Jheniffer e Apollo terminaram o café. Pouco depois, o casal sentou-se, confortavelmente, no sofá. Théo veio da sacada e pulou no colo dela. - Pela sua cara, lá vem bomba.- Sim. E das grandes. Falando em bomba, sabia que a bomba atômica não era pra ter caído em Hiroshima?- Não sabia. Era pra ter caído aonde, em Araçatuba, onde tem muitos japoneses?- Não. Araçatuba e região têm muitos descendentes de japoneses, é verdade. Não era Araçatuba, amor. O alvo era outra cidade, não me lembro o nome mas não era Hiroshima. Acontece que o vôo para a cidade alvo estava compromisso pelo mau tempo. Isso faria abortar a operação de jogar a bomba atômica e forçar o Japão a se render. Informações chegaram que o tempo em Hiroshima estava bom e com ótima visibilidade. O fator clima decidiu que a bomba seria lançada sobre a cidade, o que aconteceu.- Puxa. Vivendo e aprendendo. Voltemos ao Humberto.- Ele estava no velório da Consuelo, Jheniffer. Sabe disso. A novidade é que ele foi procurar um banhei
Sem palavras. Assim estava Jheniffer, após a conversa com Apollo. - Por favor, levante-se.Ele a obedeceu, ainda que sem entender. Jheniffer se levantou e o abraçou. Um carinho demorado, os corpos colados. Apollo deu vazão ao sentimento e as lágrimas dele molharam o ombro dela. Jheniffer também estava emocionada. Eles se beijaram e voltaram as cadeiras.- Obrigado. Eu precisava de um abraço.- Não é só você que lê pensamentos. Depois dessas revelações de Humberto, verdadeiras bombas ainda que a gente desconfiasse, é cruel saber que tudo se confirmou. Tiraram Manoela de você, amor. Podaram a felicidade e o futuro de vocês dois.- É verdade. Saber disso tudo é insano. Tiraram a filha da Consuelo também. Manoela tinha planos espetaculares para a fundação também, uma visão inovadora sempre pautada no respeito e integração dos refugiados. Sua proposta era expandir aos poucos, com recursos próprios.- E os filhos de vocês? Fazia planos?- Sim. Queria dois filhos, um casal. - Já falou com
Jheniffer e Apollo chegaram ao hotel, onde Humberto estava hospedado. Apollo ligou para o rapaz.- Humberto, é o Apollo. Podemos subir?- Sim. Trouxe a Jheniffer?- Ela quis vir para vê-lo.- Não vai ver grande coisa ou a sétima maravilha do mundo mas podem subir. É o quarto 43.Minutos depois, o casal entrou no quarto. Humberto os recebeu com alegria.- Apollo. Que bom receber visitas. Bem vindos ao hotel.- Não se alegre muito, vai me ver quase sempre.- Isso é bom. Jheniffer, obrigada por vir.- Olá, Humberto. Não poderia deixar o Apollo vir sozinho. Da última vez que se viram, ficaram conversando por horas.- Não se preocupe. Ele será só seu. Você está linda, como sempre.- São seus olhos, Humberto. Me alegra ver que está bem, apesar dos pesares. O braço engessado.- Verdade. Estou vivo e isso é motivo de gratidão, ao mundo e ao nosso criador. Que percebi que gosta muito de mim. Apollo tem sido fantástico. Você tem um noivo de ouro.- Com certeza, amigo. - Como você está? - Mel
A noite chegou e trouxe consigo a chuva. - A noite pede uma sopa, o que acha?- Perfeito, Jheniffer. Tenho que verificar se temos todos os ingredientes.- Vou tomar um banho e escolher um filme pra gente ver.- Está bem. Já vi que a janta sobrou pra mim.- É a desvantagem de cozinhar muito bem.- Vou encarar isso como um elogio. Quando tinha sopa no seminário, não podia faltar pão francês, pra acompanhar e dar sustância. Os italianos são assim, gostam de tomar sopa comendo pão. E com as mãos, nada de cortar o pão com faca.- Interessante.- Certa vez, a cozinheira fez sopa no inverno. Cidade serrana, uma noite de um frio de rachar. Não havia pão. O reitor, um padre italiano de Florença, ficou muito bravo. Deu a ordem para não servirem a sopa, até que ele retornasse com pães. Os quarenta alunos tiveram que esperar. O reitor chamou eu e outro aluno. Numa Kombi, rodamos a cidade atrás de uma padaria aberta. Achamos uma, para alegria geral, principalmente do reitor. Dois sacos de pães, e
