Jheniffer devolvia os halteres aos seus lugares quando Apollo se aproximou.
- Boa tarde. Vou ajudá-la.
Ela sorriu.
- Enfim um cavaleiro. Muito obrigada. Sou Jheniffer.
- Prazer. Sou Apollo Hermann. O instrutor Maurício me mandou para o Full Body.
Jheniffer o mediu da cabeça aos pés.
- Full Body é para iniciantes. Você tem um corpo perfeito. Com todo respeito.
- Acha mesmo? Deve ser porquê sou novato aqui, que me colocaram na iniciação. Estava afastado dos treinos.
Ela mordiscou o lábio inferior. Apollo tinha dois olhos verdes, incrustados como jóias naquele rosto másculo. A barba por fazer. Ele guardou o último peso, erguendo os braços e evidenciando as veias saltadas deles. O olhar dela passeou, das coxas grossas e torneadas ao peitoral, sua parte preferida na anatomia masculina.
- Terei que dobrar minha carga de exercícios para que meu coração suporte sua beleza.
- Essa cantada de academia é velha, Apollo. Vou encarar como elogio.
- Me desculpa. Sua beleza é desconcertante.
Ele ergueu a camiseta suada, mostrando um pouco de sua barriga tanquinho. Jheniffer mexeu no cabelo e se aproximou dele.
- Vi seu cartão no mural. Você é advogada.
- Sim. Advogada e rata de academia.
- Eu diria que está mais pra gata de academia. Advogata.
- Olha. Suas cantadas estão melhorando. Essa foi inteligente. O que você faz?
- Sou um cara multifacetado. Moderno. Sou influencer, empresário, atleta amador e modelo. Filho único. Meus pais moram em Londres.
Jheniffer acenou para Stefany, treinando na remada sentada.
- Você me dá um, por favor?
Jheniffer o surpreendeu, dando um selinho em Apollo.
- Eu pedi um desses copos de água, perto de você mas gostei do beijo.
Jheniffer corou.
- Perdão. Culpa de seu perfume. Viajei legal. Homem cheiroso é outro nível.
Ele pegou a mão dela. Jheniffer sentiu o suor escorrendo das mãos. O coração disparou. Apollo a olhou nos olhos. Desceu o olhar para a boca de Jheniffer, que abriu os lábios, instintivamente. Alheios ao movimento da academia, eles se beijaram. Os dedos da mão direita dele entraram suavemente pelos cabelos dela, atrás da orelha, fazendo-a suspirar.
- Melhor sairmos daqui, Apollo.
- Concordo. Meu apê é aqui pertinho.
Eles deixaram o local. Apollo abriu a porta do carro pra ela.
- Que gentileza. Obrigada.
Eles chegaram ao prédio dele. Ela se surpreendeu, abraçando Apollo na garagem, aguardando a chegada do elevador.
- Nunca fiz isso. Abraçar alguém suado, na garagem.
- É um gesto normal entre pessoas que se gostam.
Eles se beijaram no elevador. Jheniffer gritou, ao entrar no apartamento dele.
- Não creio. Você tem telas de Romero Britto? Eu amo. Seu apartamento é lindo.
- Fique a vontade. Vou preparar a banheira de hidromassagem. Depois, farei algo rápido para a janta. Logo vai anoitecer. Estou faminto.
- Você tem uma banheira? Meu sonho, sabia? Não acha melhor pedir comida por aplicativo?
- E perder a oportunidade de lhe mostrar meus dotes culinários? Tenho que impressionar a visita.
Apollo preparava a banheira. Jheniffer foi até a cozinha e abriu a geladeira.
- Amor. Vou pegar água.
- Fica a vontade, Jheniffer. A casa é sua.
- Meu pai do céu. Já estou chamando o cara de amor. Jheniffer, sua louca. Você não está na sua razão. O que está acontecendo? Será que estou apaixonada?
Apollo veio até ela e a abraçou.
- A banheira está pronta. Fique a vontade. Vou preparar a janta, enquanto isso.
- Você é quem manda. Uau, homem que sabe cozinhar é uma raridade.
- Não sou profissional, masterchefe mas sei fazer o básico.
Ela estava na banheira, relaxada. Uma música tomou conta do apartamento.
- Maroon 5? Não creio. Temos muito em comum, Apollo.
Ele veio até a porta do banheiro.
- Isso é um bom sinal, Jhe. Aceita uma bebida?
