas e preparando comidas junto de seus parentes distantes, mas nada disso parecia estar impedindo aquela gente de continuar ali, estendendo os olhares curiosos sobre a frente da casa enquanto cochichavam sobre o que supostamente teria acontecido.
Uma ambulância estava parada ao lado da calçada e um enfermeiro parecia consolar uma moça de cabelos claros encharcados e colados ao rosto.
Ela estava enrolada em cobertores brancos e grossos manchados de sangue, assim como suas pernas. Seus olhos estavam arregalados e vagos e seus lábios arroxeados tremiam. Havia um hematoma bem abaixo de seu olho esquerdo e gotas espessas de sangue continuavam descendo pelas suas coxas trêmulas.
O enfermeiro ao seu lado a guiou até dentro da ambulância e fechou as portas. No mesmo instante, dois policiais e uma paramédica saíram da casa carregando uma maca com um corpo coberto por plástico preto.
Alguém havia morrido.
– Eu sabia, nessa casa não tem coisa boa – uma senhora que assistia ao espetáculo comentou para o homem ao seu lado. – Ninguém que vem morar aí fica e se ficar... Isso aí acaba acontecendo.
– Ela não estava grávida? O que será que aconteceu? – Uma mulher perguntava à outra que apenas balançou a cabeça e suspirou.
– Não sei, mas aquele corpo com certeza era do marido dela – a outra respondeu baixinho, como se tivesse medo de que o morto a ouvisse.
Um policial apareceu afastando todos dali enquanto outro passava faixas amarelas na entrada da casa, impedindo passagem para dentro.
– Ela deve ter enlouquecido, exatamente como os outros – o policial comentou com o seu parceiro logo em seguida.
O rapaz mais jovem meneou a cabeça e comprimiu os lábios, fitando a estrutura antiga e assustadora com um olhar desconfiado.
– Não entendo, por que não demoliram isso ainda? Pelo o que sei já tem pelo menos uns cem anos e sempre vem dando problemas – ele disse expressando certa indignação e o mais velho deu uma risadinha.
– É uma casa cara, meu amigo. E também o palco das melhores histórias que essa cidade já ouviu, e diversão e dinheiro são coisas que ninguém nunca quer deixar de lado, só precisamos aceitar – respondeu dando um tapinha no ombro de seu colega e entrando na viatura.
Aquele com certeza seria mais um longo caso a ser resolvido, e assim se repetiria a história, pelo menos a cada dez anos, até que alguém resolvesse tirar aquilo dali.
– Será que você pode parar de drama? Pelo amor de Deus – minha mãe disse já se irritando, batendo as mãos contra o volante.Suspirei e limpei as lágrimas dos olhos e bochechas, sem querer soltando um soluço. O que mais eu podia fazer?– Mas mãe, era o meu livro favorito! Não pode ter acabado assim, simplesmente não pode!– Gritei com uma voz aguda incomum e meu coração se encheu com uma profunda tristeza.Eu havia passado uma semana lendo aquela maldita trilogia e ela acabava assim, sem mais nem menos. Estava com uma vontade gigantesca de ir até o Canadá só para bater na autora e mandar ela escrever mais. Ok, talvez isso fosse meio exagerado, mas
Deviam ser por volta de cinco e meia da manhã quando finalmente desisti de caçar o sono e me sentei na cama virada para a janela, observando as poucas estrelas que não haviam sido escondidas por nuvens. Não conseguia tirar aquela família de bonecas da minha mente, afinal, eu nunca havia visto nada tão bizarro e sem sentido.Tinham aproximadamente umas vinte bonecas lá, todas diferentes umas das outras, cada uma assustadora à sua maneira. E no fim, as únicas caixas que eu e Eliel encontramos no sótão continuaram lá, pois nenhum de nós foi corajoso o suficiente para permanecer naquele lugar pelo tempo que fosse.Meu coração palpitava e a cada meio minuto um arrepio percorria minha espinha. Claro, eu estava morrendo de medo, mas n&atild
