Eram quatro da manhã quando gritos despertaram a agente. Mas não era o tipo de grito que a faria pôr a mão embaixo do travesseiro para pegar sua arma. Era um grito de fome. Ou talvez fralda suja.
Ela caminhou com os olhos entre abertos. Tateou a parede para chegar ao quarto ao lado do seu, onde um bercinho tinha sido montado de última hora.
— Oi coisinha. O que você tem?
Ela tinha zero experiência com crianças, mas havia assistido algumas aulas educacionais sobre o comportamento de bebês. Uma forma de traumatizar as crianças para que evitasse uma gravidez precoce. A vida de mãe devia ter assustado a agente, mas sempre lhe fascinou. Contudo, não achava que poderia fazer aquilo sozinha.
Com a ajuda de um banco de doação de leite, ela pôde alimentar a pequena, que parou de chorar depois que se alimentara. De anti mão, a agente trocou sua fralda e deixou-a bem limpinha.
— Talvez a gente se dê bem, coisinha.
De olhos vidrados, a pequena Christina
A solução veio rápido a mente da espiã. Ela instruiu Elizabeth a vestir as roupas de enfermeiro do homem que encontrava-se ao chão, algemado do lado da cama. Por sorte o uniforme não ficou folgado demais para parecer suspeito. E ela pôs a roupa de hospital, tendo em vista que não sairia andando dali com aquele ferimento a vista. O lençol deixaria óbvio que tinha algo de errado. A agente 13 buscou uma cadeira de rodas que havia sido deixada por algum enfermeiro no corredor e fez a agente 12 sentar-se. A contragosto, ela obedeceu, sabendo que era a única maneira de saírem despercebidas. Elizabeth verificou se estava tudo limpo no corredor e saiu de fininho. Caminhou devagar, cabeça baixa, ainda com dores no corpo. A Major fingiu estar adormecida para não ser reconhecida.Elas foram até o elevador de serviço. Com discrição, Elizabeth cumprimentou alguns médicos e funcionários que passavam, que não estranharam nem o uniforme e muito menos a paciente. Ninguém reconheceu-a ou
O peito da Capitão Elizabeth Reis descia e subia em ritmo frenético, depois de encarar, mais uma vez, a morte. A Major ria, incrédula que tinha dado certo.— Eu sempre quis fazer isso! Sempre deu certo nos filmes.— Isso não é um filme, Major. Estamos lutando por nossas vidas!— Desculpe, mas escapamos, não foi?— Por pura sorte!A Major suspirou. A adrenalina correndo em alta velocidade em sua veia, e o pé indo cada vez fundo no acelerador.— Mantenha a calma agente. Estamos bem e viva.— Não graças a você.— Oh, não?Elizabeth ficou em silêncio. A agente sacudiu a cabeça e ajeitou seu corpo no banco.— Eu não sei porque acredito que alguma coisa possa ser diferente. Que por algum motivo, o final não será o mesmo.— Eu não sou a mesma garota. Fiz besteira, mas crescemos. Me desculpe por isso. Só estou assustada.— Depois ainda perguntam porque nunca trabalhamos juntas.— Eu já entendi Ma
A agente 12 se esforçava para manter os olhos abertos, mas com a mesma velocidade que ela tinha para chegar em um alvo, aquela dor tinha para atingi-la violentamente. Elizabeth se virou para o homem, que não sabia o que fazer com os corpos e os clientes que surgiram em sua loja.— Ei, você, chame uma ambulância, rápido!— Não...— Não uma ova! Você não vai protestar quanto a isso.— Me escute... Por favor. Ele disse que tem um infiltrado na agência. Se... Se descobrem, matam nós duas.Sua voz era falha, mas ela se esforçava para ser clara e enfática no que dizia.— Não temos escolha, Major.— Temos sim. Tem um lugar... Nunca vão nos achar.— Você foi baleada!— Lá podemos cuidar disso. Por favor. Não podemos ir para o hospital.— Lá vai estar cercado de gente nossa, não vão tentar nada.— Você acha mesmo? Assim que a coisa esfriar... Na calada da noite, eles invadem o hospital que ninguém irá descobrir. Somente.
