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Capítulo II - Entre Luz e Sombras.

Acordo cedo e sigo minha rotina de forma automática, me sentei na sala para relaxar e não demorou muito minha amiga entrou saltitando como uma gazela.

"Bom dia, Ohana", ela diz sorridente, me dando um beijo no rosto.

"O que tem de bom?", pergunto mal-humorada. Como alguém pode estar animado às cinco da manhã?

"Adoro seu humor matinal", minha amiga responde, me dando mais um beijo.

"Cala a boca Cibele, ainda são cinco e meia da manhã." Ela começa rir e eu reviro os olhos.

"Hoje teremos a visita de um grupo de chineses. Estou tão animada."

"Eu vou estar no meio de muitas mulheres grávidas e chorosas." Amo meu trabalho menos a parte de alguns pais que visivelmente não se importam com a mulher e ainda diz que ela está fazendo drama, as vezes me pego pensando em como eu poderia torturar um filho da puta desses e sumir com o corpo de uma forma que ninguém nunca encontraria.

"Tem uma missão à noite?" Minha amiga pergunta tirando-me de meu devaneio.

"Sim, vou ter um encontro com o Governador."

"Aquele asqueroso?", ela diz com nojo. Eu assinto, e ela faz uma nova careta. "Espero que ele aproveite bem sua última noite."

Rimos e finalmente meu humor começa a melhorar. Por volta das sete horas, chego ao hospital e já vejo algumas pacientes. Se a manhã já está assim, imagino como será a tarde.

Atendo cada paciente com atenção e elas saem da sala contentes. A hora do almoço chega, e como meu horário está apertado hoje, opto por um lanche.

"Você trabalha tanto que deveria almoçar em vez de lanchar", diz Dimas, surgindo do nada e me assustando.

"De onde você surgiu, homem?", brinco, e ele ri junto comigo.

"Estava indo almoçar quando te vi. Almoça comigo?" Dimas é um cara bacana, mas não sei por que não me sinto completamente a vontade em sua presença, é como se algo dentro de mim me alertasse em relação a ele, mas pode apenas ser coisas da minha cabeça.

"Obrigada, mas tenho uma consulta daqui a meia hora."

"Ah, sim! É o casal Trans, né?", ele pergunta interessado.

"Eles mesmos. Estou empolgada, porque é a primeira gestação trans que estou acompanhando."

"Boa sorte! Depois me conta como foi." Quando esse casal chegou no hospital Dimas lhes foi recomendado, porém o casal preferiu que eu acompanhasse a gestação deles, sei que isso o deixou chateado, mas Dimas sabe disfarçar bem.

Ele sorri e vai almoçar. Um tempo depois, estou em meu consultório quando o casal marcado chega, Fernando é um homem trans, ele se surpreendeu com a gravidez, pois engravidou enquanto tomava medicação hormonal.

Fernando e seu parceiro estavam ansiosos e cheios de expectativas. Eu os cumprimento calorosamente e convido-os a se sentarem.

"Olá, Fernando! Olá, Paulo! É um prazer tê-los aqui", digo, sorrindo.

"O prazer é nosso, Dra. Duarte", responde Fernando, com um brilho de felicidade em seus olhos.

"Incrível estar aqui para acompanhar essa jornada única", complementa Paulo, segurando a mão de Fernando com carinho.

Durante a consulta, realizamos uma série de exames e ultrassonografias. A ansiedade toma conta da sala até que, finalmente, as imagens na tela revelam algo maravilhoso.

"Fernando, Paulo, tenho uma notícia emocionante para vocês", anuncio com entusiasmo. "Em vez de um bebê, vocês estão esperando dois! São gêmeos!"

A felicidade toma conta do ambiente. Fernando e Paulo se olham, emocionados, e logo abraçam-se com ternura. As lágrimas de alegria escorrem pelo rosto deles.

"Dois bebês? Não podemos acreditar!", exclama Fernando, com a voz embargada de emoção.

"Isso é incrível! Nossos filhos, juntos, compartilhando essa jornada", diz Paulo, visivelmente comovido.

Conversamos sobre os próximos passos e cuidados necessários para uma gestação de gêmeos saudável. A sala se enche de um misto de expectativa e amor, enquanto planejamos o acompanhamento médico ao longo dos meses.

Ao encerrar a consulta, Fernando e Paulo se levantam, radiantes de felicidade.

"Obrigado, Dra. Duarte. Não poderíamos estar mais gratos por todo o seu cuidado e apoio", agradece Fernando, segurando a mão de Paulo.

"Sinto-me honrada em fazer parte dessa jornada maravilhosa de vocês", respondo, com um sorriso sincero.

Eles se despedem, cheios de expectativa pelo futuro e assim que eles saem sorri, amo os meus trabalhos e de certa forma eles se interligam, pois em um trago novas vidas ao mundo e o outro eu tiro vidas. Minha próxima paciente entra e deixo meus pensamentos de lado.

O dia transcorre tranquilamente e finalmente posso ir para casa. Me despeço do pessoal e entro no meu carro, mas antes de dar a partida, recebo uma mensagem.

"Hotel Vale do Rio Douro, Apartamento 305, 4º andar. Esteja lá às 22:00h."

Memorizo o endereço e apago a mensagem. Respiro fundo, coloco uma música da Rihanna, "Kiss it Better", e sigo para casa. Ao chegar lá, minha amiga pergunta sobre a missão, e eu explico a ela o que devo fazer.

Vou para o quarto, descanso um pouco por volta das 20:00h, escolho o look perfeito, escondo minha arma, faço a maquiagem e, quando minha amiga me vê, ela aplaude e me aprova.

"Boa sorte, amiga. Espero que o desgraçado tenha uma morte lenta e dolorosa."

"Obrigada e pode deixar, sabe que eu adoro limpar esses lixos do mundo." Lhe dou uma piscadela.

Entro no carro, respiro fundo e sigo em direção ao Hotel Vale do Rio Douro, mantendo a mente focada na missão que me espera. O caminho até lá é silencioso e sombrio, refletindo minha determinação e a escuridão que permeia minha vida dupla. Sempre que posso me pego pensando se conseguiria viver uma vida normal apenas sendo obstetra, logo abandono este pensamento, pois não conseguirei viver sem meu lado assassina, acho que a "bonequinha" permanecerá por muitos anos ou enquanto eu estiver viva. Não sei por que toda a vez que vou para uma missão complexa minha mente começa a pensar coisas aleatórias.

Ao chegar ao hotel, estaciono o carro e observo a imponente fachada por alguns instantes, retoco o batom e saio do carro. A noite está fria e há uma atmosfera pesada no ar. Aperto o casaco ao redor do corpo e me preparo para entrar.

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