Renan aproximou-se mantendo a postura ereta e com ar superior, falou:
— Damas?!?
—Sim! Damas. Não sabe jogar? — o senhor questionou-o colocando as mãos sobre a lateral do tabuleiro construído sobre a mesa.
— Sei jogar, mas é uma perda de tempo! — Desdenhou e virou-se.
— O que você sabe sobre o tempo? Pelo que pude observar foi ele que te fez perder o torneio do colégio, não é mesmo?! Renan virou-se e perguntou: — Quem é você?
Prontamente, o senhor respondeu:
— Eu?? Sou apenas alguém querendo jogar damas! Renan analisou aquele homem petulante. Aparentava ter uns 50 anos, branco, baixinho, gordinho de bochechas rosadas, olhos verdes e um cavanhaque grisalho que cobria toda sua boca, além do cabelo curto e grisalho abaixo de uma boina cinza.
Vestia uma camiseta branca com um sobretudo preto, uma calça social preta e um sapato cinza.Notou ainda, que havia uma pequena corrente prateada presa entre a calça e algum objeto dentro do sobretudo.
— Não fique ai me encarando desse jeito. Você parece meu chefe! hahaha.
— Me diga logo! Quem é você e quem te mandou aqui?
Renan tirou as mãos do bolso e bateu sobre a mesa encurvando-se e fixando o olhar no pobre senhor, que deu um pulinho no banco.
— Eu sou Sagittarius! Mensageiro do Tempo! — debochou do jovem rapaz.
— Meu chefe? — coçou o queixo — Vamos dizer que ele é um duque! hahaha
Renan olhou para o tabuleiro, acalmou-se, sentou no banco e falou:
— Tudo bem, Sagittarius! O que quer comigo? — Moveu uma peça.
— Estou convocando jovens como você para um torneio. — moveu uma peça. — Mas, não é um simples torneio. Este irá lhe fazer mudar de vida, rapaz.
Enquanto jogavam, Renan percebeu que a neblina ficava cada vez mais densa. Algumas de suas perguntas recebiam respostas aleatórias que não conseguia compreender.
— Sagittarius, está me dizendo que existe outra realidade? — questionou-o incrédulo. — Bobagem! Não acredito nisso!
O senhor cruzou os braços, fechou os olhos e começou a falar:
— Sim, meu rapaz! Eu também era cético, assim como você. Vagas lembranças ainda me fazem questionar se o que vivo tem sentido. Abriu os olhos e fitou Renan que permanecia imóvel segurando uma peça, pronto para fazer a última jogada que lhe traria a vitória.
— O que é o tempo?...
— Quem define quanto tempo nós temos?...
— Será que são nossas escolhas que moldam o tempo ou o tempo que molda a cada um de nós?...
— Numa escala universal de tempo, não é triste pensar que a vida de um ser não tem significado para o ontem, hoje e amanhã?
Renan fez seu último movimento e declarou:
— Sim. Mas quem somos nós para mudar essa realidade?
— E por que as pessoas se importam tanto com a vida alheia?
Mesmo sem conseguir ver, Renan notou que Sagittarius sorria.
Bruscamente, o homem passou a mão sobre a mesa e derrubou todas as peças no chão ao lado da mesa.
— Tá maluco? Por que fez isso? — Renan questionou-o, levantando-se do banco.
O senhor calmamente olhou para ele e disse:
— É a mesma atitude que você tomou quando perdeu no jogo de xadrez!
Renan sentiu um calafrio.
— Mas, para que se importar com a opinião dos outros? Afinal, o que eles tem a ver com minha vida?
O homem se levantou ficando completamente ereto e disse:
— Eu sou melhor do que eles! — bateu a mão no peito.
— Eu sou mais inteligente! — bateu a mão no peito.
— Eu sou mais forte! — bateu a mão no peito.
— Eu sou mais capacitado! — bateu a mão no peito. À sua frente, uma lágrima percorreu todo o rosto de Renan. Agora, o jovem rapaz já não parecia ser o mesmo. Não sentia raiva, rancor e solidão.
Ali, via uma pessoa totalmente desconhecida, ofegante e com um olhar fulminante mostrava-lhe quem ele era. E esta pessoa apontou-lhe o dedo indicador:
— Você não é nada!
O silêncio tomou conta do local por alguns segundos.
— Renan. Para o tempo você não tem valor nenhum. Um dia você vai morrer! Vários anos passarão e, realmente, talvez depois de 50, 100,200 anos ninguém saberá da sua história.
Mas, será que você é tão mesquinho a ponto de não se importar com as pessoas mais próximas de você?...Eu acho que não.
Terminando de falar, retirou um tabuleiro de ludo e colocou sobre a mesa.
Ao redor deles já não se via mais a praça, a neblina estava inerte. Acima deles, como num passe de mágica, o céu se abriu e a luz intensa do Sol pairava sobre aquele local.
Renan sentou-se no banco ainda atordoado com o que acabara de acontecer e verificou o tabuleiro de ludo.
