A Aliança dos Cinco: Desafios no Mundo M.A.R.G.O.
A Aliança dos Cinco: Desafios no Mundo M.A.R.G.O.
Por: Davi Lívia
Cap.1 - Mel

   Eram tantas obras de arte para serem vistas que Mel ficou deslumbrada. Seu pensamento lhe trazia um futuro de sucesso e glamour.

   —  Um dia meu nome estará nas maiores conferências de obras de arte! —  exclamou para o pai. Marco sorriu. Ver a filha naquele estado de espírito era gratificante.

   —  Sim, Mel! Você será o orgulho da família Alves!

   —  O que está achando deste lugar? Para quem desdenhou, até que me parece bem satisfeita.

   Mel ignorou o pai. Bastava olhar em volta e ver que o museu Paulo Marzola necessitava de uma reforma, pois a pintura creme da parede estava gasta, o assoalho de tacos de madeira rangia, a iluminação era precária e havia tantos outros problemas, frutos da má administração de 60 anos. Fundado em 1965, o museu deixava em exposição os objetos da época de ouro da cidade de Jandaia.

   Mas o mês de Junho era diferente. O diretor do museu promovia eventos especiais na tentativa de chamar a atenção dos moradores e, claro, arrecadar dinheiro e promover os artistas independentes. Anualmente, em Junho, havia a exposição denominada Serenidade de Jandaia com temas diversos que iam desde uma senhora vendendo bolo caseiro até a venda de livros de autores famosos.

   A jovem adolescente fitou os transeuntes do local.

   Cidadãos à procura de um quadro para enfeitar a casa, um vaso diferenciado para presentear um amigo, além de privilegiar os artistas que se faziam presentes ou como um passatempo naquela tarde chuvosa de terça-feira.

   — Olha essa gentinha! Não é todo mundo que sabe apreciar arte, papai! — falou empinando o nariz, esnobando a simplicidade e alegria dos demais.

   — Olha este quadro, que maravilha! — vislumbrou o quadro à sua frente e, virando-se, decidiu: — Vamos papai, quero ver a exposição do meu amigo Matheo. É por aqui! —  saiu caminhando pela sala.

   Logo atrás, Marco refletia: ‘‘— Por que ela é assim? Carlota sempre me culpou por esse jeito ríspido que ela tem, mas minha garotinha é como tantas outras na sua mocidade.”

   Ainda disperso em seus pensamentos, Marco parou com certa distância e analisou as características físicas da filha: baixinha, pele clara como um algodão, cabelo loiro e curto no estilo chanel, olhos azuis como um oceano, nariz fino e alongado sobre seus pequenos lábios e com um sorriso encantador. O vestido azul cobria seu corpo magro deixando apenas as pernas à mostra que no momento pareciam tremer.

   Marco logo entendeu o motivo. Um rapaz com um ar noturno, cabelos cumpridos, magro, alto, usando uma camiseta e calça preta, além de um coturno desgastado permanecia estático diante de Mel.

   Encostado num pilar, Marco contemplou a interação entre o jovem casal. Matheo sempre achou graça no jeito que Mel lhe olhava.

   Com um pouco mais de idade sabia que ela tinha atração por ele: — Mel, me diga...Por que sua bochecha sempre fica rosada quando me vê?

   A garota ficou mais aflita e envergonhada. — Larga de besteira! Eu sou assim.

   — E encontrar um rosto amigo no meio de tanta gente ignorante me deixa confortável. — completou.

   Matheo encarou-a.

   — Talvez a ignorante seja você! Já pensou nisso?

   Mel agora mudava seu semblante, com o corpo ereto apenas virou-se.

   — Qual dos quadros é o seu? Este no centro?

   Matheo andou até a extremidade da sala, apontou para um pequeno espelho que, entre tantas obras, era o que menos chamava atenção.

   — Este aqui! Venha ver! Ainda alterada pelo que ouviu, saiu em direção à Matheo, batendo sua botinha branca sobre o assoalho fazendo-o “gritar”. Olhando o espelho e fazendo cara de deboche, falou: 

   — O que tem de mais em um espelho quadrado e todo quebrado?

   Colocou as mãos sobre o rosto: — Já quebrei tantos espelhos!...Sou uma artista e não sabia — soltou uma gargalhada.

   Matheo simplesmente sorriu: — Você enxerga com os olhos, mas não vê realmente o real significado.

   Um senhor aproximou-se, olhou para o quadro e refletiu:

—  Talvez seja apenas vidro quebrado, mas acredito que seja para refletir o interior do artista. Quebrado!

   Com desconfiança, o artista completou: — Talvez seja. Mas também mostra que somos imperfeitos! — completou Matheo. — Todo espelho pode ser quebrado e reconstruído.

   — Prazer, Matheo! — estendeu a mão para cumprimentar o senhor à sua frente. – Senhor?

   — Marco... e esta é minha filha.

   Apontando para o lado, Mel já não se encontrava. Não suportaria estar no mesmo ambiente que aqueles dois homens que, segundo eles, estavam apenas tentando mostrar uma realidade que ela não enxergava.

   Pelo corredor, Mel agora caminhava lentamente, notou uma luz cintilante entre uma pequena porta entreaberta no final do corredor. Rapidamente, acelerou os passos em direção à porta, sua curiosidade era mais forte do que o medo de estar andando naquele corredor escuro e de cheiro estranho.

   Abriu a porta lentamente e observou. No centro da sala havia uma mesa circular totalmente feita de vidro sobre um tapete branco que cobria todo o chão do lugar.

