POV de Dilan
Prólogo Eu já provei da dor de muitas formas. A dor do abandono, da traição, da perda... mas nada se compara àquele momento. Àquele dia em que o mundo desmoronou sobre mim. As sirenes cortavam o silêncio da noite enquanto eu lutava para chegar até ela. A mulher que amei com cada fibra do meu ser. Meu coração estava despedaçado antes mesmo de encontrá-la. Algo dentro de mim dizia que eu estava chegando tarde demais. E estava. Tudo aconteceu rápido demais, o caos, os gritos, o som ensurdecedor do metal se retorcendo. Eu vi sua silhueta, frágil, ensanguentada, com a vida escorrendo por entre os dedos enquanto ela me dava o maior presente que alguém poderia dar. Uma nova vida... e sua última. Desde aquele momento, algo em mim morreu junto com ela. Uma parte de mim se recusou a aceitar o que restou. O pequeno ser que dependia de mim, que precisava de cuidados, que era o único elo entre nós dois, parecia um lembrete cruel da perda. Eu não conseguia olhar para ele sem sentir que o amor da minha vida tinha sido arrancado de mim. Foi quando decidi trazer alguém para cuidar dele. Não importava quem fosse. Não importava de onde viesse. Só precisava de alguém que preenchesse o vazio que eu não podia. Mas o destino tem formas estranhas de pregar peças. A mulher que entrou em minha casa trazia consigo segredos tão pesados quanto os meus. Seus olhos, cheios de um misto de fogo e sombras, denunciavam um passado tão marcado quanto o meu. Eu não sabia quem ela era. Nem que ela tinha razões para me odiar. E certamente não imaginava que a mesma mulher que estava ali para cuidar do meu filho poderia, sem querer, me levar ao centro de uma verdade sombria que eu nunca quis encarar. Ela era um mistério envolto em rebeldia e sensualidade. Uma chama que eu não sabia se queria apagar ou deixar queimar. E enquanto ela cuidava de tudo que eu não conseguia, algo em mim começava a mudar. A endurecer. A ruir. Porque às vezes, o inimigo entra em sua casa sem que você perceba. E às vezes, ele não destrói você... apenas revela o que sempre esteve quebrado NO LIMITE DA PERDA O silêncio era ensurdecedor, interrompido apenas pelo som ritmado do monitor cardíaco. A dor latejava em minha cabeça, mas a verdadeira agonia vinha de outro lugar, um vazio profundo e sufocante que se instalava em meu peito. Eu abri os olhos lentamente, e o teto branco e impessoal do hospital me encarava de volta, tão frio quanto a notícia que eu já sabia estar por vir. Ela não estava ali. Minha sogra estava ao meu lado, suas unhas longas e coloridas batendo nervosamente na lateral do leito. Seus olhos, normalmente cheios de energia, agora estavam escurecidos pela dor. Não precisávamos de palavras. O vazio em seu olhar dizia tudo. — Ela se foi, não é? — Minha voz saiu rouca, quase um sussurro. Mary Jane apenas assentiu, apertando minha mão. Pela primeira vez, aquela mulher inquebrável parecia pequena, despedaçada. Lentamente, as lembranças da noite anterior começaram a se encaixar. O som dos pneus derrapando, o impacto, o grito sufocado de Melissa... e depois, o silêncio. Tão devastador quanto agora. — Seu filho está bem, — ela disse, sua voz firme como se fosse um lembrete de que eu ainda tinha algo pelo que lutar. Meu filho. Fechei os olhos, tentando ignorar o nó que se formava na minha garganta. Ele estava vivo. Ele precisava de mim. Mas tudo que eu sentia era um vazio incapaz de ser preenchido. A porta se abriu, e um médico entrou com uma prancheta nas mãos. Seu olhar era pesado, como se ele também carregasse o peso daquela tragédia. — Senhor Stain, sinto muito pela sua perda. — Ele fez uma pausa, como se esperasse que eu dissesse algo. Quando não o fiz, ele continuou: — Seu filho está na UTI neonatal, mas estável. Ele é forte. Vai