"— Por que está posicionado desta maneira e o centro não deveria ter a cor das casas?" — perguntou-se. Antes mesmo de pensar em mover o tabuleiro, Sagittarius posicionou um cartão branco no centro do tabuleiro dizendo:
— Este é o cartão que te falei.
Colocou a mão no bolso interno do sobretudo retirou um relógio de bolso preto com uma figura em branco que parecia ser um lobo.
— Está na hora. — disse olhando os ponteiros do relógio.
Retirou a trava da corrente que o prendia à calça e entregou ao garoto. Andou até ficar atrás de Renan e colocou as mãos sobre seus ombros, falando: —Lembre-se! Se quiser participar do torneio, vá até o local indicado, na hora marcada e sozinho.
Posicione o relógio sobre o cartão e aguarde! Sagittarius retirou as mãos que estavam sobre os ombros de Renan que, prontamente, seguiu as instruções.
Ao acomodar o relógio sobre o cartão, o tabuleiro começou a girar, o relógio começou a evaporar soltando fortes rajadas de vento e fazendo com que a neblina se dissipasse.
Renan mal conseguia olhar para aquela cena, cerrando os olhos apenas conseguia enxergar um cartão cinza que se formara sobre a mesa.
A ventania cessou e, sobre a mesa, havia apenas um objeto cinza. Ao redor do garoto, a neblina sumiu e era possível escutar o caminhar dos transeuntes, latido de cachorros e a risada de crianças.
Renan pegou o objeto e viu que era um convite. Esbugalhou os olhos e disse consigo mesmo: Desgraçado! Filho da p....
Em seu convite cinza, lia-se:
"Você foi escolhido"
"Compareça ao local indicado com este convite"
"Torneio M.A.R.G.O."
"Renan"
"Dia 15 de Junho de 2025"
"Às 09:00h, rua: Noah Sophia, 418."
"No final, todos retornam a mesma caixa!"
"SAGITTARIUS"
Era chegada a tão esperada noite de sexta-feira. Em seu quarto, Giulia se preparava para curtir. Fazendo os últimos retoques em sua maquiagem escutava sua música favorita no notebook, Fear of The Dark do Iron Maiden. Embalada pelo ritmo, a jovem garota terminara de passar seu batom preto e se jogou sobre a cama pensando em como terminaria aquela noite. Observou, vários objetos espalhados entre a estante e as prateleiras fixadas na parede. Segundo ela, era uma forma de proteção contra as forças ocultas do além e, por isso, gerava muita discussão com o avô, Carlos. Quadros, esculturas de gesso, pôster de bandas de rock, medalhões, cartas de tarô, bichos de pelúcia, revistas de maquiagem, pentagrama e incenso se misturavam ali, sinal de uma adolescente que ainda procurava se descobrir internamente. E, claro, encarava a foto de Adam que estava entre cartas e bonequinhos de vodu. — Ai Adam! — suspirou. O quarto sombrio era iluminado pela tela do notebook, velas vermelhas e br
— Está sim! Encontro vocês lá daqui a pouco. — confirmou Ramon saindo para atender outro cliente. Giulia olhou no relógio fixado na parede do bar, faltava meia hora para dar meia noite e um arrepio percorreu o seu corpo. — Vamos Giu. Termina de beber que precisamos ir. Giulia bebeu encarando Ramon, um rapaz branco, baixinho de cabelo preto e curtinho. Olhos castanhos e, quem olhava atentamente, repararia os dentes desalinhados. Sem questionar aquela conversa, partiram em direção a saída, foram em silêncio até o estacionamento e entraram no carro. — E aí? O que está rolando? — Giu fitou a amiga. — Você já ouviu falar sobre o mito dos 15 anos de Joaquim Ledô? Giulia deu risada. Já escutara sobre, mas seus conhecimentos sobre o ocultismo faziam-na achar graça naquela velha história para assustar crianças. Cruzou os braços entre o ventre e falou: — Sim, já me falaram, mas gostaria de ouvir a sua versão. — Então! Muito bem. Dizem que Joaquim Ledô era um senhor
Os quatro se entreolharam e Adam disse: — Quinhentos Vans?! Achei o que o pai dele tivesse mais dinheiro. hahaha— e saiu à procura da pirâmide. Os demais se dispersaram com as suas lanternas. Giulia foi em direção ao centro e refletia: “— Não sabia que Adam era assim. Perda de tempo.” — E o que eu estou fazendo aqui? Acham que andar no cemitério neste horário me assusta? — falou entre os túmulos. Um clarão apareceu no céu e um trovão foi ouvido. — Que estranho! Olhou para o céu enquanto uma chuva fina caia manchando sua maquiagem. — Parece que o mundo está acabando lá fora e aqui dentro, temos esta chuva fina. A garota permaneceu estática, foi quando o barulho de um gato foi ouvido o que a fez virar a lanterna um gato preto a fixava com os olhos verdes. Avistou um pequeno objeto triangular na coleira do animal e, ao apontar a lanterna, viu que era o tal cristal. O gato saiu em disparada, Giulia correu atrás dele parando em um dos corredores e avistou o
