Sabe aquele dia em que você acorda, mas não tem muita vontade? Pois é, assim estou eu.
— Avah Aparecida Telles Cunha, você tem cinco minutos para descer ou vai se atrasar. – Minha mãe gritou pela décima vez nesta manhã.Levantei sem nenhuma vontade, me arrastei para o banheiro e fiz tudo o que precisava fazer. Quando estava pronta, desci e minha mãe me olhava de cara fechada.— Bom dia, mãe.— Bom dia, Avah. Você tem ideia do horário que chegou ontem? – Ela perguntou, e eu neguei com a cabeça. — Filha, sei que você é uma menina estudiosa, trabalhadora e tal, mas precisa parar de sair para beber. Você quase perdeu a hora do seu estágio.— Eu sei, mas é que o Noah insistiu tanto para eu ficar na festa dele mais um pouco que acabei cedendo. – Minha mãe olhou para mim, e eu sabia que o sermão não tinha parado por aí. No entanto, assim que me viu massageando os olhos, ela se calou. Estava levando o copo de café à boca quando meu celular apitou."Oi, babyboo, conseguiu acordar bem?" – Noah e seus apelidos."Bom dia, galinheiro, estou tomando café para ir trabalhar." – A resposta não demorou a chegar."Apelido novo?""Achei puteiro ou comedor de putas muito ofensivo.""Ciúmes, babyboo?""De você? Jamais." – Ele me enviou alguns emojis, e travei o celular. Tomei meu café, subi para escovar os dentes e finalizar a maquiagem quando minha mãe gritou avisando que Noah estava aqui. Como assim? Ele nem me avisou que vinha. Calcei os sapatos e desci as escadas, tropecei no último degrau, e antes que caísse, ele me pegou.— Bom dia, Capitã desastre. – Meu amigo sorriu de lado.— Vai se...– mordi a língua assim que minha mãe passou, e ele gargalhou. — O que veio fazer aqui?— Vim tomar café da tia Mira. Depois que ela se aposentou, as coisas ficaram ruins lá em casa. Só ela faz as coisas do jeitinho que eu gosto, além de ser a mãe da minha chaveirinho preferida.Minha mãe passou por nós mais uma vez e foi para cozinha preparar um omelete para Noah, que sorriu amplamente para ela.— Mãe, bença, tô indo. – Estava me preparando para sair quando meu amigo pegou a minha mão.— Eu te levo, já que onde você trabalha é caminho para a empresa. – Entre pegar um ônibus e um metrô, preferi esperar ele terminar de comer e me levar. Noah rasgou seda em elogios para a minha mãe, que ficou encantada como sempre. Revirei os olhos para a cena, e meu amigo sorriu achando graça, minha mãe conhece essa criatura a anos, e ainda se derrete por qualquer elogio. Durante o trajeto, fomos conversando trivialidades e relembrando o passado. Assim que chegamos à redação, Noah beijou meu rosto e me convidou para sair mais tarde, e eu aceitei.— Te pego às cinco e meia, bom trabalho, babyboo. – Ele me deu uma piscadela e se foi.Fui para o meu setor, e minha pequena mesa estava repleta de papéis para organizar e arquivar. Queria tanto ser uma repórter, fazer matérias de ruas e tal, mas é como minha mãe sempre diz, temos que começar de baixo. Se meu pai estivesse aqui, com certeza estaria me apoiando, mas infelizmente ele foi tirado de nós quando eu tinha cinco anos. Balancei a cabeça para esquecer da tristeza e me concentrei em organizar a papelada.Na hora do almoço, Valéria me chamou para irmos comer, e como o dinheiro este mês estava contado, resolvi fazer apenas um lanche, que sairia mais barato. Após terminar meu lanche, escovei os dentes, e quando cheguei, Luiza estava à minha espera.— Nossa! Mais que demora, Avah, preciso de um favor. – Ela disse jogando um bloquinho sobre a mesa. Rapidamente li o conteúdo e olhei para ela.— Você precisa que eu vasculhe a vida de Fabrício de Lucca? – Perguntei, e ela assentiu. — Mas por que eu? Não seria mais fácil você?— Você é apenas uma estagiária e está aqui para fazer o que mandam, só por isso. Quero o levantamento sobre a vida dele amanhã. Não estou convencida a respeito do que houve em sua casa. Acredito que não foi um acidente.Luiza Carvalho é uma das repórteres mais odiadas aqui da redação. Isso se dá porque ela é filha do dono do jornal, senhor Ismael Carvalho, um cara bem legal ao contrário de sua filha, que é mimada e extremamente irritante.— O que ela quer que você faça agora? – Claudia se aproximou, e lhe entreguei o papel para que visse. — Ela acha que somos o que? Detetives? Não vejo a hora de começar a escrever matérias de verdade. Estou farta de arrumar papeladas e buscar cafezinho. – Claudia, assim como eu, é uma estagiária.