"A vida é curta demais para se preocupar com a opinião dos outros"
27 de Outubro de 2256
Era pra ser um dia comum, aquele a qual Alexander jamais esqueceu. Ele abriu os olhos pela primeira vez no dia e a clareza iluminou suas íris castanhas. Ao piscar, deu-se conta de que não havia ninguém ao seu lado. Em seu despertar, não se preocupou, apenas levantou e foi a janela ouvir os raros pássaros cantarem. As cortinas vermelhas se abriram automaticamente conforme ele se aproximava e, por mais que não fosse chegado a tanta tecnologia, era inegável a beleza dos edifícios enormes, perfeitamente bem desenhados e construídos, com estruturas fantásticas e em formatos cada vez mais surpreendentes.
— Bom dia, Alexander. Está a 39°C. Deveria usar roupas de tecido leve e beber bastante água para aliviar o calor.
Disse uma voz mecânica. Ele suspirou, tendo de imaginar trabalhar em um local tão fechado e com pouco sistema de ventilação no calor que estava fazendo.
— Obrigado, Lucy.
— Já acordou, querido?
Alexander girou seu corpo em direção a porta e lá estava ela. A razão dele acordar todos os dias, disposto a enfrentar sol quente, chuva forte, tempestades e tudo o que fosse necessário para simplesmente ver um sorriso no rosto angelical de sua esposa.
— Bom dia meu amor. Dormiu bem?
— Como um anjo. Toma, trouxe seu café.
— Não era necessário, meu bem.
— Não é nada demais. Precisa se alimentar, o dia hoje vai ser um teste para o inferno.
— Se eu passar, não temerei mais nada em minha vida.
Com um sorriso, ambos se encontraram na cama e tomaram café juntos. Um servindo ao outro guloseimas e frutas na boca. O clima era não apenas de puro romance. Mas um amor vivo e intenso nos gestos mais simples. E a maior prova deles, entrou no quarto feito furacão.
— Mamãe! Mamãe! Quer ver o golpe novo que eu aprendi?
— Meu bem, por que não vai tomar seu café e trocar de roupa? Não queremos chegar atrasada para aula de novo.
— Sua mãe tem razão. Depois você mostra pra ela o seu golpe.
O pequeno furacão murchou o sorriso e o brilho diminuiu, mas a luz em volta de sua áurea permanecia tão acesa quanto o de uma estrela.
A jovem saiu do quarto cabisbaixa, pronta para obedecer as ordens lhe dada.
Ela sempre fora uma garota inteligente, dedicada e obediente. Alexander agradecia por ela ter puxado mais o gênio de Christina do que o dele. Sabia que ensiná-la e ajudá-la a crescer seria mais fácil se fosse mais parecida com a mãe do que com ele.
— Não sei porque insistiu em colocá-la nessas aulas de Taekwondo.
— Não há nada de errado em uma garotinha aprender a se defender. Na verdade, toda escola deveria ensinar. As mulheres estão sujeitas a muitas coisas nesse mundo, meu amor.
— Eu sei, mas não quero que seja demais pra ela. Tem noção de que em menos de um ano ela estará aprendendo sobre educação sexual?
— Não precisamos fazer isso se não quiser.
— Não é isso. Só estou nervosa. É muito bom que ela aprenda desde cedo tudo sobre essas questões pra que não haja dúvida em qualquer situação. Mas fico com receio dela estar crescendo muito rápido.
Alexander pegou a mão de sua esposa, levou lentamente ao lábio e sorriu, beijando-a.
— Fique tranquila, meu amor, teremos bastante tempo para curti-la e ensinar muitas outras coisas.
Ela deu um leve sorriso e meneou com a cabeça.
— Eu confio no que você diz.
Alexander sorriu e se aproximou para beijar a esposa. Estavam juntos há quase quinze anos e ele ainda gostava de segurar os cabelos longos e cacheados enquanto se aproximava dela para beijá-la ardentemente. Os olhos se encontraram rapidamente antes de se entregarem um ao outro, durante breves minutos de carícia e paixão ardente. Isso claro, depois de Alexander trancar a porta.
