A Babá do Filho do Bilionário
A Babá do Filho do Bilionário
Por: Elaine Moscardi
Prólogo

POV de Dilan

Prólogo

Eu já provei da dor de muitas formas. A dor do abandono, da traição, da perda... mas nada se compara àquele momento. Àquele dia em que o mundo desmoronou sobre mim.

As sirenes cortavam o silêncio da noite enquanto eu lutava para chegar até ela. A mulher que amei com cada fibra do meu ser. Meu coração estava despedaçado antes mesmo de encontrá-la. Algo dentro de mim dizia que eu estava chegando tarde demais.

E estava.

Tudo aconteceu rápido demais, o caos, os gritos, o som ensurdecedor do metal se retorcendo. Eu vi sua silhueta, frágil, ensanguentada, com a vida escorrendo por entre os dedos enquanto ela me dava o maior presente que alguém poderia dar. Uma nova vida... e sua última.

Desde aquele momento, algo em mim morreu junto com ela. Uma parte de mim se recusou a aceitar o que restou. O pequeno ser que dependia de mim, que precisava de cuidados, que era o único elo entre nós dois, parecia um lembrete cruel da perda. Eu não conseguia olhar para ele sem sentir que o amor da minha vida tinha sido arrancado de mim.

Foi quando decidi trazer alguém para cuidar dele. Não importava quem fosse. Não importava de onde viesse. Só precisava de alguém que preenchesse o vazio que eu não podia.

Mas o destino tem formas estranhas de pregar peças. A mulher que entrou em minha casa trazia consigo segredos tão pesados quanto os meus. Seus olhos, cheios de um misto de fogo e sombras, denunciavam um passado tão marcado quanto o meu.

Eu não sabia quem ela era. Nem que ela tinha razões para me odiar. E certamente não imaginava que a mesma mulher que estava ali para cuidar do meu filho poderia, sem querer, me levar ao centro de uma verdade sombria que eu nunca quis encarar.

Ela era um mistério envolto em rebeldia e sensualidade. Uma chama que eu não sabia se queria apagar ou deixar queimar. E enquanto ela cuidava de tudo que eu não conseguia, algo em mim começava a mudar. A endurecer. A ruir.

Porque às vezes, o inimigo entra em sua casa sem que você perceba. E às vezes, ele não destrói você... apenas revela o que sempre esteve quebrado

NO LIMITE DA PERDA

O silêncio era ensurdecedor, interrompido apenas pelo som ritmado do monitor cardíaco. A dor latejava em minha cabeça, mas a verdadeira agonia vinha de outro lugar, um vazio profundo e sufocante que se instalava em meu peito. Eu abri os olhos lentamente, e o teto branco e impessoal do hospital me encarava de volta, tão frio quanto a notícia que eu já sabia estar por vir.

Ela não estava ali.

Minha sogra estava ao meu lado, suas unhas longas e coloridas batendo nervosamente na lateral do leito. Seus olhos, normalmente cheios de energia, agora estavam escurecidos pela dor. Não precisávamos de palavras. O vazio em seu olhar dizia tudo.

— Ela se foi, não é? — Minha voz saiu rouca, quase um sussurro.

Mary Jane apenas assentiu, apertando minha mão. Pela primeira vez, aquela mulher inquebrável parecia pequena, despedaçada.

Lentamente, as lembranças da noite anterior começaram a se encaixar. O som dos pneus derrapando, o impacto, o grito sufocado de Melissa... e depois, o silêncio. Tão devastador quanto agora.

— Seu filho está bem, — ela disse, sua voz firme como se fosse um lembrete de que eu ainda tinha algo pelo que lutar.

Meu filho.

Fechei os olhos, tentando ignorar o nó que se formava na minha garganta. Ele estava vivo. Ele precisava de mim. Mas tudo que eu sentia era um vazio incapaz de ser preenchido.

