POV de Alysson
Soraya e eu fomos pra casa desoladas naquela noite:
— Agora, Hill, ou contamos para nossos pais que temos dinheiro para alugar em outro lugar, ou alugamos só nós duas no complexo A pra continuar trabalhando na Blue.
— Soraya, nenhuma das duas opções é interessante pra mim. Meu pai não vai entender que eu danço nua pra ganhar a vida esse tempo todo, menos ainda que eu menti pra ele! E abandonar meu pai a própria sorte não é opção pra mim, Sora.
— Eu sei. Meus pais merecem isso, tio Jhon não.
— Ele sempre foi um pai maravilhoso, tenta cuidar da minha honra e de mim. Acha que eu ainda sou aquela menina sonsa que acredita no amor, em um casamento e todo esse blablabla. Quando ele souber que nem virgem eu sou mais, vai ficar decepcionado!
— Então é melhor ele não saber. Não sei o que vamos fazer. A salvação do complexo estava em aquele velho tarado aceitar te doar algumas unidades, mas ele vendeu tudo.
— A culpa de tudo isso é a ganância daquele maldito Dilan Stain. Não há dinheiro que chegue para ele!
— Eu não sei como ele pôde! Onde ele achou tempo pra fazer uma desgrameira dessas em nossas vidas, de luto e com um bebê recém nascido para criar?
— Aquele homem não tem coração, Sora. Só pensa em dinheiro. A mulher estava quente ainda e ele comprando nossas casas pra demolir e construir um shopping. Tenho pena daquele bebê! Odeio Dilan Stain. E se um dia tiver oportunidade, vou retalhar a cara dele inteirinha.
— Menina, faz isso não! Já viu como aquele homem é lindo? Eu molho as calcinhas cada vez que ele aparece na TV!
— Ele é um filho da putä, isso sim?
— Pode até ser um filho da putä, mas é um filho da putä lindo!
— Um lindo que colocou a gente em péssima situação!
Estava chegando em minha casa, Sora morava três ruas para baixo. Muitas vezes ela dormia em minha casa. Éramos amigas toda a vida, não me lembrava de nunca estarmos separadas. Eu era filha única, Soraya tinha um irmão caçula e por ele ela fazia tudo o que podia, e só por ele ela ainda não tinha metido o pé, como ela sempre falava. Robert era um encanto. Tinha 12 anos e nos ensinou a sermos babás desde os 9 e 10 anos. Os pais de Soraya eram uns folgados desde sempre. Saiam e deixavam o bebê nas mãos de Soraya. Fomos nós duas que o criamos, cuidamos, alimentamos, vestimos. Pena que experiência pessoal não contava para o mercado de trabalho, porque eu adoraria ser babá. Minha mãe, sabendo disso, é que disse que eu poderia fazer o curso de enfermagem, que muitas famílias contratavam enfermeiras para cuidar de seus filhos. Mas não deu certo, infelizmente, e acabamos virando babás de marmanjo. Mas eu tinha a pretensão de voltar ao curso algum dia! Eu tinha um bom dinheiro guardado, das gorjetas que ganhei dançando nesses dois anos. Sonhava com o dia que poderia usar, sem meu pai desconfiar. Faltava pouco! Logo eu poderia dizer que acabaram os estágios e que arranjei um emprego. Aí eu voltaria a estudar durante o dia e dançaria a noite para nos manter. Só precisava resolver aquela situação. Maldito seja Dilan Stain, que atrapalhou meus planos a poucos meses de tirar meu pai do complexo B. Mas eu jurava que se tivesse oportunidade, ia fazer aquele infeliz pagar por toda a maldade que fez com minha família e tantas outras!
Soraya estava me chamando, me trazendo a realidade de volta:
— Ei, podemos parar de falar do que não presta? Não vou poder dormir aqui hoje! Voce sabe, temos 48 horas pra desocupar o lugar, vou contar hoje para meus pais que tenho dinheiro pra gente sair daqui.