Um pouco mais tarde, Christina acompanhou sua filha até a porta da escola, bem perto de casa.
— Mãe, posso fazer uma pergunta?
— Claro meu bem.
— Tem problema eu ser negra?
— Como assim meu amor?
Christina enrugou a testa, o coração batendo apressado. Apesar de viverem em épocas menos sombrias, ela ainda temia muito pela vida de sua prole e pela sua própria apenas por não terem nascido brancas.
— Tipo, tem algo de errado com a cor da minha pele? Ninguém faz amizade comigo.
O tom triste da voz de sua filha deixou o coração de Christina em frangalhos. Ela engoliu em seco, sufocando a dor que lhe abateu ao ouvir aquelas palavras, e se agachou perante sua pequena.
— Ah, minha querida. O problema não é você, pode ter certeza. Eles que são idiotas se não a querem como amiga.
— E se... Se eu... Gostar de meninas? A senhora ainda vai me amar?
Christina paralisou por um instante e depois riu, afagando as costas de sua filha ao ver a expressão de medo e terror.
— Não me importo com isso meu amor. Somente que você fique bem e seja feliz, tá bom?
Ela balançou a cabeça positivamente e abraçou sua mãe com tanta força que Christina achou que estava sendo enforcada. Com um sorriso e um tchauzinho, ela se despediu da filha, para o que deveria ser um dia comum.
A jovenzinha não sabia qual o motivo de não quererem falar com ela. Ela estava há quase três meses estudando ali e não tinha feito nenhuma amizade. E não fora por falta de esforço. Durante atividades em grupo, tentou interagir com seus colegas que respectivamente a deixavam de fora e ela tivera de fazer sua própria atividade.
Ela entrou na sala, acanhada e quieta como de costume. Andou entre as fileiras com cadeiras e sentou na última cadeira da última fileira. Estava prestes a se aconchegar na mesa até a chegada da professora, quando sua paixonite entrou na sala, sorrindo para colegas. Ela sentou na primeira fileira, rodeada de amigos.
A jovem não tinha inveja dela, e sim das pessoas próximas a ela, que tinham a oportunidade de estar em sua companhia. Ela admirava a garota como seu pai olhava para sua esposa. E inevitavelmente, um colega ao lado notou a expressão de paixão em direção a Elizabeth.
— Ih, a esquisitona está apaixonada pela Liza!
Choveu gargalhadas enquanto Elizabeth direcionava o olhar para a garota estranha no canto da sala.
— Tá falando do quê, Felipe?
— Essa garota esquisita estava praticamente babando por você. Eu vi o olhar de admiração. Acho que ela está apaixonada!
A pré-adolescente enrusbeceu e enfiou a cara entre os braços, em cima da mesa. Ela ouviu o arrastar de cadeiras e passos com o coração disparando feito bomba. Torcia apenas para ao erguer o olhar, não encontrar as íris marrons que causavam borboletas em seu estômago.
— O que ele disse é verdade?
Elizabeth questionou, de braços cruzados perante a garota que parecia tremer. Engolindo em seco, a filha única de Alexander e Christina encarou o rosto que via em seus sonhos mais estranhos e românticos.
— Talvez...
Os outros a volta riram. Elizabeth não podia deixar que aquilo continuasse. Seu peito queria explodir, mas a sala inteira estava ao seu lado, aguardando o fim do espetáculo.
— Vou te dar um conselho garota: me esquece, não sou para o teu bico e nem mesmo gostaria de você, caso eu fosse anormal como você.
A garota murchou o olhar e sua coragem tinha ido para o espaço. Seu peito tinha sido esmagado como se um caminhão passasse por cima de uma laranja. Seu estômago se revirou de tal forma que ela duvidava se recuperar tão cedo de uma rejeição como aquela.
— Que aglomeração é essa?
Indagou Joilma, a professora que daria a primeira aula do dia, que, para surpresa nenhuma, tinha se atrasado.