- Com certeza. Ei, apenas minha mãe me chama de Jhe. Me surpreenda.
Apollo entrou, com uma garrafa de vinho tinto e duas taças.
- Não creio. Amo vinho tinto. Está bem gelado, como eu gosto. Amo Adam Levine, vocalista do Maroon.
- Já estou com ciúmes desse cantor.
Eles brindaram e se beijaram. Jheniffer o puxou para dentro da banheira.
- Pronto. Já está na banheira comigo. Vai ter que massagear minhas costas.
Ela se virou para ele. Apollo começou a massagem pelos ombros dela.
- Que mãos vigorosas. Adoro homens de mãos grandes. Você tem uma tatuagem celta também, um mantra budista e várias tribais. Lindas. Você é perfeito.
Apollo percebeu que ela estava nua. Enquanto se beijavam, Jheniffer tirou a roupa dele. Jheniffer e Apollo se entregaram ao prazer. A noite caiu. Apollo saiu da banheira e vestiu o roupão.
- Com licença, minha rainha. Vou terminar o jantar e montar a mesa. Anunciarei quando estiver pronto. Tem um roupão pra você, nessa gaveta.
Quando Jheniffer chegou a sala de jantar, minutos depois, viu que a mesa estava linda, com pratos grandes de porcelana chinesa, taças, talheres de prata e guardanapos de tecido bordado.
- Você é mesmo prendado. Meu sonho era ter uma mesa dessas, iguais àquelas de reality show, de vidro e com centro giratório de madeira.
- Hora de impressionar a visita.
Ele despejou vinho na panela e a curvou. Acendeu um pequeno maçarico sobre a panela. O fogo subiu, ficou azulado e se apagou.
- Pronto. Isso se chama flambar. Podemos comer o estrogonofe. Não se preocupe, o álcool evaporou.
Jheniffer o aplaudiu. Apollo a serviu.
- Temos estrogonofe de filé mignon, arroz branco, batata palha e salada Caesar.
- Está divino. Amo champignons, querido. Desculpa falar com a boca cheia mas eu comeria isso em quantidades absurdas. Você é perfeito.
Quando ela terminou, Apollo tirou a mesa.
- Sobremesa. Torta de limão com cobertura de geléia de mirtilo e sorvete de pistache. Troquei a tradicional cobertura de chantilly pelo mirtilo.
- Sério? Amo mirtilo e sorvete de pistache. Vou ter que malhar pesado amanhã, pra perder tudo isso.
- Olha só. Temos muito em comum. Tenho um dia no mês pra enfiar o pé na jaca, comer sem culpa e paranóia. Nesse dia eu peço pizza ou vou pegar um pastel de feira. Você deveria fazer o mesmo.
- Ótima idéia. Vou começar hoje, comendo essa torta digna de vitrine das famosas padarias de Paris.
- Obrigado pelo elogio. Se gostar, passo a receita pra você.
- Não quero receita. Quando eu quiser comer, você a faz pra mim. Simples assim.
- Combinado.
Eles foram para o sofá. Jheniffer escolheu um filme na tevê. No meio do filme, ela arrumou as almofadas e colocou as pernas sobre as dele. Apollo começou a massagear seus pés.
- Assim vou dormir, Apollo.
Ele foi até a cozinha pra fazer pipoca no microondas. Jheniffer ligou o celular e mandou áudio para Stefany.
- Amiga. Estou no apê do Apollo. Já ganhei a aposta. Depois lhe conto os detalhes. Que homem perfeito. Aí vai uma foto minha, na banheira dele, como prova que ganhei a aposta. Vou desligar o celular.
Apollo retornou com a bacia de pipocas. Eles se beijaram. Com a intensidade das carícias, a pipoca e as almofadas foram para o chão. Eles se amaram no sofá, esquecendo do filme. Terminaram o ato no quarto dele, quando ela chegou ao orgasmo pela primeira vez na vida. Ela adormeceu, com Apollo fazendo cafuné em seus cabelos.
- Boa noite, Apollo. Que dia perfeito. Você é perfeito. Parece um sonho.
Jheniffer despertou com o barulho do livro caindo no chão. Estava no quarto do hospital, com Nascimento. O celular marcava cinco horas da manhã.
