Renata
No dia seguinte...Eu fazia todo tipo de misturas estranhas que me pediam. Os drinks não eram muito elaborados, isso facilitava na minha agilidade de servir ao público. Muitas bebidas já eram pré-definidas. Era só seguir a receita e pronto. Afinal, eu não era nenhuma expert no assunto.
Era bom trabalhar. Quando minha mente estava ocupada, conseguia deixar o passado, pois toda a minha atenção se voltava para as misturas que eu fazia. Mas era só eu relaxar, meus olhos passavam pelos clientes com puro medo.
Agora por exemplo, estava sentindo os olhos de um homem o tempo todo em mim. Eu chamava a atenção, eu sabia disso. Mas os homens geralmente me olhavam diferente, geralmente me davam um sorriso, tentavam puxar uma conversa, mas estavam sempre descontraídos. Esse homem não. Ele estava virado na minha direção, os lábios apertados, mas eu não conseguia ver direito o rosto dele. Mas podia sentir seus olhos em mim. Como um predador à espreita.
Eu atendi mais um cliente que me pediu um Casablanca.
— Sua bebida. — Entreguei com um sorriso.
Quando olhei novamente na direção daquele homem, eu não o encontrei no lugar. Suspirei e relaxei. Perguntei-me se isso era uma impressão doentia, ou minha imaginação?
— Tudo bem? — Evie, minha colega de trabalho, me perguntou.
Respirei fundo.
— Tudo.
— Você parece preocupada.
Eu lhe dei um sorriso nervoso.
— Às vezes, Evie, parece que você me conhece desde sempre. Estou tão pouco tempo aqui, e você conhece meus humores, meus gestos.
Ela sorriu aberto.
— Tem pessoas que escondem seus sentimentos. Você, não. Seu rosto é muito expressivo.
— Olá garotas. — Eu me virei para o cliente. Era o senhor Arnold. — Uma de vocês pode fazer um Eclipse para mim?
— Claro, senhor Arnold. — Evie o atendeu prontamente.
Eu sorri para ele e me afastei para lavar uns copos sujos. A pia ficava em frente ao público, antes do balcão.
— Olá, linda.
Meu coração deu um salto no peito quando ouvi uma voz com sotaque latino. Meu coração galopou no peito.
— Lembra de mim?
Eu encarei aquele homem, o reconhecendo, mas eu neguei com a cabeça.
— Eu tive a infelicidade de esbarrar em você no shopping e derrubar um pacote de taças de cristal que estava em suas mãos. Você se lembra?
— Não. Eu acho que você está me confundindo com alguém — menti.
Sim, eu me lembrava dele. Ele fez questão de entrar na loja comigo e comprar novamente as taças, embora fossem o olho da cara.
— Mas isso é incrível! Você é muito parecida com ela. — Ele disse com um sorriso charmoso. Eu pude sentir seu sarcasmo.
Ele me olhava como se pudesse ler todos pensamentos ocultos e eu não queria que ele lesse os meus....
— Sinto muito, Sr. ...?
— Me chame de Ramon.
— Preciso voltar ao trabalho. Há várias outras mulheres por aí — disse, e continuei a lavar os copos.
— Tudo bem. Mas pode fazer um drinque para mim, não pode?
Eu respirei fundo.
— Sim — respondi, enxugando as mãos. — O que deseja?
Ele sorriu.
— Um Eclipse.
Assenti para ele e fui preparar a bebida. Quando coloquei o copo no balcão, ele sorriu por um momento.
— Obrigado, Renata Bertizzollo.
O pânico me dominou. Simplesmente não conseguia me mover. Pálida, fiquei a olhar para ele. O silêncio se propagou por um instante.
— Como sa.... be... meu nome?
— Ah, por favor, Renata. Quem acompanha a coluna social, sabe que é viúva de Lorenzo Bertizzollo.
— Quem é você?
— Ramon Rodrigues, a seu dispor.
Eu balancei a cabeça.
— Rodrigues?
— Sim.
— Nunca ouvi falar. Eu nunca te vi nos jantares, festas.
— Realmente, você não me viu, pois minha família e a sua têm algumas desavenças e, talvez, porque somos inofensivos, se comparados à sua família.
Meu Deus! Ele era um dos inimigos da família!
— Eu não pertenço àquela família. — Eu me enchi de temor. — Olha, eu não sei o que você quer comigo...
Ele me cortou:
— Quero te ajudar, Renata.
Engoli em seco.
— Eu não preciso de ajuda!
Ramon se aproximou mais do balcão.
— Renata, claro que precisa. Do jeito que quer esconder sua identidade, entendi que fugiu dos Bertizzollo. E se eu te disser que é questão de tempo eles te acharem e você pagar com a vida. Já pensou nisso?
Minha amiga se aproximou de nós.
— Renata, o que há com você? Eu preciso de ajuda. — Evie reclamou, o balcão estava cheio.
Ramon sorriu para Evie e depois me encarou.
