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11- Anne.
Meu pai me abandonou lá sem olhar para trás. Assim que o som do motor da caminhonete desapareceu ao longe, tirei o celular do bolso, na esperança de encontrar algum sinal. Nada. Nenhuma barra, nenhuma conexão com o mundo exterior. Eu estava presa no meio do nada, completamente isolada.Senti o desespero me invadir, e a única coisa que consegui fazer foi enfiar a cabeça no travesseiro e deixar as lágrimas correrem. Chorei, não apenas pelo que estava acontecendo, mas pela impotência de não poder fazer nada para mudar aquela situação. A solidão naquele lugar parecia ainda mais pesada com o silêncio que me envolvia.Enquanto eu soluçava baixinho, ouvi a porta do quarto se abrir. Minha tia entrou, seus passos firmes e decididos, ignorando completamente as minhas lágrimas. Ela era uma mulher prática, sem tempo para sentimentalismos. O que eu sentia naquele momento parecia irrelevante para ela.— Se vai ficar aqui, tem que ajudar — disse com a voz firme, sem espaço para negociações.Levantei
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12- Gabriel.
— Está tudo bem, meu filho? — A voz da minha mãe surgiu de repente, suave, como se ela tivesse se materializado das sombras do lugar.— Sim — menti, tentando afastar a preocupação que sabia que ela sentiria se soubesse a verdade.— Não parece — respondeu, desconfiada.— Só me deixa, mãe. — As palavras saíram mais ríspidas do que eu pretendia, mas estava no limite da minha capacidade de suportar aquela angústia.— Problemas na prefeitura? — insistiu, fixando o olhar em mim, buscando respostas.— Antes fosse — murmurei, mais para mim mesmo do que para ela. Não havia como explicar a verdadeira extensão do que estava acontecendo sem revelar mais do que eu estava disposto a compartilhar.— Gabriel…Ignorei o tom preocupado dela, segui direto para o meu quarto, sem olhar para trás. Deixei-a falando sozinha, sabendo que ela estava apenas tentando ajudar, mas naquele momento, não havia nada que ela pudesse dizer ou fazer que aliviasse o peso que eu carregava.No meu quarto, fechei a porta e m
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13- Anne.
Após lavar uma pilha de sapatos sujos e fedorentos da minha tia e do seu marido, finalmente consegui escapar por alguns minutos. Corri até o ponto mais alto do terreno, a esperança de conseguir algum sinal no celular me impulsionava. Balançava o aparelho, tentando captar qualquer resquício de conexão, mas nada… Nenhuma barra, nenhuma chance de contato com o mundo exterior.Olhei ao redor, a vastidão daquele lugar parecia me engolir. O campo se estendia até onde meus olhos podiam alcançar, sem nada além de colinas, árvores distantes e o céu acima, que começava a se tingir com as cores do entardecer. O silêncio era quebrado apenas pelo som do vento e dos animais ao longe. A sensação de isolamento era esmagadora.Sentei-me na grama, ainda segurando o celular inutilmente. Senti as lágrimas ameaçarem cair novamente, mas as segurei. Não podia me permitir fraquejar, não ali. Precisava encontrar uma maneira de sair daquele lugar. Mas como? Sem sinal, sem transporte, sem uma alma viva por pert
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14- Gabriel.
Peguei o aparelho e disquei o número do delegado da cidade, a única pessoa em quem eu podia confiar para lidar com essa situação discretamente.— Delegado, preciso que venha ao meu gabinete agora — disse, deixando a urgência clara na minha voz.— Estarei aí em minutos, senhor prefeito — ele respondeu prontamente.Enquanto esperava, minha mente não parava de girar com as possíveis consequências do que eu estava prestes a fazer. Gustavo tinha muitos contatos, e qualquer movimento em falso poderia complicar ainda mais as coisas. Mas eu estava sem alternativas. Precisava usar todos os recursos que tinha para encontrar Anne.O delegado chegou pouco depois, carregando um semblante sério enquanto entrava no meu gabinete.— Senhor prefeito, em que posso ajudar? — perguntou, sentando-se à minha frente.Respirei fundo, sabendo que o que eu es
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15- Anne.
— Anne… — ouvi a voz rouca e grossa que sempre me arrepiava por inteiro.Abri os olhos, e lá estava Gabriel, subindo na cama dura e desconfortável onde eu estava deitada. O colchão horrível fazia parecer um milagre que ele tivesse me encontrado ali, mas tudo o que importava era que ele estava comigo.— Você me encontrou! — exclamei, o alívio tomando conta de mim, mas ele apenas colocou um dedo nos meus lábios.— Shiii — ele me silenciou, e antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, seus lábios estavam sobre os meus. O beijo começou doce, uma carícia suave que logo se transformou em algo mais intenso, mais urgente. O calor de seu toque fez minha pele arder de desejo, e todo o medo e a incerteza dos últimos dias desapareceram.As mãos de Gabriel deslizaram para dentro da minha blusa, encontrando meus seios. Ele torceu meus mamilos
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16- Gabriel.