Jheniffer foi até o banheiro do quarto do hospital. - Que sonho. Não acredito, sonhei com aquele novato da academia. Estou ficando louca mesmo. Preciso lavar o rosto. Ela sentou-se na beirada da cama de Nascimento e acariciou a mão dele. O paciente acordou. - Jheniffer? Que horas são?- Cinco e dez da matina. O médico disse que ficará uns dias em observação. - Só ouviu isso?- Não. Vou contar o que escutei. Cochicharam que, se você não largasse o cigarro, o uísque e o churrasco, teria mais dois anos de vida apenas.- Sério? Está mentindo.Ela o encarou, segurando o riso.- Verdade. Cochicharam que as veias do seu coração estavam entupidas. Quando passaram a mangueira, pra desentupir as veias do seu coração, o cheiro de uísque e picanha inundou a UTI. Teve enfermeira que desmaiou.- Meu Deus. Então a coisa foi séria? Não, está mentindo pra mim.- Não minto, mas há conserto. Você terá que parar com os vícios, praticar exercícios moderados, ter uma dieta balanceada, não se estres
Jheniffer atirou o celular no chão, quando o despertador tocou. - Estou um bagaço. Queria dormir mais um pouquinho. Hoje é a festa do Nascimento. Ele vai ter alta. Tenho que pegar o bolo e ajudar a Marcela. Prometi ajudar, agora tenho que aguentar e manter a palavra. Ela deixou a cama desarrumada. Foi pra cozinha, ainda de pijamas. - Deveria ser proibido levantar às seis. Baile funk é tudo de bom mas, pra acordar no outro dia, é um sacrifício. Preciso de um banho gelado e um café forte pra acordar. Preguiça, esse corpo não te pertence. Já na casa de Marcela, ela comemorou quando Fred chegou com uma máquina de encher bexigas. - Graças a Deus. Ninguém merece encher balões com a boca. Temos que terminar a decoração antes das oito horas. Os amigos e familiares de Nascimento chegaram. Stefany chegou com sua mãe, Celeste. O advogado desceu do carro, abraçado a esposa. Nascimento foi aplaudido, ao passar pelo portão. Jheniffer o abraçou. - Bem vindo de volta, amigo. Vida que segue
- Intervalo, pessoal. Vamos esticar as pernas, alongar, tomar uma água. Temos mesas com café, bolachas e bolos. Tudo feito com carinho pelas senhoras do grupo de oração. Anunciou o mestre de cerimônias. Jheniffer se levantou e andou pela quadra. O padre Martelotti a interpelou.- Filha. Tem que experimentar o bolo de cenoura com chocolate. Está divino.- Certamente, padre. Amei sua palestra. Seu trabalho com as pessoas em situação vulnerável é maravilhoso. Aceita meu cartão? Sou Jheniffer Stuart, advogada. Quero ser voluntária.- Isso é uma bênção. Vou entrar em contato sim. Fique a vontade.O padre se misturou a multidão. Jheniffer se aproximou da moça ruiva, ainda sentada em seu lugar. Ela era linda.- Boa noite. Será um verdadeiro milagre se cumprimentar o padre Apollo.- Boa noite. De fato. É sempre assim, as pessoas o cercam , pedem autógrafos. Os padres Marcelo e Fábio de Melo têm mais sossego.- Sou Jheniffer Stuart, advogada. Aceita meu cartão de visitas?- Sim. Sou Estela,
Jheniffer entrou no botequim, atraindo os olhares dos homens ali presentes. Ela puxou a barra da saia pra baixo e ergueu a blusa, tentando esconder o decote generoso. - Doutora Jheniffer Stuart, dando um rasante pela periferia? Finalmente se lembrou dos velhos amigos. - Olá, Jaime. Marquei encontro aqui, com a Stefany. A advogada tirou os óculos escuros. - Ela já chegou. Está lá nos fundos, treinando na mesa de sinuca. Jheniffer estendeu a mão e cumprimentou o dono do local. O bar, situado na Moóca, era o principal ponto de encontro das duas amigas, na época de faculdade. - Nunca me esqueci desse lugar, amigo. Era aqui que a gente vinha, na época das vacas magras. Pindura aí, Jaiminho. Era minha frase preferida, lembra? Leve uma tábua de frios e uma gelada pra nós, por favor. Ela caminhou até os fundos do botequim, onde havia um amplo salão com seis mesas de sinuca, bem iluminado e com música ambiente. Os letreiros em neon, fotos de cartazes de filmes famosos nas paredes de t