   Olhou as paredes, estavam cobertas por um papel brilhante e percebeu as diferentes cores: a direita, cinza; a esquerda, verde e a frontal, azul.

   Virou-se e viu que a parede da porta que passara era vermelha. O coração de Mel estava mais disparado do que a primeira vez que viu Matheo, sua respiração era ofegante, mas não sabia o motivo, suas mãos frias, suavam e, mesmo após fechar a porta, seus cabelos loiros continuavam balançando.

   Estava paralisada, não havia janelas e nem lâmpada. Perguntas ressoavam na sua mente...

   ‘‘— Como a sala está iluminada se não há lâmpadas?”

    ‘‘— De onde vem esta corrente de ar?”

   ‘‘— E quem diabos é este senhor olhando para a parede azul?”

   Logo após a mesa, o senhor de roupa social virou-se encarando Mel.

   Aparentando ter 50 anos, moreno, esbelto e com uma pequena barba branca que cobria seu rosto castigado pelo tempo e com um semblante sereno. Segurava um pequeno aquário com água cristalina e, colocando-o sobre a mesa, falou:

   —  Esta sala é uma obra de arte, não é mesmo? Hahaha.

   — Si, si, sim! — Mel balbuciou.

   O homem ajeitou o colarinho com as mãos e, logo em seguida, apoiou-se sobre a mesa.

   — Não tenha medo, estou aqui com um propósito.

   Mel agora estava disposta a virar e sair correndo, mas aquele senhor com aquela cartola azul, roupa social preta e que lhe entregava um cartão em branco aguçaram a sua curiosidade.

   — Veja! — exclamou o senhor com um sorriso simpático.

   A garota pegou o cartão, virou de um lado para o outro e indagou:

   — Mas aqui não está escrito nada.

   Franzindo o cenho, questionou se aquilo era alguma brincadeira, fez menção de ir embora e quando segurou a maçaneta da porta, o senhor prontamente advertiu:

   — Se sair por esta porta perderá a chance de conhecer um mundo maravilhoso e de ganhar muito dinheiro!

   Mais uma vez, ficou paralisada e sem reação, seu instinto lhe dizia para sair dali e nunca mais olhar para trás, mas sua razão lhe convencia a ouvir mais sobre aquele assunto.

   Deu meia volta, foi até a mesa e bateu com as mãos:

   — Seja direto e me fale logo do que se trata! E quem é você?!? — vociferou contra o pobre senhor que agora passava o dedo indicador sobre a água.

   —  Sou apenas fruto das minhas escolhas. Tudo o que fiz me trouxeram até este momento.

   Olhou fixamente para Mel e disse:

   — Nossas decisões moldam o nosso futuro e o que você precisa saber é que estou aqui para oferecer a chance de participar de um torneio.

   — Que torneio?

   — Um torneio aonde uma jovem como você terá a chance de mudar de vida! Digo até mudar de realidade!

   — Mas, como funciona? Conte-me mais. — Mel ficou curiosa.

   Neste momento, a garota acalmou-se, seus ombros relaxaram, sua respiração ficou mais leve e uma sensação de paz atingiu o seu ser.

   — Mel! O cartão em suas mãos é um convite! — falou caminhando em direção à porta. Mel acompanhou-o com o olhar.

   — Quando eu sair por esta porta coloque o cartão dentro do aquário. Aparecerá uma frase, o endereço, a data e o horário do local que deverá ir. Não conte sobre o que aconteceu aqui e é obrigatório ir sozinha até o local. Caso contrário, as informações do convite se apagarão e não terá direito a participar do torneio.

   — Mas, o que... Antes de completar a pergunta o velho homem saiu pela porta.

   — Mas o que é tudo isso? Como assim não contar a ninguém? — agora, sozinha na sala, indagava-se.

  — Que velho mais doido, “é obrigatório ir sozinha até o local”. Balançou a cabeça em negativa. Bem! Vamos ver o que acontece quando eu fizer isso...

   Mel jogou o cartão dentro do aquário e, como num passe de mágica, foi se modificando. Não acreditava em seus próprios olhos que vislumbravam o show de cores presentes dentro da água que evaporava bem rápido, sobrando apenas um pequeno cartão azul no fundo do aquário.

   Ao retirar o objeto, Mel levou um susto, saiu da sala à procura de respostas. Porém, avistou no outro lado do corredor que o diretor do museu, Renato, acompanhava Marco, que vinha furioso em sua direção.

   — Ai está você! Faz uma hora que estou te procurando. Mel deu risada, mais uma vez seu pai exagerava na bronca, pensou.

   Quando pensou em lhe mostrar o convite que recebera, notou o horário em seu relógio. Um calafrio subiu por todo seu corpo, realmente, tinha passara-se mais de uma hora.

   Ficou abismada, abriu novamente a sala e ficou estática. A sala que antes parecia uma obra de arte agora estava repleta de objetos de limpeza.

   — Pelo jeito a mocinha estava escondida entre baldes e vassouras. — zombou o diretor soltando uma gargalhada.

   — Vamos Mel! Já deu por hoje.

   Marco puxou-a pelo braço tirando-a do estado de transe. Mel segurou fortemente o convite entre os dedos e saiu daquele local ainda sem saber se o que acontecera era realidade ou sua imaginação. Porém, dentro do carro, olhou o pequeno objeto e, em seu convite azul, lia-se:

"Você foi escolhida"

"Compareça ao local indicado com este convite"

"Torneio M.A.R.G.O."

"Mel"

"Dia 15 de Junho de 2025"

"Às 09:00h, rua: Noah Sophia, 418."

"O futuro não nos pertence, viva o agora!"

                              "Aquarius"

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