Major Albuquerque ainda usava o vestido da noite anterior, quando se sentou na cafeteria do hospital. Antonieta ficara em silêncio.
— Então, o que vai fazer?
— Eu não sei. Pela primeira vez em anos, eu não tenho um lugar pra ir. Essa é a sensação?
— De que?
— De liberdade?
Ela não se lembrava. Deste o instante em que conseguiu entrar pra família Bitencourt, seus dias foram vigiados por meia dúzia de seguranças atentos e nada discretos. Seus únicos momentos sozinha era durante o banho. Quando ela não tinha a companhia das mãos nojentas passeando por seu corpo. O pensamento a fez desejar um banho com a maior das urgências.
— Acho que sim.
— Como você se sente? Foram meses longos.
— Ainda não tive tempo pra assimilar tudo o que aconteceu.
Ela assentiu. Um garçom-robô trouxe os pedidos e a agente ficou em silêncio, encarando aquele copo de café fumegando. Ela não era nenhuma viciada em cafeína ou coisa do tipo, mas uma parte dela necessitava desesperadamente beber algo que não fosse alcoólico ou feito por máquinas. É, tinha sido um robô a servi-las, mas o café ainda era feito por alguém com mãos humanas. Uma das poucas coisas que eles ainda mantinham ao modo natural. Provavelmente era pelo alto custo de se ter um robô na cozinha. Os garçons-robôs eram mais baratos.
— Você ainda gosta dela, não é?
Antonieta ergueu o queixo, o olhar distante. Seu ombros estavam encolhidos. A agente não foi capaz de encará-la.
— Eu não sei.
— Você pode fazer melhor. Seja sincera Angel. Ou melhor, Agente 12. Eu nem mesmo sei o seu nome de verdade.
— Está questionando se o que vivemos foi real?
Antonieta virou os olhos para ela, marejados.
— Estou. Agora estamos aqui e eu vi o jeito como você sorriu pra ela. Além do fato de ter estragado seu disfarce no último segundo para acodi-la.
— Sim, Antonieta, eu ainda gosto dela, mas isso não significa nada. O que houve entre nós foi verdadeiro para mim. Eu fui eu mesma com você. E eu gosto de você. Mais do que deveria. Mais do que imaginei que poderia gostar de outra pessoa. Mas eu acabei de voltar pra casa e preciso respirar um pouco, pode ser?
— É claro. Tem razão. Vou te dar o espaço de que precisa.
Ela pegou sua bolsa e se levantou. A agente ergueu sua sobrancelha. Não era exatamente daquela forma que ela havia imaginado que tudo aquilo terminaria.
— O que está fazendo? Pra onde vai?
— Eu ainda não sei. Mas acho que nós duas precisamos de espaço. Eu acabei de sair da aba do meu pai e preciso descobrir o que fazer com a minha própria vida, enquanto você decide o que fazer com a sua.
Ela respirou com dificuldade e sacudiu a cabeça, antes de se afastar. Ela ficou lá, parada, como uma completa inútil, sem saber se devia ir atrás dela ou permanecer ali.
De repente, voltou o olhar para o copo de café, um pouco mais frio agora, porém perfeito para ser bebido.
O que ela estava fazendo? Sua mente estava uma bagunça completa. Ela havia passado quase um ano infiltrada entre criminosos dos níveis mais alto e parecia que parte dela tinha se perdido. Não tinha mentido para ela quando disse que o que viveram fora verdadeiro. Ela gostava dela. Gostava muito... Mas estava tão confusa e sem rumo que não podia simplesmente correr atrás dela. Ou podia? Antonieta também merecia se encontrar. Ela estava tão perdida ou ainda mais. E talvez... Ela não devesse deixá-la sozinha.
Levantou da cadeira, deixando algumas notas amassadas, e correu até a saída do hospital. Ela estava de cabeça baixa, encostada em uma parede, tão sem rumo quanto a mulher que ofegava em sua direção.
— Ei.
Sua cabeça se ergueu. Sua bochecha já úmida com lágrimas.
— Desculpe por isso, eu vou ficar bem, só preciso de um tempo. Não tem que ficar preocupada comig...
Calou-a com um beijo. A agente pôs sua mão em seu rosto, tão macio e delicado, quando sentiu o braço em volta da sua cintura. Seu cabelo estava deplorável, completamente desgrenhado, sua roupa não era das mais confortáveis e ela estava completamente suja e fedida, mas quem se importava? Se estava nos braços dela...
