Cinco Anos Depois…
O salão está abarrotado de meses redondas espalhadas pelo cômodo amplo e bem iluminado. A decoração me enche os olhos e eu me pergunto se algum dia terei dinheiro para fazer algum evento desse nível de magnitude.
Eu equilíbrio a bandeja com as taças de champanhe enquanto passo por entre as mesas oferecendo as bebidas. As pessoas sentadas, toda bem vestidas e elegantes, me ignoram como sempre fazem quando não querem nada sendo oferecido. Tão soberbas e esnobes que me faz ficar irritada. Respiro fundo e continuo passando por cada mesa, alguns aceitam e outros simplesmente continuam me ignorando.
O som da festa preenche o ambiente com o falatório dos convidados. A pista de dança comporta apenas adultos dançando e alguns adolescentes com coragem para dançar de forma engraçada. Mantenho minha atenção em cada detalhe que há no salão, notando também minhas colegas garçonetes servindo os canapés e outros pratos.
Volto para a cozinha que destoa com a elegância do salão. O local está um pequeno caos, pratos sendo montados, cozinheiros gritando um com o outro, louças sendo lavadas e bandejas sendo levadas e deixadas.
A cacofonia me causa arrepios e até uma dor de cabeça. Sinto minha lombar começar a fisgar de dor e isso me deixa mais lenta para continuar levando as bandejas pelo salão. Quando resolvo parar por alguns minutos apenas para descansar meus braços e pés, meu chefe logo surge.
“Aria, eu estou te pagando para ficar parada, por acaso?” ele indaga com impaciência, cruzando os braços na frente do físico corpulento dele.
“Não, senhor. Apenas precisava de um pouco de folego antes de voltar lá, perdão.” Respondo constrangida.
Meu chefe, um homem beirando aos cinquenta e cinco anos, de rosto sempre vermelho e calvo, me encara com desaprovação e eu logo volto a pegar a bandeja cheia de taças novas de champanhe e parto de volta para dentro do salão.
Cinco horas depois, ao fim da festa, ainda preciso recolher todos os pratos e talheres deixados pelos convidados. Minha colega, Nicole, aparece ao meu lado com a bacia cheia de pratos sujos para lavar.
“Menina, você vai estar de folga no próximo final de semana, não vai?” Nicole pergunta animada e eu confirmo com a cabeça. “Você quer fazer bico? Eu consigo uma vaga para trabalhar como garçonete em um evento, o pagamento é o triplo do daqui.”
Meus olhos se arregalam com a proposta milagrosa. Eu precisava de mais dinheiro, sempre precisaria de mais dinheiro. Não por ganância ou para gastar com coisas desnecessárias, mas sim devido a Elowen e Thorne. Meus lindos anjinhos.
“A resposta é mil vezes sim, Nicole! Isso será uma benção, graças a Deus! Muito obrigada!” respondo com alívio no peito.
Nos últimos dias eu estava preocupada em como ia conseguir pagar as contas mais importante. Com o imprevisto surgindo a todo momento, eu estava com um valor baixo na minha reserva de emergência.
“Perfeito garota, durante a semana eu te envio o endereço!” Nicole explica com rapidez. Logo a gente volta a limpeza do salão e eu sinto uma alegria percorre todo o meu corpo, sentindo que essa nova oportunidade de trabalho, vai trazer muito mais do que dinheiro para mim.
Chego em casa no início da madrugada, percebo que a luz da cozinha está acesa. Tento entrar sem fazer muito barulho para não acordar os gêmeos, meus filhos.
Vou em direção à cozinha e encontro a minha mãe sentada na mesa de jantar com uma taça de vinho preenchido na metade.
“Oi, mãe…” eu a cumprimento com a voz baixa. Lyra, minha mãe, levanta os olhos da tela do celular e sinto a frieza e o desdém em seu rosto.
“Isso são horas de chegar, Aria? Eu não sou babá dos seus filhos, perdi a noite do cassino com as minhas amigas por sua culpa,” minha mãe pragueja com irritação.
“Desculpa, hoje tive que ficar com o time que faz a limpeza. Isso me dá horas extras e assim, mais dinheiro,” explico com cansaço na voz.
“Você não iria precisar trabalhar tanto e me fazer de babá dos seus filhos, se tivesse ficado com o pai deles,” Lyra responde contrariada e eu suspiro cansada.
Minha vontade é dizer que eu não faço ideia de quem é o pai de Elowen e de Thorne. Que bebi demais horas após ter me deitado com Alexander e fui parar na cama de outro homem. O deus grego que agora, nem minhas lembranças conseguem trazer a minha mente os seus traços.
“Mãe, Alexander não quer saber de mim… na realidade, eu não falo com ele faz anos, okay? Ele sumiu do mapa antes mesmo de eu saber sobre a gravidez,” respondo, repetindo sempre o mesmo.
