Início / Romance / O Velho Reino do Norte / Capítulo 21 - Capítulo 30
Todos os capítulos do O Velho Reino do Norte: Capítulo 21 - Capítulo 30
40 chapters
Capt.21
- Ei, Ó da torre! – espero, uma velhota olha-me assustada da sua soleira e entra em casa. Não deve ser costume bater a esta porta, afinal era o forte de uma força ocupante estrangeira, relembro a conversa com Sardenna: “ - como vieste parar aqui? - Nem eu sei bem. – um dia estava a lavar o chão de mármore e fui chamada ao atrium, lá estava meu amo, um suevo e mais um padre com um cicatriz na face, discutiam em latim apontando para uma moiça luso-romana que vestia um vestido nobre, depois apontaram para mim, os da guarda real alana vieram-me buscar”.  - Ei, ó da torre! - Vai-te embora, que quereis daqui? aqui só entram vândalos ou desgraçados para a decapitação, vai-te embora verme! - Cala-te macabeu! E chama o teu chefe, eu sou o filho de Boringio Langobardo. - Nem que fosses o filho de Hermerico. Vai-te embora ou atiro-te com um dardo. - Um zarolho como tu? Chama o teu chefe que o sol tá-me a foder a mona. – Rai
Ler mais
Capt. 22
. Detivemo-nos no escuro, frente ao grupo de marinheiros, todos baixos, entroncados e com carapinhas, que merendavam pão e chouriço. - Vosso capitão? – pergunta imponente Slova. Um dos marinheiros aponta a saída do enorme armazém à beira-rio. Para lá nos encaminhamos. O sol voltou a brilhar sobre as nossas cabeças. No alto cais estava ancorado uma enorme corbita de duas velas, do tombadilho, um marinheiro de tronco nu acena para Slova e desce pelo passadiço em largas passadas apressadas.- Apoloro, vais ter que levar…quantos são? – pergunta-me:- Três. - …Apoloro vais ter que levar três passageiros amanhã quando zarpares para Portocale. - O capitão de saio de couro com um punhal embainhado na sua ilharga, gesticula negativamente.- Senhor, o meu navio é de carga, não leva passageiros. Não temos lugar para pass
Ler mais
Capt. 23
– Onde ancoremos?       - Não sei, talvez numa aldeia de pescadores chamada Vacea, povo rude e pescador, os vacceus. Teremos que aproveitar o resto do dia para nos impulsionarmos mais para a norte! -  e assim foi… passamos ao largo das Saturni, evitando os perigosos rochedos onde restos de embarcações naufragadas ainda estavam presas entre rochas. As saturni eram altas e rochosas e milhares de gaivotas tinham lá o seu poiso fazendo um ruído ensurdecedor. Ao final do dia, vimos um promontório antiquíssimo, com uma acolhedora enseada funda para fundearmos o barco. - Largar âncoras! – grita o capitão. Os diligentes marinheiros apressaram-se a largar as cordas das duas pesadas âncoras que nos permitiriam fundear ao largo de Vacea.  Na base do promontório e ao longo da enseada, pequenas casas de tábuas de madeira enegrecidas vigiavam barcos longos com peculiares proas que se pareciam com pentes e que se dispunham ao longo da prai
Ler mais
Capt. 24
- Por Woden e por seu ruivo filho, que mistela é essa? – pergunta o coto. - É o preço da luxúria, andais nas putas? – eu aceno que sim com a cabeça, vendo a interminável drenagem do pus. Já percebem por que eu as enrabo, nunca ninguém faz isso e assim eu livro-me de doenças, um veterano ensinou-me o truque, nunca ninguém as vai ao cu, julgam que é coisa de paneleiro. - Isto vai voltar a acontecer, o futuro da doença é trágico, dores de cabeça, dores nos ossos, perde de apetite, febre, cansaço, queda de cabelo. Pode-se andar anos assim. – diz o sabedor virias, o curandeiro da aldeia, continuando: - Depois, no futuro pode levar a uma paralisia geral. - Não faz mal, Odoacro é  um eleito, tem uma cauda. – ficam todos a olhar para mim boquiabertos. - É filho de um rei e só a guerra ou a velhice o pode levar para o palácio celestial. – Odoacro assenta que sim com a cabeça. Olharam todos com caras de burros para mim,    - Como
Ler mais
Capt.25
- Ah! a menina muda é minha? A mãe morreu na baixa  Lusitânia. – Odro baixa a cabeça, Fabilda faz uma careta com a língua ao cavaleiro. Ele volteia o cavalo, avisando-nos:  - Aconselho-vos a não ficar muito tempo por aqui. Os francos tem-vos de ponta, há guerra em Lucus[1], Tude e Brigantium está cercada. Bem vindos a Suevia  e que a vossa cabeça fique no lugar por muito tempo. -  abala dali com seu cavalo de tranças e sua guarda que nos miram de lado. Enveredamos pelo cais, interrompendo o jogo das crianças nuas. Algumas, perante a nossa passagem, mergulham do alto cais romano para a ribeira. Fabilda quer fazer o mesmo e Odoacro avisa-a que ela é muda. Paramos por momentos a ver um torneio de pugilato e depois dirigimo-nos às lojas escavadas nas rochas por cima do cais, no início dos socalcos. Passamos por um pedreiro que esculpia uma roda de moinho, passamos por um armeiro que, à viva força, nos queríamos vender azaguaias para caça grossa. Decid