— Não é nada demais, professora.
Informou Elizabeth, lançando um olhar de repulsa para sua admiradora.
— É só que a novata esquisita está afim da Liza, professora. E ela foi deixar bem claro que ela não tem qualquer chance.
Paula, uma das amigas mais próximas de Elizabeth, avisou a professora, que por um instante sentiu pena da pobre garota e quis consolá-la, mas se fosse fazê-lo, poderia causar ainda mais constrangimento a pobre garota.
— Nunca conheci alguém tão patético, bobo e sonhador a ponto de se iludir comigo. É uma doida mesmo. Nem em seus sonhos mais estranhos você conseguiria, meu bem.
Se ela pudesse sorriria com a lembrança em que em seus sonhos tudo era possível e gostaria de ter levantado e gritado aquilo, mas de nada adiantaria. Apenas traria motivo para mais piadas.
Ela se calou, deprimida pela humilhação que sofrera.
A aula prosseguiu normalmente até o intervalo. Ela escolhera permanecer sozinha em sala de aula, para que pudesse pensar e sofrer em paz com sua própria dor e frustração. Elizabeth não era obrigada a gostar dela, mas não havia necessidade de todo aquele show apenas para mostrar-se superior. E esta fora a conclusão quando a aula acabou.
Ela tinha pensado que seu tormento naquele dia havia acabado, mas, ao pisar os pés para fora da sala, fora alvo de uma chuva de ovos, café e farinha. Uma brincadeira para atrair ainda mais atenção para ela e claro, para poder fechar com chave de ouro o ciclo de humilhação. Elizabeth estava lá, rindo à toa, logo na primeira fila, segurando um ovo.
Aquela garota não sabia o que fazer. Se chorava ou se mandava todos para o inferno. Por fim, ela atravessou a multidão de alunos risonhos e saiu da escola de coração partido e orgulho manchado. Havia uma determinação crescendo dentro dela. Ali mesmo, ela começou a transformar sua dor em uma arma.
Durante o caminho, conseguiu diminuir o excesso dos produtos. Mas apenas três banhos depois que o fedor de ovo diminuira. Ao fim daquele ciclo quase interminável de chuveiro, ela ouviu gritos. Logo correu na direção que os tinha escutado e sua mãe estava convulsionando no chão.
— Mãe! O que está acontecendo? Papai?
— A ambulância está chegando meu amor, não se preocupe. Você vai ficar bem, tá legal? Vai ficar tudo bem.
Sussurrou desesperado, em meio a carícias na bochecha pálida da esposa, ignorando a chegada brusca de sua filha.
Nada ficou bem naquele dia. A jovem garota passou horas no hospital ao lado de seu pai, aguardando boas novidades. Mas as notícias estavam longe de ser boas. O médico deu um diagnóstico mais do que preciso: câncer. A paciente relatou, junto ao médico, as dores que sofrera nos últimos dias e a suspeita se confirmou com os exames. Desesperado, Alexander mal assimilou esta notícia, quando o médico precisou ser chamado com urgência. Naquele instante, ele nem imaginava que se tornaria pai viúvo.
Apesar de alguns tipos de câncer conter uma cura, o custo para tal era extremamente alto e, inconformado, um pobre homem precisou aceitar que nem toda tecnologia do mundo salvaria sua esposa.
No dia seguinte, a jovem garota tinha se transformado em outra pessoa. Tinha um visual mais sombrio e naquele dia, quis usar óculos escuros para que ninguém visse suas olheiras profundas e sua dor.
Quando a jovem sentou na cadeira, com um olhar tão frio e a postura austera, Elizabeth também não era mais a mesma pessoa de antes. Algo tinha mudado dentro dela. Porém era tarde demais para se redimir.