A porta se abriu, e um médico entrou com uma prancheta nas mãos. Seu olhar era pesado, como se ele também carregasse o peso daquela tragédia.

— Senhor Stain, sinto muito pela sua perda. — Ele fez uma pausa, como se esperasse que eu dissesse algo. Quando não o fiz, ele continuou:

— Seu filho está na UTI neonatal, mas estável. Ele é forte. Vai ficar bem.

Aquelas palavras deveriam trazer conforto, mas não trouxeram. Tudo que eu conseguia pensar era em como Melissa deveria estar ali, segurando nosso filho, sorrindo com aquele brilho nos olhos que só ela tinha.

— Posso vê-lo? — perguntei finalmente.

O médico assentiu.

— Claro, mas precisamos manter as visitas curtas por enquanto.

Quando entrei na UTI, o cheiro estéril do ambiente e o som das máquinas me atingiram como uma onda. Lá estava ele, tão pequeno e frágil, envolto por fios e tubos. Meu filho. Meu Cristopher.

Eu deveria sentir algo. Amor, orgulho, esperança... mas tudo que sentia era um buraco negro crescendo dentro de mim. Um lembrete constante de que ele estava ali porque ela não estava.

Aproximei-me, hesitante, e toquei o vidro da incubadora. Ele se mexeu levemente, como se soubesse que eu estava ali. E pela primeira vez, senti algo. Uma pontada de culpa, como se estivesse falhando com ele.

— Vou cuidar de você, — murmurei, mais para mim do que para ele. — Mesmo que eu não saiba como.

Os dias seguintes foram um borrão do funeral, reuniões e decisões que eu não queria tomar. Meu apartamento parecia um mausoléu, cada canto impregnado com a presença de Melissa. Eu evitava entrar no nosso quarto, temendo que a lembrança de seu perfume fosse a gota que me quebraria.

Foi Mary Jane quem insistiu que eu contratasse uma babá.

— Você não pode fazer isso sozinho, Bruce. Cristopher precisa de cuidados. E você... você precisa de tempo para se reconstruir.

No início, resisti. Mas, em meio a discussões com John Allister, um homem experiente que eu conheci em meio a tragédia pessoal dele, que estava sendo despejado de um condomínio de classe baixa, que supostamente eu era o responsável por deixar ele e sua filha desabrigados, pensei em contratar a menina para babá. A princípio, ele relutou. Mas diante das circunstâncias, e de eu lhe dizer que vinha do mesmo lugar, ele aceitou.

Eu assenti, exausto demais para discutir mais. Quando ela chegou, eu mal tive tempo de conhecê-la. Na manhã seguinte, arrumei minhas coisas e parti. Precisava de distância. Precisava fugir de tudo — do apartamento, das lembranças e, acima de tudo, de mim mesmo.

Não foi até semanas depois, ao retornar, que a vi pela primeira vez.

A primeira coisa que notei foi a maneira como ela me olhava, não com reverência ou respeito, mas com uma chama que parecia desafiadora. Seus olhos eram um mistério, escuros e profundos, como se escondessem segredos que eu não estava pronto para desvendar.

Ela estava na cozinha, segurando Cristopher nos braços com um cuidado que parecia natural. O contraste entre sua firmeza e delicadeza era quase desconcertante.

— Senhor Stain, — ela disse, com um aceno sutil de cabeça.

Havia algo na sua postura, na maneira como ela falava, que me desarmava e irritava ao mesmo tempo.

Eu deveria tê-la dispensado no momento em que senti aquela tensão no ar. Mas, por algum motivo, não consegui. Talvez fosse a maneira como ela segurou Cristopher, ou talvez porque, pela primeira vez em semanas, alguém olhou para mim não com pena, mas com algo diferente. Algo que fazia o vazio dentro de mim parecer menos devastador.

Eu não sabia quem ela era. Nem o que ela escondia.

Mas algo me dizia que, com ela, minha vida estava prestes a mudar novamente, e não necessariamente para melhor.

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