Ler mais
Capt. 26
- Deveríamos dedicar-lhe uma oração e um holocausto. - Com que vítima? - O nosso sangue. - Esta noite dá-me arrepios, o piar lamentoso das corujas, o uivar esfomeado dos lobos nos montes sobranceiros. - Sim, é uma noite propícia para as nossas preces ao Deus da Guerra. As criaturinhas vão-nos atender, porque estão atentas, ainda mais quando cortarmos os braços e jorramos sangue para terra. Ávidas elas vão estar bebendo-nos o suco vital e atendendo-nos. – Enveredamos, então, para o sul pelo caminho de terra e embrenhamo-nos num charco interrompendo o coachar das rãs, essas criaturas do inferno de hel. Ultrapassamos o charco e tornamos a embrenharmos no escuro mato, tendo por guia o parco e encoberto luar e os olhos longínquos das bestas deambulatórias. Temos medo, medo que alguém de repente nos ataque no escuro. Por fim, paramos nas fraldas de uma clareira, juntamos mato seco e, com duas pedras de sílex, pusemo-nos a fazer faíscas para que o fogo se pr
Ler mais
Capt. 27
- Finalmente poderemos procurar um feiticeiro. – diz esperançada a miúda Fabilda, provocando um sinal da cruz do padre. Aos solavancos, fomos descendo a via ainda com as lajes, percorrendo um grande souto de castanheiros em que varas de porcos andavam livremente. Chegamos a uma zona de quintas todas muito bem tratadas, com os campos que nos ladeavam com viçoso milho miúdo e centeio prontos para a colheita. Grupos de servos livres carregavam enxadas e ancinhos com chapéus de palha na cabeça. O padre diz-nos que eram servos livres, mas que a grande diferença entre eles e os escravos não era muita. Lembrei-me dos nossos amigos de Viseum, Asdrobal e Demérito e da sua pele morena e curtida como estes pobres servos de túnica suada, uma vida inteira de costas vergadas na terra, que escravidão! Comemos laranjas para nos refrescarmos, ao mesmo tempo que víamos por entre algum disperso casario e vegetação as muralhas graníticas da importante cidade. Contornamo-las, admirando s
Ler mais
Capt. 28
- Quereis ver a vossa mãe? – pergunta Balcónio, levantando-se energeticamente. A cara antes agastada, estava agora radiosa.– olhei para ele surpreendido, minha mãe morrera. - Não! não é a vossa mãe.  A essa o povo agora chama-a Santa Diamonda. Por ter sido a primeira sueva convertida na Gallaecia, veneram a sua campa, erguida debaixo da ponte das goladas, à beira do rio Oriens[1]. Estou a falar da mãe dele. - Aponta Odro. - Da minha mãe? – “a minha mãe é venerada” - Sim, nunca a conheceste, pois não? – “chamam-lhe santa!” - Não, tiraram-me dela quando eu era pequeno. – “o povo venera-a” - Ela é uma serva do senhor, quereis conhecê-la? - Quero visitar o seu túmulo, podeis levar-me até lá! – puxo pela toga do arcebispo primaz das Hispânias, interrompendo a conversa entre ele e Odro. - Mas, a tua mãe  foi enterrada em Saturning, eu estava lá. Foi Teófilo que fez as exéquias! – contrapõe Odro - O túmulo é falso. –
Ler mais
Capt.29
Cumprimento o cocheiro encostado num sapateiro, mas evitei falar com ele. Na basílica, um dos secretários de Balcónio acompanha-nos a um fresco refeitório nas traseiras do templo de Isís, onde cerca de cem clérigos estão sentados em compridas mesas. Lá, servem-nos uma sopa amarga de cebola, bróculos e couve-flor com pão azedo e vinho que parece vinagre. Não admira que estes padres tenham má cara  a comer todos os dias esta mistela! Ainda por cima, no fim da refeição, agradecem a Deus o alimento rançoso. Perguntamos por Odro e por Balcónio mas ninguém sabe nada, levam-nos para um canto dum obscuro corredor e dizem-nos que podíamos pernoitar ali nas duras esteiras. Uma corrente fria corre vinda dalgum túnel perdido. Estamos vigiados por um busto de negro bronze de um imperador careca. Tapo-lhe a cabeça com o meu manto.- Não faz
Ler mais
Capt.30
Um peso morto caiu redondo nos fardos, os cavalos assustam-se, sacudindo o garrote e levantando as patas dianteiras, depois o líder baixa o longo focinho cheirando o peso. Eu também me aproximo vendo um homem enorme de tronco nu e bragas de pele de vaca malhada com o sobrolho aberto e um fio de cerveja pelo peito peludo. “Por  Donnar, sentado no trono à direita do pai, rex Hermerich!” A minha tendência era de ajoelhar e prestar vassalagem , mas depois observo mudo o do gancho descendo atabalhoadamente as escadas e uma mulher de cabelos pretos desgrenhados a assumir-se à janela e a gritar feito louca. Ouço berros guerreiros defronte da casa, decerto os guardas já deram pela falta dos cavalos e em grande algazarra dirigem-se a nós, gritando pela rua: “O rex! Atentam contra o Rex! “ O logro do secretário de Balcónio já acabara. Podia era ter durando mais tempo. Sem demoras amarramos
Ler mais