A Major não sentia qualquer tipo de orgulho por ser filha de quem era. Alexander já tinha sido um bom homem, mas a morte de sua esposa o transformou, trazendo para si, o que poderia ter de pior no ser humano. E desde que ele deixou sua criação, tentando lhe forçar a assumir uma responsabilidade que não condizia com seu caráter, ela parou de sentir algo por ele. Mesmo passado mais de uma década, as lembranças ainda eram tão frescas quanto o cheiro do mar que elas acabaram de inalar.— Papai, o que houve? Por que o senhor não fala comigo?Ela havia acabado de chegar da escola e, depois de largar a mochila na sala, se inclinou para beijar o rosto de seu pai que desviou, irritado.— Estou cansado de lidar com tudo isso. Preciso de algum tempo sozinho.— Mas o senhor passa uma boa parte do dia sozinho. Eu fico na escola, depois vou pro curso e pras aulas de Capoeira, só chego de noitezinha.Ele permaneceu com o corpo parado, inclinado para frente, os o
Elizabeth queria perguntar sobre o que ela estava falando, sacudir-lhe os ombros e dizer que elas ficariam bem, que tudo terminaria bem. Mas ela não tinha como ter certeza disso. E pior, sentia que as palavras da Major não eram em vão e que ela tentava lhe preparar para alguma coisa. Para o quê? Esperava que não fosse para o que suas palavras davam a entender. Ela não estava pronta... Ainda tinha que aproveitar mais algum tempo com ela. Precisava disso e apenas nas últimas horas descobrira. Com um suspiro pesado, ela voltou a cozinha, se perguntando o que seria das próximas horas.Depois do jantar improvisado, a Major permaneceu sentada no sofá, sem parar de encarar o mar revolto. A lua estava cheia e iluminava as águas cristalinas como uma luz cheia de beleza e graça, impondo-se de forma que apenas o sol poderia lhe tirar dali. Elizabeth lhe fazia companhia, mas sem dizer uma palavra.O celular da Major tocou. Ela olhou para o nome escrito na tela e lágrimas brota
Elizabeth ficara parada, sem saber o que fazer para impedi-la.No fim, sabia que não havia saída. Que não importava o que dissesse, demonstrasse, a Major estava decidida. Seu arrependimento nunca fora tão grande. O tanto de tempo que elas perderam... Tudo apenas por medo, vergonha de si mesma. Seu pai sempre dissera que ser gay era a maior vergonha que alguém poderia dar a um familiar e ela aceitara isso. Se prendera dentro de si mesma, enfrentando relacionamentos banais, aceitando viver qualquer migalha de amor, para satisfazer o ego da sua família. Mesmo depois de adulta, não deixara de tentar agradá-los, namorando homens escrotos, vivendo relações sem qualquer sentimento, perdendo anos da sua vida em busca de algo que estava bem a sua frente.A Major terminou de colocar tudo que precisaria no carro, o que não era muito. Ela deixou as coisas arrumadas e se encaminhou para o carro.— Quer que eu a deixe na agência?— Eu vou com você.
Elas caminharam mata a dentro. Havia uma pequena floresta em volta dos cercos elétricos. A Major segurava uma AK 49, que era semelhante a AK 47, só que modificada, com visão infravermelha, alcance de quase 900 metros e balas ainda mais rápidas e leves, causando efeitos catastróficos. A agente 13 carregava uma M16, também modificada, com alcance superior a um quilômetro e um sistema que só destravava com uma digital reconhecida e ajustada no sistema, coisa que a Major havia feito muito rapidamente em seu computador portátil. Antonieta levava consigo uma M1911, calibre 45, de eficaz alcance em até 200 metros. A Major coordenou a formação, onde ela e Elizabeth iam lado a lado, em passos rápidos e silenciosos, enquanto Antonieta ficava atrás, cobrindo-as por trás e se protegendo.De repente, um estalo as fizeram parar. A Major ergueu o punho fechado e prendeu a respiração. Devagar, ela se agachou, pegando uma pequena folha e jogando a menos de 1 metro de distância
"A vida é curta demais para se preocupar com a opinião dos outros"27 de Outubro de 2256Era pra ser um dia comum, aquele a qual Alexander jamais esqueceu. Ele abriu os olhos pela primeira vez no dia e a clareza iluminou suas íris castanhas. Ao piscar, deu-se conta de que não havia ninguém ao seu lado. Em seu despertar, não se preocupou, apenas levantou e foi a janela ouvir os raros pássaros cantarem. As cortinas vermelhas se abriram automaticamente conforme ele se aproximava e, por mais que não fosse chegado a tanta tecnologia, era inegável a beleza dos edifícios enormes, perfeitamente bem desenhados e construídos, com estruturas fantásticas e em formatos cada vez mais surpreendentes.— Bom dia, Alexander. Está a 39°C. Deveria usar roupas de tecido leve e beber bastante água para aliviar o calor.Disse uma voz mecânica. Ele suspirou, tendo de imaginar trabalhar em um local tão fechado e com pouco sistema de ventilação no calor que