Apollo e Jheniffer chegaram em Perdizes, bairro da zona oeste da capital.- Chegamos, Jheniffer. Aqui é a nossa casa número um, onde fica nosso escritório.Ele desceu e deu a volta, abrindo a porta do carro para a moça. Ele acionou o interfone. O portão do sobrado se abriu.- Temos vinte refugiados morando aqui. Nossas outras casas ficam situadas na Freguesia, em Pinheiros e em Carapicuíba. No momento, damos assistência a cerca de cento e trinta pessoas. - Esse número apenas na capital? - Isso. Não é um número exato pois a movimentação é intensa. Varia toda semana pois muitos arrumam moradia fixa e emprego, felizmente. Por outro lado, há mais gente chegando, de diversos países. A maioria são haitianos, venezuelanos, bolivianos e sírios.Eles entraram na residência.- Abrimos uma casa em Roraima, devido a crise na Venezuela. A capacidade era pra quarenta pessoas mas está superlotada. Veio a necessidade de abrir outra casa em Chapecó, em Santa Catarina, para onde eles preferem ir. O
Apollo atendeu uma ligação no celular, enquanto Jheniffer olhava o cardápio. - Desculpa, Jheniffer. Era o Tobias, da embaixada. Tudo resolvido. - Tudo bem, era importante pra você. Escolhi uma sobremesa pra nós. Espero que lhe agrade. Eu amo. - Se você ama é porquê é uma delícia. Confio em você. Ele fez um sinal ao garçom, que se aproximou. Jheniffer fez o pedido. - Por favor, dois tiramissus. Apollo arregalou os olhos. Jheniffer riu. - Que foi? Não gosta de tiramissu? - Bem, pra falar a verdade, é igual caviar. Nunca comi, eu só ouço falar. Sei que é um doce italiano. - Sério? Tudo tem sua primeira vez. Seja sincero, se não gostar. O garçom trouxe a sobremesa. - Uau. Isso é uma obra de arte, Jheniffer. Já estou salivando. Após comer a primeira porção, ele fechou os olhos. Jheniffer se divertia com a reação dele, degustando a sobremesa. Apollo estendeu as mãos sobre a mesa. Jheniffer pegou as mãos dele. - Eu amei. Muito obrigado por esse momento feliz, Jheniffer. A part
Jheniffer entrou no seu apartamento. Théo veio até ela, assim que a porta de vidro da sacada se abriu.- Oi, meu amor. Cansado de ficar preso? Vou lhe preparar uma deliciosa refeição.Ela foi até a cozinha. O gato fechou os olhos e parecia sorrir, devido aos carinhos dela em sua cabeça.- Você acredita que eu arrumei outro gato? Não me olha assim, Théo. Não é um bichano mas um gato no sentido figurado. Apollo. Nós vamos jantar, daqui a pouco. O gato miou, pulou de seu colo e foi para o sofá.- Você está com ciúmes? É bom se acostumar.Ela buscou o contato de um restaurante, na agenda do celular. Ligou e fez a reserva de uma mesa. Em seguida , ligou a tevê. Minutos depois, ela saiu do banho, vestida de roupão. O gatinho se assustou, com o celular tocando, entre as almofadas do sofá.- É a Stefany. Quer apostar que ela vai me chamar pra beber, Théo? Boa tarde, cachaceira.- Boa tarde. Sua mãe não lhe deu educação? Não sou cachaceira pois não fabrico cachaça, sou consumidora. Esto
Apollo e Jheniffer entraram no restaurante. O Luxor tinha um ambiente impecável, perfeito para um jantar especial a dois. A hostess veio até eles. - Boa noite. Sejam bem vindos ao Luxor. - Boa noite. Jheniffer e Apollo. Respondeu Jheniffer, gentil. A recepcionista deu uma olhada rápida na agenda. - Perfeito. Mesa oito. Me acompanhem, por favor. Jheniffer já conhecia o local. Apollo puxou um pouco a cadeira, para que ela se sentasse. Ele deu a volta na mesa e tomou seu lugar, após desabotoar o paletó. - Gostou do lugar? - É lindo. Você tem bom gosto. - Não se anime, é você que vai pagar a conta. - Tudo bem. Minha companhia merece. Além disso, o combinado não sai caro. - Repita isso quando ver o valor da conta. Apollo sorriu. Uma chuva fina começou a cair. Um garçom veio até a mesa deles. - Boa noite. O que vão querer pra beber? - Vinho, por favor. Eles, sentados lado a lado, responderam juntos. - Perfeito. Estrangeiro ou nacional? Jheniffer apontou para Apollo,