— Volte ao seu trabalho. Amanhã, eu volto e conversamos mais. Já estou na minha hora também. Eu não quero atrapalhar sua vida...— ele disse docemente, como um amigo querido.
Eu assenti para ele, emudecida, e o observei se afastar. Suprimi as lágrimas, revivendo a decisão que tomei em fugir dos Bertizzollo. E agora o que eu menos queria era me associar a alguém, e muito menos aos inimigos deles.
Foi uma difícil decisão que tomei em ter fugido. Na época eu entendia que era a coisa certa a fazer, mas agora eu começava a ter minhas dúvidas.
Evie, atendendo um dos clientes, falou para mim.
— Meu Deus, que homem misterioso! Você o conhece? Ele parece um agente secreto latino, gato.
— Por favor, me vê um Cosmopolitan. — Uma voz grossa me pediu no balcão. Mas eu nem olhei a pessoa que fez o pedido e encarei a expressão sonhadora de Evie.
Se ela soubesse quem era essa gente...
Sim! Eu precisava alertá-la!
— Evie, esse homem não presta. Imagine tudo que é de ruim, não se envolva com essa gente, não caia nessa!
— Você o conhece então?
— Sim.
Me virei para a voz que me pediu a bebida. O cara parecia um armário de tão forte e alto que era. Tinha uma cicatriz no lado direito. Eu me arrepiei toda. Parecia o tipo de cara que meu marido contrataria para sua segurança. Embora, mesmo com dois soldados em sua cola, tivesse morrido tão covardemente.
Fiz a bebida que o homem pediu e entreguei para ele.
Nos minutos seguintes eu tremia que nem vara verde, nervosa e com medo. O estômago embrulhado.
Fugir...
De novo?
Para onde?
Eu nem tinha dinheiro o suficiente para isso!
Eu estava ferrada!
Passei meus olhos pela boate. Havia muitos frequentadores ricos nela.
Todo tipo.
Playboys, executivos...
Mynt só atraía esse tipo de gente. Se eu fosse uma pessoa inteligente, me envolveria com um deles. Teria um segurança particular na minha cola, e seria protegida. E não ficaria assim, como eu estava, toda hora olhando por cima do meu ombro para ver se via algum suspeito, Lucas, Vitor ou Don Salvatore na minha cola. Ou os inimigos da Família.
E esse armário que me pediu a bebida?
Ele não combinava com o lugar!
Meu Deus! Eu estava sendo alvo de um dos inimigos dos Bertizzollos.
Um pequeno calafrio percorreu meu corpo enquanto ácido queimava minha garganta. Piscando para conter as lágrimas, eu me concentrei no trabalho.
Enquanto isso, do outro lado, em Miami Beach... 4 horas da madrugada...O cômodo estava mergulhado na penumbra, nenhuma luz acesa. Vincent tentava pegar no sono. Estava deitado na cama, imóvel. Seu antebraço cobria o os olhos.A sua guerra contra os Sebastians não era vitoriosa ainda. Ramon estava vivo e Renata ainda era uma fugitiva. Mas, mesmo diante de tudo isso, ainda era considerado um homem que não podia ser subestimado, apesar dos infortúnios da sua Família.Uma batida na porta o fez acender o abajur. Com seus volumosos cabelos negros desarrumados, sua barba crescida e estilizada, seus lábios cheios, olhos verdes quase azuis, ele virou o rosto para a porta.Vincent— Entre!Quando eu vi quem era, eu logo me sentei na cama.Eles a acharam!Pondo-me de pé, vi o so
O sol incidiu no quarto de Vincent. Ele acordou se sentindo bem. Depois de tanto tempo, finalmente tinha dormido sem aquele maldito peso pela impunidade daqueles que haviam tirado a vida de seu irmão.VincentEu tomei um banho demorado e depois, só de cueca, com o sol da manhã incidindo sobre o meu corpo, acendi um cigarro e, deitado na cama, comecei a pensar.Não demoraria muito, a notícia da morte de Ramon chegaria aos meus ouvidos. Aí viria a segunda etapa. Renata.Eu seria o monstro sedutor sorrindo para ela. Ela não entenderia a escuridão em meus olhos, pois isso a aterrorizaria. Eu a seduziria em teias de mentiras com meu charme. Logo ela se veria presa. Aos poucos tomaria o controle da situação sem que ela percebesse... ou resistisse.Eu iria despi-la de seu controle. Ela seria manipulada e atraída para mim – a aranha
RenataDentro da boate moderna e enorme, os andares estavam repletos de pessoas que se inclinavam sobre o parapeito e observavam os frequentadores abaixo. A enorme pista de dança no meio do ambiente estava lotada.Luzes tremeluziam, salpicando de roxo, branco e dourado a multidão na pista de dança e deixando os cantos na penumbra. Bolas metálicas pendiam no teto, iluminando as pessoas de prata no centro da pista de dança.Tocava agora uma música do momento, “Bette Davis Eyes”, de Kim Carnes. Parecia que todos tinham resolvido dançar. Uns dançavam sozinhos com as mãos para cima. Outros, em suas mesas, acompanhavam a música vendo os casais dançarem.Era fim de noite, eu estava para ir embora, mas antes ia dar uma passadinha no banheiro. Tirei meu avental preto customizado com o nome da boate e, depois de passar por uma portinhola, segui a