ficar bem. Aquelas palavras deveriam trazer conforto, mas não trouxeram. Tudo que eu conseguia pensar era em como Melissa deveria estar ali, segurando nosso filho, sorrindo com aquele brilho nos olhos que só ela tinha. — Posso vê-lo? — perguntei finalmente. O médico assentiu. — Claro, mas precisamos manter as visitas curtas por enquanto. Quando entrei na UTI, o cheiro estéril do ambiente e o som das máquinas me atingiram como uma onda. Lá estava ele, tão pequeno e frágil, envolto por fios e tubos. Meu filho. Meu Cristopher. Eu deveria sentir algo. Amor, orgulho, esperança... mas tudo que sentia era um buraco negro crescendo dentro de mim. Um lembrete constante de que ele estava ali porque ela não estava. Aproximei-me, hesitante, e toquei o vidro da incubadora. Ele se mexeu levemente, como se soubesse que eu estava ali. E pela primeira vez, senti algo. Uma pontada de culpa, como se estivesse falhando com ele. — Vou cuidar de você, — murmurei, mais para mim do que para ele. — Mesmo que eu não saiba como. Os dias seguintes foram um borrão do funeral, reuniões e decisões que eu não queria tomar. Meu apartamento parecia um mausoléu, cada canto impregnado com a presença de Melissa. Eu evitava entrar no nosso quarto, temendo que a lembrança de seu perfume fosse a gota que me quebraria. Foi Mary Jane quem insistiu que eu contratasse uma babá. — Você não pode fazer isso sozinho, Bruce. Cristopher precisa de cuidados. E você... você precisa de tempo para se reconstruir. No início, resisti. Mas, em meio a discussões com John Allister, um homem experiente que eu conheci em meio a tragédia pessoal dele, que estava sendo despejado de um condomínio de classe baixa, que supostamente eu era o responsável por deixar ele e sua filha desabrigados, pensei em contratar a menina para babá. A princípio, ele relutou. Mas diante das circunstâncias, e de eu lhe dizer que vinha do mesmo lugar, ele aceitou. Eu assenti, exausto demais para discutir mais. Quando ela chegou, eu mal tive tempo de conhecê-la. Na manhã seguinte, arrumei minhas coisas e parti. Precisava de distância. Precisava fugir de tudo — do apartamento, das lembranças e, acima de tudo, de mim mesmo. Não foi até semanas depois, ao retornar, que a vi pela primeira vez. A primeira coisa que notei foi a maneira como ela me olhava, não com reverência ou respeito, mas com uma chama que parecia desafiadora. Seus olhos eram um mistério, escuros e profundos, como se escondessem segredos que eu não estava pronto para desvendar. Ela estava na cozinha, segurando Cristopher nos braços com um cuidado que parecia natural. O contraste entre sua firmeza e delicadeza era quase desconcertante. — Senhor Stain, — ela disse, com um aceno sutil de cabeça. Havia algo na sua postura, na maneira como ela falava, que me desarmava e irritava ao mesmo tempo. Eu deveria tê-la dispensado no momento em que senti aquela tensão no ar. Mas, por algum motivo, não consegui. Talvez fosse a maneira como ela segurou Cristopher, ou talvez porque, pela primeira vez em semanas, alguém olhou para mim não com pena, mas com algo diferente. Algo que fazia o vazio dentro de mim parecer menos devastador. Eu não sabia quem ela era. Nem o que ela escondia. Mas algo me dizia que, com ela, minha vida estava prestes a mudar novamente, e não necessariamente para melhor.POV de Dilan Meu nome é Dilan Stain, sou CEO da Stain Inc. Tenho um complexo de escritórios imobiliários no centro comercial de Nova York. E uma cobertura no Central Park Tower. Eu cheguei no topo! Mas foi com muito sacrifício. Melissa e eu começamos a namorar ainda adolescentes, cheios de planos e sonhos. Estudamos, nos destacamos e montamos nossa primeira imobiliária. Sempre fizemos tudo juntos e crescemos juntos. Sempre sabendo que tínhamos que fazer tudo direitinho, porque um casal de negros vindos do subúrbio, quando se destacava virava logo alvo! No ano anterior, convenci Melissa que já tínhamos atingido níveis muito superiores a nossa expectativa, e estava na hora de ela desacelerar e ter nosso bebê. Não foi uma decisão fácil pra ela, mas depois que a tomou, fez exatamente como sempre fazia em sua vida: se dedicou totalmente a gravidez, ao enxoval, a tudo! Foi uma gravidez tranquila e Cristopher já era muito amado. No mês passado, recebemos uma proposta para estender nosso n