— Pensei que ao fazer estágio iríamos aprender alguma coisa, mas a única coisa que aprendemos é a organização. – Minha colega fez uma careta, mas antes que pudesse falar alguma coisa, Luiza gritou, mandando voltar ao trabalho. Liguei o computador e comecei a procurar tudo o que havia disponível na internet sobre o acontecimento na casa de Fabrício.Como eu já suspeitava só encontrei o que todo mundo já sabe, não sei por que diabos ela achou que eu encontraria alguma coisa, relendo o depoimento dele, achei algumas falas e alegações controversas, mas quem sou eu para dizer algo, se Luiza quiser ela que procure, não sou sua escrava, sou apenas a estagiária.— Luiza está com raiva de você. – Cláudia se aproxima e me entrega uma xícara de café. — Ela acha que somos suas serviçais, peguei ela reclamando de você pro pai, ainda bem que senhor Ismael conhece a filha que tem.As horas foram passando e eu só queria ir embora, amo meu trabalho, mas aturar uns egocêntricos que tem aqui não dá. Já estou a um ano pedindo que me dêem algum caso para investigar, quero escrever e não revisar a escrita de algum idiota que não sabe a diferença de “mais” e “mas” ou pior “agente” de “a gente”.Estava fazendo algumas anotações distraidamente quando meu celular apitou. "Babyboo, já estou chegando para te buscar." – Noah diz e me assusto com o horário, estava tão imersa no trabalho que nem percebi a hora. Arrumei minhas coisas e desci para esperá-lo, não demorou muito Noah chegou e abriu a porta para mim com um sorriso. — Que sorriso é esse? – Pergunto a ele curiosa. — Não é nada, vamos babyboo? – Durante o trajeto para minha casa fomos conversando sobre nossos dias de trabalho e conto a ele que não poderei sair, pois tenho até amanhã para descobrir algo inédito sobre o incidente na casa de Fabrício de Lucca. — Por que a sua chefe não faz a pesquisa? Afinal ela tem muito mais contatos que você. — Até parece que você não conhece Luiza, e conhece bem já que vocês saíram algumas vezes mesmo ela dizendo que ama o noivo. – Ele sorriu da minha careta. — Acho que posso dar um jeito nisso, você só precisa se arrumar e deixar o resto comigo. – Ele diz com seu leve sotaqu
Quando cheguei na casa de Noah, tia Sophie me abraçou apertado.— Minha querida, que saudade de você. Como anda os namoradinhos?— Não tenho tempo para isso. – Tia Sophie olhou para mim e sorri.— Ainda tenho esperança de que você e meu cabeça de vento se casem. – Soltei uma gargalhada, e ela olhou para mim. — Perca as esperanças, pois desse mato não sai coelho.— Nunca diga nunca, querida. – Ela me beijou mais uma vez, e logo meu amigo me levou para longe.Aaron, ao me ver, me abraçou apertado. Florência fez a mesma coisa. Ambos eram uns amores, assim como seus filhos. Estava conversando com Aaron e Florência quando Noah me puxou pelo braço, dizendo que eu precisava ver alguma coisa.— O que foi, seu chato? Eles estavam me contando sobre a viagem deles.— Nada, eu só queria ter a minha amiga só para mim.Nos deitamos no jardim e ficamos admirando as estrelas. Do nada, ele me mostra uma garrafa de vinho e sorri.— Se eu beber hoje, minha mãe vai ficar uma fera comigo.— Relaxa, babybo
Quando entrei, Luiza me chamou e avisou que enviou algumas matérias para que eu verifique a ortografia. O primeiro era de um cantor que havia sido alvo de um esquema criminoso, o segundo era de atores que estavam especulando que o casamento deles era de fachada. A manchete era bem sensacionalista, e me perguntei quem em sã consciência se casaria com outra pessoa por contrato.— Avah, você viu que Luiz Antonio Calazans e Juliana Calazans estão sendo acusados de ter um casamento de fachada? Quando essa matéria sair, os fãs ficarão enlouquecidos.— Me pergunto se isso é uma fonte segura. – Digo enquanto continuo a ler a matéria.— É sim, pois a Martinha nunca posta uma mentira, eles vão perder muitos contratos, e os haters vão cair de pau neles.— Não sei pra que as pessoas perdem seu precioso tempo se preocupando com a vida alheia. Pra mim, são um bando de desocupados.— Amiga, se fossemos nós a nos casarmos por contrato, ninguém ligaria, agora eles são famosos, é outro nível.Digo a el
