Visitar Isolde é, sem dúvida, a pior coisa que Caelum poderia ter planejado. A mera ideia de passar tempo no castelo da mãe dele me dá náuseas. Estamos tentando consertar o que sobrou do nosso casamento, ou pelo menos é isso que ele insiste em acreditar. Mas, para mim, é tudo uma farsa. A ideia de passar um tempo juntos para "recuperar" o que se perdeu é insuportável. E com tantas opções de lugares, ele escolhe o castelo de sua mãe?
A conversa com Caelum no banheiro ressoa ainda em minha mente. Foi por um fio que Caelum não descobriu Karin ali, nos nossos aposentos. A lembrança de Karin, deitado na nossa cama, ainda traz uma satisfação maliciosa ao meu coração. A verdade é que eu precisava de Karin, muito mais do que estava disposta a admitir. Quando liguei para ele, imploran
“Você deveria estar bebendo tanto, Seraphina?” Isolder indaga, suas sobrancelhas arqueadas em minha direção. "Uma rainha não deve se permitir tais indulgências."Minha mão se fecha ainda mais envolta da taça, agora quase colada aos meus lábios. O que eu mais desejo é gritar que não existe vinho suficiente no mundo para me ajudar a suportar sua presença, mas ao invés disso, visto minha armadura de esposa ferida, aquela que aprendi a usar tão bem recentemente. Caelum, depois de nosso último confronto, está repleto de remorso. E eu sei que posso usar isso. Com um simples jogo de palavras, consigo dobrar o rei à minha vontade, e isso inclui manipular sua mãe, por mais astuta que ela seja."Perdão, minha senhora," murmuro, baixando
“Me diga, meu filho, o que de fato traz você até aqui?” minha mãe questiona com a voz mais suave. Sem a minha esposa por perto, minha mãe é muito mais tranquila. A voz de minha mãe, embora suave, traz uma carga oculta de autoridade, como se mesmo nas perguntas triviais houvesse uma expectativa de controle. Ela se recosta levemente na poltrona de jardim, seus olhos verdes fixos em mim com uma calma que é quase desconcertante. Sem a presença de Seraphina, a frieza habitual de minha mãe se dissolve, e a figura materna que um dia conheci reaparece, ainda que de forma breve e calculada.O jardim onde estamos é amplo e exuberante, um verdadeiro refúgio isolado das pressões do reino. Flores coloridas, altas e cheias de vida, se estendem ao redor como um manto vibrante de cores, o perfume suave das pétalas de l&ia
O ambiente ao nosso redor está carregado de uma tensão silenciosa quando o carro finalmente para na garagem do palácio. Eu viro o rosto e encaro Seraphina, buscando algum sinal de que esses últimos dias no interior fizeram alguma diferença. Mas o que vejo é o mesmo semblante cansado, o mesmo sorriso fraco que não chega aos olhos, como se ela estivesse vestindo uma máscara apenas por obrigação."Achei que alguns dias fora, no interior com minha mãe, poderia nos ajudar a melhorar as coisas," digo, tentando parecer otimista, mesmo que eu não sinta essa esperança em mim. "Na próxima vez, iremos para algum lugar só nós dois."Seraphina, no entanto, não reage como eu esperava. Seu sorriso permanece inexpressivo, quase como se tivesse sido esculpido e
“Crianças, já está na hora de ir para a escola!” A minha voz ecoa pela casa, enquanto minhas mãos continuam enfiadas na água ensaboada, limpando os últimos pratos do café da manhã.Segundos depois eu ouço os gritos de entusiasmo de meus filhos descendo as escadas. Eles vêm em um alvoroço, como pequenos furacões, e antes que eu possa me preparar, sinto o abraço apertado em volta da minha cintura.“Posso pular amarelinha antes de ir para escola, mamãe?” Elowen pergunta com a voz carregada de energia. Seus olhos verdes brilhantes me fitam com uma expectativa, e seus pés mal conseguem parar quietos enquanto ela espera pela minha resposta. Ela está inquieta, pulando de um lado para o outro como se a energia fosse demais para seu pequeno corpo conter.“Ok, mas só por alguns segundinhos enquanto termino aqui,” digo, tentando manter um tom sério, como uma mãe que tenta impor regras, mesmo sabendo que, na realidade, o controle já escapou por entre os dedos. “Mas não saia da calçada, entendeu?