Lyra me olha com a expressão de desapontada e balança a cabeça em lamento pela minha situação.
“Você tinha um futuro tão promissor com ele, Aria. Ia ser uma esposa tão maravilhosa. Agora olha para você, vinte cinco anos, sem estudos. Sendo capacho dos outros. Não foi para isso que eu te criei, Aria, com certeza não foi,” mamãe declara com a voz carregada de lamento.
“Eu sei, mãe, eu sei. Vou para cama, tá bom? Boa noite.”
Antes de ir para o meu próprio quarto, eu passo no quarto dos gêmeos. Abro a porta devagar e observo pela luz do abajur infantil o rosto dos meus dois anjinhos pacifico enquanto dormem. As palavras acusatórias de minha mãe rodopiam em minha mente enquanto me aproximo da cama do meu filho Thorne e dou um beijo em sua testa.
Eu não sei como a minha vida poderia ser se eu não tivesse engravidado aos vinte anos, sem saber exatamente quem é o pai. Mas sei que tenho dois filhos maravilhosos, que alegram todos os meus dias quando acordam. Vou até a cama da minha filha Elowen e também dou um beijo na testa dela.
Com passos ligeiros e silenciosos, eu me arrasto para o meu quarto, sentindo o cansaço dominar todo o meu corpo. Assim que me ajeito para dormir, meu coração se aperta com a lembrança de Alexander, mesmo após cinco anos, a presença do meu ex-namorado ainda me assombra como um fantasma.
“Você não me disse que o evento era no castelo do rei, Nicole!” comento chocada, minha visão do imponente castelo é surpreendente.
Os vidrais pintados ganham vida com os últimos raios de sol antes da chegada da noite. Eu nunca cheguei perto do bairro dos nobres, sempre imaginei como poderia ser lá dentro. Cheio de beleza e magia, algo surpreendente.
“Mesmo com os frequentes ataques dos Wolfspawn Renegades contra a capital, alegando a ilegitimidade do rei e a falta de herdeiros, a família real resolveu comemorar o aniversário de casamento deles. Caelum e Seraphina estão fazendo cinco anos de casados!” Nicole responde animada, ela está no volante, dirigindo com cuidado pela rua privativa até o portão de entrada.
Observo o cenário da entrada, um amplo jardim decorado com rosas-brancas e vermelhas, com arbustos moldados com figuras de lobos enormes e outras criaturas magnificas. Sinto o meu coração acelerar a cada quilômetro que vamos nos aproximando do castelo.
“Imagina a bolada de grana que vamos receber essa noite, Aria. Eu já consigo sentir o dinheiro caindo na minha conta. E quem sabe eu não encontre o meu futuro marido aqui essa noite?” Nicole comente, sua voz carregada de expectativas. Abro um sorriso para ela e balanço a cabeça com incredulidade.
Nobres e plebeus não se misturam, principalmente humanas com lycan’s ou feiticeiros. Para eles, somos incompletos, a escória e apenas a mão de obra que continua fazendo esse país girar.
“Não sei se é uma boa ideia se envolver com algum nobre lycan, Nicole. Com os ataques que tem ocorrido ultimamente, ser humana agora não é tão ruim,” comento risonha e Nicole ri.
“Mas ser pobre é péssimo, eu não quero mais servir aos outros. Quero ser servida para variar,” Nicole se queixa e eu solto somente uma risada curta.
“Sou o coordenador desse evento, me chamo Malik. Por favor, não me envergonhem. Porque se vocês me envergonharem, eu precisarei descontar do salário de vocês como punição, entenderam?” Malik declara com a voz firme e grossa, seus olhos castanhos são frios e assustadores.
Toda a equipe de garçonetes e garçons concordam de forma automática. A cozinha do palácio possuía o triplo do tamanho da cozinha do meu trabalho oficial, a organização e a harmonia dos funcionários me deixam impressionada com tanta eficiente.
“Você!” Malik aponta na minha direção e eu fico paralisada no lugar. “Você vai ficar encarregada de sempre servir o rei e a rainha. Leve essa bandeja de bebidas. Seja cordial e sempre olhe para o chão, nunca olhe diretamente para eles. Entendido?”
“Sim, senhor” respondo com a voz tremula. Eu pego a bandeja e equilíbrio acima da minha cabeça, como de costume.
Assim que saio da cozinha e entro no salão, sou invadida com a beleza surreal do local. A decoração é refinada, elegante e magnifica. Noto pelo são pontos de magia sendo utilizada, como projeções de animais coloridos andando no ar. Caminho com calma em direção à mesa comprida onde se encontra o rei Caelum e a rainha Seraphina.
