Avah Telles
Meu dia estava sendo uma merda. Tudo começou quando minha adorável chefe tentou, de todas as formas, novamente entrar em contato com Fabrício de Lucca, escritor que está sendo acusado de assassinar a esposa. Ele foi inocentado, e minha chefe acha que ele é culpado. Ela é uma vaca, mas tem um excelente faro investigativo. Claro que a “ralé" faz todo o trabalho, e ela leva o crédito.— Avah, você já terminou aquela matéria? – Marcos se aproximou, estalando os dedos na minha frente. Na hora, minha vontade era de socar a cara dele.— Está perguntando se reescrevi aquela porcaria sem sentido que você jogou na minha mesa? – Ele ergueu uma sobrancelha. — Sim, terminei. Vê se da próxima vez se atenta aos erros ortográficos, eles estavam gritantes.— Não me diga o que fazer. Você é uma mera estagiária, e esse é o seu trabalho. Me envia o arquivo pronto agora. – Respira, Avah, você precisa passar por isso para poder conquistar seu objetivo.Finalmente, chegou a hora do meu almoço, mas terei que comer apenas um sanduíche, já que Verônica me mandou fazer uma pesquisa detalhada sobre cosmético e entregar em sua mesa em meia hora. Quando consegui este estágio, me disseram que eu não duraria três meses, pois ninguém aguenta os excêntricos jornalistas daqui. Surpreendendo a todos, estou aqui quase um ano e meio, e estou esperançosa de que, em breve, serei contratada para escrever matérias que levam meu nome.Finalmente, chegou o horário de saída, e antes que me pedissem mais alguma coisa, arrumei minhas coisas e fui para casa. Dentro do metrô, fui bulinada por um babaca. Tirei o meu teaser da bolsa e disse que daria chique em seus países baixos. O cara se assustou e desceu na estação seguinte.Ao entrar em casa, fui recebida pelo cheiro delicioso de escondidinho de batata doce.— O cheiro está divino, dona Mira. – Me aproximei e beijei a minha mãe.— Como foi o seu dia? – Ela perguntou enquanto descascava batatas.— De cão. Luiza é uma vaca, mas preciso do trabalho. Depois do jantar, vou ver Noah.Minha mãe olhou para mim e balançou a cabeça.— Já falei que vocês precisam tomar um rumo na vida.Minha mãe sempre repete a mesma coisa. Reviro os olhos e vou tomar um banho para me refrescar. Estava deitada, esperando minha mãe me chamar, quando meu celular apitou. Peguei achando que era Noah, mas era Florência.“¡Hola, Avah! ¿Cómo estás?"“¡Hola, Flor! Estoy bien, ¿y tú?"“También, os meninos te mandaram um oi. Na próxima semana faremos uma festa para Gaby, não esqueça de vir, ¡ah! E use amarelo, essa é sua cor favorita.”“Pedirei a minha mãe para te preparar algo."“Hazlo. ¡Besitos!"Como esperado, minha mãe me gritou para jantar. Depois que lavei a louça, fui para a casa de Noah. Chegando lá, subi no seu quarto e o encontrei olhando para o teto. Enquanto conversávamos, percebi que meu amigo estava distante, e vindo dele era estranho. As coisas ficaram ainda mais estranhas quando a tia Sophie entrou. Ela sorria amplamente, e quando ela saiu, fiz um comentário sarcástico que não fez Noah rir.Meu amigo diz que fez algo idiota, mas ele está sempre fazendo isso. O que me deixou um pouco atordoada foi o que ele disse a seguir. Estava tomando suco de laranja e acabei espirrando tudo na cara dele.— Acho que mereci isso – dei o guardanapo para que ele se limpasse.— Você ficou maluco ou o que? Nem fodendo isso vai acontecer. — Olhei para ele furiosa.— Igual quando disse que nunca dormiria comigo? – Meu rosto corou na hora.— Você prometeu que nunca falaríamos sobre isso, você sabe que aquilo foi um momento de fraqueza.— Mas eu sei que você gostou.Ele piscou, e revirei os olhos. Quando éramos jovens, cheios de hormônios e tesão, acabamos perdendo a virgindade juntos, mas essa foi a primeira e única vez que transamos.— Avah, você é minha melhor amiga e a única que pode me ajudar. Prometo que não trarei problemas para sua vida. Eu só confio em você.— Tenha uma boa noite, Noah. – Me despedi dele e sai de seu quarto.O que será que ele tem na cabeça? Não acredito que me pediu para se casar como ele; isso jamais irá acontecer. Chegando em casa, minha mãe olhou para mim e perguntou por que estava estranha, e eu disse que não era nada demais.— Avah... Avah... – Senti algo me cutucar e olhei para Cláudia e perguntei o que havia acontecido — estou te chamando a quase dez minutos.— Desculpe, estou com a cabeça cheia.Não demorou muito, Luiza jogou vários papéis em minha mesa e me mandou digitar tudo até o meio-dia. Depois, avisou a Cláudia que tem algumas fotografias que ela precisa anexar à matéria do escândalo político.— Enquanto eles ganham bem e saem para restaurantes caros, nós, as "lacaias", ficamos aqui fazendo o trabalho duro. Deveriam ser deles. – Cláudia estava indignada.