— Boa sorte! Vou tentar convencer meu pai a procurar minha tia em Phoenix e ficar por lá um tempo.
— Não vai deixar ele te convencer a se mudar pra lá, hein!
— De jeito nenhum, é doida? Não vivo sem você, nem sem o Robert!
Nos beijamos e ela continuou seu caminho e eu entrei em casa, notando que a luz da sala estava acesa. Estranhei. Papai sempre deixava tudo apagado para economizar. Estranhei mais ainda quando vi que tinha bastante coisas encaixotadas, e ele estava encaixotando tantas outras.
— Papai?
— Alysson, meu bem. Você demorou! Fiz boa parte sozinho, mas tem muitas coisas que só uma mulher para fazer. Venha me ajudar, por favor.
— Porque está encaixotando nossas coisas, papai?
— Porque fomos despejados! Amanhã vou levar tudo isso para o guarda volumes até encontrarmos um lugar para morar. Não quero desfazer das coisas de sua mãe.
— E vamos morar onde papai, enquanto nossas coisas estão em guardadores?
— Ah, sim. Vamos morar nas dependências de empregados do nosso novo patrão. Arranjei emprego com moradia para nós dois.
— Que maravilha, papai! E vamos fazer o que?
— Essa é a melhor parte, Hill. Você vai ser babá!
— Mentira, pai. O emprego dos meus sonhos caiu do céu, assim? E ainda com moradia para nós dois? O que o senhor vai fazer?
— Vou ser o motorista da criança que você vai cuidar. Deus ouviu nossas preces, filha!
— Mas estamos empregados assim, de mala e cuia desse jeito, sem nem uma entrevista, papai? É em outra cidade, estamos sendo traficados?
— Claro que não, Alysson. Você me toma por idiota? Amanhã vamos nos apresentar para a patroa, mas nossos documentos já estão no recursos humanos da Stain para admissão.
— Espera — meu sangue congelou — Complexos Imobiliários Stain, de Dilan Stain? Aquele filho da puta que nos despejou de tabela?
— Que modos são esses, Alysson Allister? Desde quando você fala palavrão? Ainda mais na frente do seu pai?
— Desculpe, papai. Não vai se repetir!
— É bom mesmo, essa não foi a educação que eu lhe dei! E vai ser bom sairmos desse lugar, se as suas companhias te fazem perde o decoro e a compostura. Ainda mais agora, quando você vai realizar seus sonhos, fazendo o que gosta e o que vem se preparando há três anos para isso. Você vai cuidar do filho de um magnata, Alysson. O mínimo que se exige de você é que tenha educação.
— Ah, mas não vou mesmo! Nem em mil anos vou trabalhar pra aquele homem soberbo que comprou todo o complexo B e está deixando tantas famílias desabrigadas por causa de mais um shopping center!
— Não vai não? E vai fazer o que, Alysson Allister? Continuar tirando a roupa pra um bando de velho nojento ver seu útero enquanto você rebola?
Na minha cabeça só veio uma palavra: fudėu!