O casal está radiante. O rei, um homem já com trinta e cinco anos, possui uma barba bem cheia loira, que possui tons mais claros que o cabelo loiro escuro penteado para trás e bem volumoso. Em sua cabeça uma coroa dourada se mescla com os seus cabelos. A beleza do rei é como a de um deus grego esculpido em mármore, mesmo de longe é possível notar os ombros largos e imponência dele.
A rainha Seraphina não fica para trás com a beleza divina de uma feiticeira. Os cabelos são curtos, um pouco abaixo das orelhas que carregam lindos brincos de rubis, que combinam com a cor do cabelo ruivo acobreado dela. Os olhos dourados faíscam com ternura e graça. A palidez do seu rosto faz um enorme contraste com o vestido escuro que ela usa.
Assim que eu me aproximo, mantenho meus olhos abaixados como fui instruída. Falo de forma polida sobre o que há na bandeja e ofereço para os dois. O rei aceita a bebida e eu logo serviço a taça em cima da mesa, assim que termino de colocar a bandeja de volta na posição correta, meu corpo gela ao ouvir a voz da rainha.
“Traga outra funcionária. Essa é uma desengonçada, péssima. Retira ela da minha vista e de meu marido, imediatamente!” Seraphina declara com a voz carregada de desprezo.
Balbucio um pedido de desculpa sem entender o que fiz de errado e sumo da vista dos dois.
“Há mais alguma coisa que eu posso oferecer, para Vossa Majestade?” meu servo questiona. Seus lábios voltam a beijar a minha coxa, o que me causa um arrepio.Meu corpo continua em êxtase pelo o orgasmo que tive, eu sinto ainda o tremor pelo meu corpo e em minha intimidade o latejar do meu clitóris inchado. Olho para o homem deitado entre as minhas pernas. A sua devoção em me agradar chega a ser um pouco patética.“Silêncio,” respondo com frieza e o puxo pelo braço para cima.Percebo que seu membro está rígido e pronto para me penetrar. Deito o homem na cama e subo nele, encaixando o seu membro em minha entrada. A penetração é fácil e eu sinto o prazer percorrer todo o meu corpo. O rapaz começa a ficar mais ofegante e a querer gemer, algo que quebra a minha concentração prazerosa.“Silêncio,” ordeno antes de tampar sua boca com a minha mão.Meu corpo inteiro está carregado de luxúria e desejo. Consigo controlar o ritmo da penetração, o movimento de ir e vir com rapidez. Meu corpo fica
A expressão no rosto do coordenador, uma mistura de desculpas envergonhadas e um certo temor, só aumenta a sensação de sufoco em meu peito. Sua postura inclinada diante da rainha Seraphina e do rei Caelum, como se estivesse tentando compensar um erro gravíssimo, me faz sentir minúscula, insignificante, um inseto prestes a ser esmagado. As palavras dele, tão suaves quanto desesperadas, parecem ecoar pelo salão, cada uma mais pesada que a anterior, e a sensação de que estou sendo observada por todos se torna insuportável. O peso do julgamento silencioso parece recair sobre meus ombros, uma pressão que ameaça me esmagar ali mesmo.Enquanto repasso cada momento em minha mente, cada detalhe do que fiz, o som dos risos e das conversas ao redor se transforma em um zumbido distante, como se eu estivesse submersa em um oceano de incertezas. As paredes do grande salão parecem se fechar ao meu redor, tornando o espaço antes majestoso em algo opressor.Os olhares dos convidados se tornam farpas i
Sabia que o cheiro dela era familiar. Muito familiar. O meu lado lycan ficou tão aflorado que achei que poderia me transformar bem no meio do salão quando a garçonete surgiu a minha frente para nos servir.O ciúme de Seraphina pareceu ser irracional, sei que nosso casamento tem parecido mais uma parceria empresarial do que com afeto e amor. Porém, eu nunca trairia Seraphina. Mesmo sem termos filhos, algo que nós dois ansiamos tanto ter, o respeito e admiração que possuiu pela minha esposa vai além de qualquer divergência que possamos ter agora.Mas aqui estava ela. A mulher que me proporcionou a última noite de liberdade. Eu nunca esqueceria a marca em seu pescoço, tão delicada e charmosa. Assim que ela entrou no salão, o seu cheiro ficou exaltado por cima de todos os outros aromas, até cheguei a pensar que era apenas a nostalgia me rondando outra vez. A saudade de um tempo mais simples e feliz em minha vida, sem um casamento frio e sem um reino prestes a colapsar devido aos ataques d