Quando um dia logo se transformou em uma semana sem qualquer notícia, percebi que não podia esperar mais. A angústia de não saber onde Anne estava se tornou insuportável, e cada segundo que passava sem respostas só aumentava minha determinação. Todos na cidade comentavam sobre o desaparecimento dela, mas o medo de Gustavo os mantinha em silêncio. Ninguém tinha coragem de enfrentá-lo, mas eu decidi que não podia mais esperar.Naquela manhã, saí de casa com um propósito claro. Dirigi até o sobrado de Gustavo, com o coração batendo forte no peito. Estacionei em frente ao portão, ignorando o peso do que estava prestes a fazer. A situação exigia uma atitude drástica, e eu estava disposto a tomar todos os riscos.Saí do carro, sentindo o ar frio da manhã batendo no meu rosto, mas nada disso importava. Minha men
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17- Anne.
Queria que aquilo fosse um pesadelo maluco, mas comecei a aceitar que era minha dura realidade quando os dias foram passando e eu não acordava. Cada manhã, quando abria os olhos e me via naquele quarto pequeno e abafado, a esperança de que tudo não passasse de um sonho ruim desaparecia um pouco mais.Já estava com calos nas mãos, resultado do trabalho duro na fazenda da minha tia. Alimentar os animais, limpar o quintal, preparar refeições — tudo isso fazia parte da minha nova rotina. A princípio, tentei resistir, me recusando a aceitar que aquela era minha vida agora. Mas, à medida que os dias se transformavam em semanas, fui forçada a ceder. Não havia para onde correr, nem como escapar daquele lugar isolado.Minha tia era rígida, não mostrava um pingo de compaixão. Eu sabia que ela estava apenas seguindo as ordens de meu pai, e isso tornava tudo ainda mais in
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18- Anne.
Eu fui esquecida naquele maldito fim de mundo. Nem minha mãe, nem meu irmão se importaram em me procurar. Até minha melhor amiga, Clara, que sempre esteve ao meu lado, parecia ter desaparecido da minha vida. O tempo passava de forma dolorosamente lenta, e cada dia se arrastava como uma eternidade. A única coisa que me indicava que o tempo estava avançando era a minha barriga, que crescia a cada semana.Eu estava grávida, e isso deveria ser um momento de alegria, mas naquele lugar isolado, a realidade era muito diferente. Minha tia ignorava completamente a minha condição. Era como se a gravidez não existisse, como se eu fosse apenas mais uma boca para alimentar e mais um par de mãos para trabalhar na fazenda. À medida que minha barriga crescia, minhas roupas se tornavam apertadas, desconfortáveis, mas ela não demonstrava nenhuma preocupação ou compaixão. Logo, eu fic
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19- Gabriel.
— Gabriel! — A voz de Anne do outro lado da linha me fez paralisar— Onde você está? — perguntei, com a voz trêmula, quando finalmente consegui projetar as palavras.— Por favor! Você tem que me tirar daqui, tem que me salvar — a voz dela estava carregada de desespero, o que fez meu coração disparar ainda mais.— Onde? — repeti, tentando manter a calma, mas a ansiedade me corroía por dentro.— Socorro! — Ela estava em pânico, e isso me deixou à beira do colapso.— Calma, me fala onde você está? — insisti, tentando soar firme, mas sentindo a angústia em cada palavra.— No meio do nada. Presa. — A resposta dela foi vaga, e isso só aumentava minha agonia. Precisava de algo mais concreto para poder agir.— Precisa ser mais específica — pedi, tentando controlar o pânico crescente.O silêncio do outro lado da linha foi torturante. Ouvi sua respiração ofegante, e a sensação de impotência era esmagadora. Tinha que conseguir mais informações, mas ela parecia tão assustada que mal conseguia fal
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20- Anne.
Desliguei o telefone tremendo, com o coração quase saindo pela boca e um gosto amargo na língua.Estava desesperada.O som de alguém entrando no posto fez meu coração disparar novamente. Quando avistei o marido da minha tia entrando, quase congelei de medo. Sem pensar, corri rapidamente para trás de algumas gôndolas, colocando o dedo sobre a boca, implorando em silêncio para que o atendente não revelasse minha presença.— Preciso de dez litros de gasolina para a minha roçadeira — disse o marido da minha tia, sem perceber que eu estava ali, tão perto, mas, ao mesmo tempo, desesperadamente escondida.Eu vivi minutos de puro pânico enquanto ele era atendido. Meu corpo inteiro tremia, e eu sentia que, a qualquer momento, ele poderia descobrir meu esconderijo. O som de cada palavra que ele pronunciava ecoava na minha mente como uma sentença de morte. Mas, felizmente, ele parecia alheio à minha presença.Depois do que pareceu uma eternidade, ele saiu da loja. O alívio foi tão grande que sen
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