“Era o mínimo que eu poderia fazer por você, Aria,” Caelum responde, sua voz firme e grossa reverbera por todo o meu corpo. “Além do mais, eu continuo investigando sobre os ataques dos rebeldes e o assassinato do seu antigo chefe, naquele período, podia ter algo a ver com os Wolfspawn Renegades,” Caelum explica.Minhas sobrancelhas se erguem, uma mistura de surpresa e desconforto me invade, e sinto um leve tremor em minhas mãos ao ouvir isso. Ainda estou sendo investigada? Por um momento, o silêncio entre nós se estende, carregado de uma tensão que eu não esperava sentir. Caelum parece captar minha confusão, minha inquietação, e se adianta a esclarecer, seus olhos esmeralda cravados nos meus como se quisesse dissipar minhas dúvidas de imediato."Você não é mais a principal suspeita do assassinato," ele diz, sua voz assumindo um tom tranquilizador, mas que, de alguma forma, só me deixa ainda mais tensa. "Fique tranquila. Após o seu sequestro e a morte da esposa dele, nossa investigação
A proposta dele me atinge como um soco no estômago. Trabalhar para ele de novo? O palácio? As lembranças do último ataque dos rebeldes invadem minha mente como um furacão, cenas fragmentadas de destruição e caos se mesclando à promessa de segurança que ele tenta me vender agora. Mas essa segurança, essa falsa tranquilidade que ele promete, não alivia o peso sufocante da realidade que tenho que encarar: ele pode ser o pai dos meus filhos.O contraste entre sua oferta tentadora e o abismo de complicações que ela traz me atordoa, como se eu estivesse sendo empurrada para uma decisão impossível. Meus pensamentos estão turvos, confusos, enquanto tento processar cada implicação de aceitar ou recusar. Caelum é como um ímã, uma força gravitacional irresistível que me atrai para ele, mesmo quando sei que devo manter distância. Dou um passo para trás, deslocando o peso do meu corpo de uma perna para a outra, tentando não ceder à tensão que cresce entre nós.Meu coração bate descompassado, e min
Sentir o vento deslizar pela minha pelagem sempre me trouxe uma paz que nada mais no mundo consegue. É como se cada brisa carregasse parte da inquietação que reside dentro de mim, levando embora o peso dos meus pensamentos, aliviando, mesmo que temporariamente, o fardo que carrego. Cada rajada de vento me conecta mais profundamente à terra, ao meu ser mais primitivo, à fera que habita em mim. O chão batido da floresta, firme sob as minhas patas, parece ancorar minha mente, dar forma à desordem que constantemente tenta me consumir. Cada passo que dou enquanto corro me traz uma sensação de controle, de estabilidade, algo que tanto me falta quando estou em minha forma humana.Transformar-me em lobo, especialmente aqui, no coração do reino de Veridiana, após tantos anos longe, ainda carrega consigo um misto de surpresa e alívio. Tudo ao meu redor é ao mesmo tempo familiar e distante. As árvores robustas, os arbustos que sussurram com o vento, o cheiro de terra úmida e folhas, tudo isso co
"Mamãe, podemos ver um pouco de televisão antes de comer?" Thorne pergunta, já tirando os sapatos com uma pressa que só crianças têm, se esparramando no sofá como se aquele fosse o trono dele. Seus pés descalços batem contra a almofada com descaso, enquanto ele se acomoda preguiçosamente, os braços abertos, conquistando espaço.Antes que eu consiga organizar os pensamentos e dar uma resposta mais firme, a campainha toca. Meu coração dispara de imediato. Será que é ele? Será que Caelum teve a ousadia de aparecer aqui, de novo, sem avisar? Meu corpo se prepara involuntariamente para a batalha interna que surge toda vez que estou na presença dele. O simples pensamento de vê-lo me faz querer fugir e, ao mesmo tempo, desejá-lo de uma maneira que me consome.Não posso permitir que Caelum se aproxime muito dos meus filhos. Não posso lidar com as consequências de mais uma interação entre eles. A tensão entre nós é suficiente para me tirar o fôlego, e o medo de me render ao desejo que sinto po