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Capítulo 2

Maurício

Passei a toalha pelo meu rosto para tirar o excesso de suor. Acabei minha série de exercícios da noite, mas ainda estava tenso, olhei o outro lado da academia vendo Vê mostrando como programava a esteira para uma menina. Só de olhar, dava para perceber que aquilo era desculpa para chamar a atenção do meu irmão.

Sentia um orgulho do cacete em ver aquele menino crescer e se tornar o homem que é hoje, a vida não foi fácil para nenhum de nós, porém se caísse morto agora iria para o além com sorriso de dever cumprido. Não só Vince, como Ethan e minha pequena Emily se encontravam no caminho certo, valeu cada segundo que lutei por isso, me orgulhava deles.

— Terra chamando Maurício. — Olhei para cima e vi Diogo. Precisava ter uma conversa com ele há algum tempo. O folgado fazia de Vê de capacho. Os dois eram sócios da academia, que construíram juntos, mas só meu irmão dava o sangue e a alma por ela, enquanto o primo recebia os lucros e dava prejuízo. — Te chamei umas duas vezes, segura a barra para mim.

Ele apontou o equipamento de supino posicionados na cadeira ao meu lado. Deixei a toalha e fui ajudá-lo, só de olhar para a quantidade de peso, vi o erro, não precisava ser professor de educação física igual ao Vê.

— Não está pegando muito peso? — Olhei o esforço feito por ele em seguir com a série, mas ele sussurrou um não é contínuo. Seus braços tremiam e a coloração avermelhada de sua pele, um indicativo do esforço. Tudo para se mostrar, as duas novas garotas começaram na academia e estavam nos observando.

Diogo sempre queria pegar a estrada fácil e curta, dois meses atrás precisei segurar Vince para ele não matar o cara, descobrimos sobre a venda de anabolizantes na academia. Não queria separar a briga, mas meu irmão tinha um futuro brilhante e não podia perdê-lo com aquele traste.

— Pega, cara, pega. — Me distraí por meio segundo e quase o pavão se mata, ele não conseguia erguer os pesos. O ajudei a colocar a barra no suporte. — Tá dormindo? — Olhei a expressão brava dele e dei de ombros.

— Bomba dá músculo, mas não força, fica a dica. — Fui até onde deixei as minhas coisas e recuperei minha toalha e garrafinha. Acho que Diego iria retrucar alguma coisa, olhei para ele com a minha cara de pai zangado e ele calou a boca.

Essa expressão aperfeiçoei, cuidando de uma menina de seis anos, um menino de onze e um, rapaz de dezessete. Não foi nada fácil, às vezes eu queria desistir, achava que era muito para mim, morria de medo de estar fazendo algo errado, mas só de ver o sorriso lindo da minha princesa, a briga dos meninos por doce que tudo não passava de um momento ruim.

Meu celular vibrou e eu olhei o visor, a carinha feliz de Emily apareceu nele.

— Onde você quer que eu te busque? — Atendi ao telefone já perguntando.

— Lugar nenhum, irmãozão. — Sorri, ela queria algo, pode não ser carona, mas tinha algo. — Liguei só para avisar que vou chegar um pouquinho mais tarde do que de costume, a galera vai comer um lanche para comemorar o fim das provas. — Emily fazia faculdade de fisioterapia, com bolsa de estudo integral, graças aos seus esforços e muito estudo, suas notas sempre foram as melhores.

— Aonde vai? Com que você vai? E que horas pretende chegar? Quer que eu vá te buscar? E…

— Ma, parou, estou com pessoal de sempre da facul, vamos comer um lanche aqui no podrão e depois o Thi vai me levar em casa e não faz careta. — Olhei no espelho da academia minha cara de poucos amigos, minha princesa não estava com idade para namorar o tal de Thi. Na verdade, se fosse por mim isso não ia acontecer tão cedo.

— Não estou fazendo careta. — A pequena gargalhou do outro lado. — Mesmo assim, preferia ir te buscar…

— Você está precisando é de uma namorada, isso, sim, nós vamos voltar de Uber, compartilho minha localização, está bem. — Não estava, mas fazer o que.

