Cap.6 - Giulia

   Era chegada a tão esperada noite de sexta-feira. Em seu quarto, Giulia se preparava para curtir. Fazendo os últimos retoques em sua maquiagem escutava sua música favorita no notebook, Fear of The Dark do Iron Maiden.

   Embalada pelo ritmo, a jovem garota terminara de passar seu batom preto e se jogou sobre a cama pensando em como terminaria aquela noite.

   Observou, vários objetos espalhados entre a estante e as prateleiras fixadas na parede. Segundo ela, era uma forma de proteção contra as forças ocultas do além e, por isso, gerava muita discussão com o avô, Carlos.

   Quadros, esculturas de gesso, pôster de bandas de rock, medalhões, cartas de tarô, bichos de pelúcia, revistas de maquiagem, pentagrama e incenso se misturavam ali, sinal de uma adolescente que ainda procurava se descobrir internamente. E, claro, encarava a foto de Adam que estava entre cartas e bonequinhos de vodu.

   — Ai Adam! — suspirou.

   O quarto sombrio era iluminado pela tela do notebook, velas vermelhas e brancas, além da luz que saia de um velho abajur, comprado de uma cigana que lhe disse que traria muita sorte e um mundo de descobertas.

   Foi quando, de supetão, Carlos abriu a porta de seu quarto tirando-a de seu transe após apertar o interruptor, acendendo assim, a lâmpada do quarto.

   — Que história é essa de você ir para o bar da perdição?!

   Giulia sentou-se na beirada da cama assoprando as velas para espantar a sensação de déjà vu.

   — E que roupa é essa, minha filha? — Carlos indagou-a com indignação.

   A garota levantou-se, foi em frente ao espelho que refletiu uma moça jovem de 16 anos, morena, cabelos castanhos e cumpridos que caiam até as axilas. Olhos cor de mel, uma boca perfeitamente desenhada assim como sua sobrancelha. Uma fronte levemente saliente e o nariz um tanto achatado a deixavam chateada, fazendo-lhe lembrar-se de sua mãe que fugira de casa deixando-a aos cuidados do avô.

   — O que tem minha roupa?

   Giulia usava uma camiseta preta estampada com os integrantes do AC/DC, camisa quadriculada vermelha e preta, calça jeans furada e sua bota de couro preta. No pescoço, um cristal vermelho com um cordão de fibras de bambu comprado na feira hippie e dois pequenos brincos de caveira nas orelhas.

   Passando a mão sobre sua bolsinha de couro, moveu-se como um raio entre o avô e a porta. Deu meia volta, foi até o senhor, beijou-lhe o rosto e falou:

   — Volto logo, não se preocupe! — riu. — Estarei segura com a Odemira.

   Saiu caminhando em direção a noite sombria e o que estava para ocorrer mudaria seu destino.

   Carlos ficou preocupado. Desde que sua filha o abandonou há 15 anos, tratava a neta como sua própria filha.

   — Fala Giu! Seu pai deixou você sair numa boa? hahaha.

   — Ele não manda em mim! E já te falei que ele não é meu pai, sua medonha! — Giulia respondeu entrando no carro.

   — Não sei como você consegue pegar o carro assim. Seus pais ainda vão acabar descobrindo.

   Odemira riu: — Descobrem nada! — exclamou enquanto entregava as entradas para Giulia segurar.

   — Se segura ai! Hora de aproveitar nossa sexta-feira 13! — Meteu o pé no acelerador e saiu dirigindo pela Zona Sul de Jandaia.

   Aquela noite estava agradável apesar do céu nublado e, por onde passavam, viam as pessoas reunidas na porta de casa, música alta tocando e vários barzinhos abertos.

   Conversavam sobre os mais diversos assuntos e Giulia reparou o brilho no olhar da amiga.

   Odemira vestia uma camiseta vermelha estampada com uma caveira preta combinando com seu cabelo ruivo curtinho e cacheado.

   Uma saia curta colada ao seu corpo que descia até a parte superior do joelho e uma bota de couro preta. Em seu pulso esquerdo carregava um bracelete dourado que comprara, segundo ela, de um feiticeiro que lhe disse que traria proteção contra seres de outro mundo.

   Não era uma garota atraente, a cicatriz que possuía na face direita deixava-a com um ar sombrio, mas em momentos difíceis, aconselhava Giulia.

   Ao chegarem ao bar notaram vários jovens com os mais diferentes estilos de roupas e, após estacionarem o carro, foram até a fila de entrada da casa de shows.

   — Não pensei que teria tanta gente! — exclamou Odemira.

   — Pois é, realmente está lotado! — frisou a amiga.

   Ao entrarem no estabelecimento, perceberam o ambiente iluminado por uma luz baixa que alternava as cores entre vermelho, laranja, verde e azul deixando-o mais atraente.

   Várias mesas colocadas em um determinado espaço aonde já se encontravam jovens casais que bebiam e riam. Um palco montado ao fundo e em frente, as pessoas se aglomeravam para ver a atração da noite, a banda “Rock Sul”.

   Entre esbarrões e pedidos de licença, as meninas se posicionaram em frente ao palco. Os integrantes da banda faziam os ajustes finais de seus instrumentos até que o vocalista subiu ao palco e o coração de Giulia disparou.

   — Boa noite a todos! — disse fazendo uma saudação.

   — Espero que esta sexta-feira 13 seja de muito arrepio e música boa.

   Um riff de guitarra ecoou pelo recinto e a plateia vibrou. O vocalista esperou mais um pouco e começou o show com “Welcome to the jungle” do Guns N’Roses.

   Giulia viajava em seus pensamentos vendo Adam cantar. Aquele rapaz magro, alto, negro com um cabelo estilo militar, sobrancelhas grossas e olhar sereno deixavam-na ludibriada.

   — Ai Adam! — Suspirou. Odemira deu risada e disse:

   — Fecha a boca menina. Só falta babar. hahaha

   Adam usava uma camiseta preta estampada com o nome da banda, calça jeans preta, cinto de tecido quadriculado e um All Star vermelho. No rosto, tinha um piercing no nariz e na orelha direita, tinha um brinco prateado de cruz.

   Algumas músicas depois, as garotas riam enquanto se sentavam no balcão do bar pedindo gin com maracujá fazendo o atendente dizer:

   — Gin com maracujá?!? Vejo que temos duas garotas rebeldes aqui hoje.

   A ruiva encarou-o.

   — Fala Ramon e aquele desafio? Ainda está de pé?

   — Disse pegando o copo com sua bebida.

   — Que desafio? — Giulia perguntou curiosa.

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