Vitor
Eu ainda não tinha conseguido ir até Renata, tudo estava muito tenso ainda. Vincent parecia um louco. Revirando a cidade atrás dela. Todo cuidado era pouco. Eu estava mantendo-a com vida, esperando que ele desistisse. Eu queria matá-la pessoalmente, mas claro, não antes de tirar uma casquinha.Agora eu estava tranquilo, sentado com meu pai no sofá, quando Vincent entrou na sala que se encheu com seus homens e os meus. Um velho ensanguentado preso pelo colarinho nas mãos dele.Empalideci. Não é que ele conseguiu!Tentávamos pegar Raul Sebastian há muito tempo, desde a morte de Lorenzo. Não sei se isso seria bom.— Chame Rubens, o interrogatório vai começar.Eu engoli em seco quando vi a cara de Vincent segurando Raul. Meu irmão nem parecia o mesmo. Há cinco dias ele não fazia a barba. Sua barba estava descuidada e grandRenataTriste o que acontece quando você sabe que tudo está se encaminhando para sua morte. A vida que eu tinha deixado para trás parecia estar a milhas de distância, numa realidade diferente. Eu me sentia imunda, estava cheirando mal, minhas fezes num canto deixavam tudo pior.O lugar me sufocava, tudo era tenebroso. Eu já tinha percorrido o espaço por horas e horas, em busca de uma saída, mas não havia nada. Então, eu parei de lutar por uma saída há bom tempo. Minha esperança se esvaneceu nesse sentido. Eu orava para Deus, esperava que Ele ouvisse minhas preces e de alguma forma Vincent me achasse. Eu ainda não tinha aceitado meu destino, ainda me resignava e chorava toda noite quando o lugar ficava escuro. Agora estava escurecendo e a única coisa que eu via era a luz do luar que entrava por aquela pequena janela. Isso quando tinha lua. Senão, era tudo preto. Escu
Acordei com a luz solar que fluía através da janela, o outro lado da cama ainda estava vazio, era terrível isso. Passavam-se os dias e a sensação era sempre a mesma. Renata estava em algum lugar, presa, sofrendo, enquanto eu dormia numa cama macia. Eu comia bem, eu podia tomar banho a hora que eu quisesse. E ela? Como estaria?Eu não aceitava isso. Eu permanecia em negação. Eu me sentiria triste o dia inteiro pensando nisso, mas a esperança de encontrá-la me impulsionava a me levantar todos os dias da cama.Limpei minhas lágrimas, com aquela dor da angústia no meu peito. Agora eu ficaria tentando me convencer o dia inteiro que eu iria encontrá-la, e foi com esse sentimento que me forcei a me levantar da cama.Fiquei pensando em Renata o dia inteiro, mesmo enquanto resolvia assuntos pendentes. Era só minha mente encontrar uma brecha, ela se voltava para a imagem da mulher
RenataInfelizmente ele se calou. Isso me preocupou, pois enquanto ele falava e eu retrucava, eu tinha esperanças de fazê-lo mudar de ideia. E eu olhava para ele agora, mas não via sombra de mudança em seu rosto. Não via nada além de da sua determinação em me estuprar.— Vitor... meu Deus. Não faça isso.Ele não sentia merda nenhuma, mesmo que eu implorasse. Então eu desabei na frente dele, comecei a chorar. Uma grande tristeza me visitou como nunca senti antes, me engolindo feito um tsunami, me tirando todo o meu fôlego. Ele sorriu e me abraçou. Eu estava o tempo todo consciente que aquele momento de compaixão vinha de um homem sádico, que sentia prazer em ser bom quando queria ou mau ao extremo. E isso me deu arrepios. Minha vontade era dar um empurrão nele, gritar com ele, mas eu tinha medo dele, e não consegui. E comecei a chorar nos se
