Elizabeth queria perguntar sobre o que ela estava falando, sacudir-lhe os ombros e dizer que elas ficariam bem, que tudo terminaria bem. Mas ela não tinha como ter certeza disso. E pior, sentia que as palavras da Major não eram em vão e que ela tentava lhe preparar para alguma coisa. Para o quê? Esperava que não fosse para o que suas palavras davam a entender. Ela não estava pronta... Ainda tinha que aproveitar mais algum tempo com ela. Precisava disso e apenas nas últimas horas descobrira. Com um suspiro pesado, ela voltou a cozinha, se perguntando o que seria das próximas horas.
Depois do jantar improvisado, a Major permaneceu sentada no sofá, sem parar de encarar o mar revolto. A lua estava cheia e iluminava as águas cristalinas como uma luz cheia de beleza e graça, impondo-se de forma que apenas o sol poderia lhe tirar dali. Elizabeth lhe fazia companhia, mas sem dizer uma palavra.
O celular da Major tocou. Ela olhou para o nome escrito na tela e lágrimas brota
Elizabeth ficara parada, sem saber o que fazer para impedi-la.No fim, sabia que não havia saída. Que não importava o que dissesse, demonstrasse, a Major estava decidida. Seu arrependimento nunca fora tão grande. O tanto de tempo que elas perderam... Tudo apenas por medo, vergonha de si mesma. Seu pai sempre dissera que ser gay era a maior vergonha que alguém poderia dar a um familiar e ela aceitara isso. Se prendera dentro de si mesma, enfrentando relacionamentos banais, aceitando viver qualquer migalha de amor, para satisfazer o ego da sua família. Mesmo depois de adulta, não deixara de tentar agradá-los, namorando homens escrotos, vivendo relações sem qualquer sentimento, perdendo anos da sua vida em busca de algo que estava bem a sua frente.A Major terminou de colocar tudo que precisaria no carro, o que não era muito. Ela deixou as coisas arrumadas e se encaminhou para o carro.— Quer que eu a deixe na agência?— Eu vou com você.
Elas caminharam mata a dentro. Havia uma pequena floresta em volta dos cercos elétricos. A Major segurava uma AK 49, que era semelhante a AK 47, só que modificada, com visão infravermelha, alcance de quase 900 metros e balas ainda mais rápidas e leves, causando efeitos catastróficos. A agente 13 carregava uma M16, também modificada, com alcance superior a um quilômetro e um sistema que só destravava com uma digital reconhecida e ajustada no sistema, coisa que a Major havia feito muito rapidamente em seu computador portátil. Antonieta levava consigo uma M1911, calibre 45, de eficaz alcance em até 200 metros. A Major coordenou a formação, onde ela e Elizabeth iam lado a lado, em passos rápidos e silenciosos, enquanto Antonieta ficava atrás, cobrindo-as por trás e se protegendo.De repente, um estalo as fizeram parar. A Major ergueu o punho fechado e prendeu a respiração. Devagar, ela se agachou, pegando uma pequena folha e jogando a menos de 1 metro de distância
"A vida é curta demais para se preocupar com a opinião dos outros"27 de Outubro de 2256Era pra ser um dia comum, aquele a qual Alexander jamais esqueceu. Ele abriu os olhos pela primeira vez no dia e a clareza iluminou suas íris castanhas. Ao piscar, deu-se conta de que não havia ninguém ao seu lado. Em seu despertar, não se preocupou, apenas levantou e foi a janela ouvir os raros pássaros cantarem. As cortinas vermelhas se abriram automaticamente conforme ele se aproximava e, por mais que não fosse chegado a tanta tecnologia, era inegável a beleza dos edifícios enormes, perfeitamente bem desenhados e construídos, com estruturas fantásticas e em formatos cada vez mais surpreendentes.— Bom dia, Alexander. Está a 39°C. Deveria usar roupas de tecido leve e beber bastante água para aliviar o calor.Disse uma voz mecânica. Ele suspirou, tendo de imaginar trabalhar em um local tão fechado e com pouco sistema de ventilação no calor que