— Deixa eu começar a digitar essas trezentas páginas antes que ela vire o próprio Godzilla. – Nós duas rimos feito duas loucas e fizemos os nossos trabalhos.Na hora do almoço, faltavam cinco páginas para terminar, e minha adorável chefe me mandou terminar tudo antes de pensar em comer, e eu sabia que isso significava pular o almoço.— Nós deveríamos denunciar eles.— E pra quem, Cláudia? Se nós fizermos isso, não iremos trabalhar em lugar nenhum. – Ela balançou a cabeça concordando.Enquanto digitava, Maciel apareceu me pegando de surpresa. Ele me entregou alguns sanduíches e dois sucos de laranja.— Obrigada, como sabia que eu precisava disto?— Não fui eu. – Ele sorriu me entregando um bilhete.“Desculpe, meu potinho de pimenta. Podemos conversar mais tarde?"A letra de Noah era inconfundível.— Obrigada mais uma vez, Maciel.— Não há de que, dê um oi a sua mãe por mim.Ele saiu em seguida, e dividi meu lanche com Cláudia, que também não poderia sair para almoçar.Luiza voltou com os “figurões", quer dizer, com os jornalistas de verdade, os que não fazem quase nada. Meu celular apitou, e vi o nome de Noah piscando.“Você ainda não respondeu?"“Vou te ver mais tarde seu chato, me deixa trabalhar."Desliguei o celular sorrindo.— Namorado? – Cláudia perguntou.— Amigo. – Respondi.— Ninguém sorri assim para a mensagem de um amigo. – Dei de ombros e voltei a trabalhar.Noah SchmidtEu precisava consertar as coisas com Avah, minha melhor amiga, minha parceira. Quando minha mãe entrou com uma bandeja repleta de comidinhas.— Como você está meu filho? – Ela sentou ao meu lado.— Estou melhorando, mãe, obrigado. – Sorri para ela que retribuiu.— Você sempre foi meu menino levado, sempre aprontando correndo por aí, arrumando confusão, sempre com seu jeitinho entediado, depois que conheceu Avah vocês se tornaram quase um, uma combinação perfeita, sempre soube que acabariam se apaixonando e se casando no processo. – Seu entusiasmo me fez coçar a testa.Acendi um cigarro, buscando clareza, e liguei para Maciel, pedindo que comprasse sanduíches e suco de laranja, pois sabia que ele era o preferido de Avah. Deixei um bilhete com Maciel antes que saísse.Avah entrou em meu quarto à noite, e o silêncio tenso nos envolveu. Ambos estávamos pensando, meus pais entraram em meu quarto e quando nos viram sorriram, quando meu pai disse que acertaria as coisas com a su
Mais um dia de cão. Luiza, minha chefe, estava gritando feito uma louca no escritório. Parece que ela acordou com o pé esquerdo e decidiu descontar em todos nós. O estresse do trabalho estava me consumindo, e a contagem regressiva para o casamento só intensificava a pressão que estava vivendo. Eu precisava de um momento para respirar, para espairecer antes de surtar de vez.Decidi dar uma escapada na hora do meu intervalo e fui até a cafeteria mais próxima. O aroma do café recém-passado envolvia o ambiente, me acalmando instantaneamente. Enquanto esperava na fila, meu celular não parava de vibrar com mensagens sobre os preparativos do casamento. Entre um gole de café e outro, tentava coordenar todos os detalhes.Ao sair da cafeteria, mergulhada nos meus pensamentos, esbarrei em alguém e, como se fosse uma cena de filme clichê, meu café foi parar na blusa de um desconhecido. Olhei para cima, já pronta para me desculpar, e me deparei com o rosto familiar de um homem. Ele estava disfarça
Noah e eu ríamos como idiotas, sem nos importar com os olhares curiosos à nossa volta. A música alta nos envolvia, e a sensação de liberdade nos fazia esquecer temporariamente das preocupações do mundo real.Um tempo depois dei um cutucão no braço de Noah, sugerindo que talvez já fosse hora de voltarmos para casa. — Vamos ficar um pouco mais. – Noah insistiu e acabei aceitando, preciso aprender a dizer não para ele. Sua perna começou a doer e então decidi que era hora de encerrarmos a noite. Na saída, encontramos Maciel, que já esperava por nós com a porta aberta. Ele nos lançou um olhar de desaprovação misturado com diversão, sabendo que estávamos mais alegres do que o normal.— Meninos, vocês beberam além da conta, seus pais ficaram desapontados. – Maciel disse, tentando segurar o riso.— Ora, Maciel, a vida é curta demais para não sermos ridículos de vez em quando. – Noah respondeu, balançando os braços enquanto entramos no carro.No trajeto de volta, ríamos sem parar, relembra