Apollo atendeu o Interfone. Era o porteiro, anunciando a chegada de Bianca e os diretores.- Obrigado, senhor Marcos. Estão autorizados a subir.Jheniffer veio do quarto.- Estou ansiosa. Como estou?- Precisa da minha opinião? Linda, como sempre.- Básica. Só não consigo disfarçar a cara de... você sabe o que.Eles ouviram o sinal do elevador chegando e abrindo no andar. Apollo abriu a porta. Bianca estava a frente e sorriu.- Boa noite. Apollo, desculpa a surpresa.- Boa noite. Tudo bem, Bianca. Espero que bons ventos a trouxeram.- Oxalá fossem bons ventos. Esses são Olivares e Rômulo, diretores da fundação.- Sejam bem vindos. Já conheço Olivares de longa data. Entrem.Bianca abriu os braços, ao ver Jheniffer.- Olá, Jheniffer. Primeiramente, está linda. Puxa, que apartamento luxuoso, adorei. Segundo, desculpa a nossa vinda tão abrupta.- Tudo bem, Bianca. Você está linda também. É um prazer receber pessoas do bem.- Esses são Olivares e Rômulo, da fundação.Jheniffer os cumprimen
Jheniffer e Apollo se entreolharam, surpresos. Bianca juntou as mãos, como numa prece para que a resposta dele fosse positiva.- Como assim, CEO?!Apollo gaguejou.- Me reuni com os diretores e advogados da fundação. Chegamos no consenso de que não há pessoa mais capaz que você, Apollo, para reconstruir o projeto. Lógico que sabemos da sua oposição inicial a essa causa. Não apenas sua mãe também da tia Consuelo, que Deus a tenha. Admiro a sua entrega a nossa fundação, você que, por muito tempo, foi o nosso rosto.- Ainda é, de certa forma.Interrompeu Olivares.- Verdade, diretor. É impossível desvincular a sua imagem a fundação. Ainda é amado e respeitado, por nossos funcionários e refugiados, pelos prestadores de serviços e agências internacionais. Com a perda da titia, você é quem mais ama aquela fundação, Apollo. Ninguém mais se doou a nossa causa, aos imigrantes e migrantes, às crianças, a cada detalhe nas casas, ao trato humano e carinhoso com todos. Precisamos de firmeza na ret
Jheniffer e Apollo retornaram ao apartamento.- Não tinha pensado por esse lado.- Quando a Bianca garantiu livre acesso aos arquivos e registros da fundação, me deu o estalo na hora, querido. Poderá investigar livremente e sem suspeitas.- De fato, seria uma oportunidade rara. Saber o passado de Velasco e, principalmente da Estela, seria fundamental para resolver essa trama de vez. Você, brilhante como sempre.- Os advogados são bem pagos pra isso. Assessorar e estudar cada item e detalhes, achar brechas e investigar. É ser um pouco filósofo, analisar por todos os ângulos. Por um momento, achei que você iria responder não.- Assim, na lata?- Sim. Na lata da Bianca. Foi até bom ver a moça ajoelhada, implorando seu perdão e pedindo pra que salve o projeto dela.- A vida dá voltas.- Pois é. O mundo não gira, ele capota. Você, que foi contra o projeto, agora é chamado para salvar esse mesmo projeto. Que aliás, não esqueça que foi por causa desse grande e ambicioso projeto que você e Co
- Onde estou?- Como assim, Apollo?! Na nossa casa.Respondeu Jheniffer, assustada pelo fato de Apollo despertar desnorteado. Ela o abraçou com ternura.- Está tudo bem. Teve um pesadelo apenas.- Um sonho estranho. Eu estava no programa Masterchef.- Sério? Pela sua cara, deve ter feito um prato intragável, ruim mesmo. Levou esporro do Fogaça, da Paola e do Jacquin?- Não. Eu ganhei, fui o campeão.- Era pra ter acordado feliz e não desse jeito.- Eu estava procurando a Consuelo, encontrei a Manoela. Tinha uma ilha, algo assim. Não me recordo direito.- Você já me disse, certa vez, que sonhos sempre querem dizer alguma coisa. É preciso distingui os significados. A pessoa que aparece nos sonhos, nem sempre é aquela que a mensagem quer atingir.- Exato. Eu queria conselhos da Consuelo.- Era a pessoa certa para lhe aconselhar sobre a sua decisão de aceitar ou não ser o CEO. Isso é fato.- Mas a Consuelo faleceu.- Sim. Porquê fui até a Manoela?- Porquê ela está no céu. É o que nós acr