Os dias se arrastavam enquanto eu passava a maioria do tempo trancada no quarto. O único rosto familiar que eu via era o de Samantha, que aparecia às vezes ao dia para trazer meu alimento. Outras vezes, uma empregada mais nova vinha em seu lugar, mas ela não dizia nada e nem sequer olhava em meus olhos. Entrava, deixava a comida posta sobre a mesa e saía em seguida.
Os hematomas em meu rosto estavam quase sarados, o que me deixava bastante apreensiva. Eu presumia que, assim que eu melhorasse, Gregory entraria por aquela porta e exigiria que eu cumprisse meu papel de esposa.
Eu ainda considerava a atitude dele em não me procurar mais bastante estranha. Desde aquela noite em que ele me pegou em fuga, nunca mais o encontrei.
Em algumas noites, eu ouvia sua voz e seus passos descendo as escadas. Depois, eu ia para a janela e o via entrar em um carro e sair às pressas. Às vezes, Gregory voltava de madrugada ou apenas no dia seguinte. A vida daquele homem era um mistério para mim. Porém, de nada eu deveria me queixar, ele permanecia longe, como se eu não existisse naquela casa.
Mas parecia que minha paz estava perto do seu fim.
Ouvi passos vindo em minha direção quando a porta se abriu e Gregory apareceu no meu quarto. Fiquei na defensiva, fui incapaz de olhar nos olhos dele novamente. Não suportaria vê-lo me olhar com desprezo e desdém.
— Arrume-se e desça para almoçar – Ergui o rosto imediatamente ou ouvi-lo dizer essas palavras.
O que ele pretendia com aquele pedido? Havia passado dias sem trocar nenhuma palavra comigo e, de repente, aparece exigindo que eu almoçasse com ele?
— Não estou me sentindo bem – eu disse, dessa vez olhando em seus olhos. Me arrependi quase que imediatamente – eu prefiro almoçar no quarto, como tenho feito por todos esses dias.
— Não deve questionar minhas ordens, Emma – a voz arrogante e o olhar gélido me alcançaram – vista-se com uma roupa apresentável, meus avós estão vindo para conhecê-la.
E congelei e não consegui reagir àquela revelação. Na mesma velocidade em que Gregory entrou no meu quarto, ele saiu. Fiquei apenas com o aroma do perfume dele impregnado em minhas narinas, enquanto Samantha me segurava pelo braço, me arrastando para que eu me vestisse imediatamente.
Eu estava apavorada. Não fazia ideia do tipo de pessoas que eu enfrentaria naquele dia. Se os avós de Gregory fossem tão arrogantes e cruéis como ele, eu estaria perdida. Bufei baixinho enquanto Samantha colocava diante de mim um vestido casual, branco, para que eu pudesse vestir. Não questionei sua escolha, embora depois me considerasse um pouco mais velha vestindo aquela roupa.
— Você está ótima, Emma – ela alargou o sorriso. Parecia a única animada ali.
— Como pode dizer isso? – eu me sentei sobre a cama, sentindo como se meu corpo desmoronasse – não sabe como estou me sentindo por dentro. Estou com medo, Samantha. Me jogaram dentro dessa casa, selaram o meu destino sem que eu pudesse ao menos conhecer as pessoas com quem estou lidando.”
— Você vai gostar de conhecê-los, Emma – Samantha colocou ambas as mãos sobre os meus ombros e os sacudiu como se quisesse injetar em mim um pouco de ânimo, – eles não são cruéis como você julga ser o senhor Gregory.
Olhei para ela com um enorme desespero e coloquei minhas duas mãos sobre o rosto, me lamentando.
Se minha amada mãe não tivesse partido tão nova, certamente eu não estaria vivendo essa situação. Eu chorava todas as noites com saudades dela, triste pela maneira trágica como ela morreu. Por outro lado, sentia um alívio, a morte da minha mãe trouxe sobre mim a liberdade de viver longe de Masson.
Havia coisa pior do que viver com o Masson?
Eu esperava que a resposta fosse não.
Vi Samantha sair do quarto e voltar em seguida, com os olhos arregalados. Segurou pela minha mão, me erguendo.
— Vamos, Emma, os avós de Gregory já chegaram.
Ela virou o meu rosto, certificando-se de que a maquiagem havia coberto todos os hematomas e, quando finalmente percebeu que eu estava pronta, me arrastou para fora. Só assim para que eu pudesse sair daquele quarto, arrastada.
Samantha me fez apressar o passo, que quase tropecei naqueles saltos enquanto descia as escadas. Forcei um sorriso educado quando parei em frente aos dois senhores. A mulher tinha os cabelos brancos e um sorriso simpático no rosto, mas o homem ao seu lado olhou para o seu relógio caro e bufou.
— Tenho uma teleconferência com o escritório de Londres em uma hora – eu olhava para o bigode que se mexia junto aos seus lábios e mal o percebi erguer o olhar e me analisar minunciosamente.
— Não sei porque o senhor ainda insiste em trabalhar – disse Gregory, mas a carranca perpétua do homem parado à minha frente permanecia. Era como se ele fosse desnudar minha alma, – já posso assumir os negócios, fiz o que o senhor tanto almejou. Consegui uma esposa.
Quando desviei o olhar, vi um sorriso radiante nos lábios de Gregory. Ele se aproximou e, em um impulso inesperado, agarrou minha mão entrelaçando nossos dedos, fingindo como era feliz ao meu lado.
Foi o calor do toque dele que me deixou atordoada.
— Onde você encontrou essa mulher? – Fui obrigada a tirar meus olhos de Gregory e olhar para o velho parado à minha frente. Ele me desdenhava com o seu olhar subjugador – ela não é uma prostituta que você alugou para fingir ser sua esposa, não é Gregory.
Meus lábios se entreabriram em uma surpresa infernal. Aquele velho estava me chamando de prostituta.
— Ela parece uma prostituta que está doente – eu nunca havia sido tão ofendida em toda minha vida, – ela está magra, pálida e tem hematomas no rosto. Diga-me Gregory, você não está me enganando só para assumir os negócios da família.
Eu podia deixar o Gregory se resolver com o avô maldito dele, mas quando o olhei e o vi desesperado, consegui até mesmo sentir compaixão dele. Eu não deveria, mas eu quis ajudá-lo.
— O meu nome é Emma Scott, filha de um velho fazendeiro da região norte. Infelizmente, sou órfã. Meu pai morreu há muitos anos e minha mãe faleceu há quatro dias.
Senti o olhar quente de Gregory sobre mim, como se não acreditasse no que eu estava prestes a fazer.
— Não sou nenhuma prostituta, senhor – forcei um sorriso, embora sentisse uma imensa vontade de ofender aquele velho maldito, – e estou magra e fraca porque Gregory me salvou dos maltrato do meu padrasto. Ele é um verdadeiro herói, casando-se comigo e me dando uma vida digna.
— Então não há amor nesse casamento? – insistiu em suas provocações, – o que prova que estou correto, que meu neto só se casou com você para herdar minha fortuna.
— Está enganado novamente, senhor – alarguei o sorriso e agarrei corajosamente o braço de Gregory com afeto.– Nunca encontrei amor verdadeiro como encontrei em Gregory. Nos amamos.
Gregory pigarreou e eu senti seu corpo tornar-se rígido. Depois que tudo aquilo acabasse, e ele me questionaria e até me castigaria por tamanha ousadia, eu assumi o controle do jogo e decidi tirar vantagem da situação. Gregory não sabia, mas eu o ajudando, ajudaria também a mim.
Mal percebi que o velho ficara alguns minutos analisando a situação, o que havia deixado Gregory impaciente.
— Veremos então se o que diz é verdade, senhorita Scott – ele disse, ajeitando o paletó caro que vestia. – A herança só será dada a Gregory quando vocês me derem um bisneto. É hora de provar todo esse amor.
Um bisneto? Agora, sim, eu estava perdida.