26 de Outubro de 2272A agente doze depositou sua pequena bolsa em silêncio, em cima do balcão. Seus olhos encararam o reflexo da porta semiaberta do banheiro individual. O sorriso escancarado no rosto da dama sentada a latrina era mais do que convidativo. Ela não estava fazendo absolutamente nada. Apenas esperando-a. A agente se virou, sem contato visual.— O que está esperando?Indagou, mansa e sorridente. Ela levantou e caminhou vagarosa em sua direção. Seu perfume invadiu as narinas da agente e só então, ela ergueu os olhos para o monumento azul que eram suas íris. Tão raras quanto as de seu pai.— Você me enlouquece, Angélica.— E o que vai fazer?— Isso.Ela colou seu corpo ao de Angélica e aproximou sua boca pequena e faminta. Seus lábios grandes tomaram-na sem pressa.Tinha de confessar que, apesar de estar sob disfarce, ela adorava estar acompanhada daquela mulher. Ela era a única naque
Antonieta, que estava sentada ao seu lado, segurou sua mão e apertou-a. Ela abaixou a cabeça por um segundo, limpando seu rosto. Os olhos de Henrique brilhavam demais para notar qualquer coisa.— Você está bem?A jovem sussurrou. Ela negou com a cabeça.— Não.— Quer sair daqui?— Não posso. Não agora.Olhou novamente para o palco, onde se encontrava o novo item de poder que logo seria vendido como um pedaço de carne. Em seu olhar jazia sofrimento, dor e arrependimento. Ela não tinha ideia do que havia acontecido para ela ter ido parar ali. E seu maior medo era que todo o plano tivesse ido por água abaixo e eles não viessem. Que ninguém entraria pela porta principal nos próximos cinco minutos. E isso não a apavorava pela ideia de morrer, mas de não poder salvá-la.— Você a conhece?Antonieta sussurrou novamente em seu ouvido. Ela inclinou-se com cuidado.— Essa é a garota de quem te falei.— Essa? Sério?Assentiu, ten
Major Albuquerque ainda usava o vestido da noite anterior, quando se sentou na cafeteria do hospital. Antonieta ficara em silêncio.— Então, o que vai fazer?— Eu não sei. Pela primeira vez em anos, eu não tenho um lugar pra ir. Essa é a sensação?— De que?— De liberdade?Ela não se lembrava. Deste o instante em que conseguiu entrar pra família Bitencourt, seus dias foram vigiados por meia dúzia de seguranças atentos e nada discretos. Seus únicos momentos sozinha era durante o banho. Quando ela não tinha a companhia das mãos nojentas passeando por seu corpo. O pensamento a fez desejar um banho com a maior das urgências.— Acho que sim.— Como você se sente? Foram meses longos.— Ainda não tive tempo pra assimilar tudo o que aconteceu.Ela assentiu. Um garçom-robô trouxe os pedidos e a agente ficou em silêncio, encarando aquele copo de café fumegando. Ela não era nenhuma viciada em cafeína ou coisa do tipo, mas uma parte de
Eram quatro da manhã quando gritos despertaram a agente. Mas não era o tipo de grito que a faria pôr a mão embaixo do travesseiro para pegar sua arma. Era um grito de fome. Ou talvez fralda suja.Ela caminhou com os olhos entre abertos. Tateou a parede para chegar ao quarto ao lado do seu, onde um bercinho tinha sido montado de última hora.— Oi coisinha. O que você tem?Ela tinha zero experiência com crianças, mas havia assistido algumas aulas educacionais sobre o comportamento de bebês. Uma forma de traumatizar as crianças para que evitasse uma gravidez precoce. A vida de mãe devia ter assustado a agente, mas sempre lhe fascinou. Contudo, não achava que poderia fazer aquilo sozinha.Com a ajuda de um banco de doação de leite, ela pôde alimentar a pequena, que parou de chorar depois que se alimentara. De anti mão, a agente trocou sua fralda e deixou-a bem limpinha.— Talvez a gente se dê bem, coisinha.De olhos vidrados, a pequena Christina