Flutuando pelo museu Paulo Marzola, Otavius indagava-se: “— O que estou fazendo aqui?” “— Quem são essas pessoas?” De repente, fitava a cena que acontecia numa das salas. Um garoto ruivo aparentava estar chorando enquanto uma mulher de cabelo ruivo e curto entregava-lhe um quadro. Otavius se aproximou visualizando um borrão de uma pintura que parecia ser peixes com alguns tons de azul. — O que você está fazendo aqui? — ela indagou-o.— Não tens permissão para estar aqui. Em instantes, estava a sós com o garoto que segurava um pequeno cartão e que parecia estar escrito “Pisces”. Num piscar de olhos, Otavius caminhava pelo zoológico da cidade até ver-se em frente à jaula de um leão que logo, transfigurou-se em um homem de meia idade, corpulento com seu longo cabelo loiro que estava preso por uma fita verde. Viu o homem retirar a fita verde entregando-a para uma bela garota loira que segurava um cartão branco, virando-se para ele gritou: — Toma seu rumo! Não tem
Otavius riu e falou: — Que exagero. Quem viria até aqui para fazer isso? — desdenhou. Num piscar de olhos, um estampido percorreu o ambiente e Otacilia caiu aos pés do marido. Toni abaixou-se, desesperado sobre o corpo da esposa. Otavius entreviu um homem se aproximando apontando um revólver e disparando contra seu pai. O jovem rapaz acompanhava toda a cena em câmera lenta como se fosse um filme de terror, deixando o livro cair sobre o chão, e nada daquilo fazia sentido. “— Estou sonhando? Não! Nem meu pior pesadelo seria tão cruel.” — refletia e balbuciava. O coração bombeava sangue para seus membros. Sua razão e suas pernas mostravam-lhe o caminho para fugir, mas sua emoção e seus braços diziam-lhe para lutar. Sentia um frio intenso na barriga e um aperto no peito que se transformaram em lágrimas. — O que foi garoto? Por que choras? — o atirador perguntou-lhe. — Quem é você? O que te dá o direito de tirar a vida deles? — respondeu colocando as mãos sobre a face.
Dia 15/06/2015 O dia amanheceu ensolarado na cidade de Jandaia. Neste dia, a vida de alguns adolescentes estava prestes a mudar. 06:30hs Mel dormia em sua cama. Auro dormia no sofá. Mais uma vez, passara a noite jogando. Renan permanecia sentado na cadeira de seu quarto analisando o convite que recebera e que estava sendo iluminado pela luminária. Giulia estava deitada em sua cama mexendo no celular. Otavius estava tomando banho para esquecer-se da noite terrível que findara. 07:30hs Mel escovava os dentes ainda vestindo seu pijama de dormir. Logo após, retirou o pijama e foi tomar banho. Auro despertou, ainda sonolento, observou o horário que marcava no relógio e sua decisão estava tomada. Renan tomava café da manhã com a mãe dizendo-lhe que sairia em breve e que não teria horas para voltar. Giulia separou a roupa que usaria naquele dia. Primeiro, teria que tomar café com o avô que acabara de prepará-lo. Otavius bebia suco enquanto escutava seus
— ...a sede do nosso torneio! Todos olharam-na com cara de espanto. Estavam ali em frente a porta de entrada do antigo Laboratório “Ferreira Pereira”, desativado em 1965 após a investigação policial que descobrira o plano terrível de seu fundador. O local era rodeado com árvores, matagal, erva daninha, além de um pântano aos fundos. Na frente, havia um portão enferrujado e a cerca de arame estava destruída com o passar dos anos. Quem quisesse se aventurar por ali encontraria um estreito caminho ladrilhado que percorria até a recepção. A fachada do prédio estava desgastada, uma tinta creme misturava-se aos ferros expostos e ao concreto. — Venham meus pequenos. Já estamos atrasados. — disse fazendo um gesto e convidando a todos a entrarem. Permaneceram em silêncio até que Renan tomou a dianteira aproximando-se da convidante e falou: — Espero que seja sério, não estou aqui para brincadeira! — entrou na recepção e logo atrás, os demais o seguiram. — Bela roupa, jovem
“— O que aconteceu?” “— Por que estou me vendo aqui de cima? E quem são estas pessoas?” Otavius observava a sala que agora encontrava-se. O chão pintado de preto e as paredes de amarelo eram iluminados por várias lâmpadas no teto. Possuía mesas verdes convergindo para uma mesa maior que continha uma porta de aço na parede atrás de si. — Acordem! — Uma voz soou pela sala. Otavius abriu os olhos e, seu sonho, estava diante de si. Imediatamente, alguns quiseram levantar-se, outros ficaram apavorados. Mas, apenas duas pessoas estavam gostando de toda aquela situação. "— Você também está aqui?" "— Vai ser um prazer te derrotar de novo." Renan e Ophelia encaravam-se. A garota permanecia com um sorriso debochado enquanto Renan franzia as sobrancelhas. — Que merda estamos fazendo aqui? — Giulia mexeu os lábios enquanto Odemira apenas balançou a cabeça. — E aí cara, sabia que iria te encontrar aqui! — disse Auro acenando para Ruben. “— Odisseu e Gloria