26 de Outubro de 2272A agente doze depositou sua pequena bolsa em silêncio, em cima do balcão. Seus olhos encararam o reflexo da porta semiaberta do banheiro individual. O sorriso escancarado no rosto da dama sentada a latrina era mais do que convidativo. Ela não estava fazendo absolutamente nada. Apenas esperando-a. A agente se virou, sem contato visual.— O que está esperando?Indagou, mansa e sorridente. Ela levantou e caminhou vagarosa em sua direção. Seu perfume invadiu as narinas da agente e só então, ela ergueu os olhos para o monumento azul que eram suas íris. Tão raras quanto as de seu pai.— Você me enlouquece, Angélica.— E o que vai fazer?— Isso.Ela colou seu corpo ao de Angélica e aproximou sua boca pequena e faminta. Seus lábios grandes tomaram-na sem pressa.Tinha de confessar que, apesar de estar sob disfarce, ela adorava estar acompanhada daquela mulher. Ela era a única naque
Antonieta, que estava sentada ao seu lado, segurou sua mão e apertou-a. Ela abaixou a cabeça por um segundo, limpando seu rosto. Os olhos de Henrique brilhavam demais para notar qualquer coisa.— Você está bem?A jovem sussurrou. Ela negou com a cabeça.— Não.— Quer sair daqui?— Não posso. Não agora.Olhou novamente para o palco, onde se encontrava o novo item de poder que logo seria vendido como um pedaço de carne. Em seu olhar jazia sofrimento, dor e arrependimento. Ela não tinha ideia do que havia acontecido para ela ter ido parar ali. E seu maior medo era que todo o plano tivesse ido por água abaixo e eles não viessem. Que ninguém entraria pela porta principal nos próximos cinco minutos. E isso não a apavorava pela ideia de morrer, mas de não poder salvá-la.— Você a conhece?Antonieta sussurrou novamente em seu ouvido. Ela inclinou-se com cuidado.— Essa é a garota de quem te falei.— Essa? Sério?Assentiu, ten
Major Albuquerque ainda usava o vestido da noite anterior, quando se sentou na cafeteria do hospital. Antonieta ficara em silêncio.— Então, o que vai fazer?— Eu não sei. Pela primeira vez em anos, eu não tenho um lugar pra ir. Essa é a sensação?— De que?— De liberdade?Ela não se lembrava. Deste o instante em que conseguiu entrar pra família Bitencourt, seus dias foram vigiados por meia dúzia de seguranças atentos e nada discretos. Seus únicos momentos sozinha era durante o banho. Quando ela não tinha a companhia das mãos nojentas passeando por seu corpo. O pensamento a fez desejar um banho com a maior das urgências.— Acho que sim.— Como você se sente? Foram meses longos.— Ainda não tive tempo pra assimilar tudo o que aconteceu.Ela assentiu. Um garçom-robô trouxe os pedidos e a agente ficou em silêncio, encarando aquele copo de café fumegando. Ela não era nenhuma viciada em cafeína ou coisa do tipo, mas uma parte de
Eram quatro da manhã quando gritos despertaram a agente. Mas não era o tipo de grito que a faria pôr a mão embaixo do travesseiro para pegar sua arma. Era um grito de fome. Ou talvez fralda suja.Ela caminhou com os olhos entre abertos. Tateou a parede para chegar ao quarto ao lado do seu, onde um bercinho tinha sido montado de última hora.— Oi coisinha. O que você tem?Ela tinha zero experiência com crianças, mas havia assistido algumas aulas educacionais sobre o comportamento de bebês. Uma forma de traumatizar as crianças para que evitasse uma gravidez precoce. A vida de mãe devia ter assustado a agente, mas sempre lhe fascinou. Contudo, não achava que poderia fazer aquilo sozinha.Com a ajuda de um banco de doação de leite, ela pôde alimentar a pequena, que parou de chorar depois que se alimentara. De anti mão, a agente trocou sua fralda e deixou-a bem limpinha.— Talvez a gente se dê bem, coisinha.De olhos vidrados, a pequena Christina
A solução veio rápido a mente da espiã. Ela instruiu Elizabeth a vestir as roupas de enfermeiro do homem que encontrava-se ao chão, algemado do lado da cama. Por sorte o uniforme não ficou folgado demais para parecer suspeito. E ela pôs a roupa de hospital, tendo em vista que não sairia andando dali com aquele ferimento a vista. O lençol deixaria óbvio que tinha algo de errado. A agente 13 buscou uma cadeira de rodas que havia sido deixada por algum enfermeiro no corredor e fez a agente 12 sentar-se. A contragosto, ela obedeceu, sabendo que era a única maneira de saírem despercebidas. Elizabeth verificou se estava tudo limpo no corredor e saiu de fininho. Caminhou devagar, cabeça baixa, ainda com dores no corpo. A Major fingiu estar adormecida para não ser reconhecida.Elas foram até o elevador de serviço. Com discrição, Elizabeth cumprimentou alguns médicos e funcionários que passavam, que não estranharam nem o uniforme e muito menos a paciente. Ninguém reconheceu-a ou