Início / Romance / Vincenzo / Capítulo 3
Capítulo 3

Isa

Por essa eu não esperava, o gato lindo e que beijei no meio do corredor do hospital. O mesmo moreno que não saía da minha cabeça a semana inteira. Parecia estranho, pois só nos vimos uma vez, trocamos meia dúzia de palavras, fiz uma cena chorando no ombro dele e depois o agarrei-o em um beijo. Sim, era estranho, mas ele me fez ver o meu futuro e o que estava perdendo.

— Isa, esse é meu irmão Maurício. — Olhei para Vince, o namorado da minha amiga, que estava fazendo super bem a ela e me deixava feliz. Conversei bastante com ele e cheguei à conclusão, Vê é um cara decente, trabalhador, divertido, maníaco por doce. Adorava mandar bom dia com foto de algum doce só para chatear ele.

— O lord das trevas. — Completei e o moreno me olhou com cara de zangado, dava vontade de apertar suas bochechas e o fazer rir. Seus olhos escuros transmitiam tantas coisas que ele não falava, eu queria descobrir tudo que estava lá. — Prazer, sou a Isa e — apontei para o meu pé — estou de salto, já que me disseram que tu era enorme.

Olhei para ele em seus jeans escuros, camiseta polo, cabelo alinhado, barba feita, o que, em minha opinião, um grade pecado. Lembrei-me da barba arranhando meu rosto quando o beijei. Seu cheiro vinha até mim, amadeirado, marcante. 

— Por que sou o lord das trevas? — Os outros dois babacas começaram a rir. Senti meu rosto ardendo.

— Bem, segundo Vê, Agatha adora levar uns t***s na bunda na hora H. — Vê tossiu, Ag, ficou vermelha e eu sorri. — Me garantiram que você é PHD em colocar mocinhas travessas na linha, mas não se deixe enganar, sou uma boa menina.

— Sei... Vi como é boa. — Ele me olhou de cima a baixo e me senti quente. — E sim, coloco meninas más na linha, principalmente se andarem de patins em um hospital.

— Meu lord. — Encaixei meu braço no dele. — Estava usando um tênis que por acaso tem rodinhas, veio assim de fábrica e eu não tenho culpa. — Ele ergueu a sobrancelha, aquilo era sexy.

— A não? — Balancei a cabeça e começamos a andar para o bar.

— Temos que fazer nosso trabalho com alegria, em um hospital é deprimente.

— Acho vocês fodas, não vejo a mim mesmo cuidando dos outros...

— Ah, para, conheço sua história e você daria um ótimo cardiologista, é centrado, mandão, e parece um astro do rock, bem mandão, autoritário.

— Parece que você me conhece bem. — Ele abriu a porta para mim, me deixou passar. Ponto para ele, pelo cavalheirismo. Fomos encaminhados para uma mesa de canto por uma menina vestida em um vestido de camponesa, como se fosse uma viking. Qualquer minuto esperava que o Asterix e Obelix aparecer gritando.

— Ag e Vê falam muito de você e de seus irmãos, praticamente sou íntima, por isso o apelido, mas confesso que não faz jus a você. — Maurício puxou a cadeira para mim e eu sentei.

— Só por que, tenho nariz? — Olhei para ele e gargalhei muito.

— O que nós perdemos? — Vince fez o mesmo que o irmão, Ag sentou em minha frente.

— Mau Mau tem nariz. — Tentei segurar a risada, mais não dava, sei que a piada era muito ruim, porém ver aquele grande homem de cara amarrada fazendo aquela pergunta.

— Agora sou Mau Mau? — Um leve sorriso se fez presente no bonito rosto dele.

— Sim, Mau de Maurício e Mau por ser malvado Lord das trevas. — Os meus amigos começaram a rir.

— Você ainda não viu o quanto posso ser malvado. — Ele apertou a minha coxa e sussurrou em meu ouvido. Aí puta que pariu de rodinhas.

***

— Muito bem, que história é essa de mochilão pelo Brasil? Não acha que é perigoso demais...

— Por que sou mulher? — O interrompi, estávamos sozinhos na mesa, Ag e Vê foi dançar na pequena pista no canto do bar.

A noite, até aquele ponto, estava divertida, engraçada, não ria tanto como estava fazendo ali a muito tempo, Maurício coitado, foi pego para Cristo por nós três, e descobrir seu humor negro, suas piadas sarcásticas e estava adorando. Falamos de tudo um pouco enquanto comíamos uma deliciosa batata rústica regado de muito suco. Comecei a conhecer um pouquinho Mau Mau, bem pouquinho mesmo, ele era muito reservado e eu estava um pouco nervosa e falando pelos cotovelos — Se você começar com um discurso machista sobre isso, teremos problemas e vamos ter que adiar o sexo, quando fico brava, prefiro comer.