Delicadamente, a agente se afastou, mas permaneceu próxima do rosto de Antonieta.
— Eu preciso de um tempo pra organizar minha vida. Eu não sou fácil, mas quero melhorar pra você. Não quero que você suma. Não quero ficar longe de você. Não posso ficar, você entende?
— Não irei muito longe, eu prometo.
— Acho bom, porque sabe que vou te achar, não importa aonde você vá.
— Eu estarei por perto, não se preocupe.
Elas se despediram, e ambas decidiram ir se encontrar. Esperta como era, tinha guardado um bom dinheiro de sua mesada e das jóias vendidas que seu pai tinha lhe dado. Teria tempo mais do que suficiente para se organizar e descobrir o que ela queria fazer com a própria vida. Sem ninguém para obrigá-la a ser quem não era.
A agente 13 estava segura, Antonieta estava segura, e Henrique e seus comparsas presos. E definitivamente, ela precisava de um banho.
A volta para casa fora rápida, visto que ela dormira a viagem toda. Depois de um banho e de forrar o estômago, havia algo que ela precisava fazer. Necessitava, na verdade. E fez questão que a operação encerrasse um dia antes para que pudesse ir até lá.
A agente saiu de casa e andou vagamente pelas ruas sombrias do subúrbio. Aquele lugar um dia fora radiante com a luz do sol banhando as águas límpidas. A brisa que soprava para quem passava pela calçada próxima a estação de trem lhe dava uma sensação vaga de calmaria. Tornando os dias chuvosos e revoltos, uma verdadeira tempestade. Contudo, ao caminhar por ali, o cenário era diferente do que costumava ser. Não era novidade alguma que a classe trabalhadora, socialmente rebaixada, vivia em estado precário. A agente passou por uma família com cinco pessoas que dividia meio pão dormido e mofado. Um pouco mais a frente, um casal estava deitado ao chão, abraçados, com quase nada de roupa e sem qualquer proteção contra uma brisa mais gelada que poderia chegar a qualquer momento.
A contragosto, ela seguiu seu caminho sem olhar para os lados. Sabia que se continuasse, sairia dali com o coração mais partido do que já estava.
Em um cenário como aquele, a tarde anterior lhe causava ainda mais repulsa. Homens e mulheres que eram podres de alma tinham dinheiro para salvar milhares de famílias como aquelas e ainda teria o suficiente para viver sua vida luxuosa, mas preferiam gastar em champanhes caros e jóias que não faziam a menor diferença em suas vidas.
Com a respiração pesada, ela fechou os punhos dentro dos bolsos de seu casaco preto de couro e tentou não se lembrar do tanto de desperdício e horror que presenciara nos últimos meses, em especial no dia anterior, com tantas daquelas crianças sendo leiloadas. Seu único conforto era saber que elas voltariam para suas casas ou encontrariam uma muito em breve. Todas aquelas pessoas teriam suas vidas de volta. Não seria uma continuação, estava mais para um recomeço, mas elas teriam o controle de suas vidas novamente. E com o programa de assistência médica elas poderiam consultar-se com psicólogos, que ajudariam a lidar com os traumas vívidos nos dias mais sombrios de suas vidas.
A agente 12 parou em frente a um cemitério, aquietando seus pensamentos frenéticos. Se havia algo que ela aprendera com sua mãe, era a importância de manter sua mente e seu corpo saudável, e de sempre fazer algo pelos outros. Ela soltou a respiração e entrou. Não era nada incomum estar ali, então não tinha motivos para nervosismo.
Ela sumiu a ladeira íngreme para chegar ao túmulo de Christina. Havia flores frescas e não se indagou sobre elas, conhecia bem o mandante.
A agente se agachou, olhando para baixo, sem saber como começar com tanta coisa a ser dita.
— Às vezes me pergunto se estou fazendo direito, mamãe. Se essa profissão é realmente pra mim. A senhora sabe, eu nunca a quis de verdade. Mas o papai... Ele me fez entrar nela e agora não consigo sair. Eu estou tão confusa sobre tanta coisa. Só queria que estivesse aqui.
Ela suspirou, segurando o gramado que cobria todo o território do cemitério. A grama não era tão verde, mas pelo menos estava limpa.