VincentRenata adormeceu praticamente em cima de mim, de exaustão física e emocional, e eu também me sentia cansado, mas incrivelmente feliz. Mesmo diante de tudo, eu estava mais conformado. Esse meu anjo era incrível. Ela conseguia tirar o melhor de mim. E nesse exato momento, depois de ver aqueles olhos tão apaixonados, tão vulneráveis, senti aquela lacuna ser preenchida completamente. Eu era incompleto sem ela. Ela era incrivelmente perfeita. Ela era a única que poderia ter possuído meu coração. Com ela, meu mundo se enchia de cores. Sem ela eu seria um morto-vivo, mais morto do que vivo.— Grazie a Dio, lei è di nuovo con me.No dia seguinte eu acordei de madrugada. Renata abriu os olhos ao sentir meu movimento na cama.— Preciso levantar, quero ajudar meu pai com tudo e checar se o que pedi para Enzo foi feito. Durma um pouco mais. — Eu falava sobre a ordem
Seis meses depois...Vincent estava sentado na sala de estar. Do lado de fora, o sol de verão estava se pondo. Mas nada de Giovanna e Renata entrarem. Já estavam conversando havia um tempo.Ele agitou seu copo de uísque nas mãos. Era um pequeno aperitivo antes do jantar. Geralmente ele não bebia, mas especialmente hoje ele estava nervoso, daqui a pouco os Berrinis iriam chegar e eles tratariam de negócios. Finalmente se livrariam do tráfico de drogas, passariam o contato da Bolívia a eles e abocanhariam apenas uma pequena participação do lucro. Ou seja, ganharíamos indiretamente. Eles assumiriam tudo, estariam por sua conta e risco.Don estava feliz. Desde que Vincent passara a comandar, os negócios corriam bem. Ele tinha aptidão para ser o cabeça da família.Vincent— Foi bom trazer Giovanna para morar conosc
Linda mansão, imensa, digna de um artista de cinema. As paredes com partes forradas de pedras grandes, em outras pintadas de branco. Telhas vermelhas novas que quando o sol incidia mostravam sua cor mais viva. Caramanchões de primaveras, uma de cada cor, espalhadas em cada lado da varanda da casa.Os jardins gramados viçosos, com vegetação exuberante. A mansão era em frente ao mar de águas azuis-esverdeadas que se misturavam com uma praia de areia quase branca.Renata estava na grande sala, andando de um lado para o outro. A ansiedade remexia seu estômago. Lorenzo não voltara para casa. Já passava das três horas da manhã. Se fossem uma família “normal”, ela não estaria preocupada, mas não era o caso dos Bertizzollo...1990, Miami BeachRenata Willians BertizzolloSilêncio constrangedor encheu a sala quand
Las VegasVincentNossa família dependia das drogas para obter a maior parte de nossa renda. O complexo cassino e hotel era parte do império da família. Muitas pessoas vinham jogar todas as noites e, apesar de haver muitos perdedores, eram sempre os que ganhavam que atraíam atenções.Junto ao cassino, um restaurante. Eu comia tranquilamente meu jantar, embora fosse de madrugada, sozinho, perto da escadaria que descia até o cassino no pavimento inferior. Dali, eu podia avistar toda a área onde as pessoas jogavam.— Vincent. Más notícias.Ergui meus olhos limpando a boca com o guardanapo.— Lorenzo está morto.Eu o encarei sem ar. Senti o sangue fugindo do meu rosto.— Morto? — repeti, para ver se eu tinha ouvido errado.A dor estava mexendo com a minha lógica, com minhas emoções.— Sim, sinto muito.To
RenataApesar dos melhores esforços de Don Henrico tentando banir os abutres, como era de se esperar, ficamos expostos à imprensa, que havia se deleitado com o frenesi provocado pelas revelações, que o filho de Salvatore Bertizzollo fora morto de forma tão brutal. Metralhado em frente à porta de uma boate onde teria uma reunião de negócios.Escondendo meus sentimentos atrás de uma parede de silêncio, com um lenço negro escondendo meus cabelos, óculos escuros, toda de preto, cercada por seguranças – “soldados” – eu recusei quaisquer entrevistas, evitando os jornalistas quando eles me abordaram ao sair do carro. Passei por eles, de forma até altiva, e entrei na mansão de Don Henrico onde estava o corpo de meu marido. Um calafrio me percorreu ao me aproximar da sala, onde estava o caixão. Meus lábios tremeram, minhas pernas fraquejara