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CAPÍTULO 4. UM GRANDE SUSTO.

Tempo depois, após um banho e um lanche rápido, Jheniffer chegou ao hospital Redenção. Preferiu ir num carro de aplicativo, pra não ter que deixar o seu veículo na rua. Estava de tênis, calça jeans e camiseta. Tinha uma sacola com cobertor e  toalha de rosto. Levou  um livro, maçãs, uma caixa de bombons e duas tupperwares. Numa delas, torradas com geléia de mirtilo. Noutra, frango grelhado com batata doce e quinoa.

- Marcela. Cheguei.

Ela abraçou a esposa de Nascimento, na recepção do hospital.

- Que bom que veio, Jheniffer. Fred, meu sobrinho, ficou com ele um pouco. Nascimento ainda está dormindo. Já está no quarto, o que é ótimo. Eu entrei pra vê-lo, rapidinho.

- Está bem. Que boa notícia. Ele vai se recuperar. Vim de máscara contra o Covid19, ainda que as medidas de proteção tenham diminuído, estamos num hospital. Trouxe até meu álcool gel. Eu assumo o turno da noite. Precisarei de carona, amanhã cedo.

- Sem problemas. Eu virei, às seis da manhã, na troca de turno. Eu a levarei, com todo prazer. Aí vem o Fred.

O rapaz se aproximou. Ele as cumprimentou.

- Boas notícias, tia Marcela. O médico passou há pouco, disse que o tio não precisará passar por cirurgia. Ele ainda não abriu os olhos pois está fraco e sob efeito dos medicamentos. Disse ser normal. Percebi que o tio mexeu a mão direita.

- Que ótima notícia, Fred. Muito obrigada por sua ajuda.

- Disse que ele mexeu a mão? Nesse caso, vou esconder a caixa de chocolates que eu trouxe. Conheço o Nascimento, é capaz de se levantar e devorar toda a caixa. Vou me identificar na recepção.

Jheniffer se despediu deles. Ela entrou no elevador, após receber o crachá de acompanhante. O vai e vem de médicos e enfermeiros era intenso. O silêncio era cortado pelo som das ambulâncias ou  pelo  sistema de som,  chamando pelos médicos. Ela encontrou o quarto onde Nascimento estava. Ele dormia profundamente, ligado ao soro. Uma máquina media os batimentos cardíacos. A outra cama do quarto estava vazia. Uma poltrona estava no canto.

- Coragem, Jheniffer. Uma noite passa rápido. Aquela poltrona deve ser para os acompanhantes. 

Ela passou a mão na testa dele.

- Que susto grande nos deu, amigo. Trate de ficar bom logo, temos muito trabalho no escritório. Ah, vamos comemorar a vitória contra a HDM. Eu tomarei champanhe, você tem que tomar suco. Agora que receberemos uma bolada, você apronta uma dessas? Velho, acho que você fez isso pra testar a gente, só pode. A gente te ama muito. Deus vai ajudar e trazer você de volta.  Amém. Acho que isso foi mais uma bronca que uma oração mas você entendeu.

Ela guardou seus alimentos no frigobar. 

- Seria perfeito pra gelar umas cervejas aqui. 

Após conhecer o banheiro, ela se debruçou na janela do quarto, observando o trânsito lá embaixo.

- Caraca. Os carros parecem formiguinhas daqui do alto. Que vista da selva de pedra. Que silêncio aqui. Acho que a vida nos fornece esses perrengues pra gente parar e  refletir.

A noite caiu. Ela mexia no celular. Passeou pelas redes sociais  durante um bom tempo. Às dezenove horas, entrou um médico, acompanhado de duas enfermeiras.

- Boa noite. Sou o doutor Ronald. É parente do paciente?  Deixa eu ver a ficha. Alfredo Nascimento.

- Boa noite, doutor. Não sou parente mas é meu sócio e melhor amigo. Sou Jheniffer Stuart, advogada.

O médico ergueu as sobrancelhas.