— Maldito governo.
Ela balançou a cabeça e riu, deixando uma lágrima escorrer.
— Nem acredito que disse isso. Eu trabalho pra esses merdas.
A agente levantou e fungou, limpando o rosto.
— Te vejo em breve, mamãe.
A agente 12 saiu do cemitério com mais perguntas do que resposta.
***
— Ela está tão linda.
— Há quanto tempo não se vêem?
— Não sei. Alguns anos.
— Por que não foi falar com ela?
Ele olhou para dentro do carro.
— Não temos nada para conversar. Agora cale-se e dirija.
— Sim senhor.
René voltou a olhar para frente e não mais pelo retrovisor, ao começar a dirigir. Porém, não podia deixar de ver o quanto seu chefe parecia mexido ao rever a filha. Era um dia triste para ambos e era a primeira vez em anos que ele a via por ali. O destino não quisera que eles se encontrassem antes. Afinal, ambos iam todos os anos e às vezes mais de uma vez, visitar aquele cemitério e nunca tinham se esbarrado. O que ele se indagava era porque agora. Justamente quando eles estavam tão perto de concluir seus planos.
***
A agente 12 voltou a caminhar pelas ruas maltratadas e deprimentes, justamente por pessoas mais pobres freqüentarem aquele lugar. Era deplorável que o governo tivesse abandonado a todos à própria sorte, passando a viver e trabalhar apenas para as áreas nobres.
Dois quilômetros depois de caminhada, tinha um casal segurando um bebê. Ela ainda podia ver os rastros de sangue saindo da vagina da mãe e o cordão umbilical havia sido cortado grosseiramente. A mulher estava pálida e suando frio, além de inconsciente, o que preocupou-a de imediato. A agente não conseguiu dar nem mais um passo depois que avistou-a. O homem segurava a criança, que dormia como um anjo. Lagrimas molhavam seu rosto.
A Major não conseguia ignorar aquilo. Ela tentou dar um passo, seguir em frente, mas era tarde demais. A imagem em sua mente iria perturbá-la até o fim de seus dias. Com o coração palpitando, ela se aproximou para o homem.
— Senhor, precisam de ajuda?
— Leve esta criança daqui.
Ele ofereceu o bebê para ela.
— O quê? Como assim? O senhor não a quer?
— Não! Não está vendo o que ela fez com minha esposa? Ela a matou! Minha mulher está morta!
O corpo da Major estremeceu completamente. Não era como se nunca tivesse visto um corpo. Mas a maneira como aquela mulher estava... A situação em que se encontrava... Era totalmente desumana. Não havia outra definição que pudesse passar pela mente da agente.
O homem passou de furioso e chocado para calmo e deprimido, derramando lágrimas que se misturavam ao suor e a sujeira.
— Não tivemos condições de pagar o tratamento pra doença dela. Falimos completamente e viemos morar aqui, pouco antes de descobrir que ela estava grávida de dois meses. Não tínhamos como pagar o parto... Por favor, só a leve daqui. Ela merece um lugar melhor.
A Major olhou para a menina, com sobrancelhas finas e sem qualquer fio de cabelo no topo de sua pequena e frágil cabeça. Era tão doce e linda. A coisa mais bela de todas.
— E o senhor? Como vai ficar?
— Não resta nada para mim, minha senhora. Vou ver até o dia que Deus quiser me levar. Apenas dê um bom lar para ela.
— Qual o nome dela?
— Não tínhamos decidido, mas pensamos em Christina.
Os olhos da agente marejaram e as lágrimas desceram sem qualquer controle. Seu peito expandiu em um misto de dor, agonia e esperança.
— Por que está chorando?
— É o nome da minha mãe. Ela morreu de câncer porque não tínhamos como pagar o tratamento.
O homem ficou em silêncio, olhando para o corpo da sua esposa.
— Eu sinto muito.
A agente precisou de algum tempo para absorver a atmosfera traumática e carregada de sofrimento, antes de ligar para uma ambulância que levaria a criança para cuidados médicos e o carro do IML, para o corpo da mãe. Mas antes que eles chegassem, ela fez questão de comprar algo para aquele homem comer e lhe prometeu abrigo e moradia, além de arranjar algo para fazer com a própria vida.
