A proposta dele me atinge como um soco no estômago. Trabalhar para ele de novo? O palácio? As lembranças do último ataque dos rebeldes invadem minha mente como um furacão, cenas fragmentadas de destruição e caos se mesclando à promessa de segurança que ele tenta me vender agora. Mas essa segurança, essa falsa tranquilidade que ele promete, não alivia o peso sufocante da realidade que tenho que encarar: ele pode ser o pai dos meus filhos.O contraste entre sua oferta tentadora e o abismo de complicações que ela traz me atordoa, como se eu estivesse sendo empurrada para uma decisão impossível. Meus pensamentos estão turvos, confusos, enquanto tento processar cada implicação de aceitar ou recusar. Caelum é como um ímã, uma força gravitacional irresistível que me atrai para ele, mesmo quando sei que devo manter distância. Dou um passo para trás, deslocando o peso do meu corpo de uma perna para a outra, tentando não ceder à tensão que cresce entre nós.Meu coração bate descompassado, e min
Sentir o vento deslizar pela minha pelagem sempre me trouxe uma paz que nada mais no mundo consegue. É como se cada brisa carregasse parte da inquietação que reside dentro de mim, levando embora o peso dos meus pensamentos, aliviando, mesmo que temporariamente, o fardo que carrego. Cada rajada de vento me conecta mais profundamente à terra, ao meu ser mais primitivo, à fera que habita em mim. O chão batido da floresta, firme sob as minhas patas, parece ancorar minha mente, dar forma à desordem que constantemente tenta me consumir. Cada passo que dou enquanto corro me traz uma sensação de controle, de estabilidade, algo que tanto me falta quando estou em minha forma humana.Transformar-me em lobo, especialmente aqui, no coração do reino de Veridiana, após tantos anos longe, ainda carrega consigo um misto de surpresa e alívio. Tudo ao meu redor é ao mesmo tempo familiar e distante. As árvores robustas, os arbustos que sussurram com o vento, o cheiro de terra úmida e folhas, tudo isso co
"Mamãe, podemos ver um pouco de televisão antes de comer?" Thorne pergunta, já tirando os sapatos com uma pressa que só crianças têm, se esparramando no sofá como se aquele fosse o trono dele. Seus pés descalços batem contra a almofada com descaso, enquanto ele se acomoda preguiçosamente, os braços abertos, conquistando espaço.Antes que eu consiga organizar os pensamentos e dar uma resposta mais firme, a campainha toca. Meu coração dispara de imediato. Será que é ele? Será que Caelum teve a ousadia de aparecer aqui, de novo, sem avisar? Meu corpo se prepara involuntariamente para a batalha interna que surge toda vez que estou na presença dele. O simples pensamento de vê-lo me faz querer fugir e, ao mesmo tempo, desejá-lo de uma maneira que me consome.Não posso permitir que Caelum se aproxime muito dos meus filhos. Não posso lidar com as consequências de mais uma interação entre eles. A tensão entre nós é suficiente para me tirar o fôlego, e o medo de me render ao desejo que sinto po
Tentando encontrar a melhor maneira de iniciar a conversa, meus dedos tremem levemente enquanto seguro o controle remoto, e o som do clique que desliga a televisão parece ecoar por toda a sala. O silêncio que se segue é denso, pressionando meus ouvidos como um peso invisível.Alexander se levanta do sofá com um movimento lento, quase cuidadoso, como se estivesse medindo a distância entre nós dois. Seus ombros estão rígidos, tensos, como se estivesse carregando o peso de cinco anos de memórias e arrependimentos. Suas mãos, que estão soltas ao lado do corpo, tremulam levemente, e eu percebo o esforço que ele faz para manter sua postura controlada.Eu cruzo os braços novamente, um reflexo instintivo de proteção. As palmas das minhas mãos estão úmidas de suor, e eu tento disfarçar esfregando-as discretamente contra os braços. Meus olhos percorrem cada detalhe da postura de Alexander, cada minúcia de sua linguagem corporal. Há um jogo de tensão e expectativa em seus movimentos, em seus olh
Eu coloco minha mão sobre a dele, pressionando-a contra o meu rosto, como se esse gesto pudesse ancorar-me no presente, evitar que eu me afogue nas emoções que estão me consumindo. As lágrimas caem devagar, uma a uma, e sinto o peso de tudo o que perdemos, de tudo o que poderia ter sido.“Então por que você foi embora?” Minha voz treme, frágil como vidro prestes a se quebrar, enquanto a pergunta escapa dos meus lábios, carregando consigo toda a angústia acumulada ao longo dos anos. “Eu voltei para o seu apartamento um tempo depois, para conversarmos…” Minhas palavras ficam presas por um momento, a dor intensa cortando o ar entre nós. “E você simplesmente tinha ido embora.” Meu tom é de acusação, mas também de súplica, como se implorar por uma explicação pudesse aliviar o peso que carrego.Quando eu descobri que estava gravida, a primeira pessoa que eu quis contar era para Alexander. Nem passou pela minha cabeça naquela época que poderia ser de qualquer outra pessoa se não dele.Agora,
“Mamãe o que acha dessa roupa?” minha voz soa incerta enquanto me olho no espelho, tentando me convencer de que a combinação é suficiente. Estou vestida com um uniforme simples, resgatado de um trabalho antigo. A calça jeans escura molda minhas pernas de forma discreta, o cinto de couro ajustado à cintura confere um toque de firmeza, e a camisa branca de algodão contrasta suavemente com o paletó azul-marinho que agora veste meus ombros. Giro o corpo devagar, analisando cada detalhe da vestimenta, enquanto espero que minha mãe, apareça na porta.Ouço os seus passos vindo rápidos pelo corredor. Viro-me para encará-la e, antes mesmo de qualquer palavra ser dita, sinto o peso do olhar crítico dela sobre mim. A sobrancelha direita dela se ergue com precisão, um sinal claro de que a onda de críticas já está a caminho. Sempre foi assim, um turbilhão de observações e correções.“Você precisa prender o cabelo," ela começa, sua voz firme, porém cheia de autoridade. “Faça uma trança lateral. Vai
“É muita ousadia do meu marido, o rei Caelum, trazer você para dentro da minha casa,” eu declaro com desprezo na voz. A raiva ferve em meu peito, ardendo como brasas vivas, enquanto observo Aria com desprezo.Aria está com a cabeça baixa, ela se encolhe como se fosse um animal indefeso e isso me agrada. Eu quero essa humana morta e ela agora está aqui, na minha frente e tudo o que eu preciso fazer é estrangulá-la. Se isso não fosse causar tantos problemas com Caelum, Aria já estaria morta no chão desse salão.“Eu não…” a humana tenta balbuciar, sua voz mal consegue emergir, trêmula como uma folha ao vento.Antes que ela consiga dizer qualquer outra coisa, Asher, aquele lacaio irritante, se apressa em intervir.“O rei Caelum a contratou como organizadora de eventos. Ela vai trabalhar no próximo baile para o seu casamento, Vossa Majestade,” Asher diz, tomando o partido dela como se estivesse defendendo algo mais que uma simples funcionária. Patético.Minha atenção se volta para ele, e o
Merda. Merda. Merda! Cada palavra de Alexander ecoa na minha mente, e o pânico rasteja pela minha espinha como um veneno lento. Não é possível que isso esteja acontecendo. De todas as coincidências malditas do mundo, esta é, sem dúvida, a mais cruel de todas, a mais impossível, a mais insuportável.Vejo Alexander erguer levemente a sobrancelha direita, sua expressão assumindo uma nuance de surpresa. Ele está analisando minha pergunta lançada às pressas, uma reação impulsiva e descontrolada que revela o que eu mais gostaria de esconder. Minha ansiedade me trai, escapando pelo meu tom de voz, incapaz de permanecer oculto.“Sim,” responde Alexander com um sorriso quase vitorioso, enquanto contempla sua taça de vinho. “Nós nos encontramos. Foi melhor do que eu poderia esperar.” Ele fala com uma tranquilidade. “Após nossa conversa, Caelum, eu pensei na possibilidade de que Aria tivesse reconstruído sua vida, talvez até casado. Mas quando vi as duas crianças… gêmeos lindos que ela tem,” ele