POV de Alysson Eu estava vestida com uma calça jeans branca, uma camiseta também branca e meu jaleco estava na bolsa. Mamãe comprou essas roupas pra mim quando comecei o curso, achou que seriam importantes. Estávamos subindo no elevador do Tower, o prédio residencial mais elegante de Nova York e eu desviei um pouco meus pensamentos para comparar todo aquele luxo, com nossas casas simples que incomodavam aquele senhor! Não preguei os olhos durante toda a noite. Papai não quis discutir o fato de saber que eu dançava na Blue, apenas me mandou encaixotar algumas coisas que ele levaria depois da entrevista. Não me deixou margem pra recusar. Fiquei pensando se era tarde pra aceitar dividir apartamento com Soraya no complexo A. Talvez fosse a melhor opção. Se papai tinha arrumado emprego com moradia, ele que fosse, estaria bem. Eu não conseguiria servir a um homem que eu odiava tanto! Mas papai, com suas surpresas, as cinco da manhã entrou em meu quarto: — Filha, eu sei que você está com
POV de Alysson O mês passou que eu nem me dei conta! Nem acreditava que estava vivendo um sonho! Uma vida normal, sem ter que tirar a roupa para aqueles tarados. Cristopher era um bebê encantador. Eu dormia no quarto com ele, e era infinitamente mais confortável que em minha antiga casa. Michael voltou para o apartamento dele com minha contratação e eu fiquei mais à vontade. Não sei, ele me olha de um jeito estranho. Fiquei pensando se por acaso ele não me viu dançando e está tentando me reconhecer. Prefiro que ele tenha ido embora mesmo. Não quero que ninguém saiba que uma streaper está cuidando do Cris. Eu achei muito estranho não ver o senhor Dilan em nenhum momento. Mary Jane me explicou tudo o que aconteceu, e eu quase deixei de odiar ele e ter compaixão: — Eu tive Melissa muito jovem, imatura. Tinha 16 anos, solteira, cortei um dobrado pra criar. Meu pai me expulsou de casa, minha tia me acolheu, mas me escravizava. Cuidei daquela velha solteirona por 13 anos, quando ela e
POV de Dilan Não estava sendo rápido e nem fácil entender o que estava acontecendo em minha vida! Quando cheguei na Inglaterra, descobri que Alex Silver estava esperando uma proposta minha, pois minha empresa é quem tinha solicitado a parceria. Fiquei muito nervoso, queria voltar imediatamente pra casa e resolver toda aquela bagunça que se estabeleceu em minha empresa. Mas Debby Silver, esposa de Alex intercedeu: — Fique para almoçar conosco. Você não veio dos Estados Unidos até aqui só para fazer cara feia para nós e ir embora, não é? Preparei hospedagem para você em minha casa e pedi folga para te receber. — Pediu folga? Vocês não são sócios? — Eu jamais conseguiria trabalhar no mesmo ambiente que meu marido. Aliás, esse negócio de se verem todos os dias e passar o tempo todo juntos é coisa de vocês americanos. Dependendo do meu caso, chegamos a passar semanas sem nos ver. — A senhora Silver me entregou um cartão, onde pude ler: Debby Silver, investigadora Scottland Yard. De
POV de Dilan Quando saí do banho, de calção e sem camisa como sempre fazia quando estava em casa, procurei por Mary Jane. Queria conversar com ela e saber da índole de pai e filha que estavam morando lá. Meu intuito era descobrir se eram infiltrados para nos fazer mal ou colher informações. Mas quando cheguei na sala, só encontrei aquela menina brincando com o Cris. Ele estava no bercinho móvel em cima do sofá e ela se curvava e levantava, rindo pra ele e fazendo voz de desenho animado. Perdi a concentração olhando aquele lindo traseiro em posição nada decorosa. Ela estava com uma bermuda ciclista de coton verde musgo, e cada vez que se abaixava, ficando quase de quatro, a marca da calcinha aparecia no tecido. Mordi o lábio e senti uma ereção se formando, quando reparei nas curvas bem delineadas da cintura e o traseiro avantajado. Fiquei me imaginando segurando ela pela cintura e puxando de encontro a mim naquela posição, todo enterrado dentro dela. Rápido balancei a cabeça para