Fiquei em silêncio o tempo todo até chegarmos em casa, me perdendo em meus próprios pensamentos. Alguma coisa naquela senhora me deixava inquieta, não algo ruim mas como se ela soubesse de algo que não sei. Algo a ver com as bonecas, talvez?Sorri e passei o dedo no vidro embaçado da janela, fazendo uma linha reta. Isso estava começando a ficar interessante. Eu tinha certeza que havia alguma explicação sobrenatural por trás de tudo. Ou será que eu sóqueriater certeza? E... meus parabéns Lis, você conseguiu travar seu próprio cérebro.Fizemos o mesmo caminho para voltar para casa, mas desta vez não vi a menina brincando, devia ter percebido que não faria bem à saúde brincar fora de
– Isso tudo é frio? – Minha mãe perguntou assim que cheguei na cozinha, encarando meu cachecol enquanto terminava de colocar as panelas e pratos na mesa.– Minha dor de garganta voltou – menti, esganiçando levemente a voz.Ok, não era uma mentira tão mentira assim, minha garganta estava queimando, tanto por fora quanto por dentro.Apoiei o queixo na palma da mão esquerda, batendo as unhas da mão livre na mesa. Não sabia mais nem no que pensar, e não aguentava mais que as únicas coisas para fazer naquela casa fossem investigar sobre espíritos e bonecas estranhas. Tinha que ter alguma coisa para me distrair...– Meus livros! &ndash
Fiquei pelo menos uns cinco minutos parada, hora encarando a chave enferrujada na minha mão, hora encarando o bilhetinho bizarro em cima da cômoda, ainda pensando que tudo aquilo era somente uma alucinação e logo sumiria."Cuidado".– Santa Deusa, retiro tudo o que eu disse – falei com a voz falhando e pulei para o meio do quarto, indo direto para o interruptor e acendendo a luz.Estava paranoica, o medo corria pelas minhas veias. Para qualquer canto escuro do quarto que eu olhasse, imaginava a "Izzy" dos meus sonhos escondida ali, pronta para me tocar com aqueles dedos bizarros e retorcidos enquanto chorava daquele jeito perturbador digno de filme de terror.Voltei para a cama e fechei as cortin
Estava deitada no sofá assistindo a um especial deO Incrível Mundo de Gumballe quase xingando por não ter nada para fazer quando lembrei que tinha sim algo para fazer.– Eliel, idiota – chamei meu irmão que estava com os olhos vidrados na televisão, devorando um pacote de cookies de chocolate.– O que foi agora? – perguntou com a boca cheia, fazendo sua voz sair rouca e abafada.–Vai tirar esse pijama, vamos sair – eu disse e ele se virou para me encarar, parecia preocupado.Não sei o motivo. Eu era uma irmã tão responsável, seria uma pena se eu estivesse distraída quando ele fosse atravessar a rua e acabasse
Eu estava no caminho para casa junto de Henri e Eliel, encarando a palma da minha mão direita – talvez tentando ver algo, nem eu sabia ao certo – quando decidi quebrar o silêncio que já começava a incomodar.Estava muito curiosa para perguntar certas coisas, e aquilo me deixava tão ansiosa e inquieta que nem mesmo minha timidez conseguiu me conter.– Henri – chamei e ele voltou sua atenção a mim, esperando pacientemente que eu continuasse. – A Lira de quem sua avó fala... Ela...– Era minha tia, a filha mais nova da minha vó – ele respondeu com certo pesar, os olhos verdes baixos e distantes. – Tia Lira morreu durante o parto de seu primeiro filho, três anos atrás.
Larguei o celular no chão e fechei os olhos, jogando-me no sofá depois de um longo suspiro.Minha mãe havia acabado de me ligar e, bom, ela iria passar mais uma semana na casa de minha avó e eu juro que não teria me importado tanto se demônios não estivessem tentando me matar.– Ai meu Senhor, me ajude a sobreviver durante essas duas semanas no inferno – murmurei e respirei fundo, passando as mãos no rosto enquanto tentava não pensar nas chances que tinha de acabar assassinada por bonecas bizarras.E depois do medo ainda tinha o tédio. Fora o fato de que não tinha nada para fazer, eu estava sem créditos no celular, sem internet e cansada de ver os mesmos programas na TV. Ótima vida.