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A APOSTA DE JHENIFFER.
A APOSTA DE JHENIFFER.
Por: Marcos Macedo
CAPÍTULO 1. JHENIFFER STUART.

São Paulo, inverno brasileiro.

- Hora de voltar a realidade, bebê.

Jheniffer saiu da cama, dando as costas para Bruno, o rapaz de ombros largos e abdômen trincado, esparramado na cama. Ele admirou o corpo dela. Uma perfeição.  Uma grande tatuagem se destacava nas costas da moça. 

- Linda essa tattoo. O que significa?

Ela se virou.

- É um nó celta, um amuleto. Significa trindade, unidade e eternidade.

- Que profundo.

Ele abraçou o travesseiro.

- Quero fazer um mantra no braço direito, Bruninho.

Jheniffer esvaziou a taça de champanhe. Em seguida, vestiu a lingerie preta.

-Seria capaz de ficar a vida inteira aqui, Jheniffer.

Ela sorriu.

- A vida não é só prazer e glamour.

- Seus treinos têm dado resultado. Você está com um corpo incrível.

- Sei disso. Você não é o único que repara. Tenho que voltar ao trabalho. Vou passar no fórum pra recolher uns documentos.

Ela sentou-se na cama pra calçar as sandálias. Bruno a abraçou.

- Foi mara. Teremos um replay?

Ela colocou o relógio, a pulseira e os brincos.

- Eu decido isso. Proibido se apaixonar ou querer compromisso. Data vênia, nem pense em namoro. Se contente em ser meu crush.

O brilho dos olhos dele sumiu.

- Foi tão ruim assim?

Ela o beijou.

- Foi ótimo.

Ela se levantou e pegou a bolsa, que estava ao lado da roupa e da arma dele, sobre o aparador do quarto de motel. Bruno estava há sete anos na polícia militar.

-Vai mesmo prestar o concurso pra delegado?

- Certamente, doutora Jheniffer. Que acha de me dar algumas aulas?

-Minhas aulas são caras. Quinhentos reais por hora.

 - Caraca, mulher. Muito caro. Melhor pagar um cursinho ou baixar algumas provas de editais anteriores, pela internet.

- Está bem, futuro delegado Bruno Alcântara.

- Esse momento já está gravado no meu coração, Jheniffer. Foi mágico.

Ela o encarou. Bruno era esbelto, lindo. Os  cabelos encaracolados como a estátua de Davi, de Michelangelo. 

- A gente se vê na academia. Beijos.

Ela saiu. Retocou o batom no retrovisor do seu  carro e ligou o rádio. 

- Que homem gostoso, meu Deus. Um macho alfa em extinção. Bom de pegada mas um pouco pegajoso. Já quer namoro depois do primeiro encontro?  Ninguém é perfeito.

Em meio ao trânsito, ela aumentou o volume do rádio quando começou a tocar Girls Like You, do Maroon 5. O celular vibrou.

- Stefany,  sua louca. Sim, estarei às dezoito na FitnessUp. Passo pra lhe pegar. Beijos.

O veículo entrou na garagem do luxuoso edifício, no bairro do Morumbi. Jheniffer saiu do carro, tirando os óculos escuros. A bolsa Prada, a maleta com documentos a tiracolo. Ela caminhou até o elevador. Já no seu apartamento, as mensagens chegavam,  uma após a outra. Ela jogou o aparelho sobre o sofá, assustando seu gato.

- Desculpa, Théo. Vem aqui abraçar a mamãe. Preciso de um banho.

Jheniffer Stuart era uma jovem advogada que primava pela beleza, inteligência e independência. Uma linda morena, de olhos azuis e corpo escultural. Tinha um rosto simétrico, um nariz empinado, a boca carnuda e bem delineada. No queixo,  uma charmosa covinha. Após o banho, ela se jogou no sofá.

- Vamos ver as mensagens. Grupo de família brigando por política. Grupo dos advogados. William chamando pra uma pizza. Não, estou fitness. Se fosse um convite pra um açaí, talvez.  Túlio mandou emojis e escreveu saudades. Só se for de tudo que a gente não viveu. Como essa galera consegue meu celular?

Ela lembrou que havia fixado o cartão de visitas,  do escritório de advocacia,  no mural da academia. No cartão tinha seu telefone de contato.

- Hércules, do Tinder. Não quero outro encontro, fofinho. Tenho que ligar para meus pais em Ribeirão Preto.

Ela foi até a geladeira, onde pegou uma garrafa de isotônico. Já estava de agasalho e tênis. Prendeu os cabelos e ajeitou a viseira rosa. Saiu, levando a toalhinha e a garrafinha de água. A carteira , o celular e as chaves na pochete. O fone de ouvido moderno.

- Estou indo malhar, Théo. Cuida da casa.

O elevador veio até o décimo terceiro andar. Jheniffer entrou e apertou o botão da garagem. O seu perfume francês tomou conta do ambiente. Duas mulheres entraram no elevador, quando esse parou no oitavo andar. Três rapazes entraram no quarto andar. Eles riam e se cutucavam. Jheniffer os ignorou mas escutou quando um deles disse. 

- Não sabia que no seu prédio tinha gente tão linda, Pedrinho. Vou visitá-lo mais vezes.

O celular dela tocou.  O elevador chegou ao térreo, onde as demais pessoas saíram. 

- Juíza Marcela? Não acredito. É sério? Como ele está? O Nascimento saiu às três, estava bem. Puxa vida. No Hospital Redenção, ala sete, quarto cento e dois. Não anotei mas tenho ótima memória. Sei, aquele prédio verde. Vou sim. Fique com Deus.

Ela enxugou as lágrimas. O elevador a deixou na garagem.

- Isso é hora pra ter um princípio de infarto, Nascimento? Você vai ficar bem, meu amigo.

Alfredo do Nascimento era o sócio e melhor amigo de Jheniffer. Mais que isso, era como se fosse um pai. Um experiente advogado. Eles se conheceram na lanchonete da USP, a Universidade de São Paulo, durante uma prova do concurso do INSS, o Instituto Nacional de Seguro Social. Jheniffer, estudante de Direito, estava no balcão da lanchonete quando o advogado e fiscal do concurso chegou. Ele  pediu um lanche, um refrigerante e quatro brigadeiros. 

- Meu Deus, estou sem dinheiro. Vou pagar no cartão, moça.

Nascimento abriu a carteira e entregou um cartão para a atendente. A maquininha recusou o cartão.

- Não lembro a senha desse cartão novo. Deve ser a data de nosso casamento. Marcela sempre faz isso.

-Qual a data, senhor?

- Data? Ah, não me lembro. Será que ela o desbloqueou? Poderia ligar pra minha esposa se a bateria do meu celular não tivesse arriado.

Jheniffer colocou uma nota de cinquenta reais sobre o balcão.

- Pode cobrar, moça. O meu lanche e o dele.

Nascimento se surpreendeu.

- Não se incomode, garota. 

- Eu insisto. Vejo pelo seu  crachá que é fiscal. Falta uma hora pra começar a prova, não vou deixar um amigo esse tempo todo com fome.

Nascimento sorriu.

- Você merece um brigadeiro. Muito obrigado.

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