Aquela tarde fora exaustiva, mas a Major estava radiante no final do dia. A bebê estava bem, o homem, apesar de desnutrido e desidratado, sua saúde era boa e ele logo estaria de alta, para iniciar os trabalhos na casa de praia da agente 12, que resolvera contratá-lo para tomar conta enquanto ela estivesse fora. Sua esposa teria um enterro digno e a pequena Christina iria saber e conhecer a história da sua mãe guerreira que lutou bravamente contra o sistema para se ter um recurso básico que deveria ser direito de todos: a saúde.
Eram quatro da manhã quando gritos despertaram a agente. Mas não era o tipo de grito que a faria pôr a mão embaixo do travesseiro para pegar sua arma. Era um grito de fome. Ou talvez fralda suja.Ela caminhou com os olhos entre abertos. Tateou a parede para chegar ao quarto ao lado do seu, onde um bercinho tinha sido montado de última hora.— Oi coisinha. O que você tem?Ela tinha zero experiência com crianças, mas havia assistido algumas aulas educacionais sobre o comportamento de bebês. Uma forma de traumatizar as crianças para que evitasse uma gravidez precoce. A vida de mãe devia ter assustado a agente, mas sempre lhe fascinou. Contudo, não achava que poderia fazer aquilo sozinha.Com a ajuda de um banco de doação de leite, ela pôde alimentar a pequena, que parou de chorar depois que se alimentara. De anti mão, a agente trocou sua fralda e deixou-a bem limpinha.— Talvez a gente se dê bem, coisinha.De olhos vidrados, a pequena Christina
A solução veio rápido a mente da espiã. Ela instruiu Elizabeth a vestir as roupas de enfermeiro do homem que encontrava-se ao chão, algemado do lado da cama. Por sorte o uniforme não ficou folgado demais para parecer suspeito. E ela pôs a roupa de hospital, tendo em vista que não sairia andando dali com aquele ferimento a vista. O lençol deixaria óbvio que tinha algo de errado. A agente 13 buscou uma cadeira de rodas que havia sido deixada por algum enfermeiro no corredor e fez a agente 12 sentar-se. A contragosto, ela obedeceu, sabendo que era a única maneira de saírem despercebidas. Elizabeth verificou se estava tudo limpo no corredor e saiu de fininho. Caminhou devagar, cabeça baixa, ainda com dores no corpo. A Major fingiu estar adormecida para não ser reconhecida.Elas foram até o elevador de serviço. Com discrição, Elizabeth cumprimentou alguns médicos e funcionários que passavam, que não estranharam nem o uniforme e muito menos a paciente. Ninguém reconheceu-a ou
O peito da Capitão Elizabeth Reis descia e subia em ritmo frenético, depois de encarar, mais uma vez, a morte. A Major ria, incrédula que tinha dado certo.— Eu sempre quis fazer isso! Sempre deu certo nos filmes.— Isso não é um filme, Major. Estamos lutando por nossas vidas!— Desculpe, mas escapamos, não foi?— Por pura sorte!A Major suspirou. A adrenalina correndo em alta velocidade em sua veia, e o pé indo cada vez fundo no acelerador.— Mantenha a calma agente. Estamos bem e viva.— Não graças a você.— Oh, não?Elizabeth ficou em silêncio. A agente sacudiu a cabeça e ajeitou seu corpo no banco.— Eu não sei porque acredito que alguma coisa possa ser diferente. Que por algum motivo, o final não será o mesmo.— Eu não sou a mesma garota. Fiz besteira, mas crescemos. Me desculpe por isso. Só estou assustada.— Depois ainda perguntam porque nunca trabalhamos juntas.— Eu já entendi Ma
A agente 12 se esforçava para manter os olhos abertos, mas com a mesma velocidade que ela tinha para chegar em um alvo, aquela dor tinha para atingi-la violentamente. Elizabeth se virou para o homem, que não sabia o que fazer com os corpos e os clientes que surgiram em sua loja.— Ei, você, chame uma ambulância, rápido!— Não...— Não uma ova! Você não vai protestar quanto a isso.— Me escute... Por favor. Ele disse que tem um infiltrado na agência. Se... Se descobrem, matam nós duas.Sua voz era falha, mas ela se esforçava para ser clara e enfática no que dizia.— Não temos escolha, Major.— Temos sim. Tem um lugar... Nunca vão nos achar.— Você foi baleada!— Lá podemos cuidar disso. Por favor. Não podemos ir para o hospital.— Lá vai estar cercado de gente nossa, não vão tentar nada.— Você acha mesmo? Assim que a coisa esfriar... Na calada da noite, eles invadem o hospital que ninguém irá descobrir. Somente.