POV de Dilan Cristopher James Stain nasceu forte, saudável, pesando 3,6 kilos e com 52 cm. As enfermeiras chamavam ele de bebê giga. Diziam que nasceu criado. Mary Jane ficava com ele o tempo todo, rodeada de enfermeiras. Quando o levamos pra casa, tivemos uma conversa: — Você precisa olhar para o menino, Dilan. Precisa pegá-lo no colo e mostrar a ele todo o amor que você lhe tinha antes dessa tragédia! Ele não é culpado por Melissa não ter resistido ao acidente. Ela já não estava viva quando usaram a regra dos cinco minutos pra fazer a cesariana. Graças a Deus deu tempo e ele está aqui com a gente, vivo, forte, saudável e lindo! Precisamos seguir com a vida a partir dele. — Contrate babás! Eu tenho uma reunião. Com licença! Eu não conseguia olhar para meu filho, essa era a realidade. Não conseguia esquecer todo o horror que Mel e eu passamos pra ele nascer. Eu não culpava Cristopher, eu culpava a mim! Michael veio morar com a gente, pra dar uma força. Eu era grato a ele, estava
POV de AlyssonEu estava colocando meus cílios postiços quando Soraya entrou estabanada no camarim:— Pode tirar isso que hoje é de máscara! — Mas que merdä! Tirei meus cílios de novo, coloquei meus cabelos dentro de uma meia amarrada e coloquei a peruca de cabelos curtos vermelhos. Ajeitei e estava ajeitando a máscara quando Soraya entrou de novo. — Está atrasada, honey. Vamos logo! Terminei de ajeitar a máscara e sai atrás dela. Ouvi meu nome e abri a porta, entrando no palco e dirigindo um sorriso para o idiotä do senhor Larsson. Claro que era meu nome de guerra: Hell, que quer dizer o inferno. Fiz minha melhor performance direcionada pra aquele desgraçado, que indiretamente era o culpado por eu fazer aquilo! Mal sabia ele que eu o pagava com as próprias gorjetas que ele me dava! Meu nome é Alysson Allister, tenho 21 anos e parei o curso de enfermagem pra dançar na Blue Hot, a Boate no complexo A, que atendia ao ricos babões. Eu danço aqui há dois anos, pouco depois da minha m
POV de Alysson Soraya e eu fomos pra casa desoladas naquela noite:— Agora, Hill, ou contamos para nossos pais que temos dinheiro para alugar em outro lugar, ou alugamos só nós duas no complexo A pra continuar trabalhando na Blue. — Soraya, nenhuma das duas opções é interessante pra mim. Meu pai não vai entender que eu danço nua pra ganhar a vida esse tempo todo, menos ainda que eu menti pra ele! E abandonar meu pai a própria sorte não é opção pra mim, Sora. — Eu sei. Meus pais merecem isso, tio Jhon não. — Ele sempre foi um pai maravilhoso, tenta cuidar da minha honra e de mim. Acha que eu ainda sou aquela menina sonsa que acredita no amor, em um casamento e todo esse blablabla. Quando ele souber que nem virgem eu sou mais, vai ficar decepcionado! — Então é melhor ele não saber. Não sei o que vamos fazer. A salvação do complexo estava em aquele velho tarado aceitar te doar algumas unidades, mas ele vendeu tudo. — A culpa de tudo isso é a ganância daquele maldito Dilan Stain. Nã
