Logo todos estávamos reunidos na biblioteca. Antony explicou novamente a situação. Vitor, pensativo, perguntou para nós:
— Onde está papai?
— Ele deixou tudo nas mãos de Vincent.
Vitor me encarou por um momento, sério, e depois saiu da biblioteca.
Ele estava aborrecido com seu pai. Era sabido de todos que ele almejava estar à frente da família. Mesmo que soubesse esse tempo todo que Vincent ficaria com o posto. Mas aquele resquício de esperança ele sempre guardava no peito: que seu pai mudasse de ideia.
Mas agora, com a atitude de Don Salvatore, a contrariedade gritou mais alto. Além de achar muito cedo que Vincent assumisse tudo sozinho.
Ele considerava isso um fracasso nos negócios. Especialmente quando tudo indicava que a carga fora roubada. Esperava agora que tais erros fossem corrigidos naquela reunião por seu pai.
Ao ver Vitor sair da casa carrancudo, Don Salvatore se levantou e foi ao seu encontro. No meio do caminho o alcançou.
— Perdoe-me, papai. Mas acho que é muito prematuro Vincent assumir os negócios. Como podemos ter êxito se o senhor não está lá para apoiar as decisões? E os soldados se sentirão seguros com a resolução de Vincent? O senhor sabe que precisamos de sua autoridade, as duas coisas andam de braços dados. Nossa família deve dar um passo com base em sua força.
— A partir de hoje, Vincent assumirá os negócios. Quero que ele tenha força. Se eu interferir com minhas opiniões, ele perderá isso. Ele tem habilidade suficiente para agir e recuperar o carregamento. Todos viram como ele teve muita facilidade em aprender toda a complexidade do negócio da Família.
Vitor acenou com a cabeça.
— O senhor está dando a ele um voto de confiança?
— Vitor, ele há muito tempo já o tem. Só você que não enxergou ainda.
Ele permaneceu calado por muito tempo e depois suspirou. Finalmente, falou:
— Tudo bem, pai. A verdade é que sempre almejei ser o novo Don. Vincent sempre desprezou isso. Não sei por que insiste com ele?
— Há certos deveres que o homem certo deve assumir. Seu irmão tem o perfil.
— Pai, o que meu irmão tem que eu não tenho?
Don pegou o ombro do filho.
— Frieza, lógica, mas muito mais que isso, instinto. Seu irmão vê longe.
O rosto de Vitor ficou vermelho, mas ele aceitou a opinião de seu pai humildemente.
— Muito bem — respondeu.
Enquanto isso, na sala da biblioteca, eles esperavam a presença de Vitor na reunião. Antony, sentado num grande sofá. Vincent em frente à janela, observando seu irmão e seu pai conversarem. Os soldados num outro canto, já impacientes.
Quando Vitor finalmente entrou na sala, avistou Vincent, habitualmente sombrio, com sua cara de granito, encará-lo.
— Perdoe-me, Vincent. Podemos continuar a nossa reunião.
O mais novo Don estudou os rostos dos homens à sua frente, os homens mais poderosos da sociedade ilegal.
Vincent
— Bem sei que o tempo começa a escassear. Precisamos agir logo. A minha proposta é a seguinte: Rubens espalhará a notícia que a família que encontrar o carregamento, além de receber 1% da mercadoria, se tornará um associado nosso.
Vitor se moveu em minha direção.
— Não acho uma decisão sábia. Associado? Você está louco, Vincent!
Eu encarei meu irmão.
— Eu ainda não terminei meu raciocínio, Vitor!
Meu irmão assentiu com a cara amarrada.
— Faremos também um trabalho investigativo. Rastrearemos o trajeto da nossa carga, e cada ponto em que ela parou até sumir. Enzo, você será responsável por isso. Rubens, você ficará responsável em observar a venda de drogas nas ruas. Coloque um dos nossos homens para se infiltrar como usuário. A família que for responsável pelo roubo da carga logo começará a vendê-la.
— Isso é outra coisa que não entendo! — Vitor disse, cruzando os braços. — Como saberemos que a droga é nossa?
Eu encarei Vitor.
— Nossa droga não é igual às outras.
— Como assim?
— Eu pedi para colocar microbolinhas de colorante. É só misturar com água e a coca fica vermelha.
Vitor direcionou seus olhos para Rubens, que sorria.
— Rubens, você sabia disso?
— Sim. Achei uma ideia genial.
— Por que você não me contou, Vincent?
— Não achei necessidade de te falar. — Eu me virei para todos. — Nós tomamos muitas ações desde a morte de nosso irmão. E isso foi entendido por todos como um ato de retaliação aos Sebastians pelo que fizeram. Essa mensagem foi enviada a todas as famílias, os Sabatinis, os Solomons e Berrines. Desde então essas famílias nos respeitam e desejam se associar a nós. A oportunidade que estaremos oferecendo às famílias para acharem o carregamento, demonstra claramente que estamos abertos para uma nova associação.