Uma lembrança veio em minha mente, Agatha a atual namorada de Vê brigando comigo e os rapazes para deixar Emily em paz, aquela mulher ganhou meu respeito, não era todo dia que alguém conseguia enfrentar três pitbulls e sair ileso da história.

— Tudo bem, qualquer coisa me liga.

— Sim senhor. — Aposto que a debochada estava rindo ao desligar o telefone.

— Irmãozão. — Olhei para Vê vindo em minha direção, algo me dizia, para eu sair correndo, viria chumbo.

Vê e Ethan tinha o mesmo biotipo com algumas modificações. Ethan, o mais novo era mais magro e alto Vê mais encorpado, o que me dava mais trabalho para separar as brigas que os dois abestados arrumavam, sempre pelas coisas sem importância.

— Fala. — Ergui a sobrancelha enquanto ele se aproximava. — Seja o que for é não.

— Não seja chato, nem sabe o que vou pedir. — Bingo! Sabia que vinha problema. — Sério, dessa vez é algo bom.

Vê colocou o braço ao redor dos meus ombros, um grupo de garotas entrou na academia e quando nos viu deu sorrisinhos. Meu irmão nem notou o fato, isso quer dizer que Agatha estava fazendo a coisa certa. Olhei para cada uma é já descartei de início, magras demais, qual o problema em ter curvas generosas para ter onde pegar?

Isso me lembrou da moreninha que beijei, ou fui beijado no início da semana, as muitas curvas para qualquer homem se perder nelas, e o melhor, não era tão baixa assim, não teria que ter dor nas costas ao beijá-la, fiquei sabendo que a beldade sobre rodas era filha do administrador geral do hospital, ou seja, filha do chefe, deveria estar fora dos limites, porém o beijo não saia da minha mente.

— Diga.

— Um encontro com uma gata...

— Agatha sabe disso? Sabe que ela vai te capar. — Sorri. A mulher, um osso duro de roer, o que meu irmãozinho precisava.

— Ela vai junto...

— Agora você quer um trio? Desculpa errou de irmão.

— Não é nada disso besta, vamos sair em um encontro duplo. Você com uma gatinha e eu com a minha bebê…

— Não. — Comecei a andar para saída, eu fazia quase tudo por meus irmãos, desde a morte dos meus pais, mas tinha certas coisas que estava fora da linha e uma delas eram um encontro duplo, isso com toda certa. Parecia que os três estavam em uma busca por alguém para mim, mas sinceramente eu não precisava. — Vou passar no mercado, quer alguma coisa?

— Que você vá conhecer a Isa, ela é legal…

— Perguntei se quer comer alguma coisa.

— Isso vai acontecer depois do encontro. — Olhei o sorriso convencido do Vê, e revirei os olhos. O cara estava um pé no saco após conhecer a mais nova namorada, Agatha. Um pacote de grande atitude, ela me deixou impressionado, me enfrentando e me colocando no meu lugar por causa de Emily.

— Sua mente é tão suja.

— Cara, você precisa viver mais irmão. — Vê colocou um braço ao redor de mim. — Pensa só em uma morena linda e divertida, sério ela é meio louquinha, mas boa gente, perfeita para o senhor pé no saco.

— Obrigado pela parte que me toca, mas não. Se você não quer nada já estou indo.

— Faz tanto tempo que tu não transa? — Ergui a minha sobrancelha. — Você está precisando, urgente, seu humor horrível mostrar isso.

— Nada que uma tortinha de morango não resolva. — Sorri enquanto tirava o seu braço do meu ombro. Olhei a cara enfezada do meu irmão, nós três éramos muito parecidos, mesmo porte, cor de cabelo, olhos, apesar de Ethan ser o maior de nós e Vince o mais forte, éramos parecidos.

— Cara, normalmente concordaria com você, porém não nesse caso, olha para mim, achei a garota certa e agora terei que ficar um ano longe dela, por algo que sempre desejei. Você precisa deixar para trás o passado.

— Preciso comer isso, sim, agora deixa para lá essa história. — Tentei mudar de assunto. — Emily vai sair com os amigos e o namorinho nerd dela.