POV de Alysson Eu estava vestida com uma calça jeans branca, uma camiseta também branca e meu jaleco estava na bolsa. Mamãe comprou essas roupas pra mim quando comecei o curso, achou que seriam importantes. Estávamos subindo no elevador do Tower, o prédio residencial mais elegante de Nova York e eu desviei um pouco meus pensamentos para comparar todo aquele luxo, com nossas casas simples que incomodavam aquele senhor! Não preguei os olhos durante toda a noite. Papai não quis discutir o fato de saber que eu dançava na Blue, apenas me mandou encaixotar algumas coisas que ele levaria depois da entrevista. Não me deixou margem pra recusar. Fiquei pensando se era tarde pra aceitar dividir apartamento com Soraya no complexo A. Talvez fosse a melhor opção. Se papai tinha arrumado emprego com moradia, ele que fosse, estaria bem. Eu não conseguiria servir a um homem que eu odiava tanto! Mas papai, com suas surpresas, as cinco da manhã entrou em meu quarto: — Filha, eu sei que você está com
POV de Alysson O mês passou que eu nem me dei conta! Nem acreditava que estava vivendo um sonho! Uma vida normal, sem ter que tirar a roupa para aqueles tarados. Cristopher era um bebê encantador. Eu dormia no quarto com ele, e era infinitamente mais confortável que em minha antiga casa. Michael voltou para o apartamento dele com minha contratação e eu fiquei mais à vontade. Não sei, ele me olha de um jeito estranho. Fiquei pensando se por acaso ele não me viu dançando e está tentando me reconhecer. Prefiro que ele tenha ido embora mesmo. Não quero que ninguém saiba que uma streaper está cuidando do Cris. Eu achei muito estranho não ver o senhor Dilan em nenhum momento. Mary Jane me explicou tudo o que aconteceu, e eu quase deixei de odiar ele e ter compaixão: — Eu tive Melissa muito jovem, imatura. Tinha 16 anos, solteira, cortei um dobrado pra criar. Meu pai me expulsou de casa, minha tia me acolheu, mas me escravizava. Cuidei daquela velha solteirona por 13 anos, quando ela e
POV de Dilan Não estava sendo rápido e nem fácil entender o que estava acontecendo em minha vida! Quando cheguei na Inglaterra, descobri que Alex Silver estava esperando uma proposta minha, pois minha empresa é quem tinha solicitado a parceria. Fiquei muito nervoso, queria voltar imediatamente pra casa e resolver toda aquela bagunça que se estabeleceu em minha empresa. Mas Debby Silver, esposa de Alex intercedeu: — Fique para almoçar conosco. Você não veio dos Estados Unidos até aqui só para fazer cara feia para nós e ir embora, não é? Preparei hospedagem para você em minha casa e pedi folga para te receber. — Pediu folga? Vocês não são sócios? — Eu jamais conseguiria trabalhar no mesmo ambiente que meu marido. Aliás, esse negócio de se verem todos os dias e passar o tempo todo juntos é coisa de vocês americanos. Dependendo do meu caso, chegamos a passar semanas sem nos ver. — A senhora Silver me entregou um cartão, onde pude ler: Debby Silver, investigadora Scottland Yard. De
POV de Dilan Quando saí do banho, de calção e sem camisa como sempre fazia quando estava em casa, procurei por Mary Jane. Queria conversar com ela e saber da índole de pai e filha que estavam morando lá. Meu intuito era descobrir se eram infiltrados para nos fazer mal ou colher informações. Mas quando cheguei na sala, só encontrei aquela menina brincando com o Cris. Ele estava no bercinho móvel em cima do sofá e ela se curvava e levantava, rindo pra ele e fazendo voz de desenho animado. Perdi a concentração olhando aquele lindo traseiro em posição nada decorosa. Ela estava com uma bermuda ciclista de coton verde musgo, e cada vez que se abaixava, ficando quase de quatro, a marca da calcinha aparecia no tecido. Mordi o lábio e senti uma ereção se formando, quando reparei nas curvas bem delineadas da cintura e o traseiro avantajado. Fiquei me imaginando segurando ela pela cintura e puxando de encontro a mim naquela posição, todo enterrado dentro dela. Rápido balancei a cabeça para