O ambiente ao nosso redor está carregado de uma tensão silenciosa quando o carro finalmente para na garagem do palácio. Eu viro o rosto e encaro Seraphina, buscando algum sinal de que esses últimos dias no interior fizeram alguma diferença. Mas o que vejo é o mesmo semblante cansado, o mesmo sorriso fraco que não chega aos olhos, como se ela estivesse vestindo uma máscara apenas por obrigação.
"Achei que alguns dias fora, no interior com minha mãe, poderia nos ajudar a melhorar as coisas," digo, tentando parecer otimista, mesmo que eu não sinta essa esperança em mim. "Na próxima vez, iremos para algum lugar só nós dois."
Seraphina, no entanto, não reage como eu esperava. Seu sorriso permanece inexpressivo, quase como se tivesse sido esculpido e
“Crianças, já está na hora de ir para a escola!” A minha voz ecoa pela casa, enquanto minhas mãos continuam enfiadas na água ensaboada, limpando os últimos pratos do café da manhã.Segundos depois eu ouço os gritos de entusiasmo de meus filhos descendo as escadas. Eles vêm em um alvoroço, como pequenos furacões, e antes que eu possa me preparar, sinto o abraço apertado em volta da minha cintura.“Posso pular amarelinha antes de ir para escola, mamãe?” Elowen pergunta com a voz carregada de energia. Seus olhos verdes brilhantes me fitam com uma expectativa, e seus pés mal conseguem parar quietos enquanto ela espera pela minha resposta. Ela está inquieta, pulando de um lado para o outro como se a energia fosse demais para seu pequeno corpo conter.“Ok, mas só por alguns segundinhos enquanto termino aqui,” digo, tentando manter um tom sério, como uma mãe que tenta impor regras, mesmo sabendo que, na realidade, o controle já escapou por entre os dedos. “Mas não saia da calçada, entendeu?
“Era o mínimo que eu poderia fazer por você, Aria,” Caelum responde, sua voz firme e grossa reverbera por todo o meu corpo. “Além do mais, eu continuo investigando sobre os ataques dos rebeldes e o assassinato do seu antigo chefe, naquele período, podia ter algo a ver com os Wolfspawn Renegades,” Caelum explica.Minhas sobrancelhas se erguem, uma mistura de surpresa e desconforto me invade, e sinto um leve tremor em minhas mãos ao ouvir isso. Ainda estou sendo investigada? Por um momento, o silêncio entre nós se estende, carregado de uma tensão que eu não esperava sentir. Caelum parece captar minha confusão, minha inquietação, e se adianta a esclarecer, seus olhos esmeralda cravados nos meus como se quisesse dissipar minhas dúvidas de imediato."Você não é mais a principal suspeita do assassinato," ele diz, sua voz assumindo um tom tranquilizador, mas que, de alguma forma, só me deixa ainda mais tensa. "Fique tranquila. Após o seu sequestro e a morte da esposa dele, nossa investigação
A proposta dele me atinge como um soco no estômago. Trabalhar para ele de novo? O palácio? As lembranças do último ataque dos rebeldes invadem minha mente como um furacão, cenas fragmentadas de destruição e caos se mesclando à promessa de segurança que ele tenta me vender agora. Mas essa segurança, essa falsa tranquilidade que ele promete, não alivia o peso sufocante da realidade que tenho que encarar: ele pode ser o pai dos meus filhos.O contraste entre sua oferta tentadora e o abismo de complicações que ela traz me atordoa, como se eu estivesse sendo empurrada para uma decisão impossível. Meus pensamentos estão turvos, confusos, enquanto tento processar cada implicação de aceitar ou recusar. Caelum é como um ímã, uma força gravitacional irresistível que me atrai para ele, mesmo quando sei que devo manter distância. Dou um passo para trás, deslocando o peso do meu corpo de uma perna para a outra, tentando não ceder à tensão que cresce entre nós.Meu coração bate descompassado, e min
Sentir o vento deslizar pela minha pelagem sempre me trouxe uma paz que nada mais no mundo consegue. É como se cada brisa carregasse parte da inquietação que reside dentro de mim, levando embora o peso dos meus pensamentos, aliviando, mesmo que temporariamente, o fardo que carrego. Cada rajada de vento me conecta mais profundamente à terra, ao meu ser mais primitivo, à fera que habita em mim. O chão batido da floresta, firme sob as minhas patas, parece ancorar minha mente, dar forma à desordem que constantemente tenta me consumir. Cada passo que dou enquanto corro me traz uma sensação de controle, de estabilidade, algo que tanto me falta quando estou em minha forma humana.Transformar-me em lobo, especialmente aqui, no coração do reino de Veridiana, após tantos anos longe, ainda carrega consigo um misto de surpresa e alívio. Tudo ao meu redor é ao mesmo tempo familiar e distante. As árvores robustas, os arbustos que sussurram com o vento, o cheiro de terra úmida e folhas, tudo isso co
"Mamãe, podemos ver um pouco de televisão antes de comer?" Thorne pergunta, já tirando os sapatos com uma pressa que só crianças têm, se esparramando no sofá como se aquele fosse o trono dele. Seus pés descalços batem contra a almofada com descaso, enquanto ele se acomoda preguiçosamente, os braços abertos, conquistando espaço.Antes que eu consiga organizar os pensamentos e dar uma resposta mais firme, a campainha toca. Meu coração dispara de imediato. Será que é ele? Será que Caelum teve a ousadia de aparecer aqui, de novo, sem avisar? Meu corpo se prepara involuntariamente para a batalha interna que surge toda vez que estou na presença dele. O simples pensamento de vê-lo me faz querer fugir e, ao mesmo tempo, desejá-lo de uma maneira que me consome.Não posso permitir que Caelum se aproxime muito dos meus filhos. Não posso lidar com as consequências de mais uma interação entre eles. A tensão entre nós é suficiente para me tirar o fôlego, e o medo de me render ao desejo que sinto po
Tentando encontrar a melhor maneira de iniciar a conversa, meus dedos tremem levemente enquanto seguro o controle remoto, e o som do clique que desliga a televisão parece ecoar por toda a sala. O silêncio que se segue é denso, pressionando meus ouvidos como um peso invisível.Alexander se levanta do sofá com um movimento lento, quase cuidadoso, como se estivesse medindo a distância entre nós dois. Seus ombros estão rígidos, tensos, como se estivesse carregando o peso de cinco anos de memórias e arrependimentos. Suas mãos, que estão soltas ao lado do corpo, tremulam levemente, e eu percebo o esforço que ele faz para manter sua postura controlada.Eu cruzo os braços novamente, um reflexo instintivo de proteção. As palmas das minhas mãos estão úmidas de suor, e eu tento disfarçar esfregando-as discretamente contra os braços. Meus olhos percorrem cada detalhe da postura de Alexander, cada minúcia de sua linguagem corporal. Há um jogo de tensão e expectativa em seus movimentos, em seus olh
Eu coloco minha mão sobre a dele, pressionando-a contra o meu rosto, como se esse gesto pudesse ancorar-me no presente, evitar que eu me afogue nas emoções que estão me consumindo. As lágrimas caem devagar, uma a uma, e sinto o peso de tudo o que perdemos, de tudo o que poderia ter sido.“Então por que você foi embora?” Minha voz treme, frágil como vidro prestes a se quebrar, enquanto a pergunta escapa dos meus lábios, carregando consigo toda a angústia acumulada ao longo dos anos. “Eu voltei para o seu apartamento um tempo depois, para conversarmos…” Minhas palavras ficam presas por um momento, a dor intensa cortando o ar entre nós. “E você simplesmente tinha ido embora.” Meu tom é de acusação, mas também de súplica, como se implorar por uma explicação pudesse aliviar o peso que carrego.Quando eu descobri que estava gravida, a primeira pessoa que eu quis contar era para Alexander. Nem passou pela minha cabeça naquela época que poderia ser de qualquer outra pessoa se não dele.Agora,
“Mamãe o que acha dessa roupa?” minha voz soa incerta enquanto me olho no espelho, tentando me convencer de que a combinação é suficiente. Estou vestida com um uniforme simples, resgatado de um trabalho antigo. A calça jeans escura molda minhas pernas de forma discreta, o cinto de couro ajustado à cintura confere um toque de firmeza, e a camisa branca de algodão contrasta suavemente com o paletó azul-marinho que agora veste meus ombros. Giro o corpo devagar, analisando cada detalhe da vestimenta, enquanto espero que minha mãe, apareça na porta.Ouço os seus passos vindo rápidos pelo corredor. Viro-me para encará-la e, antes mesmo de qualquer palavra ser dita, sinto o peso do olhar crítico dela sobre mim. A sobrancelha direita dela se ergue com precisão, um sinal claro de que a onda de críticas já está a caminho. Sempre foi assim, um turbilhão de observações e correções.“Você precisa prender o cabelo," ela começa, sua voz firme, porém cheia de autoridade. “Faça uma trança lateral. Vai