- Mesmo? Queria eu ter amigas tão lindas assim. O quadro do senhor Alfredo é estável,  está evoluindo bem. Teve princípio de infarto. Isso é um aviso que não deve ser negligenciado. A pressão arterial baixou, não precisará  passar por um cateterismo. Os medicamentos foram suficientes para estabilizar o coração. Diminuí a medicação e logo mais ele vai acordar. Por favor, avise a enfermaria quando isso ocorrer. 

- Eu avisarei, doutor.

- Passarei aqui pra ver o paciente, durante a noite. Umas duas vezes, talvez três. Tenha uma boa noite.

- Pra vocês também. Bom trabalho.

Eles deixaram o quarto.

- Estou enganada ou esse tiozão me cantou, na frente das  enfermeiras? Eu, einh.

O estômago dela roncou. Jheniffer pegou um tupperware e talheres, envoltos em papel toalha.

- Nascimento, isso aqui está uma delícia. Sei que é mais chegado num churrasco mas esse frango está ótimo. Aceita um pedaço?

- Não, obrigada.

Ela  assustou ao ver a enfermeira entrar, empurrando um carrinho.

- Sabia que é proibido trazer alimentos ao hospital? Eu poderia confiscar isso aí.

- Me desculpe. Odeio comida de hospital. Comi uma única vez e foi o suficiente pra não me apetecer.

- Entendo. Vou fingir que não vi. Dessa vez passa. Os acompanhantes têm direito a refeição. Hoje nossa janta é sopa de  macarrão com  mandioquinha. Se tiver sorte,  encontrará pedaços de cenoura e chuchu na sopa . A sobremesa é gelatina de abacaxi. Vai querer?

- Não vou. Obrigada.

- Deixarei uma garrafa com chá e bolachas pra você.

Jheniffer sorriu.

- Muito obrigada.  É muito gentil. Trouxe uma caixa de bombons para a equipe. 

- Que bênção. Esses gestos aquecem nossos corações. Temos uma aniversariante na equipe. Não temos bolo mas cantaremos parabéns com essa caixa de chocolates. Sou Marianne.

- Prazer. Sou Jheniffer. 

Outro médico passou no quarto, às vinte e uma horas. Perto de meia noite, Jheniffer foi ao banheiro pra lavar o rosto. Ao voltar, Nascimento olhava para ela.

- Nascimento?  Que bom que acordou. Deus é maravilhoso.

Ela o abraçou, puxando a mangueirinha do soro.

- Perdão. Sou desastrada. Como está? Tudo bem?

- Vivo, pelo jeito.

A voz dele saiu baixinha, quase inaudível. 

- Cara. O susto foi grande. Você teve um apagão. Um princípio de infarto. Graças a Deus, foi socorrido a tempo. Marcela esteve aqui, enquanto você dormia. Fred ficou com você, durante um tempão. Aquele garoto te ama.

Ela apertou o botão verde, ao lado da cama, chamando a enfermagem. Pegou o celular e mandou mensagem para Marcela.

- Ela está dormindo, certamente. Marcela virá daqui a pouco, às seis da manhã. João Carlos e Simone vieram. Até foram a capela, sabia? Isso é incrível pois vivem falando negativamente da religião, que atrapalha a ciência e outras coisas. Nessas horas, nossas mãos se juntam em oração. É nosso refúgio.

Ela segurou a mão dele.

- Mexeram no meu coração. Espero que não tenham tirado você de dentro dele.

- Se fizerem isso quem morre sou eu, meu amigo.

Jheniffer adorava o senso de humor dele.

O médico retornou, ao lado de duas enfermeiras. Doutor Ronald explicou tudo ao paciente. 

- Vida nova, daqui pra frente. Terá que adotar uma rotina saudável. Vamos nos ver, regularmente. Aproveita e descansa bem, senhor Alfredo.

Após a equipe médica sair, Nascimento adormeceu. Jheniffer pegou o livro.

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