Eu estava no caminho para casa junto de Henri e Eliel, encarando a palma da minha mão direita – talvez tentando ver algo, nem eu sabia ao certo – quando decidi quebrar o silêncio que já começava a incomodar.
Estava muito curiosa para perguntar certas coisas, e aquilo me deixava tão ansiosa e inquieta que nem mesmo minha timidez conseguiu me conter.
– Henri – chamei e ele voltou sua atenção a mim, esperando pacientemente que eu continuasse. – A Lira de quem sua avó fala... Ela...
– Era minha tia, a filha mais nova da minha vó – ele respondeu com certo pesar, os olhos verdes baixos e distantes. – Tia Lira morreu durante o parto de seu primeiro filho, três anos atrás.
Larguei o celular no chão e fechei os olhos, jogando-me no sofá depois de um longo suspiro.Minha mãe havia acabado de me ligar e, bom, ela iria passar mais uma semana na casa de minha avó e eu juro que não teria me importado tanto se demônios não estivessem tentando me matar.– Ai meu Senhor, me ajude a sobreviver durante essas duas semanas no inferno – murmurei e respirei fundo, passando as mãos no rosto enquanto tentava não pensar nas chances que tinha de acabar assassinada por bonecas bizarras.E depois do medo ainda tinha o tédio. Fora o fato de que não tinha nada para fazer, eu estava sem créditos no celular, sem internet e cansada de ver os mesmos programas na TV. Ótima vida.
Aquilo era coisa de Eliel, eu tinha certeza. Ele sabia o quanto eu odiava ficar sozinha em lugares cheios e o quanto isso me deixava nervosa, e provavelmente estava rindo da minha cara naquele exato momento.Ah, Deus, quando o eu o encontrasse...Se acalme Lis, o que você precisa fazer agora é encontrar aqueles dois e ir embora. Sem xingar, sem dar piti, apenas procure os dois e dê o fora daqui antes que tenha um ataque de raiva.Ok. Respirei fundo e fui até uma barraca que parecia estar vendendo bebidas quentes – coisa que eu parecia precisar com urgência pois já sentia meu corpo inteiro se entorpecer com o frio.– Boa tarde, em que posso ajudar? – Uma atendente loira platinada perguntou de forma automática enquanto tentava não parecer entediada e de saco cheio daquele trabalho.Travei por alguns segundos, me sentindo um pouco pressionada enquanto ela me encarava como
[Eliel] ◈◇◈– Sua irmã sempre demora assim no banheiro? – Henri perguntou enquanto ajeitava os óculos de maneira quase impaciente e encolhi os ombros.– Ela tem certos... Problemas quanto a ir em lugares públicos, deve estar nervosa e xingando e... – parei ao avistar uma garota baixinha e com os cabelos escuros bagunçados correndo em direção à casa de espelhos como se dependesse daquilo para viver.O que aquela idiota e
[Lis] ◈◇◈Meu corpo parecia estar em chamas, tudo doía, ardia ou queimava. Grunhi com a dor e tentei me mexer mas uma mão me empurrou de volta.Eu parecia estar em um sofá mas não sabia como havia ido parar ali. Não me lembrava de nada desde a maldita casa de espelhos. E aquela garotinha... Era a mesma com quem eu havia sonhado uns dias atrás, ela quem devia ser Abelle.Estremeci com
Enquanto Emy e Henri preparavam algo na cozinha, pedi para ir ao banheiro e ali fiquei por alguns minutos, apoiada na pia cinzenta enquanto encarava meu rosto machucado.Haviam dois cortes pequenos na minha bochecha e mais um no queixo. Se juntasse isso mais as marcas roxas em meu pescoço pareceria que eu havia acabado de sair de uma daquelas brigas de bar horríveis – ou até mesmo de algum tipo de relacionamento com fetiches esquisitos.Meu cabelo estava novamente cheio de nós e mais bagunçado do que quando eu ficava dois dias sem pentear só porque achava legal. Eu duvidava que, na minha vida inteira, já houvesse ficado horrível até aquele ponto antes.Respirei fundo, tomando coragem para sair dali e fingir que estava
Henri e Eliel já me esperavam tranquilamente na frente de casa, meu irmão apenas um pouco corado nas bochechas, enquanto eu vinha morrendo – lê-se rastejando – até a entrada de casa.Meu peito doía e eu parecia uma asmática no meio de uma crise, respirando como se estivesse morrendo. Eu definitivamente não havia nascido para praticar atividade física.Eu queria muito tirar a blusa de frio mas apenas parei e me joguei na escada da varanda com as mãos apoiada no peito, ainda respirando com dificuldade.– Morta – Eliel disse mas apenas ignorei, sem energia ou fôlego para xingá-lo.– Meu Deus, é sempre assim? – Henri pergu
Eu ainda estava com mais sono do que jamais pensara ser possível quando, depois de muito esforço, abri os olhos e me sentei.Demorou alguns poucos segundos até que eu sentisse que havia alguma coisa errada, e mais alguns até que eu percebesse o que era.Cocei meus olhos que ardiam por conta da sonolência, em seguida encarando com um susto as minhas próprias mãos.Estavam pequenas demais, como mãozinhas de criança, e também estavam sujas e com as unhas quebradas e as pontas dos dedos manchadas com sangue seco.Ao olhar mais ao longe, entendi o porquê: em uma pequena portinha que quase se camuflava no chão de madeira, haviam inúmeras marcas de arran
[Eliel] ◈◇◈Agora os créditos passavam rapidamente na tela preta da televisão, o que me deixaria tonto se ficasse olhando por muito tempo.Henri roncava ao meu lado e Lis ainda não havia saído do banheiro – fato que eu não estranharia nem um pouco, ela sempre fora do tipo que demora demais no banho, mas quase duas horas lá? A água já deveria até estar fria e ela entediada.Bocejei e me levantei, desligando a TV e o DVD e me direci