Chegar a delegacia com duas crianças sonolentas de cinco anos no início da madrugada, é um inferno. A sensação de desespero e exaustão me invade, como se o peso do mundo estivesse sobre meus ombros, enquanto tento guiar Elowen e Thorne por esse cenário caótico. O local, mesmo àquela hora tardia, está longe de ser tranquilo; pelo contrário, está repleto de pessoas, com vozes altas ecoando pelo amplo salão, criando uma cacofonia que só aumenta o desconforto. As luzes fluorescentes, frias e implacáveis, iluminam o espaço de forma impiedosa, expondo cada canto e cada expressão de cansaço e ansiedade nos rostos dos que estão ali.
Elowen e Thorne agarram minhas mãos com uma força que revela o quanto estão assustados. Posso sentir o tremor sutil em seus pequenos
A mãe de Aria é uma mulher amargurada e distraída, o tipo de pessoa que carrega nos ombros o peso das escolhas erradas, embora raramente se dê conta disso. Ela é o exemplo vivo de uma vida que poderia ter sido, mas que nunca foi; uma existência que se arrasta em meio a arrependimentos e expectativas não cumpridas. Ver aquela mulher sentada à mesa da roleta, despejando seus lamentos sobre a filha como se eu fosse um confidente de longa data, me encheu de um misto de descrença e desdém. Ela falava com uma familiaridade que beirava o absurdo, ignorando completamente o fato de que eu não era mais do que um estranho para ela.Usar magia de camuflagem no meu próprio cassino é algo que faço há muito tempo. É uma habilidade que se tornou quase instintiva, uma necessidade que se impôs conforme os anos
Com uma noite marcada por sonhos agitados e perturbadores sobre Aria, decido que a única maneira de acalmar minha mente inquieta é ir até a delegacia. Preciso saber exatamente do que ela está sendo acusada. Preciso entender por que essa mulher continua a orbitar meus pensamentos. A madrugada anterior tinha sido um turbilhão, e mesmo agora, enquanto o sol mal começava a se erguer no horizonte, eu sentia que precisava de respostas.A delegacia estava em plena atividade, mesmo àquela hora. Policiais e detetives caminhavam apressados de um lado para o outro, as vozes se misturando em um mar de ordens e relatórios, enquanto o barulho constante dos telefones tocando enchia o ambiente com uma tensão palpável. Ao entrar, não me preocupo com formalidades. O tempo é um luxo que não posso me dar. Meus passos são firmes,
A sala de interrogatório é um espaço opressor, uma caixa de paredes pálidas e impessoais, iluminada por uma luz branca que parece arrancar qualquer traço de cor ou vida do ambiente. O ar é carregado de tensão, e o cheiro metálico de tinta fresca e suor velho permeia o local, aumentando a sensação de desconforto. A mesa de metal entre mim e o detetive é fria e inexpressiva, refletindo a rigidez daquele lugar.A cadeira em que estou sentada é incrivelmente dura, e a dor incômoda que começa a se espalhar pela minha bunda só piora com o passar das horas. Cada minuto que se arrasta parece uma eternidade, e meu corpo clama por conforto, algo que está muito distante agora. Meu estômago ronca em um protesto audível, uma lembrança dolorosa de que a última coisa que comi foi no al
Me sinto sem chão, sem saber o que fazer ou pensar. As horas que fiquei no interrogatório, me deixando exaurida. Mesmo com o estado lamentável e nojento da cela, não tenho forças para resistir. Arrasto-me até o colchão fino, que parece mais um pedaço de papelão do que algo feito para proporcionar qualquer tipo de conforto. Sento-me com as costas contra a parede fria, sentindo o gelo penetrar na minha pele, como se o próprio edifício estivesse tentando congelar o que restou de mim. O colchão range sob o meu peso, um som agudo que ecoa na pequena cela, aumentando ainda mais a sensação de solidão.Em poucos minutos, as lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto, silenciosas e incessantes. Tento sufocar os soluços, mantendo o choro baixo, como se até aqui, onde ningué
“Crianças possuem uma imaginação muita vasta,” Lyra declara, quebrando o silêncio que havia se instalado como uma névoa pesada após a surpreendente declaração de minha filha. Sua voz soa firme, mas há uma leve hesitação ali, como se ela tentasse convencer a si mesma tanto quanto a mim. “Elas buscam preencher o vazio que há na vida delas com a imaginação.”Concordo com um aceno de cabeça, mas por dentro, minha mente fervilha com dúvidas e inquietações. Algo naquela afirmação de Elowen me assombra, algo que vai além da simples imaginação infantil. Os olhos verdes e brilhantes da minha filha, tão puros e sinceros, estão cheios de uma expectativa que me desconcerta. Não consigo afastar a sensaçã
Assim como reagi àquela resposta, minha mãe arqueia as sobrancelhas, surpresa e confusa. Nenhuma de nós conhece alguém que tenha esse tipo de dinheiro disponível para gastar assim, sem mais nem menos, ainda mais para pagar a fiança de alguém acusado de um crime tão grave quanto homicídio. Além disso, quem mais saberia que eu estava presa, além dela?“Você comentou com alguém que eu estava aqui?” questiono preocupada, tentando pensar em quem poderia ter me ajudado.Lyra balança a cabeça negativamente, seus lábios franzidos em uma expressão de frustração e reflexão. “Para quem eu iria contar"Para quem eu iria contar?" Sua voz carrega uma mistura de impaciência e preocupação, como se o simp
“Eu preciso voltar para o trabalho,” comento com a minha mãe enquanto lavo a louça. A água morna escorre pelos meus dedos, levando consigo os restos do café da manhã, mas não consegue apagar a tensão que se agarra à minha mente.Sinto a presença de minha mãe antes mesmo de me virar para vê-la. Ouço o som suave de seus passos pela cozinha até que ela para abruptamente no meio do caminho para a despensa. Já faz alguns dias que fui solta da prisão, e mesmo agora, a sensação de confinamento ainda paira sobre mim, como uma sombra que se recusa a partir. Nossas economias estão no limite, um abismo que se abre cada vez mais a cada dia que passa sem eu retornar ao trabalho. Preciso voltar, preciso enfrentar a realidade.“Aria, i
“É melhor você tomar cuidado com as suas palavras, Lily.” Minha voz soa mais fria do que o gelo, cada palavra pingando com a ameaça velada que faço questão de deixar explícita. O vestiário, que já estava tenso, parece congelar ainda mais. Lily, que segundos antes estava cheia de bravata, sente a mudança na atmosfera. Seus olhos se arregalam ligeiramente, refletindo o temor que se infiltra por trás de sua máscara de confiança. Vejo o pânico começar a florescer nela, uma pequena chama de medo que cresce com cada passo meu em sua direção. “Se eu sou a assassina que você alega que eu seja,” continuo, minha voz descendo para um sussurro afiado como uma lâmina, "não seria prudente zombar de mim, não acha?"As risadas e cochichos que ecoavam há pouc