A Major não sentia qualquer tipo de orgulho por ser filha de quem era. Alexander já tinha sido um bom homem, mas a morte de sua esposa o transformou, trazendo para si, o que poderia ter de pior no ser humano. E desde que ele deixou sua criação, tentando lhe forçar a assumir uma responsabilidade que não condizia com seu caráter, ela parou de sentir algo por ele. Mesmo passado mais de uma década, as lembranças ainda eram tão frescas quanto o cheiro do mar que elas acabaram de inalar.— Papai, o que houve? Por que o senhor não fala comigo?Ela havia acabado de chegar da escola e, depois de largar a mochila na sala, se inclinou para beijar o rosto de seu pai que desviou, irritado.— Estou cansado de lidar com tudo isso. Preciso de algum tempo sozinho.— Mas o senhor passa uma boa parte do dia sozinho. Eu fico na escola, depois vou pro curso e pras aulas de Capoeira, só chego de noitezinha.Ele permaneceu com o corpo parado, inclinado para frente, os o
Elizabeth queria perguntar sobre o que ela estava falando, sacudir-lhe os ombros e dizer que elas ficariam bem, que tudo terminaria bem. Mas ela não tinha como ter certeza disso. E pior, sentia que as palavras da Major não eram em vão e que ela tentava lhe preparar para alguma coisa. Para o quê? Esperava que não fosse para o que suas palavras davam a entender. Ela não estava pronta... Ainda tinha que aproveitar mais algum tempo com ela. Precisava disso e apenas nas últimas horas descobrira. Com um suspiro pesado, ela voltou a cozinha, se perguntando o que seria das próximas horas.Depois do jantar improvisado, a Major permaneceu sentada no sofá, sem parar de encarar o mar revolto. A lua estava cheia e iluminava as águas cristalinas como uma luz cheia de beleza e graça, impondo-se de forma que apenas o sol poderia lhe tirar dali. Elizabeth lhe fazia companhia, mas sem dizer uma palavra.O celular da Major tocou. Ela olhou para o nome escrito na tela e lágrimas brota
Elizabeth ficara parada, sem saber o que fazer para impedi-la.No fim, sabia que não havia saída. Que não importava o que dissesse, demonstrasse, a Major estava decidida. Seu arrependimento nunca fora tão grande. O tanto de tempo que elas perderam... Tudo apenas por medo, vergonha de si mesma. Seu pai sempre dissera que ser gay era a maior vergonha que alguém poderia dar a um familiar e ela aceitara isso. Se prendera dentro de si mesma, enfrentando relacionamentos banais, aceitando viver qualquer migalha de amor, para satisfazer o ego da sua família. Mesmo depois de adulta, não deixara de tentar agradá-los, namorando homens escrotos, vivendo relações sem qualquer sentimento, perdendo anos da sua vida em busca de algo que estava bem a sua frente.A Major terminou de colocar tudo que precisaria no carro, o que não era muito. Ela deixou as coisas arrumadas e se encaminhou para o carro.— Quer que eu a deixe na agência?— Eu vou com você.
Elas caminharam mata a dentro. Havia uma pequena floresta em volta dos cercos elétricos. A Major segurava uma AK 49, que era semelhante a AK 47, só que modificada, com visão infravermelha, alcance de quase 900 metros e balas ainda mais rápidas e leves, causando efeitos catastróficos. A agente 13 carregava uma M16, também modificada, com alcance superior a um quilômetro e um sistema que só destravava com uma digital reconhecida e ajustada no sistema, coisa que a Major havia feito muito rapidamente em seu computador portátil. Antonieta levava consigo uma M1911, calibre 45, de eficaz alcance em até 200 metros. A Major coordenou a formação, onde ela e Elizabeth iam lado a lado, em passos rápidos e silenciosos, enquanto Antonieta ficava atrás, cobrindo-as por trás e se protegendo.De repente, um estalo as fizeram parar. A Major ergueu o punho fechado e prendeu a respiração. Devagar, ela se agachou, pegando uma pequena folha e jogando a menos de 1 metro de distância