Após sairmos da loja de vestidos, fomos para casa, me despedi de tia Sophie e fui para o quarto, liguei o computador e comecei a trabalhar. Minha mãe entrou, entregou-me uma xícara de chá e se sentou na cama. Sentia que ela estava me observando, então, levantei, tirei os olhos do computador e perguntei o motivo de estar me encarando.— Filha, você realmente está feliz? – Minha mãe perguntou, e afirmei. — Olhando para você, não me parece verdade.— Estou com um problema no trabalho, só isso, não tem nada a ver com o casamento.— Se você diz, eu acredito. Tome o chá antes que esfrie. – Agradeci, e ela se retirou.Finalizei todo o meu trabalho pendente e tomei um banho para dormir. Estava quase adormecendo quando meu celular apitou."Oi, meu potinho de pimenta, tudo bem?""Oi, meu idiota favorito, estou mega cansada. Acabei o trabalho agora, sem contar que fui torturada à tarde toda." O idiota enviou vários emojis de carinhas gargalhando.“Estou na porta do seu quarto." Me levantei, abri
Estou me sentindo uma boneca de pano; cabeleireiro, maquiador, minha mãe, tia Sophie, Flor e Mali, todos em cima de mim, sem contar a organizadora de casamento que está enchendo o saco. Meu subconsciente me lembra a cada dez minutos que eu preciso sorrir. Sinceramente, estou no meu limite, não vejo a hora disso terminar.— Minha filha, você está perfeita! Uma verdadeira princesa. – Minha mãe olhava para mim com lágrimas nos olhos. Tia Sophie e Flor me deram o broche da família, segundo elas, deve ser usado no dia do casamento para que ele seja longo, próspero e feliz.Tia Sophie, Flor e minha mãe são três superstiçosas; já perdi as contas de quantos “rituais" eu precisei participar. Florência acendeu incenso, senti esse mesmo cheiro no dia de seu casamento.— Vamos limpar as nossas auras. – Flor diz, e encaro Mali, que prendia a risada. — Mira, precisamos de todos os possíveis para que Avah não queira se divorciar de Noah no primeiro ano de casados. – Olhei para as duas e desisti do q
No dia seguinte, pegamos a estrada rumo a Búzios, animados como sempre. Pelo menos lá, não precisaríamos fingir para ninguém. Paramos no trânsito, e Noah começou a jogar amendoins em mim, o que me irritou. Abri o outro saco e comecei a jogar nele também, rapidamente as gargalhadas preencheram o carro.— Se nossas mães nos vissem agora, elas reclamariam conosco.— Acho que ao mesmo tempo que estão felizes, estão preocupadas conosco. Somos um casal de idiotas. – Balancei a cabeça, concordando com Noah.Finalmente, voltamos a seguir com o carro e em algumas horas estávamos em nosso destino. Fizemos o check-in e subimos para descansar.— Que droga, né? Só tem uma cama. – Noah estava rindo.— Vamos dividir, mas sem gracinhas.— Você quem manda, patroa. Vamos descansar para poder dar um passeio. Quero ir a uma destilaria.— Quer dizer: Avah, vamos descansar e depois entornaremos todas. – Ele gargalhou. — Você é ridículo, mas gostei da ideia. Vamos tirar mais algumas fotos e encher as nossas
Como combinado, passamos o dia todo deitados, comendo porcarias e assistindo filmes. À noite, saímos para jantar, e depois voltei para o hotel; na verdade, eu voltei, Noah quis se divertir um pouco, e não vi problema nisso.Já com minhas roupas de dormir, ouvi meu celular apitar, e ao pegar meu aparelho, vi o nome de Fabrício piscando na tela.“Olá! Como está a jovem noiva? Quando puder falar, me envie uma mensagem."– A resposta não demorou a chegar.“Você não está em lua de mel? Onde está o seu marido?"“Dormindo, tadinho do homem está cansado, mas você me enviou uma mensagem por algum motivo."Esperei por alguns segundos e nada. Estava prestes a travar o meu celular quando a mensagem de Fabrício chegou.“Ah, sim! Ia fazer um comentário, mas vou me abster. O motivo de te enviar uma mensagem é para avisá-la que irei participar de um novo sarau; você e a entediada da sua amiga podem aparecer, o que me diz?"Olhei para a mensagem por alguns segundos e combinei com ele. Assim que travei
Noah SchmidtMeu pai estava animado quando voltei para a empresa; ele me exibia para todos os seus sócios, dizendo que eu estava começando a tomar juízo assim como meu irmão.— Então quer dizer que você está fora do mercado? – Ariana perguntou, alisando o meu braço.— Desculpe, Ari. As nossas saidinhas ao almoxarifado estão acabadas.— Uma pena, perdeu uma gostosa em troca de uma songa-monga.— Nunca fale de Avah, ela é muito melhor do que você jamais será, o que tivemos vai ficar na memória.— Se quiser uma gostosa, sabe onde encontrar. – Ariana me deu uma piscadela.Minha nova sala era ampla, um presentinho do meu pai; agora até um secretário eu tenho, pois meu pai diz que eu deveria ter uma secretária para não pôr em risco meu casamento.Como tinha mais responsabilidades agora, não podia me dar ao luxo de ficar passeando pelos corredores.— Senhor Noah, tem uma moça aqui para vê-lo. – Meu secretário me avisou.— Tudo bem, Davi, deixe entrar seja lá quem for.A porta foi aberta, e r