Sou arremessada brutalmente ao chão, o impacto é violento, como se a força do mundo tivesse sido concentrada naquele único momento de colisão. O baque me faz perder o fôlego instantaneamente, meus pulmões se esvaziam em um suspiro forçado enquanto minha cabeça atinge o chão de mármore com um som seco e surdo. Uma dor intensa explode na parte de trás do meu crânio, irradiando-se para minha coluna como uma corrente elétrica, e por um momento tudo ao meu redor se torna um borrão indistinto, uma confusão de cores e sons misturados.A dor em meu braço, causada pelo aperto implacável do rei Caelum, é rapidamente suplantada por uma nova dor, mais aguda, que atravessa minhas costas e peito. Parece que meu corpo inteiro foi atingido por uma onda de choque, cada osso, cada músculo grita em protesto. A explosão que devastou o salão criou uma força esmagadora, jogando-me ao chão com a brutalidade de uma tempestade. É como se o ar ao meu redor tivesse se tornado pesado, denso, dificultando a respi
O olhar preocupado de Thorne para mim, me faz lembrar do olhar intrigado do rei Caelum. A semelhança entre os dois não se limita apenas a expressão dos seus olhos, os cabelos possuem o mesmo tom, um loiro escuro. Eu mesma coloco uma mecha comprida do cabelo do meu filho atrás da orelha dele.“Você teve apenas um sonho, meu anjinho. Volte a dormir, tá bom?” eu o tranquilizo, afagando os seus cabelos sedosos.“Está bom, mamãe. Mas eu sinto muito que o papai machucou o seu braço, no sonho ele estava muito bravo. Me deixou assustado,” Thorne comenta com um bocejo. Ele se aconchega novamente na cama e eu ajeito a coberta ao seu redor.“Foi só um sonho, nada disso acontecerá. Eu prometo,” respondo com a voz suave. Só que dentro de mim, sinto uma inquietação com suas palavras.Eu sempre me esforcei a acreditar que os gêmeos eram de Alexander, afinal, quais seriam as chances de eu engravidar de uma única vez que transei com um estranho? Mesmo que as chances pudessem ser maiores que um porcent
Os grandes olhos vibrantes e castanhos de Aria se arregalam ao me ver parado na porta, como se tivessem sido apanhados num flagrante. A súbita interrupção, somada à presença imponente dos meus guardas, parece sugar todo o ar do ambiente, transformando o pequeno escritório num lugar ainda mais sufocante e carregado de tensão. É impossível ignorar a proximidade dela com o homem de meia-idade, cuja figura agora me causa um repúdio visceral. A ideia de que ela poderia estar se envolvendo com alguém assim, buscando algum tipo de vantagem, revolta algo profundo dentro de mim.Será que é isso que ela faz? Se deita com qualquer um para ganhar algum benefício? A mera sugestão desse pensamento faz com que meu sangue ferva de raiva contida, embora eu mantenha minha expressão fria e implacável. A visão dos dois tão próximos, com as mãos dele em sua pele, me provoca uma repulsa quase física, como se estivesse testemunhando algo profano.O ambiente está saturado de medo, ao ponto de eu quase conseg
Dessa vez, o toque de Caelum contra a minha pele não é brutal, mas ainda assim, carrega uma firmeza que me faz prender a respiração. Quando ele me puxa para mais perto, sinto o calor do seu corpo irradiando, fazendo com que a distância entre nós se torne praticamente inexistente. Seus olhos verdes, profundos, ficam fixados nos meus, penetrando quase a minha alma Sinto o meu coração acelerar, quase querendo pular para fora do meu peito, martelando em minhas costelas como um tambor de guerra. As lembranças embaçadas daquela noite com o deus grego, ressurgem em minha mente, me causando medo.Caelum não pode ser o pai dos meus filhos. Com tudo o que tem acontecido, com os perigos que o rei sofre com os Wolfspawn Renegades. Meus filhos estariam em risco constante, e essa é uma possibilidade que eu nunca poderia aceitar. Cada fibra do meu ser grita para proteger aqueles que amo, e a mera ideia de Caelum, com seu poder e suas complexidades, se aproximando deles, me apavora.Além disso, há o
ico que coloquei na entrada do calabouço continua intacto, suas correntes brilham suavemente com a luz mágica que emana de dentro. Para qualquer um que não seja um Enchatrix, este calabouço não passa de um local abandonado, esquecido pelo tempo e pela necessidade. Mas para mim, é um santuário, um lugar onde posso ser verdadeiramente eu mesma, onde a fachada que construí como esposa de Caelum se desfaz, revelando meu verdadeiro eu, uma enchatrix moldada pelo poder e pela necessidade.Depois que me casei com Caelum, percebi que precisava de um ponto fixo, um lugar onde pudesse exercer e nutrir meu lado místico. Os feitiços leves, como camuflagem e pequenos encantamentos que consomem pouco da minha energia vital, posso realizar em qualquer lugar, sem grandes preparativos. Mas para algo tão complexo e perigoso quanto o Shifters, a magia proibida que desafia as leis naturais, eu preciso de um santuário. O calabouço, com suas paredes grossas e seus segredos ocultos, é perfeito para isso. A