RenataComo se sentisse minha presença, Jacob se virou para mim. Quando nossos olhos se encontraram, eu quase não consegui caminhar até ele com o impacto de receber a intensidade do seu olhar. Mas forcei meus joelhos vacilantes e, corajosamente, fui em sua direção. Jacob tensionou sua boca com um pequeno sorriso de canto e pegou minha cintura. Eu estremeci inteirinha. Nunca tinha me acontecido algo parecido. E Lorenzo era muito bonito. Mas esse homem tinha uma aura de masculinidade exacerbada.Ao caminhar ao lado dele, era nítido o olhar que muitas mulheres lançavam para ele. Elas me observavam também, talvez para descobrir o que eu tinha para ter um cara tão quente ao meu lado. Lancei um olhar para Jacob. Ele parecia centrado, o rosto rígido, como se estivesse preocupado com algo.Ele me levou para a saída. Quando meus pés tocaram o chão lá de fora, o vento gelado
Renata— Chegamos. — A voz grave e profunda de Jacob cortou meus pensamentos.Antes de olhar para ele, eu olhei ao meu redor e vi minha casa de número 320.— Obrigada.Dei-lhe um leve sorriso.— Você parecia estar longe... pensando em coisas boas ou ruins?O pânico se estabeleceu dentro de mim. Eu demorei um momento para falar. O nervosismo atacou meu estômago, mas mantive a minha posição serena.Um pequeno sorriso enfeitou os lábios de Jacob, os olhos azuis piscaram, meu coração já disparado parecia que ia sair do peito.— Eu devo perguntar de novo, ou você vai repensar a sua resposta?Um fio de medo correu por minha espinha, pois eu estava me perdendo naqueles olhos azuis. Indo, indo, indo... Finalmente eu disse, franca:— Ruins. Bem, obrigada.Ele balançou a cabeça lentamente, seus olhos parecendo p
RenataNo dia seguinte acordei tarde. Desde a hora que abri meus olhos senti dentro de mim uma agitação interior. E eu sabia a resposta disso: mais tarde eu veria Jacob.Passei o dia dando uma ajeitada na casa, fazendo faxina. Meu estômago estava tão embrulhado pelo nervosismo, à medida que as horas iam passando, que no almoço só comi frango grelhado e salada.Mais tarde eu estava terminando meu banho, quando ouvi a campainha. Com o coração agitado, desliguei o chuveiro.Ding Dong! Era a terceira vez que tocava! Que homem insistente! No mínimo não estava acostumado a esperar.Ainda molhada, pingando, coloquei um roupão e fui até a sala. Abri a porta.Jacob estava lá.Lindo.Os cabelos estavam úmidos do banho, usava uma bermuda preta que lhe caía muito bem e uma camiseta branca. Nenhum outro homem tinha o poder de me perturbar ta
VincentEu relanceei meus olhos enquanto caminhávamos. Apesar da largura conservadora do seu vestido, ela exalava sensualidade. Essa mulher mexia comigo. De repente, toda a raiva que eu nutria queria sair de dentro de mim...Como eu gostaria de tê-la conhecido em ocasião diferente. Que isso tudo não tivesse entre nós.Dio mio! Ela não fazia o tipo “viúva negra”. Ela parecia tão genuinamente transparente.A imagem de Ramon me veio à mente. Que tipo de relação ela tinha com ele? Fora vista conversando com ele no shopping, pelos seus seguranças, e depois na boate.E se esse jeito inocente dela fosse apenas fachada?Eu a encarei. Seu rosto era tão adorável que me causou um reboliço por dentro. Respirei difícil, cada parte de mim em agitação, num tsunami de emoções. Para recuperar meu autocontrole, eu ol
RenataOs sons de leves batidas na porta fizeram meu coração se agitar no peito.Jacob!Abri a porta com entusiasmo, mas o meu sorriso morreu quando vi Jake.— Olá — ele disse de um jeito jovial.— Olá — respondi, estranhando a atitude de Jake. Esse tempo todo em que nos conhecíamos, ele nunca fez menção de querer entrar em minha casa. No entanto hoje, ele estava ali, parado, olhando para mim.— Não vai me convidar para entrar?Eu o olhei por um tempo, aturdida. Eu mantive uma distância pessoal, nunca deixei que ele se aproximasse muito, mas eu permitia que ele confiasse em mim. Eu gostava quando ele me contava do seu trabalho, ou seus problemas ou suas histórias. Isso mantinha a mente ocupada com os problemas dele, e minhas tensões e meus problemas longe de mim.Com base nessa amizade que sem