— Iremos fazer sexo? — Revirei os olhos para ele. — Não quero te deixar brava ou chateada, mas tenho uma irmã em casa e não posso nem a imaginar correndo Brasil, a fora em cima em uma moto. Não confio de ela ir nem na padaria, que fica a duas quadras de casa, não porque ela é mulher e sim pelo fato de ser mulher ela estar mais em evidência. — Ele olhou para o salão barulhento com diversas pessoas interagindo. — A verdade que não vivemos em um mundo não muito legal, não tem pessoas lá fora boas que vão te respeitar. — Ele apontou para saída. — Aquela moto por si só, chama a atenção com uma linda mulher em cima dela vai literalmente parar o trânsito, tanto bom quanto ruim.

— Agradeço, mas...

— Mas será teimosa, vai sair pela aquela porta, subir naquela máquina e se arriscar a sofrer um acidente ou ser roubada, e algo muito pior, ser agredida. Você estará sozinha em uma estrada e poderá acontecer tudo isso ou nada disso e eu não consigo não me preocupar com você lá fora e...

Não deixei continuar, mas uma vez o puxei e colei os meus lábios nos dele. Nada como um homem super protetor para deixar uma mulher louquinha. Podemos falar o que for, sermos brilhantes, autossuficientes, mas quando se trata de achar um companheiro queremos segurança, carinho, atenção, nos sentimos lindas e queridas. E isso não nos diminui, podemos ser uma guerreira e uma princesa, somos mulheres e podemos tudo. Na real, gostei da preocupação, coisa que não tive em casa da minha família, nem meu irmão reagiu assim, não que eu pensasse naquele moreno delicia como meu irmão, mas queria ter ouvido isso deles.

Pode ver os melhores romances nas listas, sempre tem um homem poderoso, forte e que as protejam. Sim, eu tinha um desse ao meu lado e por um momento fui viver a fantasia de ser uma mocinha de romance de banca de jornal.

Maurício segurou meu rosto em sua mão acariciando minha face, intensificando nosso beijo, o homem sabia beijar, na verdade, ele fazia amor com a minha boca, nossas línguas se entrelaçavam em uma dança sensual. Enfiei meus dedos em seu cabelo macio, trazendo mais para perto de mim, seu cheiro me afetou, me envolvendo, eu queria me sentir viva, por isso andaria por meio mundo.

— É a segunda vez que você me beija. — Maurício mordeu meu lábio e eu dei um gemido.

— Sou uma mulher que vai em busca o que quer. — Dei de ombros e ele voltou a me beijar, tão intenso como o outro. Esse homem era uma delícia.

— Gosto de mulheres que sabem o que quer.

— Eu de cara protetor. — Sorri. — A verdade é que cansei do hospital, vivi metade da minha vida em um. — Voltei a recostar na cadeira enquanto ele colocava a mão atrás do me encosto e prestava atenção em mim. — Quando tinha nove anos descobrimos a leucemia, lutei durante seis anos da minha vida e praticamente morando no hospital, minha mãe teve que ter outro filho para que eu pudesse sobreviver. Vivi e o que eu fiz? Estudei para voltar ao lugar onde passei os piores dias da minha vida.

— Sinto muito pela sua doença.

— Eu também. — Pisquei meus olhos várias vezes para não chorar. — Pensei que ao me tornar médica, poderia pesquisar algo mirabolante que iria fazer com que crianças não passassem pelo que passei, mas naquele dia que nós vimos tive que fazer um procedimento em um bebezinho tão pequeno, ele não viveu nada, e já está sofrendo e isso é injusto. — Passei a mão pelo meu rosto limpando-o. — Não quero mais perder um minuto no hospital...

— Isa. A vida é uma droga e nada justa, mas ela é sua, se você quer mesmo ir nesse mochilão, vá, mesmo sendo contra, devido à sua segurança, não posso fazer muita coisa, só rezar para você ficar bem.

— Vai rezar por mim?

— Sim, seu anjo da guarda vai ter muito trabalho. — Esqueci como os meninos eram religiosos, e achei aquilo fofo. Minha família era da ciência e nunca foram ligados a Deus, meu pai odiava que as pessoas atribuíssem a cura a um ser que não dava para ver ao invés dos médicos que batalhava. Não tinha uma opinião formada, mas gostava de acreditar, existir um ser superior que cuidava de mim.

— Ele tem mesmo, o coitado deveria ser promovido para arcanjo, isso sim. — Maurício pegou uma de minhas trancinhas na mão.

— Uma menina peralta, é o que tenho em mãos?

— Só um pouquinho. — Mostrei com os meus dedos e ele deu um sorriso. — Vamos lá bonitão, vamos ser radicais, aprontar umas e viver intensamente?

— Acho que isso não é para mim, tenho que cuidar dos meninos e...

— Não tem, mas não quer dizer que precisa, os meninos estão grande e você não precisa cuidar tanto deles e...