Noah SchimidtQuando cheguei em casa, fui recebido com alegria, por todos, quer dizer, quase todos, já que meu pai me encarava com cara de poucos amigos.— Vá descansar, filho, amanhã é um novo dia. – Minha mãe sorriu.— Amanhã temos muito o que conversar. – Meu pai me encarou e se retirou.Seus olhos demonstravam decepção.— Não liga para ele, seu pai é duro, mas está feliz por tê-lo de volta. – Sei, as vezes acho que ele queria ter apenas Aaron como filho, mas também quem pode culpá-lo, não sou o melhor dos filhos. Fui para o meu quarto e me deitei. Antes de dormir, enviei uma mensagem para Avah, e ficamos conversando por horas até que minha mãe entrou me avisando que estava na hora de tomar os meus remédios.No dia seguinte, estava tomando café quando meu pai me chamou para o seu escritório. Quando entrei, ele me pediu para sentar.— Noah, as coisas estão insustentáveis, suas atitudes são inaceitáveis. – Ele me encara severamente.— Pai, apenas me divirto, vai dizer que você nunca
Avah TellesMeu dia estava sendo uma merda. Tudo começou quando minha adorável chefe tentou, de todas as formas, novamente entrar em contato com Fabrício de Lucca, escritor que está sendo acusado de assassinar a esposa. Ele foi inocentado, e minha chefe acha que ele é culpado. Ela é uma vaca, mas tem um excelente faro investigativo. Claro que a “ralé" faz todo o trabalho, e ela leva o crédito.— Avah, você já terminou aquela matéria? – Marcos se aproximou, estalando os dedos na minha frente. Na hora, minha vontade era de socar a cara dele.— Está perguntando se reescrevi aquela porcaria sem sentido que você jogou na minha mesa? – Ele ergueu uma sobrancelha. — Sim, terminei. Vê se da próxima vez se atenta aos erros ortográficos, eles estavam gritantes.— Não me diga o que fazer. Você é uma mera estagiária, e esse é o seu trabalho. Me envia o arquivo pronto agora. – Respira, Avah, você precisa passar por isso para poder conquistar seu objetivo.Finalmente, chegou a hora do meu almoço, m
Noah SchmidtEu precisava consertar as coisas com Avah, minha melhor amiga, minha parceira. Quando minha mãe entrou com uma bandeja repleta de comidinhas.— Como você está meu filho? – Ela sentou ao meu lado.— Estou melhorando, mãe, obrigado. – Sorri para ela que retribuiu.— Você sempre foi meu menino levado, sempre aprontando correndo por aí, arrumando confusão, sempre com seu jeitinho entediado, depois que conheceu Avah vocês se tornaram quase um, uma combinação perfeita, sempre soube que acabariam se apaixonando e se casando no processo. – Seu entusiasmo me fez coçar a testa.Acendi um cigarro, buscando clareza, e liguei para Maciel, pedindo que comprasse sanduíches e suco de laranja, pois sabia que ele era o preferido de Avah. Deixei um bilhete com Maciel antes que saísse.Avah entrou em meu quarto à noite, e o silêncio tenso nos envolveu. Ambos estávamos pensando, meus pais entraram em meu quarto e quando nos viram sorriram, quando meu pai disse que acertaria as coisas com a su
Mais um dia de cão. Luiza, minha chefe, estava gritando feito uma louca no escritório. Parece que ela acordou com o pé esquerdo e decidiu descontar em todos nós. O estresse do trabalho estava me consumindo, e a contagem regressiva para o casamento só intensificava a pressão que estava vivendo. Eu precisava de um momento para respirar, para espairecer antes de surtar de vez.Decidi dar uma escapada na hora do meu intervalo e fui até a cafeteria mais próxima. O aroma do café recém-passado envolvia o ambiente, me acalmando instantaneamente. Enquanto esperava na fila, meu celular não parava de vibrar com mensagens sobre os preparativos do casamento. Entre um gole de café e outro, tentava coordenar todos os detalhes.Ao sair da cafeteria, mergulhada nos meus pensamentos, esbarrei em alguém e, como se fosse uma cena de filme clichê, meu café foi parar na blusa de um desconhecido. Olhei para cima, já pronta para me desculpar, e me deparei com o rosto familiar de um homem. Ele estava disfarça
Noah e eu ríamos como idiotas, sem nos importar com os olhares curiosos à nossa volta. A música alta nos envolvia, e a sensação de liberdade nos fazia esquecer temporariamente das preocupações do mundo real.Um tempo depois dei um cutucão no braço de Noah, sugerindo que talvez já fosse hora de voltarmos para casa. — Vamos ficar um pouco mais. – Noah insistiu e acabei aceitando, preciso aprender a dizer não para ele. Sua perna começou a doer e então decidi que era hora de encerrarmos a noite. Na saída, encontramos Maciel, que já esperava por nós com a porta aberta. Ele nos lançou um olhar de desaprovação misturado com diversão, sabendo que estávamos mais alegres do que o normal.— Meninos, vocês beberam além da conta, seus pais ficaram desapontados. – Maciel disse, tentando segurar o riso.— Ora, Maciel, a vida é curta demais para não sermos ridículos de vez em quando. – Noah respondeu, balançando os braços enquanto entramos no carro.No trajeto de volta, ríamos sem parar, relembra