Capítulo Seis

Avah Telles

Meu dia estava sendo uma merda. Tudo começou quando minha adorável chefe tentou, de todas as formas, novamente entrar em contato com Fabrício de Lucca, escritor que está sendo acusado de assassinar a esposa. Ele foi inocentado, e minha chefe acha que ele é culpado. Ela é uma vaca, mas tem um excelente faro investigativo. Claro que a “ralé" faz todo o trabalho, e ela leva o crédito.

— Avah, você já terminou aquela matéria? – Marcos se aproximou, estalando os dedos na minha frente. Na hora, minha vontade era de socar a cara dele.

— Está perguntando se reescrevi aquela porcaria sem sentido que você jogou na minha mesa? – Ele ergueu uma sobrancelha. — Sim, terminei. Vê se da próxima vez se atenta aos erros ortográficos, eles estavam gritantes.

— Não me diga o que fazer. Você é uma mera estagiária, e esse é o seu trabalho. Me envia o arquivo pronto agora. – Respira, Avah, você precisa passar por isso para poder conquistar seu objetivo.

Finalmente, chegou a hora do meu almoço, mas terei que comer apenas um sanduíche, já que Verônica me mandou fazer uma pesquisa detalhada sobre cosmético e entregar em sua mesa em meia hora. Quando consegui este estágio, me disseram que eu não duraria três meses, pois ninguém aguenta os excêntricos jornalistas daqui. Surpreendendo a todos, estou aqui quase um ano e meio, e estou esperançosa de que, em breve, serei contratada para escrever matérias que levam meu nome.

Finalmente, chegou o horário de saída, e antes que me pedissem mais alguma coisa, arrumei minhas coisas e fui para casa. Dentro do metrô, fui bulinada por um babaca. Tirei o meu teaser da bolsa e disse que daria chique em seus países baixos. O cara se assustou e desceu na estação seguinte.

Ao entrar em casa, fui recebida pelo cheiro delicioso de escondidinho de batata doce.

— O cheiro está divino, dona Mira. – Me aproximei e beijei a minha mãe.

— Como foi o seu dia? – Ela perguntou enquanto descascava batatas.

— De cão. Luiza é uma vaca, mas preciso do trabalho. Depois do jantar, vou ver Noah.

Minha mãe olhou para mim e balançou a cabeça.

— Já falei que vocês precisam tomar um rumo na vida.

Minha mãe sempre repete a mesma coisa. Reviro os olhos e vou tomar um banho para me refrescar. Estava deitada, esperando minha mãe me chamar, quando meu celular apitou. Peguei achando que era Noah, mas era Florência.

“¡Hola, Avah! ¿Cómo estás?"

“¡Hola, Flor! Estoy bien, ¿y tú?"

“También, os meninos te mandaram um oi. Na próxima semana faremos uma festa para Gaby, não esqueça de vir, ¡ah! E use amarelo, essa é sua cor favorita.”

“Pedirei a minha mãe para te preparar algo."

“Hazlo. ¡Besitos!"

Como esperado, minha mãe me gritou para jantar. Depois que lavei a louça, fui para a casa de Noah. Chegando lá, subi no seu quarto e o encontrei olhando para o teto. Enquanto conversávamos, percebi que meu amigo estava distante, e vindo dele era estranho. As coisas ficaram ainda mais estranhas quando a tia Sophie entrou. Ela sorria amplamente, e quando ela saiu, fiz um comentário sarcástico que não fez Noah rir.

Meu amigo diz que fez algo idiota, mas ele está sempre fazendo isso. O que me deixou um pouco atordoada foi o que ele disse a seguir. Estava tomando suco de laranja e acabei espirrando tudo na cara dele.

— Acho que mereci isso – dei o guardanapo para que ele se limpasse.

— Você ficou maluco ou o que? Nem fodendo isso vai acontecer. — Olhei para ele furiosa.

— Igual quando disse que nunca dormiria comigo? – Meu rosto corou na hora.

— Você prometeu que nunca falaríamos sobre isso, você sabe que aquilo foi um momento de fraqueza.

— Mas eu sei que você gostou.

Ele piscou, e revirei os olhos. Quando éramos jovens, cheios de hormônios e tesão, acabamos perdendo a virgindade juntos, mas essa foi a primeira e única vez que transamos.

— Avah, você é minha melhor amiga e a única que pode me ajudar. Prometo que não trarei problemas para sua vida. Eu só confio em você.

— Tenha uma boa noite, Noah. – Me despedi dele e sai de seu quarto.

O que será que ele tem na cabeça? Não acredito que me pediu para se casar como ele; isso jamais irá acontecer. Chegando em casa, minha mãe olhou para mim e perguntou por que estava estranha, e eu disse que não era nada demais.

— Avah... Avah... – Senti algo me cutucar e olhei para Cláudia e perguntei o que havia acontecido — estou te chamando a quase dez minutos.

— Desculpe, estou com a cabeça cheia.

Não demorou muito, Luiza jogou vários papéis em minha mesa e me mandou digitar tudo até o meio-dia. Depois, avisou a Cláudia que tem algumas fotografias que ela precisa anexar à matéria do escândalo político.

— Enquanto eles ganham bem e saem para restaurantes caros, nós, as "lacaias", ficamos aqui fazendo o trabalho duro. Deveriam ser deles. – Cláudia estava indignada.

— Deixa eu começar a digitar essas trezentas páginas antes que ela vire o próprio Godzilla. – Nós duas rimos feito duas loucas e fizemos os nossos trabalhos.

Na hora do almoço, faltavam cinco páginas para terminar, e minha adorável chefe me mandou terminar tudo antes de pensar em comer, e eu sabia que isso significava pular o almoço.

— Nós deveríamos denunciar eles.

— E pra quem, Cláudia? Se nós fizermos isso, não iremos trabalhar em lugar nenhum. – Ela balançou a cabeça concordando.

Enquanto digitava, Maciel apareceu me pegando de surpresa. Ele me entregou alguns sanduíches e dois sucos de laranja.

— Obrigada, como sabia que eu precisava disto?

— Não fui eu. – Ele sorriu me entregando um bilhete.

“Desculpe, meu potinho de pimenta. Podemos conversar mais tarde?"

A letra de Noah era inconfundível.

— Obrigada mais uma vez, Maciel.

— Não há de que, dê um oi a sua mãe por mim.

Ele saiu em seguida, e dividi meu lanche com Cláudia, que também não poderia sair para almoçar.

Luiza voltou com os “figurões", quer dizer, com os jornalistas de verdade, os que não fazem quase nada. Meu celular apitou, e vi o nome de Noah piscando.

“Você ainda não respondeu?"

“Vou te ver mais tarde seu chato, me deixa trabalhar."

Desliguei o celular sorrindo.

— Namorado? – Cláudia perguntou.

— Amigo. – Respondi.

— Ninguém sorri assim para a mensagem de um amigo. – Dei de ombros e voltei a trabalhar.

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