— Só para. — Maurício levantou da cadeira. — Meus irmãos sempre estarão em primeiro lugar e eu vou cuidar deles, vá realizar o seu mochilão e boa sorte.

— Maurício...

— Tenha uma boa noite, Isadora. — Ele pegou a carteira no bolso de trás de seus jeans e tirou algumas notas jogando na mesa. Ele deu dois passos na direção da porta e eu vi vermelho, peguei o ketchup e lancei em direção a ele. A embalagem bateu em suas costas e caiu. — Mas que merda!

— Escuta aqui. — Levantei do meu lugar e o encarei. — Larga de ser babaca, não estou dizendo para você largar os meninos, estou dizendo para você também aproveitar a sua vida, dar para fazer as duas coisas, idiota.

— Você é doida?

— Completamente. — Ele veio até mim e me puxou para o seu braço e me beijou. Dessa vez, foi diferente, de todos os outras. Ele simplesmente me dominou. Segurou a minha cabeça com uma mão e a outra deslizou por meu corpo até chegar a minha cintura e me trazer para perto de seu corpo musculoso. Levei as minhas mãos em suas costas, aproveite para toca-lo por todos os lados. Cara, eu queria está em algum lugar mais privado para poder tirar toda aquela roupa que nos atrapalha e ver cada centímetro de pele morena, sem contar em beijar, lamber, mordiscar, por onde eu passava.

Nunca agi assim, sempre me relacionei com homens no nível intelectual para depois passar para o carnal e por fim o emocional. Deve ser por isso que em toda a minha vida só transei duas vezes e foi péssimo. Nunca tive uma paixão, um amor avassalador que me tirava dos eixos e me mandava para esse espiral de emoções conflitantes. Só posso dizer estar adorando.

— Você tem que entender que a minha família vai sempre vir em primeiro lugar. — Maurício disse ao término do beijo encarando os meus olhos. Estávamos respirando com dificuldade, nossos peitos se tocavam e isso estava me deixando acessa.

— E você tem que entender que eu disse para você curtir a sua vida e não deixar de cuidar dos seus irmãos, dá para fazer as duas coisas. — Sorri para ele. — Você está beijando uma garota nesse exato momento, mesmo assim aposto que se um dos seus irmãos te ligar dizendo que está com problemas sairia daqui e iria até eles, isso não é ruim, faz parte do ser protetor que é. Eu ainda sou médica, se o meu celular tocar com uma chamada do hospital, mesmo querendo fazer um SSI terei que ficar chupando dedo e correr para salvar uma vida, ser médica é o que eu sou.

— Entendi. — Ele se afastou de mim e voltou a sentar. — O que seria um SSI?

Eu ri e tomei o meu lugar ao lado dele. Alcancei o meu copo de suco e dei um bom gole. Na pista de dança, Vê e Ag estavam se divertindo. Fiquei feliz por minha amiga, ela merecia alguém bom em sua vida.

— Sexo, selvagem e intenso. — Olhei para ele com um largo sorriso.

— Menina, você está brincando com fogo.

— Estou mesmo? — Virei de lado e encostei minhas costas na parede, fria o encarando. — Somos dois adultos conversando, e ao que me parece você quer a mesma coisa que eu, ou estou errada? — Se ele falasse que estava errada me mudaria para China. Senti meu rosto esquentar pela minha ousadia.

— Está certa. Uma boa noite de SSI seria bem interessante. — Tinha algo ali, algo que não estava contando. O rompante de raiva dele com a menção de abandonar os cuidados com os irmãos, e agora ele não olhava para mim quando falava e dava a entender pelo tom de suas palavras que eu só teria isso. Um bom SSI.

— Quem foi que chutou seu cachorro? — Ele me encarou com ar confuso.

— Não entendi.

— Quem te magoou no passado, para você ser assim?

— Ninguém. — Era uma mentira, dava para perceber. — Onde vai ser nosso SSI. Minha casa ou sua casa?

— Se for na sua casa corremos o risco de seus irmãos reclamar do barulho?

— Você é barulhenta em um SSI?

— Sei lá, mas se tudo que me prometeram for verdade, provavelmente é melhor ser na minha casa, teremos mais privacidade e ninguém para reclamar do barulho. — Dei de ombros.

— Não sei o que falaram sobre mim...

— Que você ia dar um jeito em mim, e teve menções de que eu não conseguiria sentar por alguns dias. — Maurício gargalhou, sua risada rouca retumbou por meu corpo. — Isso é verdade, meu lord?

— Isso você só vai saber se provar. — Ele colocou a mão em meu joelho e foi subindo pela coxa deixando um rastro de fogo por onde passava. — Não se preocupe, meu quarto é isolado, nosso SSI não vai atrapalhar ninguém. — Ele deu um aperto e senti meu sexo contrair, sim, aquela noite eu passaria muito bem e a grande possibilidade de não sentar era grande.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo