“O que você pretende fazer agora, Aria?” Minha mãe questiona assim que deixamos as crianças na escola.A rua ao nosso redor está tomada por sons de passos apressados, vozes e risos de desconhecidos, misturando-se ao barulho dos carros e às bicicletas que passam ligeiras pelas ciclovias. O sol já está alto, o ar é morno e pegajoso, impregnado com o cheiro de asfalto aquecido. As fachadas das casas e comércios lançam sombras contra a calçada, formando um caminho irregular de luz e escuridão que seguimos com passos hesitantes.Meu coração parece carregado, como se cada passo que dou fosse um peso que arrasto, e o comentário de minha mãe não ajuda a aliviar essa sensação. Ela me encara, e percebo seu olhar esperançoso, quase exigente, esperando por uma resposta que talvez eu não tenha. Já se passaram duas semanas desde o ataque no castelo. Aquele lugar, por mais majestoso que pareça por fora, com suas torres imponentes, seus jardins meticulosamente cuidados e salões adornados com peças de
Uma súbita onda de saudades e desejo sobe pelo meu corpo, a euforia de vê-lo novamente me faz perceber a saudade que eu estava sentindo dele. Com dois filhos para criar, às vezes fica fácil esquecer das minhas próprias emoções. Com Alexander, eu sou invadida com saudade, com desejo, com amor e uma vontade de ficar em seus braços novamente.O perfume de Alexander atinge minhas narinas como uma avalanche de sensações, um aroma marcante que invade meus sentidos e me faz vacilar por um instante. Sinto meu corpo reagir de imediato, o coração acelerando em um ritmo descompassado, enquanto tento manter minha expressão sob controle. Alexander não demora a me alcançar, suas passadas são seguras, seu porte imponente, e o leve sorriso nos lábios esculpe sua presença de maneira avassaladora. Ele tem um magnetismo que, por mais que eu tente ignorar, me desarma completamente.Quando ele para à nossa frente, sua postura é impecável, seus olhos brilham com uma familiaridade que faz minha mente recuar
“Você vai ficar muito tempo longe, mamãe?” Elowen pergunta com um sussurro trêmulo, a voz dela carregada de uma inocência que apenas crianças possuem. Ela está sentada na beira da minha cama, com as perninhas balançando para frente e para trás em um ritmo animado, mas também nervoso.O peso do seu olhar é como um feixe de luz que ilumina todas as dúvidas dentro de mim, uma série de perguntas e temores que tentam se enraizar em meu coração. Nunca estive tão dividida. A ansiedade e o receio invadem meu âmago, e me pergunto se estou mesmo fazendo a coisa certa ao sair, deixando-os sob os cuidados da minha mãe. Esta será a primeira vez que me afastarei deles, e a ideia me parece estranha, quase antinatural. Como se estivesse desafiando as leis invisíveis que sempre me mantiveram ao lado deles.Minhas mãos hesitam enquanto termino de organizar as roupas na minha mala, a velha e empoeirada que encontrei no fundo do guarda-roupa. E agora, neste momento, penso se não estou sendo egoísta ao de
“Quando chegarmos no castelo, tem um presente te esperando no seu quarto,” Alexander declara, com um sorriso malicioso que parece esconder mil segredos, cada um mais intrigante que o outro. A maneira como ele fala, com aquele ar enigmático, desperta em mim uma ansiedade quase infantil, uma curiosidade que se mistura com um leve nervosismo.“Pode me dar uma dica?” A minha voz carrega uma mistura de expectativa e impaciência. Estou tão imersa na curiosidade que mal consigo conter o sorriso que desponta em meu rosto.Alexander estreita os olhos em minha direção, como se estivesse ponderando seriamente se vai ceder ao meu pedido ou não. Ele faz uma pausa, deliberadamente prolongada, e parece quase se divertir com minha reação. Finalmente, ele diz:“A dica que eu posso dar é: você ficará linda com ou sem ele.” O tom sedutor de sua voz faz minha pele arrepiar, e eu não consigo segurar a risada que escapa, espontânea, leve. Alexander sabe exatamente como brincar com meu coração, como provoca
Sobre a colcha luxuosa, repousa um vestido de baile magnífico, um tom de azul profundo que parece capturar a essência do próprio mar ao anoitecer.É um vestido longo, com uma saia que se ajusta com elegância ao corpo e desce em uma cascata leve e fluida até quase tocar o chão. Na parte superior, o corpete é delicadamente adornado com pequenos pontos de brilho, sutis, que se espalham da lateral esquerda até descerem à cintura, como uma constelação em uma noite estrelada. O decote é delicado, modesto, mas com um toque de sensualidade sutil; as alças estão desenhadas para repousarem nas laterais dos meus braços, expondo levemente os ombros em uma sugestão de feminilidade discreta e encantadora. Imagino como esse vestido se moldará ao meu corpo, como abraçará cada curva, fazendo-me sentir como uma verdadeira princesa de um conto encantado.Ao lado do vestido, noto uma caixa de sapatos em cetim branco e, sobre ela, um envelope. Meu coração dá um salto ao reconhecer a caligrafia cursiva e r
Assim que Alexander me guia pelo extenso corredor até a saída do castelo, sinto o nervosismo e a ansiedade voltarem a crescer dentro de mim como ondas ameaçadoras. A cada passo que dou, os sapatos, embora deslumbrantes, me lembram do quão desconfortável podem ser. O salto fino parece mais alto a cada vez que piso com hesitação, como se o chão tentasse me trair. Não estou acostumada com saltos assim, tão elevados e delicados, e por mais de uma vez sinto o tornozelo vacilar, quase torcendo. Mas Alexander, sempre atento, aperta gentilmente meu braço, me mantendo equilibrada, um verdadeiro suporte ao meu lado.“Desculpa… eu não fui feita para usar essa coisa," digo, rindo nervosamente. "Sou desastrada demais para isso,” confesso, minha voz em um tom mais baixo. Alexander, com aquele sorriso de canto que me desarma, solta uma risada suave, quase como um sussurro cúmplice.“Você é perfeita, Aria. Não se preocupe com isso,” ele murmura, e sua voz parece derreter o ambiente ao redor, tornando
“Meu rei, você poderia passear comigo por alguns instantes antes de o jantar ser servido? A noite está tão bela, não acha?” Questiono com uma voz tranquila e meiga. O papel de esposa amável e uma rainha benevolente são postas em prática nessa noite.Caelum me observa, a frieza em seu olhar é afiada como lâmina, sua expressão de desconfiança me diz tudo. Ele não é tolo, sabe que cada palavra minha esconde intenções ocultas, mas, mantendo o sorriso polido, ele confirma e oferece seu braço. Eu aceito, entrelaçando o meu no dele, e juntos nos afastamos dos poucos convidados que circulam pelo salão.Meu sangue ferve. A mera lembrança da presença de Aria, de sua sobrevivência constante, me atormenta como uma praga. Ela não se cansa de existir? Não sente medo do destino que a espera? Parece ser uma maldição que essa mulher continue viva, desafiando todas as minhas tentativas de removê-la de nossas vidas, de arrancá-la desse círculo sagrado.“O que a sua meretriz está fazendo aqui, Caelum?” e
Só preciso resistir aqui, aguentar os comentários venenosos e os sorrisos falsos da Rainha Seraphina por mais alguns minutos. Esse pensamento se repete na minha mente como um mantra, uma tentativa desesperada de controlar o tumulto que cresce dentro de mim a cada frase dela, cada palavra impregnada de uma gentileza falsa.Alexander senta ao meu lado e tenta defender-me, interrompendo a Seraphina com comentários firmes e afiados, mas a influência dele parece se desintegrar diante da presença impiedosa da rainha e dos pais dele, que se juntam a ela com olhares de desprezo mal disfarçados. Em torno de nós, outros convidados murmuram, lançando-me olhares de julgamento que tornam o ambiente ainda mais sufocante.Minha ansiedade cresce, agitando-se como uma tempestade sob a superfície, exigindo que eu controle a respiração, que segure a vontade de me levantar e abandonar essa mesa.Seraphina, com aquele sorriso imóvel, continua suas insinuações, e cada palavra dela parece envenenar o ar ao