Imediatamente após dizer isso, o velho virou as costas e partiu. Gregory tentou alcançá-lo convencendo-a a ficar para o almoço, mas ele apenas olhou com desdém para mim e disse que Gregory precisava fabricar o neto o mais rápido possível se realmente quisesse ficar com a sua herança. Eu cobrir meu rosto com as mãos e me arrependi imediatamente de ter tentado ajudá-lo. Por que eu quis ser boa com um homem que havia me comprado como uma mercadoria barata? Aí estava meu grande defeito, ajudar quem de fato não merecia. Eu estava tão imersa as minhas preocupações que não vi quando Gregory se aproximou. Senti apenas ele segurando meu braço e me arrastando até o andar de cima. Um medo indescritível invadiu meu peito. Resmunguei o caminho inteiro, indagando sobre o que ele pretendia e para onde ele estava me levando, mas tudo o que conseguia ouvir era a respiração ofegante de Gregory, como se ele segurasse o próprio ódio entre os dentes. Foi quando ele abriu a porta do meu quarto e me jog
Eu consegui ver o rosto de Gregory indiferente enquanto ele me dizia que eu precisava dar um filho a ele. Um sorriso brincou em meus lábios, afinal, por que eu estava rindo? De desespero, de deboche talvez, porque de todas as coisas que Gregory havia me dito naquele pequeno espaço de tempo em que estávamos casados, aquelas palavras haviam sido as piores. Houve um breve e pesado silêncio entre nós dois. Eu senti um nó sufocando minha garganta quando pensei na possibilidade de ter um filho daquele homem. Eu não suportaria nenhum homem me tocar novamente. As imagens de Mason em cima de mim, forçando-me a ficar com ele enquanto eu implorava para que ele não fizesse aquilo, voltavam em meus pensamentos, quase me fazendo ter uma crise de pânico. — Dê outro jeito de conseguir a sua herança, porque eu não vou ter um filho com você.Minhas palavras desafiadoras me forcei a demonstrar determinação, mesmo diante do seu olhar afiado e do medo do que Gregory faria em seguida. — Não estou dand
Caminho de um lado a outro no consultório médico enquanto aguardo o resultado do exame de gravidez. Depois daquela noite em que fiquei com Gregory pela primeira vez, meu coração se aqueceu pelo fato de ser desejada verdadeiramente e perceber que o jogo de palavras de Gregory não passava de motivos para me ferir. Porém, nossos encontros eram raros e foram diminuindo conforme os anos iam passando e eu não conseguia engravidar. O ódio de Gregory por mim aumentou consideravelmente, mas para mim já era tarde demais. Eu havia me apaixonado pelo meu marido cruel. A postura de Gregory era clara em tudo isso: quando você me dê um filho e a herança passar para as minhas mãos, iremos nos divorciar. Faltavam seis meses para o nosso acordo terminar. Eu esperava que, a essa altura, eu finalmente desse a ele um filho e tivesse conseguido derreter seu coração frio e torná-lo totalmente meu. Eu já não queria mais me divorciar ou fugir, e queria fazer aquilo dar certo, minhas esperanças eram altas.