— Sinceramente, Emily merece alguém melhor. — Meu irmão concordou. — Mas se a gente falar alguma coisa, Agatha nos faz em pedacinho.

— Meu bebê é demais. — Tive que rir. — Vamos cara, uma noite divertida, sem pressão, Isa fará um mochilão pelo Brasil em cima de uma moto e Agatha quer curtir uma última noite com ela, e a Isa não, quer ser um castiçal. — Vince riu. — Segundo ela não tem graça sair com um casal, então você vai conosco.

— E por que, tenho que ir?

— Isa prefere homens chatos e mais velhos. — Vince deu um tapinha nas minhas costas. — Você preenche os requisitos, chato e velho.

— Não. — Cruzei os meus braços e fechei a cara. — Eu não sou chato.

— Você é, sim, mas gostamos de você mesmo assim. — Ele mostrou a língua para mim. — Uma noite, bebidas, comida boa, papo divertido e só. Você leva Isa para casa e eu curto a minha noite e tu, sei lá, vai fazer cruzadinha.

— Palhaço.

— Quanto amor, maninho. Vamos lá, uma noite e Agatha disse que fará bolo de cenoura com brigadeiro e…

— Eu vou. — Nem o deixei completar a frase. — O bolo é todo meu.

— Tudo bem, ela disse que ia fazer um só para mim e outro para vocês dividir…

— Nada disso, tudo meu e senão eu não vou. — Vince concordou com a cabeça. — Muito bem, diga para Agatha que eu vou.

— Muito bem.

***

Não sei onde estava com a cabeça para ter acertado essa loucura de encontro às escondidas. Olhei para o lugar onde estávamos. Um barzinho parecendo uma taverna de filmes de fantasia. Agatha gargalhou ao meu lado olhando ao celular, ela estava linda em um vestido azul comprido. Vince riu também e olhou para mim, o casal fazia um quadro bonito.

— O que foi? — Os dois gargalharam.

— Nada, meu lord. — Vince fez uma reverência. — Isa disse que você é o Voldemort.

— Pareço um cara sem nariz?

— Maurício, você sabe, quem é Você sabem quem? — Agatha olhou para mim impressionada.

— Emily me fez assistir todos os filmes. — Dei de ombros.

— Isa é uma figura, ela parou para abastecer e já está vindo. — Vince mostrou o celular. — Ela é uma menina levada e precisa de certo cuidado, só um cara que cuidou de meninos levados sabe dar.

— Você quer que eu cuide da amiga dela? — Vince veio para o meu lado.

— Aquele cuidado que só nós sabemos dar, se quiser te dou umas dicas de como cuidar bem de um pacotinho de felicidade como esse. — Ele apontou para Agatha.

— Menino, eu tenho mais experiência que você, posso te ensinar umas coisas, a primeira é manter a boca fechada e não se gabar. — Ele fez uma careta e quando ia falar algo escutamos um barulho de motor.

Uma motocicleta daquelas bonitas e muito barulhentas veio até nós, o motorista estacionou perfeitamente e desligou o motor. Parecia que o mundo entrou em câmera lenta, via ela, sim, com toda certeza era ela, curvas perfeitas e generosas em calças justa e jaqueta de couro. Ela saiu de cima da máquina e levou as mãos na cabeça tirando o capacete preto, ainda de costas para mim, vi a bunda perfeita dela, as pernas longas e torneadas, em cima de botas de salto. Ela tirou o equipamento de segurança liberando.

— Tranças? — Perguntei o óbvio.

— A doida colocou semana passada, disse ser mais fácil de cuidar, agora que vai viajar. — Olhei para a mulher de cabelo azul, caminhando com um gingado, só uma mulher segura de si, tinha. Subi o meu olhar, para blusa de banda, o decote em V mostrando o vale entre os seios, a pele negra, o pescoço delicado e...

— Só pode ser brincadeira.

— Hello, it’s me. — A voz risonha comprimento. — Ai meu Jesus Cristinho, você não veio aqui brigar comigo, não é?

— A mocinha vai andar de patins em um bar? — Sorri, me lembrei do beijo de outro dia, parece que a noite não iria ser tão chata assim, e ainda ganharia um bolo de cenoura no processo.

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