— Papai nunca permitiu associação nenhuma com outras famílias no tráfico e nem na comercialização das drogas. Por que isso agora? — Vitor questionou.
Um silêncio se formou, cheio de tensão. Eu respondi com serenidade:
— Eu tive uma conversa com papai — repliquei para Vitor, que me encarava com frieza. — Esse foi o último carregamento de droga que fizemos. Estamos saindo do ilícito. Usaremos uma das famílias para isso. Passaremos os nossos contatos, tudo. Eles farão esse serviço sujo, em troca teremos uma porcentagem de tudo que eles venderem. Estaremos nesse negócio indiretamente.
Silêncio novamente, desta vez mais hostil do que o último, e eu percebi que tinha tocado em um ponto crucial.
— Por que me deixaram de fora disso? — Vitor gritou.
— Vitor, é um absurdo achar que te deixei de fora! — respondi, me sentindo ofendido.
Antony pegou o braço de Vitor.
— Vitor, você está agindo como se Vincent fosse um estranho. Não percebe?
— Deixe-o! — eu disse para Antony, me afastando da janela e indo em direção a Vitor.
A poucos metros dele, eu parei.
— Você estava com seu filho no hospital, lembra? Nesse dia tivemos essa reunião. Ninguém está te tirando dos negócios. Tudo que faremos é para o bem da família. Você entende isso?
Vitor não respondeu.
— A reunião acabou. Saiam todos. Vitor, fique!
Quando todos saíram da sala, eu encarei Vitor.
— Sei que está chateado. Sei que sempre desejou estar à frente dos negócios. Não lhe tiro a razão. Eu fiquei afastado por dois anos enquanto você deu duro ao lado de papai. Eu não pedi para estar aqui. Você bem sabe disso! Se eu tomei à frente dos negócios, foi apenas para deixar nosso pai feliz. Eu preciso de você! Quero você como um aliado. Temos o mesmo sangue. Eu gostaria de saber se posso contar com você?
Vitor contorceu o rosto, franziu os lábios, e disse, resignado:
— Vincent, eu não quis passar essa impressão. Sei que papai escolheu bem. Esqueça o que eu disse.
Eu acenei com a cabeça.
— Ótimo.
Enquanto isso, em Isle of Palms, uma cidade localizada no estado norte-americano de Carolina do Sul, no Condado de Charleston. Uma cidadezinha tranquila. Parecia intocada pela visitação de turistas. Com pouquíssimos hotéis. Um refúgio perfeito para Renata Willians Bertizzollo.Com Lorenzo morto, ela agora era dona de seu destino.O dinheiro que pegara do cofre tinha acabado, por isso estava trabalhando em uma grande boate no período noturno como bartender. Seu emprego era recente, completava hoje quinze dias. Isso a preocupava, pois ela deixara seu anonimato e o refúgio do seu lar para se expor mais. Renata sempre sentia uma pontada de medo ao pensar nos Bertizzollo. Quando isso acontecia, ela sempre balançava a cabeça para afastar seus pensamentos pessimistas.Estava feliz. Era independente e não precisava agradar ninguém a n&a
RenataNo dia seguinte...Eu fazia todo tipo de misturas estranhas que me pediam. Osdrinksnão eram muito elaborados, isso facilitava na minha agilidade de servir ao público. Muitas bebidas já eram pré-definidas. Era só seguir a receita e pronto. Afinal, eu não era nenhumaexpertno assunto.Era bom trabalhar. Quando minha mente estava ocupada, conseguia deixar o passado, pois toda a minha atenção se voltava para as misturas que eu fazia. Mas era só eu relaxar, meus olhos passavam pelos clientes com puro medo.Agora por exemplo, estava sentindo os olhos de um homem o tempo todo em mim. Eu chamava a atenção, eu sabia disso. Mas os homens geralmente me olhavam diferente, geralmente me davam um sorriso, tentavam puxar uma conversa, mas estavam sempre descontraídos. Esse homem n&ati
Enquanto isso, do outro lado, em Miami Beach... 4 horas da madrugada...O cômodo estava mergulhado na penumbra, nenhuma luz acesa. Vincent tentava pegar no sono. Estava deitado na cama, imóvel. Seu antebraço cobria o os olhos.A sua guerra contra os Sebastians não era vitoriosa ainda. Ramon estava vivo e Renata ainda era uma fugitiva. Mas, mesmo diante de tudo isso, ainda era considerado um homem que não podia ser subestimado, apesar dos infortúnios da sua Família.Uma batida na porta o fez acender o abajur. Com seus volumosos cabelos negros desarrumados, sua barba crescida e estilizada, seus lábios cheios, olhos verdes quase azuis, ele virou o rosto para a porta.Vincent— Entre!Quando eu vi quem era, eu logo me sentei na cama.Eles a acharam!Pondo-me de pé, vi o so