Eu me aproximava do carro, quando senti uma mão gelada me segurar. Antes que pudesse levantar os olhos, percebi um guarda-chuva sendo posto sobre minha cabeça e a chuva que outrora caia tão constante, cessou como um passe de mágicas. Meus olhos se levantaram e vi um homem parado diante de mim. Ele era bonito, com o seu queixo afiado e seus olhos negros como a noite, parecia muito preocupado, mas eu não fazia ideia de quem ele era e nem mesmo do que ele estava fazendo ali. Era exatamente o que eu precisava, alguém para me trazer mais problemas. — Você está bem, Emma? – Quando meu nome foi mencionado fiquei surpresa. De onde aquele homem me conhecia? — Estou bem, obrigada? – tentei puxar na memória se já o havia visto em algum lugar, nada veio. Ele segurava o guarda-chuva acima de nossas cabeças enquanto abria a porta do carro para mim. Percebeu meu olhar intrigado e amedrontado enquanto eu permanecia parada diante da porta aberta do veículo tentando entender o que estava acontec
Gregory. Mal havia saído do escritório, quando a secretaria veio correndo ao meu encontro dizer que uma mulher havia estado ali afirmando ser minha esposa. O sangue ferveu sobre minhas veias, mas quando pensei que Emma pudesse ter visto o que eu fazia no escritório com Alya, imediatamente ele congelou, quase me fazendo parar de respirar. Saí do prédio às pressas. Era como se Emma tivesse desaparecido, ninguém a viu sair, então imaginei que ela tivesse ido para casa. Fui o caminho inteiro pensando sobre isso, sobre Alya e Emma. O que, afinal, Emma foi fazer no meu escritório? Foi uma das exigências que eu havia imposto a ela, que não pisasse os pés na empresa da minha família. Ela só seria reconhecida como minha esposa depois que me desse o filho e eu finalmente conseguisse minha parte da herança. Mas Emma me desobedeceu, pior de tudo, foi até o meu escritório enquanto Alya estava presente. No entanto, quanto mais eu pensava nisso, mais irritado eu ficava. Lembrei-me do dia em que
Emma. Naquela noite, enquanto jantava sozinha, ouvi Samanta comentar com os outros funcionários que Gregory havia ido visitar o avô. Não se falava em outra coisa do que na volta de Edward. Parecia que todos temiam ele, inclusive o próprio Gregory. Meu marido não dormiu em casa naquela noite. Mas eu também não liguei para ele com urgência como sempre fazia. Liguei para o advogado que Gregory havia colocado à minha disposição e pedi um grande favor a ele. Eu faria uma bela surpresa ao Gregory no dia seguinte, sem me importar se ele me odiaria para sempre depois disso. No dia seguinte, desci para tomar café e avisei a Samanta que eu sairia e que avisasse a Gregory quando ele chagasse. A empregada estranhou a informação por dar a entender que passaria o dia inteiro longe de casa, mas ela não me questionou. Samanta era uma boa companhia e sempre que podia estar presente para tornar os meus dias mais suportáveis. Voltei para o quarto, tirei a aliança e a coloquei em cima da cama, junt
Gregory. Meus olhos recaíram sobre os objetos em cima da cama de Emma e o que me chamou a atenção e fez meu coração disparar foi o brilho da aliança, postada tão delicadamente, como se ela tivesse tido o cuidado de colocá-la para ser a primeira coisa que eu visse. O que diabos está acontecendo aqui? Murmurei enfurecido, quando avancei sobre o objeto e o segurei firme em minhas mãos. Lembro-me de ter colocado aquele anel no dedo de Emma quando ela ainda estava desacordada sobre a cama. Havíamos acabado de casar e ela estava ferida em meus braços. Era uma jovem tão bonita que, por um momento, me senti sortudo por escolhê-la. Mas Emma se mostrou insurgente com a ideia de estar casada comigo. Éramos dois estranhos morando na mesma casa, eu querendo minha herança, ela almejando sua liberdade. Embora nosso acordo estivesse a seis meses do fim, eu havia pensado algumas vezes em me separar assim que meu avô morresse. Eu tinha certeza de que ele morreria antes e que Emma logo me daria um f
Emma.Jamais imaginei que ficaria hospedada no hotel mais luxuoso da cidade. Embora eu fosse casada com um homem rico, durante aqueles dois anos e meio eu saía raramente de casa. Era o que Gregory me aconselhava, que eu me mantivesse ali para que ninguém soubesse do nosso casamento.Algumas horas atrás, Edward havia comprado passagens e algumas peças de roupa para mim. Eu iria para um país distante e desconhecido. Edward me disse que um amigo íntimo dele estaria me esperando e me levaria para a casa onde ele morou uma vida inteira.Não posso deixar de me sentir desconfortável. Estou fugindo do meu ex-marido, enquanto carrego o filho que ele tanto almejou, deixando tudo para trás, enquanto sou amparada pelo seu maior inimigo.Gregory, a essa altura, já descobriu toda a verdade e ele jamais me perdoará por isso. Essa certeza rasga meu coração c