POV de Dilan Eu estava sentado no carro de Melissa, estacionado em uma lanchonete próximo ao curso da menina que era babá do meu filho, e eu nem sabia o nome! Olhei para o Cris dormindo na cadeirinha. E pensei que ainda bem ele ser um menino, porque a vida era muito engraçada: eu era um viúvo, pai de menino, e mesmo assim era dominado pelas mulheres. A começar por Marie Jane, que foi embora sem nem me dar tchau, igual eu fiz no dia que conheci o pai da babá. Ela decidiu que era hora de eu interagir com o meu filho e simplesmente foi embora, me deixando com ele, decidindo a minha vida e como eu reagiria as minhas dores. Depois tinha a babá, Allister, uma moça que me lembrei que tinha 21 anos, segundo o pai dela, mas parecia menos: tinha um rostinho de 17 anos, era linda, meiga e doce. Até abrir a boca, aí se via que era uma Fiona: uma princesa ogra. Já estava dominando meus pensamentos e manipulando minhas ações. Agora tinha Debby Silver, que de outro país, outro continente, me dava o
POV de Alysson Quando o senhor Dilan pigarreou na sala, tive a noção de que estava em posição sedutora. Tratei de me recompor rapidamente. Não queria que ninguém associasse o que eu fazia antes com a minha profissão atual. Eu estou feliz! Estudando o que sempre quis, cuidando de um bebê como era meu desejo. Bem empregada, vivendo bem na casa dos Stain. Mesmo que eu me irrito com as atitudes do senhor Dilan para o complexo B, não posso ser injusta. Conversei com Soraya por chamada de vídeo no dia anterior, ela me disse: — Os despejos foram cancelados sem previsão de retorno, estamos vivendo nossas vidas e os aluguéis foram suspensos porque a ordem de despejo foi emitida. Continuamos vivendo aqui, gratuitamente. Até alguns moradores que saíram no susto com a ordem de despejo para a casa de parentes, voltaram com o comunicado que é oficial e até saiu no jornal. Verdade seja dita, por enquanto, Dilan Stain até melhorou nossa vida. — Aquele homem não tem coração, Soraya. Deve ser
POV de Alysson Discutimos naquela noite, depois que eu coloquei Cris para dormir. Falei pra ele que não tinha o direito de me buscar em meus compromissos, mesmo porque eu já trabalhava sem folgas e eu tinha o direito de uma vida pessoal, independente deles. No dia seguinte, Dilan não foi trabalhar e Mary Jane veio nos visitar: — O que você está fazendo em casa, Dilan. — Com licença, vou dar privacidade para vocês conversarem. — Não! Você fica. Eu vim aqui pra conversar com você e não com esse daí, que nem sabia que estava faltando no serviço! — Eu deveria estar na Europa, se lembra? Vou aproveitar esse tempo sem avisar na empresa que voltei. Mas depois de ontem, percebo que vou precisar tirar uma licença — É mesmo? E por que? — Eu preciso parar, Marie Jane. Não adianta ir pra Europa, Inglaterra nem qualquer outro lugar do mundo. A dor está aqui dentro e eu não posso fugir dela! Os dois se abraçaram e meus olhos encheram d'água. Estou há bastante tempo julgando
POV de Alysson O apartamento de Dilan ficava a duas quadras do Central Park. Do quarto de Cris, dava pra ver a mata fechada e é uma visão espetacular. Fomos andando até o parque e Dilan foi empurrando o carrinho. Eu preparei água pra nós, mamadeira para o Cris e peguei uns chocolates na geladeira, caso desse fome. O passeio foi muito agradável, passamos muito da hora do almoço, passeando com o Cris no carrinho. Descobri que Dilan era uma pessoa muito agradável e a conversa fluiu bastante. E principalmente, sabia sorrir! Fui ao banheiro, fazer a troca do Cris e percebi quanto o meu rosto estava vermelho de andarmos no sol. Eu tinha passado protetor antes de sair, em mim e no Cris, mas só trouxe na bolsa o protetor solar para criança. Apliquei no nos bracinhos e perninhas dele, enquanto sorria pra mim. Brinquei com ele, que parece que gostou do geladinho do protetor no corpo. Terminei de trocar ele, pensando em perguntar para Dilan se iríamos demorar pra voltar. Porque eu já estava