A solução veio rápido a mente da espiã. Ela instruiu Elizabeth a vestir as roupas de enfermeiro do homem que encontrava-se ao chão, algemado do lado da cama. Por sorte o uniforme não ficou folgado demais para parecer suspeito. E ela pôs a roupa de hospital, tendo em vista que não sairia andando dali com aquele ferimento a vista. O lençol deixaria óbvio que tinha algo de errado. A agente 13 buscou uma cadeira de rodas que havia sido deixada por algum enfermeiro no corredor e fez a agente 12 sentar-se. A contragosto, ela obedeceu, sabendo que era a única maneira de saírem despercebidas. Elizabeth verificou se estava tudo limpo no corredor e saiu de fininho. Caminhou devagar, cabeça baixa, ainda com dores no corpo. A Major fingiu estar adormecida para não ser reconhecida.Elas foram até o elevador de serviço. Com discrição, Elizabeth cumprimentou alguns médicos e funcionários que passavam, que não estranharam nem o uniforme e muito menos a paciente. Ninguém reconheceu-a ou
O peito da Capitão Elizabeth Reis descia e subia em ritmo frenético, depois de encarar, mais uma vez, a morte. A Major ria, incrédula que tinha dado certo.— Eu sempre quis fazer isso! Sempre deu certo nos filmes.— Isso não é um filme, Major. Estamos lutando por nossas vidas!— Desculpe, mas escapamos, não foi?— Por pura sorte!A Major suspirou. A adrenalina correndo em alta velocidade em sua veia, e o pé indo cada vez fundo no acelerador.— Mantenha a calma agente. Estamos bem e viva.— Não graças a você.— Oh, não?Elizabeth ficou em silêncio. A agente sacudiu a cabeça e ajeitou seu corpo no banco.— Eu não sei porque acredito que alguma coisa possa ser diferente. Que por algum motivo, o final não será o mesmo.— Eu não sou a mesma garota. Fiz besteira, mas crescemos. Me desculpe por isso. Só estou assustada.— Depois ainda perguntam porque nunca trabalhamos juntas.— Eu já entendi Ma
A agente 12 se esforçava para manter os olhos abertos, mas com a mesma velocidade que ela tinha para chegar em um alvo, aquela dor tinha para atingi-la violentamente. Elizabeth se virou para o homem, que não sabia o que fazer com os corpos e os clientes que surgiram em sua loja.— Ei, você, chame uma ambulância, rápido!— Não...— Não uma ova! Você não vai protestar quanto a isso.— Me escute... Por favor. Ele disse que tem um infiltrado na agência. Se... Se descobrem, matam nós duas.Sua voz era falha, mas ela se esforçava para ser clara e enfática no que dizia.— Não temos escolha, Major.— Temos sim. Tem um lugar... Nunca vão nos achar.— Você foi baleada!— Lá podemos cuidar disso. Por favor. Não podemos ir para o hospital.— Lá vai estar cercado de gente nossa, não vão tentar nada.— Você acha mesmo? Assim que a coisa esfriar... Na calada da noite, eles invadem o hospital que ninguém irá descobrir. Somente.
A Major não sentia qualquer tipo de orgulho por ser filha de quem era. Alexander já tinha sido um bom homem, mas a morte de sua esposa o transformou, trazendo para si, o que poderia ter de pior no ser humano. E desde que ele deixou sua criação, tentando lhe forçar a assumir uma responsabilidade que não condizia com seu caráter, ela parou de sentir algo por ele. Mesmo passado mais de uma década, as lembranças ainda eram tão frescas quanto o cheiro do mar que elas acabaram de inalar.— Papai, o que houve? Por que o senhor não fala comigo?Ela havia acabado de chegar da escola e, depois de largar a mochila na sala, se inclinou para beijar o rosto de seu pai que desviou, irritado.— Estou cansado de lidar com tudo isso. Preciso de algum tempo sozinho.— Mas o senhor passa uma boa parte do dia sozinho. Eu fico na escola, depois vou pro curso e pras aulas de Capoeira, só chego de noitezinha.Ele permaneceu com o corpo parado, inclinado para frente, os o