O sol incidiu no quarto de Vincent. Ele acordou se sentindo bem. Depois de tanto tempo, finalmente tinha dormido sem aquele maldito peso pela impunidade daqueles que haviam tirado a vida de seu irmão.VincentEu tomei um banho demorado e depois, só de cueca, com o sol da manhã incidindo sobre o meu corpo, acendi um cigarro e, deitado na cama, comecei a pensar.Não demoraria muito, a notícia da morte de Ramon chegaria aos meus ouvidos. Aí viria a segunda etapa. Renata.Eu seria o monstro sedutor sorrindo para ela. Ela não entenderia a escuridão em meus olhos, pois isso a aterrorizaria. Eu a seduziria em teias de mentiras com meu charme. Logo ela se veria presa. Aos poucos tomaria o controle da situação sem que ela percebesse... ou resistisse.Eu iria despi-la de seu controle. Ela seria manipulada e atraída para mim – a aranha
RenataDentro da boate moderna e enorme, os andares estavam repletos de pessoas que se inclinavam sobre o parapeito e observavam os frequentadores abaixo. A enorme pista de dança no meio do ambiente estava lotada.Luzes tremeluziam, salpicando de roxo, branco e dourado a multidão na pista de dança e deixando os cantos na penumbra. Bolas metálicas pendiam no teto, iluminando as pessoas de prata no centro da pista de dança.Tocava agora uma música do momento, “Bette Davis Eyes”, de Kim Carnes. Parecia que todos tinham resolvido dançar. Uns dançavam sozinhos com as mãos para cima. Outros, em suas mesas, acompanhavam a música vendo os casais dançarem.Era fim de noite, eu estava para ir embora, mas antes ia dar uma passadinha no banheiro. Tirei meu avental preto customizado com o nome da boate e, depois de passar por uma portinhola, segui a
RenataComo se sentisse minha presença, Jacob se virou para mim. Quando nossos olhos se encontraram, eu quase não consegui caminhar até ele com o impacto de receber a intensidade do seu olhar. Mas forcei meus joelhos vacilantes e, corajosamente, fui em sua direção. Jacob tensionou sua boca com um pequeno sorriso de canto e pegou minha cintura. Eu estremeci inteirinha. Nunca tinha me acontecido algo parecido. E Lorenzo era muito bonito. Mas esse homem tinha uma aura de masculinidade exacerbada.Ao caminhar ao lado dele, era nítido o olhar que muitas mulheres lançavam para ele. Elas me observavam também, talvez para descobrir o que eu tinha para ter um cara tão quente ao meu lado. Lancei um olhar para Jacob. Ele parecia centrado, o rosto rígido, como se estivesse preocupado com algo.Ele me levou para a saída. Quando meus pés tocaram o chão lá de fora, o vento gelado
Renata— Chegamos. — A voz grave e profunda de Jacob cortou meus pensamentos.Antes de olhar para ele, eu olhei ao meu redor e vi minha casa de número 320.— Obrigada.Dei-lhe um leve sorriso.— Você parecia estar longe... pensando em coisas boas ou ruins?O pânico se estabeleceu dentro de mim. Eu demorei um momento para falar. O nervosismo atacou meu estômago, mas mantive a minha posição serena.Um pequeno sorriso enfeitou os lábios de Jacob, os olhos azuis piscaram, meu coração já disparado parecia que ia sair do peito.— Eu devo perguntar de novo, ou você vai repensar a sua resposta?Um fio de medo correu por minha espinha, pois eu estava me perdendo naqueles olhos azuis. Indo, indo, indo... Finalmente eu disse, franca:— Ruins. Bem, obrigada.Ele balançou a cabeça lentamente, seus olhos parecendo p
RenataNo dia seguinte acordei tarde. Desde a hora que abri meus olhos senti dentro de mim uma agitação interior. E eu sabia a resposta disso: mais tarde eu veria Jacob.Passei o dia dando uma ajeitada na casa, fazendo faxina. Meu estômago estava tão embrulhado pelo nervosismo, à medida que as horas iam passando, que no almoço só comi frango grelhado e salada.Mais tarde eu estava terminando meu banho, quando ouvi a campainha. Com o coração agitado, desliguei o chuveiro.Ding Dong! Era a terceira vez que tocava! Que homem insistente! No mínimo não estava acostumado a esperar.Ainda molhada, pingando, coloquei um roupão e fui até a sala. Abri a porta.Jacob estava lá.Lindo.Os cabelos estavam úmidos do banho, usava uma bermuda preta que lhe caía muito bem e uma camiseta branca. Nenhum outro homem tinha o poder de me perturbar ta